Uma ofensa ao gênero épico
Em 1981, o produtor Ray Harryhausen, que criava os grandes efeitos de stop motion dos filmes da época, produziu o filme Fúria de Titãs, um épico que enfocava no embate entre deuses e humanos, com os grandes personagens da mitologia grega, como Zeus , Medusa e Hades . O filme tinha a trama simples, mas não escondia tal característica : se encarava apenas como uma diversão a lá sessão da tarde, com diversos efeitos especiais criados pelo experiente na arte do stop motion , Harryhausen. Nos últimos anos, com a volta da popularização do gênero épico, alguns filmes do gênero foram produzidos . Um grande exemplo é 300, de Zack Snyder, que possui todas as características de um legítimo filme do gênero, se levando a sério, com uma trama de personagens bem desenvolvidos e situações genias. Um clássico moderno.
Logicamente, os produtores hollywoodianos não poderiam perder sua chance de lucrar um pouco mais sobre o gênero, levando aos cinemas mais um blockbuster, com bases épicas. Nada melhor do que fazer um remake de um clássico do gênero, aplicando efeitos e técnicas atuais sobre o grande filme de 1981. Na teoria, o Fúria de Titãs de 2010 tinha tudo pra dar certo. Na teoria. O que se vê em tela é uma sucessão de erros inadmissíveis para um remake desse nível.
Na trama, que é a mesma do longa da década de 80, Zeus (Liam Nesson) está profundamente irritado com o descaso e desobediência dos humanos ,que , por sua vez , estão inconformados com o descaso de seus deuses. Com isso, os deuses fazem uma exigência aos humanos : A princesa Andrômeda (Alexa Davalos) deve ser sacrificada, ou então Hades (Ralph Fiennes) libertará o colossal monstro Kraken, para arrasar a cidade de Argos. Para conter Kraken , um grupo de bravos soldados é reunido a Perseu (Sam Worthington) um jovem semi-deus que acabou de descobrir sua divindade.
A história é de fato rasa e simples , sem maiores refinações, como no filme de 1981. O problema é que o filme produzido por Harryhausen se assumia como uma aventura simples, sem se levar a sério demais. O filme de 2010 dirigido por Louis Leterrier( experiente em blockbusters), pega a mesma trama, mas se leva verdadeiramente a sério . Nota-se isso já pelo trailer , e no filme, pelo tom que o diretor emplaca. Ora, isso transforma o filme em um ninho de situações esdrúxulas . E o roteiro confirma sua estupidez explicando após cada cena o que já se consegue ver claramente, sem necessidade de nenhuma fala do tipo “Olhem, eles estão em cima dos escorpiões! ”. Isso sem falar em incongruências que se espalham pouco a pouco ao longo do filme. A rapidez em que Sam Worthington se convence que é um semi-deus é bem forçada , e sua relutância em usar seus poderes ao longo do filme soa muito mal . O roteiro se esmera onde não precisa, e relaxa em pontos importantes . Outra demonstração da falta de competência na escrita são as cenas que tentam pontuar o drama do filme. Não transmitem um pingo de emoção.
Ora, se o filme tem um roteiro geral tão ruim, na construção de seus personagens é ainda pior. Nenhum deles é trabalhado de forma decente, e quando tentam desenvolver Perseu, a atuação cretina de Sam Worthington dá a pá de cal na história. Simplesmente causa risos. Muito careteiro e sem um pingo de competência dramática, pelo menos neste filme. Os outros astros seguem a trilha Worthington. Atuando na medida do caricato, nem Liam Nesson passa limpo. Sobram as cenas de ação, que compõem a maior parte do longa . São os pontos positivos do filme, e conseguem entreter. A única decepção é a luta contra Kraken . O monstrão mostrado no trailer demora para sair da água, e quando sai, tem uma luta insossa e rápida, que dá a impressão final de um último ato um tanto apressado.
Já Leterrier, que poderia ter abusado numa direção visionária e ter mais reconhecimento na indústria cinematográfica , faz uma direção de aluguel, extremamente comum e que atrapalha o andamento de algumas sequências. Corta muito em algumas passagens de ação, o que atrapalha um pouco no entendimento dessas situações. Mais takes únicos não fariam mal a ninguém. Dirigindo efeitos, ele se sai melhor, conseguindo extrair movimentos de câmera bem melhores . Já na direção de atores, Leterrier não extrai bons resultados de seus atores, e os enquadra no estilo feijão-com-arroz de sempre .
Os efeitos são muito bonitos e cumprem o que prometiam . Da parte técnica, também se destaca a trilha sonora , que se sobressai quando comparada a outras trilhas de filmes de ação. Os cenários também são muito bonitos , e conseguem passar a imponência necessária. Deslizes só na fotografia. Nenhuma paleta mais interessante para se aplicar num épico, e fica um pouco da sensação do filme não se passar naquela época.
A sensação que fica ao fim da exibição é que o filme não cumpriu boa parte do que prometeu. A estética de épico não se baseia nos figurinos e nas espadas, mas sim no tom de narrativa empregado por seus realizadores . Portanto, Fúria de Titãs mais parece um filme ruim de aventura B, disfarçado em um épico de alto orçamento. Aliás, chamá-lo de épico é uma ofensa a esse gênero consagrado, que já nos trouxe tantas obras-primas.
2 Estrelas **
Fornecendo críticas há 2 anos, o OSN é uma colaboração de Gabriel Papaléo e Joaquim Pedro, onde o Cinema é o assunto principal a ser analisado, debatido e admirado.
Old School Nerds
segunda-feira, 31 de maio de 2010
sábado, 22 de maio de 2010
Robin Hood
Ridley Scott tinha um clássico nas mãos e fez um divertido blockbuster com belas imagens.
Robin Hood é um herói conhecido e bem clássico, em todos os sentidos. Ele tem todos os grandes atributos que um grande herói deve ter: É durão, corajoso, não tem medo de dizer o que pensa e é ainda um grande líder, um verdadeiro exemplo. Logo, era uma questão de tempo para esse clássico ícone do folclore inglês fosse adaptado á era da Hollywood de grandes orçamentos. Adaptada 12 vezes para o cinema, a história já foi de filmes mudos da década de 20 e um longa malaio até uma paródia de Mel Brooks, passando pelo filme mais famoso do herói, o de 1991 com Kevin Costner. O exemplar com Costner é um frequentador da Sessão da Tarde, com seus atos heróicos, trilha metida a épica e um roteiro pouco atraente, mas entupido de diversão trash. Agora, o inglês chega ás telas pelas mãos de outro inglês, Ridley Scott. O conceituado diretor começou a carreira com primores como Alien e Blade Runner, mas amoleceu com o tempo e agora alterna filmes grandiosos em ambição mas fracos em história como Cruzada e filmes menores e com qualidade satisfatória, como O Gângster. Após os primeiros trailer e as fotos, o novo Robin Hood empolgava. Russell Crowe parecia perfeito no papel e o elenco coadjuvante ia da competente Cate Blanchett até o legendário Max Van Sydow. Fora a impressão de que Scott queria algo novo e inovador, violento e sombrio. E agora Robin Hood chega ás telas.
A trama, julga a maioria do público, é conhecida. Robin é um ladrão que ajuda o povo de Nottingham roubando dos ricos e dando aos pobres. E é aí que a produção de Ridley Scott merece já ser vista: Não é essa a trama. A do filme conta a jornada de Robin Hood, um cavaleiro de Ricardo Coração de Leão(Danny Huston, sub-aproveitado), Rei da Inglaterra, que está nas batalhas pelo seu país quando é preso junto com 3 arqueiros após insultar uma ordem do rei. Logo, quando o rei é morto, Robin e os arqueiros fogem e levam a coroa até o ambicioso John(Oscar Isaac), que será proclamado o novo rei. Depois, Robin vai para Nottingham e conhece Lady Marion(Cate Blanchett) e Sir Walter Loxley(Max Von Sydow). Este último pede para que Robin se finja de seu filho para comandar a cidade, agora que ela está feliz com a volta do "filho pródigo". Mas quando Sir Godfrey(Mark Strong, excelente) começa a saquear várias cidades ao mando do rei, Robin tem que proteger Nottingham.
A trama não é fraca nem arquetípica. Ela poderia até criar uma excelente história de origem, que mostrasse um lado diferente de Robin Hood e, com o filme nas mãos de Scott, teríamos algo sujo, violento e, principalmente, inovador. Mas, com o roteirista Brian Helgeland, o buraco sempre é mais embaixo. Ele, responsável por trabalhos irregulares como Zona Verde, O Sequestro do Metro e Chamas da Vingança, faz desse potente candidato a clássico num típico e comum blockbuster hollywoodiano. Algumas frases de efeito e alívios cômicos não precisam participar do mix de Robin Hood. Se a proposta original(a linda forma com que o trailer foi montado) era reinventar o herói de forma artística, ela foi perdida. Temos aqui apenas um Begins, um reboot comum, como Sherlock Holmes(apesar do filme do detetive inglês ainda ser melhor, pecando apenas por problemas triviais). É a tal fórmula atual de recriar filmes com ação cativante recheadas com humor. Helgeland até constrói personagens com destreza e tem calma em desenvolver(note como ele cria um roteiro inteiro antes de mostrar o Robin que conhecemos), mas peca por criar situações comuns e diálogos completamente deslocados, tentando dar um tom épico em horas que simplesmente não precisava.
Outro exemplo é a suspensão de crença. De milhões de hectares na Inglaterra inteira, Robin foi parar justo onde o cavalo do rei passava na hora com a Coroa. E o pior: o único guerreiro vivo de uma emboscada é o homem que motiva Robin a encontrar seu passado, salvar Nottingham e tudo mais. Resumo: O filme inteiro é motivado por uma simples coincidência! Estranho pensar que no início, quando Ricardo é morto, a flecha disparada seja por um mero zé-ninguém. Aqui, o fora do comum prevaleceu, mostrando um ponto forte do roteiro. Porém, no final Robin precisa até lutar contra o vilão no corpo-a-corpo só pra deixar as coisas "mais pessoais". Uma falha enorme. Mas o roteiro tem seus trunfos. Cria personagens legais, situações aceitáveis, se avaliadas de forma descompromissada e um filme divertido, com 140 minutos que passam sem incomodar. Pra quem exige pouco, o filme pode servir bastante. Para o público ávido por blockbusters, o filme será um espetáculo. Para quem esperava algo verdadeiramente artístico de Ridley Scott, fica pra próxima.
É interessante notar que Scott poderia ter feito algo pra melhorar isso. Ele poderia simplesmente pegar a trama e pedir pra refazerem o roteiro, com o intuito de deixá-lo mais interessante e estimulante mentalmente. Mas o comodismo que tornou parte de sua persona desde A Lenda aflorou aqui. Definitivamente, as bolas do diretor ficaram com aquele unicórnio de papel na mão de Harrison Ford no longíquo 1982.
Apesar de ter amolecido como narrador, Ridley Scott continua um diretor competente. Poderia ser gênio, mas ficou preguiçoso. Filma batalhas com arrojo e com uma câmera panorâmica que faz parecer que um Michael Bay da vida nem merecia ter uma cadeira no set. Nas cenas dramáticas, sem movimentos bruscos, a direção fica acima da média, ajudando a fluência das cenas. Interessante notar também como Scott não se deixa levar pela máxima atual de colocar efeitos especiais em excesso na tela. Aqui, o legal é ver que cada fotograma do filme é uma beleza e os cenários, riquíssimos. Um verdadeiro deleite visual, com imagens bonitas a cada frame. Um filme visualmente perfeito. Ajuda também a paisagem matadora que contempla os olhos. Um grande exemplo do perfeito equilíbrio da direção de Scott com o cenário é a batalha final, pontuada com uma sequência curtíssima, porém impactante do filme: Robin, disparando sua flecha em slow-motion, de vários ângulos. Um primor. A fotografia de John Mathieson também auxilia a construir fotogramas extremamente lindos e registrando as batalhas(e os cenários) com a mesma grandiosidade. A trilha de Marc Streitenfeld é épica, mas não cai no lugar comum de um James Horner, por exemplo. Bonita e vale a pena.
As atuações também são boas. Russell Crowe faz um bom trabalho, apesar de ter mais talento que isso. Cate Blanchett faz seu padrão, o que é ótimo, mas não se sobressai mais por ter um personagem tão raso. Max von Sydow prova ser um leão da atuação, fazendo um papel poderoso e William Hurt faz pouco com seu pouco espaço de tela. Já Mark Strong é um ator extremamente competente e é profílico, podendo ter feições diferentes a cada momento. Uma atuação hipnotizante e camaleônica, de forma que não é possível saber quais as ambições de Godfrey pela aura fechada que Strong cria.
Num panorama geral, Robin Hood é um bom divertimento semanal e vale o ingresso, ainda mais pra quem gosta dos filmes de sandálias e espadas. Apesar da constante semelhança com outros exemplares do gênero, como Gladiador(até incomoda a semelhança de algumas cenas), o filme pode se sair interessante pra quem procura um novo herói antigo nas telas, recriado com os clichês atuais. Mas, ainda serve pelo visual dos fotogramas perfeitos que Scott filmou.
Fica agora a torcida por Ridley Scott. Que ele vá até sua sala, pegue um exemplar de Blade Runner e o assista e analise cada momento de sua preciosidade oitentista. E, principalmente, que ele se lembre que já foi um cineasta ousado, que ia contra as fórmulas de maneira inconsequente, arriscando tudo. Era legal na época em que a ficção-científica se tornava um gênero infantil e completamente familiar(Star Wars e E.T virando bilheterias enormes) e Ridley nos apresentava uma filosófica ficção com influências Noir que era inteligentíssima e com roteiro impecável. E olha que ele tinha inovado 5 anos antes também, com Alien. Onde foi parar esse cara? Definitivamente, o Ridley Scott visionário, que ia contra as fórmulas, sucumbiu a elas.
*** 3 Estrelas
Robin Hood é um herói conhecido e bem clássico, em todos os sentidos. Ele tem todos os grandes atributos que um grande herói deve ter: É durão, corajoso, não tem medo de dizer o que pensa e é ainda um grande líder, um verdadeiro exemplo. Logo, era uma questão de tempo para esse clássico ícone do folclore inglês fosse adaptado á era da Hollywood de grandes orçamentos. Adaptada 12 vezes para o cinema, a história já foi de filmes mudos da década de 20 e um longa malaio até uma paródia de Mel Brooks, passando pelo filme mais famoso do herói, o de 1991 com Kevin Costner. O exemplar com Costner é um frequentador da Sessão da Tarde, com seus atos heróicos, trilha metida a épica e um roteiro pouco atraente, mas entupido de diversão trash. Agora, o inglês chega ás telas pelas mãos de outro inglês, Ridley Scott. O conceituado diretor começou a carreira com primores como Alien e Blade Runner, mas amoleceu com o tempo e agora alterna filmes grandiosos em ambição mas fracos em história como Cruzada e filmes menores e com qualidade satisfatória, como O Gângster. Após os primeiros trailer e as fotos, o novo Robin Hood empolgava. Russell Crowe parecia perfeito no papel e o elenco coadjuvante ia da competente Cate Blanchett até o legendário Max Van Sydow. Fora a impressão de que Scott queria algo novo e inovador, violento e sombrio. E agora Robin Hood chega ás telas.
A trama, julga a maioria do público, é conhecida. Robin é um ladrão que ajuda o povo de Nottingham roubando dos ricos e dando aos pobres. E é aí que a produção de Ridley Scott merece já ser vista: Não é essa a trama. A do filme conta a jornada de Robin Hood, um cavaleiro de Ricardo Coração de Leão(Danny Huston, sub-aproveitado), Rei da Inglaterra, que está nas batalhas pelo seu país quando é preso junto com 3 arqueiros após insultar uma ordem do rei. Logo, quando o rei é morto, Robin e os arqueiros fogem e levam a coroa até o ambicioso John(Oscar Isaac), que será proclamado o novo rei. Depois, Robin vai para Nottingham e conhece Lady Marion(Cate Blanchett) e Sir Walter Loxley(Max Von Sydow). Este último pede para que Robin se finja de seu filho para comandar a cidade, agora que ela está feliz com a volta do "filho pródigo". Mas quando Sir Godfrey(Mark Strong, excelente) começa a saquear várias cidades ao mando do rei, Robin tem que proteger Nottingham.
A trama não é fraca nem arquetípica. Ela poderia até criar uma excelente história de origem, que mostrasse um lado diferente de Robin Hood e, com o filme nas mãos de Scott, teríamos algo sujo, violento e, principalmente, inovador. Mas, com o roteirista Brian Helgeland, o buraco sempre é mais embaixo. Ele, responsável por trabalhos irregulares como Zona Verde, O Sequestro do Metro e Chamas da Vingança, faz desse potente candidato a clássico num típico e comum blockbuster hollywoodiano. Algumas frases de efeito e alívios cômicos não precisam participar do mix de Robin Hood. Se a proposta original(a linda forma com que o trailer foi montado) era reinventar o herói de forma artística, ela foi perdida. Temos aqui apenas um Begins, um reboot comum, como Sherlock Holmes(apesar do filme do detetive inglês ainda ser melhor, pecando apenas por problemas triviais). É a tal fórmula atual de recriar filmes com ação cativante recheadas com humor. Helgeland até constrói personagens com destreza e tem calma em desenvolver(note como ele cria um roteiro inteiro antes de mostrar o Robin que conhecemos), mas peca por criar situações comuns e diálogos completamente deslocados, tentando dar um tom épico em horas que simplesmente não precisava.
Outro exemplo é a suspensão de crença. De milhões de hectares na Inglaterra inteira, Robin foi parar justo onde o cavalo do rei passava na hora com a Coroa. E o pior: o único guerreiro vivo de uma emboscada é o homem que motiva Robin a encontrar seu passado, salvar Nottingham e tudo mais. Resumo: O filme inteiro é motivado por uma simples coincidência! Estranho pensar que no início, quando Ricardo é morto, a flecha disparada seja por um mero zé-ninguém. Aqui, o fora do comum prevaleceu, mostrando um ponto forte do roteiro. Porém, no final Robin precisa até lutar contra o vilão no corpo-a-corpo só pra deixar as coisas "mais pessoais". Uma falha enorme. Mas o roteiro tem seus trunfos. Cria personagens legais, situações aceitáveis, se avaliadas de forma descompromissada e um filme divertido, com 140 minutos que passam sem incomodar. Pra quem exige pouco, o filme pode servir bastante. Para o público ávido por blockbusters, o filme será um espetáculo. Para quem esperava algo verdadeiramente artístico de Ridley Scott, fica pra próxima.
É interessante notar que Scott poderia ter feito algo pra melhorar isso. Ele poderia simplesmente pegar a trama e pedir pra refazerem o roteiro, com o intuito de deixá-lo mais interessante e estimulante mentalmente. Mas o comodismo que tornou parte de sua persona desde A Lenda aflorou aqui. Definitivamente, as bolas do diretor ficaram com aquele unicórnio de papel na mão de Harrison Ford no longíquo 1982.
Apesar de ter amolecido como narrador, Ridley Scott continua um diretor competente. Poderia ser gênio, mas ficou preguiçoso. Filma batalhas com arrojo e com uma câmera panorâmica que faz parecer que um Michael Bay da vida nem merecia ter uma cadeira no set. Nas cenas dramáticas, sem movimentos bruscos, a direção fica acima da média, ajudando a fluência das cenas. Interessante notar também como Scott não se deixa levar pela máxima atual de colocar efeitos especiais em excesso na tela. Aqui, o legal é ver que cada fotograma do filme é uma beleza e os cenários, riquíssimos. Um verdadeiro deleite visual, com imagens bonitas a cada frame. Um filme visualmente perfeito. Ajuda também a paisagem matadora que contempla os olhos. Um grande exemplo do perfeito equilíbrio da direção de Scott com o cenário é a batalha final, pontuada com uma sequência curtíssima, porém impactante do filme: Robin, disparando sua flecha em slow-motion, de vários ângulos. Um primor. A fotografia de John Mathieson também auxilia a construir fotogramas extremamente lindos e registrando as batalhas(e os cenários) com a mesma grandiosidade. A trilha de Marc Streitenfeld é épica, mas não cai no lugar comum de um James Horner, por exemplo. Bonita e vale a pena.
As atuações também são boas. Russell Crowe faz um bom trabalho, apesar de ter mais talento que isso. Cate Blanchett faz seu padrão, o que é ótimo, mas não se sobressai mais por ter um personagem tão raso. Max von Sydow prova ser um leão da atuação, fazendo um papel poderoso e William Hurt faz pouco com seu pouco espaço de tela. Já Mark Strong é um ator extremamente competente e é profílico, podendo ter feições diferentes a cada momento. Uma atuação hipnotizante e camaleônica, de forma que não é possível saber quais as ambições de Godfrey pela aura fechada que Strong cria.
Num panorama geral, Robin Hood é um bom divertimento semanal e vale o ingresso, ainda mais pra quem gosta dos filmes de sandálias e espadas. Apesar da constante semelhança com outros exemplares do gênero, como Gladiador(até incomoda a semelhança de algumas cenas), o filme pode se sair interessante pra quem procura um novo herói antigo nas telas, recriado com os clichês atuais. Mas, ainda serve pelo visual dos fotogramas perfeitos que Scott filmou.
Fica agora a torcida por Ridley Scott. Que ele vá até sua sala, pegue um exemplar de Blade Runner e o assista e analise cada momento de sua preciosidade oitentista. E, principalmente, que ele se lembre que já foi um cineasta ousado, que ia contra as fórmulas de maneira inconsequente, arriscando tudo. Era legal na época em que a ficção-científica se tornava um gênero infantil e completamente familiar(Star Wars e E.T virando bilheterias enormes) e Ridley nos apresentava uma filosófica ficção com influências Noir que era inteligentíssima e com roteiro impecável. E olha que ele tinha inovado 5 anos antes também, com Alien. Onde foi parar esse cara? Definitivamente, o Ridley Scott visionário, que ia contra as fórmulas, sucumbiu a elas.
*** 3 Estrelas
sábado, 1 de maio de 2010
Homem de Ferro 2
Constância e um nível alto numa seqüência que é melhor que o anterior
Em 2008, A Marvel Studios surgiu , lançando nos cinemas seu primeiro longa metragem : Homem de Ferro. Se tratando de um herói Marvel difícil de lidar – afinal Tony Stark não era o perfil esquematizado de super herói – a recém criada produtora surpreendeu muitos com a qualidade elevadíssima do longa que preparou . Tudo deu certo no primeiro filme : Efeitos de primeira linha , um elenco muito bem preparado ( Robert Downey Jr é mais Tony Stark do que qualquer um poderia esperar) um diretor com categoria e, principalmente, um roteiro bem feito, que dava uma base sensacional para uma história de origem fidelíssima aos quadrinhos criados por Stan Lee , dosando ação e desenvolvimento de personagens. Devido ao seu sucesso, uma seqüência era inevitável, e necessária , para os planos de união de universos de personagens do estúdio.
Em 2010, Homem de Ferro 2 é lançado, custando 200 milhões de dólares , sendo feito em um período de tempo curto, e gerando muita expectativa. Diante de todos os problemas citados anteriormente, a equipe já sabia por onde trilhar o caminho das pedras- os atores, a trilha, a direção, o tom que dar ao filme – mas o perigo morava no roteiro, a sempre perigosa trama de continuação. Se fosse para um lado de Michael Bay e Cia – De aumentar as explosões e piadas e diminuir a história – O filme poderia ser um fracasso. Sendo ele um blockbuster então, a apreensão aumentava. Seria Homem de Ferro 2 um “mais do mesmo” metido a engraçadinho ? Não. Definitivamente.
Se o primeiro filme é uma história de origem bem contada, a seqüência é um outro viés do personagem que o introduz num universo maior, tanto dos personagens a sua volta , do seu próprio “mundo” – seus próprios vilões e aliados - quanto do mundo da Marvel em si . A trama começa 6 meses depois da declaração de Tony Stark dizendo que era o Homem de Ferro, com ele à frente de um tribunal que o pressiona para tornar a tecnologia de sua armadura propriedade do governo. A sua grande exposição na mídia mundial recente fez o russo Ivan Vanko (Mickey Rourke), antigo rival da família Stark , sedento de vingança , começar a preparar suas armas para realizá-la . Ao saber da existência de Ivan , o líder das Indústrias Hammer ( Sam Rockwell) , concorrente das Indústrias Stark, decide aliar-se a ele, com interesses de dominar e superar a tecnologia do Homem de Ferro original, com a ajuda do russo. Stark precisa superar suas ameaças externas, mas também uma ameaça interna, já que a tecnologia que o mantém vivo começa a intoxicá-lo, a um ponto que pode ser fatal.
O grande prodígio do roteiro muito bem criado por Justin Theroux é se basear nos acertos do filme anterior. Não há uma mudança de clima de um filme para o outro, e não há banalidades. O texto não visa criar ação e pancadaria com uma trama sem identidade, como a de um Transformers 2 .Desde o princípio, o filme segue uma linha que até mesmo Christopher Nolan criou em seu último Batman . Depois de uma história de introdução, de origem, o segundo filme serve para demonstrar a evolução do herói, e seguir uma trama própria com seu protagonista já firmado no seu álter-ego. Partindo desse ponto, o filme toma uma constância incrível, sem pontos baixos, durante toda a exibição. Não há partes inúteis, e toda a luta presente tem um porquê, e não há exageros. Tratando assim suas cenas de ação muito bem filmadas, o filme se torna único, com momentos únicos, tirando qualquer possibilidade do estressante “mais do mesmo” que se vê por aí.
Há também uma melhora inevitável em uma das características do primeiro filme : um ritmo mais acelerado . No primeiro Homem de Ferro, a introdução deixava algumas seqüências mais monótonas, mesmo assim não tirando as qualidades do filme. No 2, o ritmo acelera sem perder os seus significados, sem perder sua essência . O embalo no filme é tamanho, a constância de sua narrativa é tão precisa, sem altos nem baixos, que o final até parece chegar de repente, tamanha a imersão que o filme dispõe aos espectadores . Imersão não criada por efeitos especiais, mas por seu belíssimo desenvolvimento de personagens, situações, e , é claro, ação bem executada.
Mas o filme não seria o mesmo sem – afinal é isso o que, entre outras coisas, mais se esperava do filme- as suas homenagens e referencias aos quadrinhos. A maleta que Tony Stark carregava nos primeiros quadrinhos continha uma armadura dobrável e flexível. Ora, no filme, a própria maleta se desdobra para se transformar na armadura . Hoje em dia, nos quadrinhos mensais, o brilho no meio da armadura é triangular . Pois no filme também se achou um modo de colocar isso, acrescentando por conta uma carga dramática no filme essencial para o personagem, em um momento desacreditado da película. E , é claro, também há uma das particularidades Marvel : A menção aos crossovers. A Shield é um fato relevante na trama, A existência de outros heróis é explícita e as evidências do mesmo, mais ainda. Tudo isso combinado serve para dar o tom do filme dos Vingadores , e essa é uma das funções de Homem de Ferro 2.
Jon Favreau também ajuda muito. Sua direção consegue registrar tudo de maneira eficiente, sem um estilo próprio , é claro, mas com maneirismos – como a câmera na mão em primeira pessoa , ou os vários zooms a lá J.J. Abrams , já presentes no primeiro filme – que contribuem muito para o estilo e beleza do filme. Somando a isso os efeitos geniais e uma trilha sonora montada que continua com músicas de rock oitentistas – mesmo tendo gasto boa parte delas da primeira vez – e Homem de Ferro 2 não deve nada tecnicamente ao seu predecessor.
É de se notar e portanto, precisa ser dito, que esse é um filme superior ao primeiro , principalmente pelo seu roteiro,que além de ser melhor , cumpre tudo o que promete sem exagerar, construindo seus conceitos de maneira balanceada, e logo, muito interessantes de se ver. Uma continuação que respeite as bases e siga o tom do primeiro filme não é fácil de se encontrar hoje em dia. E se Homem de Ferro é excelente , sua continuação é melhor ainda . Não diria que Homem de Ferro 2 é irretocável, mas que ele chega muito perto desse conceito, com certeza ele chega.
5 Estrelas*****
Em 2008, A Marvel Studios surgiu , lançando nos cinemas seu primeiro longa metragem : Homem de Ferro. Se tratando de um herói Marvel difícil de lidar – afinal Tony Stark não era o perfil esquematizado de super herói – a recém criada produtora surpreendeu muitos com a qualidade elevadíssima do longa que preparou . Tudo deu certo no primeiro filme : Efeitos de primeira linha , um elenco muito bem preparado ( Robert Downey Jr é mais Tony Stark do que qualquer um poderia esperar) um diretor com categoria e, principalmente, um roteiro bem feito, que dava uma base sensacional para uma história de origem fidelíssima aos quadrinhos criados por Stan Lee , dosando ação e desenvolvimento de personagens. Devido ao seu sucesso, uma seqüência era inevitável, e necessária , para os planos de união de universos de personagens do estúdio.
Em 2010, Homem de Ferro 2 é lançado, custando 200 milhões de dólares , sendo feito em um período de tempo curto, e gerando muita expectativa. Diante de todos os problemas citados anteriormente, a equipe já sabia por onde trilhar o caminho das pedras- os atores, a trilha, a direção, o tom que dar ao filme – mas o perigo morava no roteiro, a sempre perigosa trama de continuação. Se fosse para um lado de Michael Bay e Cia – De aumentar as explosões e piadas e diminuir a história – O filme poderia ser um fracasso. Sendo ele um blockbuster então, a apreensão aumentava. Seria Homem de Ferro 2 um “mais do mesmo” metido a engraçadinho ? Não. Definitivamente.
Se o primeiro filme é uma história de origem bem contada, a seqüência é um outro viés do personagem que o introduz num universo maior, tanto dos personagens a sua volta , do seu próprio “mundo” – seus próprios vilões e aliados - quanto do mundo da Marvel em si . A trama começa 6 meses depois da declaração de Tony Stark dizendo que era o Homem de Ferro, com ele à frente de um tribunal que o pressiona para tornar a tecnologia de sua armadura propriedade do governo. A sua grande exposição na mídia mundial recente fez o russo Ivan Vanko (Mickey Rourke), antigo rival da família Stark , sedento de vingança , começar a preparar suas armas para realizá-la . Ao saber da existência de Ivan , o líder das Indústrias Hammer ( Sam Rockwell) , concorrente das Indústrias Stark, decide aliar-se a ele, com interesses de dominar e superar a tecnologia do Homem de Ferro original, com a ajuda do russo. Stark precisa superar suas ameaças externas, mas também uma ameaça interna, já que a tecnologia que o mantém vivo começa a intoxicá-lo, a um ponto que pode ser fatal.
O grande prodígio do roteiro muito bem criado por Justin Theroux é se basear nos acertos do filme anterior. Não há uma mudança de clima de um filme para o outro, e não há banalidades. O texto não visa criar ação e pancadaria com uma trama sem identidade, como a de um Transformers 2 .Desde o princípio, o filme segue uma linha que até mesmo Christopher Nolan criou em seu último Batman . Depois de uma história de introdução, de origem, o segundo filme serve para demonstrar a evolução do herói, e seguir uma trama própria com seu protagonista já firmado no seu álter-ego. Partindo desse ponto, o filme toma uma constância incrível, sem pontos baixos, durante toda a exibição. Não há partes inúteis, e toda a luta presente tem um porquê, e não há exageros. Tratando assim suas cenas de ação muito bem filmadas, o filme se torna único, com momentos únicos, tirando qualquer possibilidade do estressante “mais do mesmo” que se vê por aí.
Há também uma melhora inevitável em uma das características do primeiro filme : um ritmo mais acelerado . No primeiro Homem de Ferro, a introdução deixava algumas seqüências mais monótonas, mesmo assim não tirando as qualidades do filme. No 2, o ritmo acelera sem perder os seus significados, sem perder sua essência . O embalo no filme é tamanho, a constância de sua narrativa é tão precisa, sem altos nem baixos, que o final até parece chegar de repente, tamanha a imersão que o filme dispõe aos espectadores . Imersão não criada por efeitos especiais, mas por seu belíssimo desenvolvimento de personagens, situações, e , é claro, ação bem executada.
Mas o filme não seria o mesmo sem – afinal é isso o que, entre outras coisas, mais se esperava do filme- as suas homenagens e referencias aos quadrinhos. A maleta que Tony Stark carregava nos primeiros quadrinhos continha uma armadura dobrável e flexível. Ora, no filme, a própria maleta se desdobra para se transformar na armadura . Hoje em dia, nos quadrinhos mensais, o brilho no meio da armadura é triangular . Pois no filme também se achou um modo de colocar isso, acrescentando por conta uma carga dramática no filme essencial para o personagem, em um momento desacreditado da película. E , é claro, também há uma das particularidades Marvel : A menção aos crossovers. A Shield é um fato relevante na trama, A existência de outros heróis é explícita e as evidências do mesmo, mais ainda. Tudo isso combinado serve para dar o tom do filme dos Vingadores , e essa é uma das funções de Homem de Ferro 2.
Jon Favreau também ajuda muito. Sua direção consegue registrar tudo de maneira eficiente, sem um estilo próprio , é claro, mas com maneirismos – como a câmera na mão em primeira pessoa , ou os vários zooms a lá J.J. Abrams , já presentes no primeiro filme – que contribuem muito para o estilo e beleza do filme. Somando a isso os efeitos geniais e uma trilha sonora montada que continua com músicas de rock oitentistas – mesmo tendo gasto boa parte delas da primeira vez – e Homem de Ferro 2 não deve nada tecnicamente ao seu predecessor.
É de se notar e portanto, precisa ser dito, que esse é um filme superior ao primeiro , principalmente pelo seu roteiro,que além de ser melhor , cumpre tudo o que promete sem exagerar, construindo seus conceitos de maneira balanceada, e logo, muito interessantes de se ver. Uma continuação que respeite as bases e siga o tom do primeiro filme não é fácil de se encontrar hoje em dia. E se Homem de Ferro é excelente , sua continuação é melhor ainda . Não diria que Homem de Ferro 2 é irretocável, mas que ele chega muito perto desse conceito, com certeza ele chega.
5 Estrelas*****
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