Old School Nerds

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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Old School Trailers

Capitão América - O Primeiro Vingador

Empolgante é a palavra chave do divertido trailer de Capitão América. Após o bom porém morno Thor, o bandeiroso da Marvel parece chegar pra ser o filme de herói mais fiel á sua proposta(Caveira Vermelha está idêntico!), ao adotar a estética de aventura anos 40-50 desde sua inspirada direção de arte ás cenas de ação á là Indiana Jones. Sendo descompromissado e nostálgico, o filme parece seguir o caminho certo do sucesso e o trailer, embalado pela ótima música do Tool, compila as cenas de ação com competência, ainda que apresente a óbvia estrutura dos trailers de blockbusters atualmente: Introdução da história, piadinha, evento catártico e montagem de ação até o final impactante. Enquanto der certo, tá valendo.

**** 4 Estrelas

Killer Elite

O primeiro trailer de Killer Elite , longa de estréia do diretor Gary McKendry - indicado a um oscar em 2004 pelo curta Everything in this County Must - chega em ritmo frenético e com sotaque britânico , trazendo duas estrelas naturais da Inglaterra em confronto : Jason Statham e Clive Owen . A produção , baseada no livro The Feather Man , de Ranulph Fiennes , conta a história verídica de um grupo de ex-agentes das forças especiais inglesas , perseguidos por uma organização assassina secreta , chamada The Clinic . Statham será o ex-agente perseguido , que precisa salvar seu antigo mentor - interpretado por Robert De Niro - enquanto Owen fará o papel de um dos assassinos da organização . Direto ao ponto , o trailer exibe o suficiente para garantir a conferida : boas cenas de ação , piruetas irreais de Jason Statham , Rock 'n' Roll clássico , além do bigodinho inusitado de Clive Owen .

*** 3 Estrelas

One Day

O bonito trailer do novo filme de Lone Scherfig, baseado no livro de David Nicholls, tem os enquadramentos que a diretora adotou em Educação, mas conta como diferencial de seu trabalho anterior a fotografia extremamente dessaturada de Eric Steenberg, o que causa estranhamento de primeira, mas é essencial pra natureza melancólica do romance. Anne Hathaway parece tão adorável como sempre e Jim Sturgess parece controlar seus arroubos de overacting(quem viu Quebrando a Banca sabe do que estou falando) nesse drama romântico com bastante potencial. Mas que o fabulesco ridículo narrador do trailer podia sumir, isso podia.

**** 4 Estrelas

A Dangerous Method

O novo filme do renomado diretor David Cronemberg (A Mosca , Marcas da Violência) tem em seu primeiro trailer uma amostra sucinta e instigante do promissor projeto . Baseando-se no livro The Talking Cure ,de Christopher Hampton , o filme leva ás telas a relação dos pais da psicanálise , Carl Jung ( Michael Fassbender) e Sigmund Freud ( Viggo Mostensen ,de volta á parceria com Cronemberg) com a russa Sabina Spielrein ( Keira Knightely) , que foi paciente de Jung no hospital onde ele trabalhava em Zurique, e acabou se tornando uma das primeiras mulheres psicanalístas da hitória . Com a trilha tensa e de acordes fortes , o trailer demonstra com sucesso o clima que o longa pretende passar . Um filme de Cronemberg com este pano de fundo psicológico , é , no mínimo , um produto em que a presença é "obrigatória".

***** 5 Estrelas

Gato de Botas

O trailer do spinoff de Shrek aposta na natureza galanteadora do astro Antonio Banderas, dublador do Gato, para criar um competente trailer. Com uma fotografia interessante por ilustrar bem o clima dos vilarejos europeus, Gato de Botas pode ser uma boa homenagem da Dreamworks aos filmes tanto de faroeste quanto os do Zorro(o que novamente brinca com Banderas). Adotando obviamente a indispensável “arma-letal-que-pode-destruir-o-mundo” como MacGuffin, Gato parece ser correto, mas poderia ser memorável se apostasse mais na seriedade do que na comédia boba. Assim como a Dreamworks, em geral.

*** 3 Estrelas

ATUALIZADO DIA 29/06

Missão Impossível IV

O novo filme da franquia Missão Impossível tem agora no comando Brad Bird, o duas vezes Oscarizado diretor de Os Incríveis e Ratatouille, na sua estréia em live-action. Porém, se a teoria era que uma abordagem diferente seria adotada por Bird, não foi o caso. Claramente, o produto é diversão escancarada capitaneada por Tom Cruise, ainda sendo extremamente eficiente em seu clima de espionagem. O tom do trailer, mais sóbrio que a ensolarada fotografia do segundo filme, deixa o filme com mais cara de filme de ação assumidamente pop, o que é ótimo no contexto. A trilha que embala a prévia, que vai de Eminem ao remix do tema clássico, investe bastante na ação e nas explosões, o que empolga de forma eficiente. Um legítimo blockbuster a se esperar.

**** 4 Estrelas

terça-feira, 21 de junho de 2011

Cidade das Sombras

Um complexo quebra-cabeça que brilha ao se resolver.

Nos anos 80, a ficção-científica apostava em uma abordagem mais aventuresca, como as aventuras de Spielberg, a ópera espacial de George Lucas e blockbusters para toda a família, como De Volta para o Futuro. Nos anos 90, a lógica se seguiu, com filmes que usavam a ficção pra diversão, como Independence Day, Armageddon e O Quinto Elemento. Claro que esse espírito mais descompromissado era bem mais respeitável que os monstros e fantasias de zíper das sci-fi dos anos 40 e 50, mas estava longe de ser o tour de force intelectual proporcionado por 2001 - Uma Odisseia no Espaço. E se tínhamos inteligentes sci-fis como Gattaca, era apenas no circuito mais restrito. Porém, em 1999, um filme abalou as estruturas do que se conhecia como Ficção-Científica Blockbuster: Matrix. Encaixando conceitos filosóficos e sendo hábil em tudo que se propunha, o filme dos Wachowskis se revelava um belo longa que fazia referências pop, desenvolvia bem seus personagens e ainda criava todo um mundo enquanto segurava suas cenas de ação incríveis. Mudando a ficção pra sempre, Matrix iniciava uma tendência tão visual(o cyberpunk estilosíssimo) quanto narrativa(qualquer sci-fi filosofa a partir dali).

O que nos traz a Cidade das Sombras, do diretor egípcio Alex Proyas. Se Matrix mudou o gênero dali pra frente, Cidade foi o precursor da mudança. Não apenas no contexto histórico, mas avaliando de um modo geral. O filme, lançado em 1998, não tinha as referências nem a ação frenética do longa de 99, mas continha todos os conceitos que tornaram Matrix tão famoso. E ao criar uma atmosfera densa, com personagens diferentes e uma trama que impressiona pela complexidade, Dark City se mostrou um exemplar impecável do gênero, ainda que tenha cometido um suicídio comercial quando comparado a Matrix. Enquanto os Wachowskis descomplicavam seu mundo e estilizavam sua ação, Proyas não dava concessões ao espectador, o que é inegavelmente mais ousado.

Quando Kiefer Sutherland surge numa boa(ainda que desnecessária) narração em off, a atmosfera misteriosa já começa a dar as cartas. Com seu estranho figurino, o doutor Daniel Schraber, a primeira figura humana que o filme enfoca após o fade in no céu estrelado, olha angustiado pro seu relógio, já dando seus primeiros sinais de personalidade - o que representa bem a brilhante construção de personagens. O que se segue é uma das cenas de "morte" coletiva mais intrigantes que se presenciou no Cinema. Ao utilizar os competentes efeitos, com uma belíssima fotografia escurecida e a direção de arte impecável, a atmosfera criada nessa cena é inquietante e deixa o espectador perplexo de uma maneira incrível.

Essa atmosfera continua sendo construída com destreza por Proyas na primeira cena que mostra John Murdoch(Rufus Sewell). Dariusz Wolski constrói um ambiente esverdeado, baseado em sua fotografia essencialmente noir, para representar visualmente o problema de memória do protagonista. Esse clima se associa com a direção de arte, que busca uma influência fortemente expressionista, com seus tons amarelos opacos e suas construções exageradas. Não se restringindo apenas a uma época da humanidade, a direção de arte busca mesclar várias épocas de nossa história. Porém, a maior competência do filme é criar essa beleza técnica e encaixá-la na narrativa de maneira orgânica e funcional. Quando o quebra-cabeças começa a ser resolvido(e as explicações, sempre enigmáticas e eficientes, surgem), o esmero de Alex Proyas com seu visual e narrativa se explicita.

Emma, interpretada por Jennifer Connelly, tem como sua primeira cena cantando Sway, numa casa de shows. Essa primeira cena, aliada aos figurinos sempre sóbrios, já entregam a influência noir que o projeto tem. A presença das prostitutas e de crimes as envolvendo, de um departamento de polícia com um astuto detetive e a iluminação baixa na rua são vitais pro filme, naquela meia hora inicial, de absoluto mistério. A cada caso não resolvido, a cada assassinato, o círculo(uma recorrente figura no filme) vai se fechando. E o roteiro, escrito por Proyas, Lem Dobbs e David S. Goyer, é feliz em causar uma imersão absoluta na atmosfera do filme, com o espectador reconhecendo(e estranhando) aquele mundo junto do personagem de John Murdoch. E mesmo ao solucionar esse mistérios, o filme se mantém fiel á sua proposta ao conceder apenas as respostas que os personagens descobrem. Sendo assim, questões ficam elegantemente ambíguas ou sem resposta. Como, afinal, os humanos chegaram até ali? A cena da canoa já nasce clássica por debater de maneira honesta e emocionante esse desespero pelo conhecimento quando só há a falta dele. A tocante desolação pela busca sem resposta é o grande trunfo de Dark City.

O perfil noir da produção se aplica também, principalmente, ao seu protagonista. Se nos noir clássicos o detetive de valores corretos acabava se desvirtuando pelo seu envolvimento com a mulher fatal, nos noir contemporâneos o subtexto é mais conceitual e subjetivo que propriamente físico. Em Veludo Azul, não é o envolvimento de Jeff com Dorothy que torna o protagonista mais pervertido, são as experiências observando Frank Booth e Dorothy. Em Blade Runner, não é o envolvimento com Rachel que faz Deckard questionar seus valores morais, são os discursos filosóficos com Roy Batty. Em Cidade das Sombras, não é diferente. Temos o noir visual(nunca é ensolarado na Dark City), os personagens do gênero, as tramas de assassinato envolvendo mulheres fatais. Mas temos, principalmente, o subtexto moral, nesse caso filosófico. Blade Runner era um neo-noir futurista e Veludo Azul era um neo-noir surreal. Logo, Cidade das Sombras é um neo-noir de realidade simulada, baseada no Mito da Caverna de Platão(o que, "curiosamente", é utilizado em Matrix também).

Os conceitos científicos apresentados auxiliam mais ainda o primor sci-fi que é Cidade das Sombras. O implante de memórias são explorados ao máximo pelo filme, que cria variações e regras para o conceito, podendo desvirtuá-lo em nome de um bom clímax. O mesmo se aplica á telecinese, que é apresentada de maneira tão natural á narrativa que quando ela é explicada, entendemos o conceito sem estranhar. A primeira cena em que os efeitos especiais são utilizados pra representar a ideia de realidade que o filme tem são impressionantes por causar a mesma surpresa no espectador que a que se causa no protagonista da história.

O clímax, por sinal, representa bastante as qualidades técnicas do filme. A trilha de Trevor Jones, que no início era intrusiva e abusava das notas altas pra exagerar a tensão(numa bela homenagem ás trilhas de época, algo parecido com a trilha de A Caixa), agora aposta num ar mais techno, se parecendo bem com as composições de Marco Beltrami(destaque pra música nas cenas de delírio). A ação é registrada por Proyas da mesma maneira arrojada com que ele dirige as cenas calmas(repare na sensacional aproximação rápida de câmera que o egípcio realiza em seus personagens), com os efeitos especiais satisfatórios e surpreendentes de um orçamento minúsculo de 20 milhões. O destaque da direção de Proyas, porém, é sem dúvida o take em que ele se afasta da Dark City, revelando o que estava "por trás" dela.

O maravilhamento técnico, aliado(e incrivelmente eclipsado) a um excelente e desafiador roteiro, tornam Cidade das Sombras um dos filmes de ficção mais competentes, tanto emocionalmente quanto racionalmente, das últimas 3 décadas, assim como o recente Source Code. Com personagens inteligentes, situações misteriosas e questões filosóficas válidas e instigantes. Liberando no final as cenas de ação, que não prejudicam o filme em nada(levando em conta o caminho que o filme trilhou), Cidade das Sombras ainda é satisfatório por conseguir o que raramente se adquire em uma ambiciosa ficção-científica.

Responde as suas grandiloquentes perguntas de uma maneira igualmente intelectual.

***** 5 Estrelas

terça-feira, 14 de junho de 2011

Old School Trailers

The Descendants

O trailer do novo filme de Alexander Payne tem um tom agridoce que já é conhecido nas obras do diretor. O protagonista de meia-idade, também uma constante na filmografia de Payne, é personificado por George Clooney, na história simples do homem que precisa se reconciliar com suas duas filhas após um acidente com a ex-mulher. Como o drama tem tudo pra dar as cartas de maneira intensa, quando necessário, alguns elementos fogem do controle e o próprio trailer sugere um deles, a traição da mãe das meninas. Depois de sete anos longe das filmagens, esse parece ser um retorno promissor de Payne, após sua consagração por Sideways.

**** 4 Estrelas

The Muppets

O inspirado trailer do filme baseado nos fantoches exibe imenso carisma e bom humor ao empregar a metalinguagem com a indústria do cinema como fator principal nos 2 minutos da prévia. A sacada de apresentar o filme como uma comédia-romântica com Jason Segel e Amy Adams é excelente e a forma como o truque é revelado, quando o narrador anuncia a presença de Caco, o Sapo no elenco, é divertidíssima. Escrito pelos competentes Segel e Nicholas Stoller, dos elogiados Forgetting Sarah Marshall e Get Him to the Greek, Muppets é uma das grandes promessas de filmes infantis esse ano, honrando o legado inesquecível dos fantoches.

***** 5 Estrelas

The Girl with the Dragon Tattoo

Depois do revolucionário A Rede Social, David Fincher lança um ano depois a sua volta ao gênero que o formou em 95 com Seven: o suspense de investigação. Com uma montagem esplêndida de imagens, aliadas à excelente versão de Karen O e Trent Reznor para Immigrant Song, o trailer é um dos mais vigorosos e competentes do ano. O visual da fotografia de Jeff Cronenweth, dessas vez mais dessaturada que em Rede Social, é um dos grandes atrativos da prévia, em conjunto com a direção de Fincher, que parece ser a mais arrojada desde Clube da Luta. Um belo panorama do que estar por vir e um trailer que consegue um feito invejável: transformar um questionável remake em um legítimo candidato á filme do ano.

***** 5 Estrelas

A Hora do Espanto

O novo filme de Craig Gillespie, de A Garota Ideal, é mais um na onda de remakes oitentistas, como Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo. Porém, com este ótimo trailer, A Hora do Espanto se apresenta com uma estética estilizada precisa e promete bastante. Nunca vi o original, mas a história do vampiro vizinho de Charley(Anton Yelchin) parece dar um novo fôlego ao vampiro em seu jeito tradicional, dessa vez apostando na estética cool que vai da fotografia a atuação inspirada de Colin Farrell. Terror á moda antiga pra ninguém botar defeito. Uma grande promessa pro fim de ano. O negócio é torcer pro 3D ser bem aproveitado.

**** 4 Estrelas

Larry Crowne

O novo filme de Tom Hanks, o primeiro desde o bom The Wonders!, tem o bom humor e carisma do astro, mas parece ter a trama com marca registrada de sua amiga Nia Vardalos, que escreveu o roteiro com Hanks. A "grega" Nia, roteirista de Casamento Grego e Eu Odeio o Dia dos Namorados, tem as tramas românticas como marca e Larry Crowne, ainda que seja uma bem humorada romântica. O trailer tem um timing cômico eficiente e conta um panorama bom da trama sem revelar muitas coisas. Interessante pra se ver de forma leve, como os dramas feel-goods que volta e meio surgem.

*** 3 Estrelas

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Qualquer Gato Vira-Lata

Comédia romântica suicida glamouriza a mulher bomba-relógio.

A escola de Katherine Heigl anda ganhando seus discípulos. A loira americana, atriz que tem uma queda gigantesca pelo caricato, sempre interpreta em seus filmes o mesmo papel. Seja em A Verdade Nua e Crua ou em Juntos pelo Acaso, passando por Par Perfeito, Heigl vem sempre como a dona de casa tipicamente estadounidense, a neurótica viciada em anti-depressivos que expõe suas emoções de forma desesperada e reage ao novo como se tivesse 5 anos de idade. O problema disso tudo é que Heigl torna seus filmes bem populares, ao fazer os americanos médios racharem de tanto rir. E seja como uma repórter ou uma mulher de pistoleiro, a atriz sempre passa pela mesma trama, que soa tão próxima do público médio: E se uma mulher comum acabasse no meio de um evento maior que sua vidinha? No filme Qualquer Gato Vira-Lata, adaptado da peça do bom Juca de Oliveira, não acontece nada de grandioso na vida da protagonista, mas isso não impede-a de surtar completamente, assim como a loira da América. Se Heigl já tem seu mundinho implodido por qualquer mero deslize na ordem natural das coisas, aqui em Qualquer Gato Vira-Lata ela tem em Cléo Pires sua afilhada perfeita.

Desde os créditos iniciais, já percebemos que Tati, interpretada por Cléo, é uma mulher contemporânea e totalmente insegura. Se não bastasse a narração em off tentar desenvolver a personagem enquanto cria piadas com as imagens(a mais patética é a das várias roupas caindo em cima da cama), o diretor Tomás Portella faz o possível pra estragar qualquer fluidez em seus enquadramentos, ao seguir os pés da atriz de maneira mecânica e pouco criativa. E se o roteiro fizesse de tudo pra não desenvolver Tati de maneira decente, visualmente Cléo não faz nada pra ajudar. Com sua cara de criança que perdeu a mamadeira, a atriz se entrega ao overacting sem o mínimo respeito com o espectador, interpretando passagens de forma patética. Passagens como a da boate parecem surgir de outro plano narrativo, tamanho o absurdo que se mostra em tela. E dessa vez nem é só Cléo que atua de maneira capenga: Todos em cena parecem pertencer a um plano onde todos são retardados. Resta saber ao espectador com mais de 8 anos como uma mulher de 25 anos contorce seu corpo só pra não olhar um homem dançando.

Os problemas prosseguem ao vermos que todas as atuações são homogeneamente ruins. É impossível afirmar com certeza se a culpa é do preparador de casting ou do diretor amador, mas é gritante a falta de qualidade. Se Cléo Pires já não fosse suficientemente prejudicial ao filme, Dudu Azevedo faz questão de piorar as coisas, ao conceber um personagem previsível, arquetípico e totalmente sem-graça. Aliás, o humor das cenas do personagem surge em sua maioria involuntário ou devido ao dispensável alívio cômico interpretado por Álamo Facó. Mas as piores cenas são as da preparação da tese de Conrado, o professor de biologia. Cléo libera suas neuroses e Malvino Salvador oscila brilhantemente entre o desastre nuclear e o Framboesa de Ouro. Adotando trejeitos manjados e montando seu personagem como um banana obrigatoriamente CDF, nível óculos de grau sempre ajeitado, Malvino tem uma das piores atuações do Cinema recente, ao declamar suas falas sem acreditar nas mesmas, soando robótico e indevidamente hilário. Até mesmo nas cenas cômicas, onde a caricatura serviria pra rir, Conrado parece ser uma figura inexistente, tamanha a falta de timing cômico. Esperem só até ele gritar "Charles Darwin!!! É Charles Darwin!!!!".

Mas convenhamos, comédia romântica já é um gênero complicado nos termos de atuação desde sempre. Os atores dificilmente conseguem realizar atuações memoráveis nesse tipo de filme, já que é da natureza das convenções da rom-com os arquétipos. Visto isso, daria pra relevar um pouco as pavorosas atuações. Porém, Qualquer Gato Vira-Lata vai além ao empregar uma ideologia confusa, mal-explicada, contraditória e, principalmente, nociva. Retratando as mulheres neuróticas como Heigl e Cléo como "comuns", o roteiro já rotula a mulher moderna como um ser difícil de se conviver, indeciso e quase um maníaco por estética e Prozac. Cena emblemática é aquela que Tati leva flores pro aniversário do seu namorado e ele dispensa ela. A reação da protagonista é totalmente extremada, chorando horrores só por um mero "vamos dar um tempo". Desnecessário dizer que a chuva começa exatamente na hora do "fora".

Mas se essa reação fosse localizada, só da protagonista, estaria tudo bem, afinal não precisamos concordar com os métodos e personalidade do personagem para se identificar com ele. Porém, Conrado diz em certa cena que Tati é perfeita, que não tem nada de errado com ela. É a partir daí que a ideologia do filme se torna nociva e ainda dá sinais da confusão que se mostrará a seguir. Se a mulher certa é essa neurótica por homens, por que ela precisa de um professor cuja teoria prega a superioridade masculina? A resposta, inequívoca, temo que seja que a mulher contemporânea é burra e submissa, o que curiosamente vai de encontro ao que o professor pensava, mesmo ele estando certo. Parece paradoxal? Sim, você está certo. Alguma coisa está errada quando uma COMÉDIA meramente comercial chega pro público e fala que os ignorantes são os mais felizes. O cinema estava cheio e eufórico. Fica difícil discordar.

Não faz o menor sentido um personagem estar certo e errado sobre o mesmo assunto. O macho alfa tem que transar com todo mundo, mas não merece a mocinha. Hipócrita, o personagem de Malvino Salvador só não é mais odiável por falta de minutagem. E a mensagem do filme se perde completamente em meio ás convenções da comédia romântica.

A analogia com a bomba-relógio procede muito aqui. Sempre que algo novo acontece(geralmente quando um homem a deixa), a mulher do filme tem seu fio vermelho cortado, explodindo, perdendo o controle. Resta a ela esperar o homem voltar e cortar o fio azul, melhorar as coisas. Conrado tenta fazer Tati melhorar e tomar controle perante ao homem(o que ridiculamente vai opostamente ao que ele prega), mas só a auxilia a voltar para Marcelo(o personagem de Dudu). Em suma, só faz a mulher "independente" voltar ao cara que sempre a sacaneou. Isso poderia ser genial se Tati terminasse com Marcelo, afinal só provaria a tese de Conrado(que as mulheres tem que aceitar o homem infiel), mesmo que enganando a pobre coitada da protagonista. Porém, quando chega o final, a contradição fica latente e é impossível não rir da falta de inteligência dos roteiristas.

Se não bastasse ser intelectualmente estúpido e errado, a hecatombe nuclear que é Qualquer Gato Vira-Lata ainda é tecnicamente desprezível. A direção truncada de Portella não se apega a nenhum cuidado estético e não pensa em extrair algum signficado além com seus enquadramentos. Cometendo barbeiragens constantes(como sua péssima direção nas conversas de Tati com Conrado), Portella se sai ainda pior nas partes cômicas quando, trabalhando em conjunto com a preguiçosa edição, registra tudo sem o mínimo timing cômico. O engessamento das falas é crucial também. Sabe quando uma personagem fala uma palavra errada e se conserta depois só pra parecer uma fala fluida? Pois é, na palestra inicial, isso acontece e é involuntariamente hilário.

Nada pode ficar pior quando a cena se estende além do que deveria ou mesmo quando ela é cortada antes do necessário. Tome como exemplo a primeira cena das explicações de Conrado no apartamento de Tati. Justo quando as interações começam a ficar interessantes, o diretor corta sem maiores explicações. Para concluir o desastre, não dá nem pra falar que a fotografia é muito boa, como vários críticos dizem para não falar que o filme horrível. Aliada ao péssimo design de som, fora de sincronia, a nojenta fotografia escura dá sinceras ânsias de vômito nos cinéfilos, ao desfocar e enfeiar a película, utilizando um grão grosso demais, sem a mínima função narrativa.

Fotografias granuladas são ótimas quando em boas mãos, como as de Matthew Libatique e Dante Spinotti, fotógrafos de Darren Aronofsky e Michael Mann, respectivamente. Mas aqui, além de muito feia, a fotografia granulada dá um tom documental que não combina nem com o tom cômico, nem com a direção parada de Portella e nem com o espírito do filme. Fica até chato dizer que a trilha sonora do quase sempre competente Pedro Bronfman é risível. Com tantos erros primários, é até desnecessário apontar mais um no filme.

Amador, teatral no pior sentido e atuado e filmado de forma pedestre, Qualquer Gato Vira-lata empalidece até mesmo perante as fracas comédias românticas produzidas no país, como A Mulher Invisível e Se Eu fosse Você. Infelizmente uma fórmula de sucesso de público, o gênero do filme não sumirá tão cedo de nossas memórias e cinemas. Tendo uma coleção das piores cenas do ano(o que é aquela patética sub-trama com a mulher? E a cena de Conrado com o chefe?), o filme entra no limbo do pior que já foi feito por aqui no Brasil. Evitem o máximo que puderem.

Endeusando a mulher bomba-relógio, Qualquer Gato Vira-lata sobrevive. Esperando seu príncipe encantado por dolorosos 90 minutos, Cléo Pires tem seu final feliz. Que o fio azul foi cortado, não resta dúvida. O problema é saber quem o cortou.

O slogan do cartaz ilustra: Quem é seu par ideal? Ao final da sessão, fica a dúvida.

* 1 Estrela

sábado, 11 de junho de 2011

Kung Fu Panda 2

Dreamworks corta enrolação -e vai além - em animação competente.

É tradição da DreamWorks Animation realizar filmes infantis baseados essencialmente em ação , aventura ,e personagens carismáticos - e invariavelmente cômicos . É a maneira de se trazer dinheiro para o estúdio e de explodir com sucesso fácil entre as crianças . Foi o que o tentaram fazer no primeiro Kung Fu Panda (2008) . Protagonista gordinho e engraçado, pano de fundo de tons épicos e muita ação . Essa era a fórmula que faria o filme do urso Po o ''novo Shrek'' . E se a animação de 2008 já tinha sido um sucesso fenomenal , temos agora sua sequência . E é preciso dizer este Kung Fu Panda 2 , apresenta-se, de modo geral , numa forma ainda melhor que a de seu original .

Há fatores que explicam isso . Se o primeiro filme queria arrebentar em ação logo de cara , teve que aguardar a explicação da história , a introdução dos seus personagens . Era preciso apresentar Po , aguardar sua maturação , e contar a velha historinha do ''escolhido improvável''. Assim , o primeiro filme agradou muito , mas, verdadeiramente, o papel de ''ir direto ao ponto'' tem muito mais a cara deste segundo longa . Sem perder tempo , Kung Fu Panda 2 parte para a ação sem cerimônia - o que faz dele um produto tão mais divertido - mas também não se esquece das partes dramáticas nos momentos certos de projeção - o que o torna um mínimo avanço para a didática da DreamWorks.

Praticamente , toda a história do filme se esboça em seus 5 primeiros minutos de exibição . É contado - em uma animação 2D de artes gráficas interessantes - que Lorde Shen , um príncipe pavão , ao saber da descoberta da pólvora , começa a utilizá-la para fins destrutivos , e não meramente lúdicos - como para fogos de artifício , por exemplo . Ele inventa as armas de fogo , e , com seus canhões , pretendia subjugar toda a China . Uma profecia , entretanto , dizia que Shen não conseguiria realizar tal feito , pois um ser preto e branco o impediria . Para previnir-se , o pavão ordena que todos os pandas do reino sejam dizimados . Ele é expulso do reino por seus pais logo após isso , mas promete um dia voltar e se vingar de todo o povo chinês . Quando ele retorna , só Po (o panda sobrevivente) e seus companheiros podem impedir tal tragédia .

A partir desta breve explicação ilustrada , já temos todo o esquema do filme armado . São Po e os Cinco Guerreiros , contra o exército do pavão e seus poderosos canhões . Não há nem cogitação para enrolar ou complicar, e partimos todos para dentro da ação junto aos protagonistas . Essa simplicidade que vive estampada na cara da DreamWorks , agora parece mais admitida, mais aceitada . Se é ação que se sabe - e se quer - por em prática , então que a façam com destreza e admitindo o roteiro raso . Fazendo isso , esta segunda aventura de Po pelas telas se torna mais limpa em carga narrativa , e por conseguinte um entretenimento muito acima da média .

Todo esse gás proveniente de uma história simples e direta , dá , é claro , muita força para a produção , mas não seria o suficiente para mante-la viva por 95 minutos . É aí que Kung Fu Panda 2 conquista seu diferencial crucial - sua parte dramática . O filme tem seu foco nas belas cenas de ação , mas trás também a temática do passado de Po . O Dragão Guerreiro , afinal , vai enfrentar , pelo bem da China , o assassino de seus pais . Toda a ação é permeada por detalhes dos pais de Po , da noite do massacre , de sua superação frente ao ocorrido . Isso tudo ajuda a engrandecer o personagem principal , aumentar sua tridimensionalidade dramática , na busca por sua ''paz interior'' . Conseguir reunir com sucesso dois artifícios fundamentais para uma animação hoje em dia - o entretenimento de qualidade e um drama minimamente trabalhado - é o trunfo principal do longa .

O resto fica por parte das suas belezas visuais e do talento da equipe técnica . A direção de arte , assim como a fotografia , extraem toda a intensidade da cultura chinesa , e as paisagens orientais são ressaltadas em relação ao primeiro filme . Muito competente também , é a diretora estreante Jennifer Yuh Nelson , que tem excelência ao dirigir de um modo semelhante ao do primeiro filme - fornecendo um senso de unidade á franquia - e obtendo êxito nas partes de luta e de perseguição . Ágil , com takes muito bacanas , - destaque para toda a sequência de fantasia de dragão , que possui sacadas visuais interessantes - ainda consegue se sair bem na utilização do 3D . Explorando o estudo de profundidade com objetos que frequentemente trabalham dentro e fora do 3D , temos em Kung Fu Panda um exemplo de emprego orgânico da tecnologia, que , se não é fundamental para o filme , o preenche de detalhes preciosos . Um exemplo de longa que vale a pena gastar para ser assistido com os óculos , pois de fato trabalha com a cara tecnologia de maneira decente .


Admitindo sua ação desenfreada sem querer problematizá-la num roteiro mais cabeçudo - ou seja , assumindo ser uma aventura escapista pura e simples - e desenvolvendo seu personagem através de arcos dramáticos mais densos - como realizado em Como treinar seu Dragão - Kung Fu Panda 2 é , mesmo que tímido , um avanço . Mas lembre-se : É um avanço nos termos obsoletos e egessados da DreamWorks . Para chegar ao nível da Pixar , ainda falta uma China inteira para o estúdio percorrer .

Obs : Nota-se ao fim da sessão, que esta será a nova franquia que ''sustentará'' o estúdio , devido a um grotesco e desnecessário gancho para continuação .

4 Estrelas ****