Old School Nerds

Old School Nerds

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dr. Strangelove

Stanley Kubrick exibe sua genialidade em uma diferenciada comédia.

Dr. Fantástico é um clássico. É uma das obras mais geniais de todos os tempos e um dos filmes mais amados pelos cinéfilos mundo afora. E é um ponto interessante a se notar que é o gênio Stanley Kubrick testando o terreno da comédia, algo totalmente diferente de seus filmes anteriores(e até mesmo dos posteriores). Mas Kubrick não criou esse divino filme sozinho. Ele teve visão em enxergar um ótimo material pra roteiro no livro de Peter George. E ainda inovou em tirar sarro do espírito de thriller do livro. Além disso, Kubrick teve ajuda do magnifíco Peter Sellers, comediante consagrado que faz aqui três papéis(!!!) e dá sua contribuição pra história. Em 64, Kubrick fez algo excelente em criar um filme de 1.8 milhão que tem pouco apelo ao público, o que facilita até mesmo ao estúdio. E, vale dizer também que Dr. Fantástico não é nem um pouco datado. É um filme bem inteligente sobre o contexto da Guerra Fria e retrata o quão incrível(e idiota) um homem pode ser com muito poder em mãos. Kubrick debocha disso e faz um humor negro bem ácido.

A trama, costurada com o esmero habitual do diretor, aborda vários personagens. Ela começa com pilotos em um avião cheio de bombas atômicas. Esse avião é acionado pelo General Jack D. Ripper(Sterling Hayden) para bombardear a Univão Soviética. Jack, no ápice de sua loucura e ultra-patriotismo, diz todos os seus planos e pensamentos para seu companheiro, Capitão Lionel Mandrake(Peter Sellers). Do Pentágono, vários homens reunidos tentam planejar como vão tirar os aviões do ar e impedir um holocausto nuclear. Nesse verdadeiro caos, o presidente Merkin Muffley(Peter Sellers) precisa bolar uma estratégia com o General Buck Turgidson(George C. Scott) para comunicar aos russos que os aviões estão indo ao seu território. A partir daí, começa uma tensão que envolve até mesmo o físico nuclear Dr. Strangelove(Peter Sellers, de novo).
Mas, apesar da intrincada trama, tudo é tratado com um humor refinado e até mesmo negro. Não se espante se você rir ao saber que soldados foram mortos ou se ver um homem preso a uma bomba nuclear. É exatamente o que Kubrick quer, nos tratando como público inteligente.

Tecnicamente, Dr. Fantástico é belo e muito bem cuidado. A direção de Stanley Kubrick é certeira e calma, como sempre. Aqui, sua assinatura é facilmente reconhecida o que o torna um dos cineastas com mais identidade na indústria. Segura e perfeita, a direção é um ponto altíssimo do filme. A fotografia do filme, realizada por Gilbert Taylor, é precisa. Um preto-e-branco bonito, com poucos contrastes. Mas, diferente de Pi ou A Lista de Schindler, Dr. Fantástico não é P&B porque quer e sim porque é de 1964. Apesar do percauso histórico, a fotografia é bonito e elegante, muito parecida com a de Acossado. Competente, Gilbert faz um bom trabalho e dá o tom certo pra ironia de Kubrick. A edição de Anthony Harvey é muito boa também, dando um ritmo cômico ao filme. As cenas dentro do Pentágono, por exemplo, são de uma perfeita harmonia direção-edição, o que é tocante diante de tal esmero. Agora, talvez o maior fator determinante de pontuar o filme como comédia(além do roteiro) é a trilha sonora. Laurie Johnson faz um trabalho bem curioso. Quando surge as cenas no avião, sobe a música militar, que por si só causa risadas. Fora essas cenas, a trilha é bem mediana e cumpre bem o papel no filme.

As atuações de Dr. Fantástico são um primor, outro fator principal do filme. As atuações são todas ótimas, mas três atores merecem ser exaltados. Peter Sellers demonstra um perfeito domínio de atuação e criação de personagens. Incrível como Peter consegue ser 3 pessoas diferentes em apenas 94 minutos. Quando ele atua como Mandrake, ele demonstra um humor inocente, sendo um adorável medroso. Quando é Merkin, ele é seguro e faz feições engraçadas. Aqui, ele opta por um humor de vergonha alheia. Merkin sofre com os arroubos megalomaníacos de todos seus subordinados e mantém sua cara de "o que está acontecendo?". Quando é Dr. Strangelove, ele é engraçado na medida, com sua melhor atuação no filme. Sellers faz aqui seu trabalho definitivo, o que realmente provou o gênio que ele é. George C. Scott também impressiona por sua atuação sem limites e delirante. Seu Coronel Buck é um ser paranóico por natureza, um típico espécime que enlouqueceu com seu poder. C. Scott também acrescenta elementos interessantes ao personagem, como sua fala rápida. E Sterling Hayden, como o Coronel Jack. Estranho, paranóico e cruelmente engraçado, Sterling cria um personagem interessante, mas facilmente eclipsado por George e Peter.

No roteiro, Stanley Kubrick, Terry Southern e Peter George(o escritor do livro) criam um universo descontrolado e muito engraçado. Quando o roteiro estrutural aponta situações totalmente surreais, os diálogos fazem questão de ajudar o caos, deixando tudo ilimitado, inconsequente. E isso é um grande acerto para o filme. Deixar o non-sense prevalecer em alguns momentos é bem interessante e talvez o filme fosse bem inferior se não deixasse isso acontecer. E é interessante notar também que Kubrick, mesmo em uma comédia, mantem-se um cineasta visionário e corajoso. Suas soluções de casos no roteiro, suas piadas e até mesmo seu final são de uma irrealidade estranhamente bonita. Irrealidade, não por serem situações que exigem suspensão de crença mas porque são de humor negro demais para serem retratadas por um grande cineasta, no circuito aberto. Um exemplo: Você não iria rir com um suicídio. Mas Kubrick coloca a situação tão perto do limite que é quase impossível não rir com a situação. Definitivamente, o roteiro é o ponto alto do filme, o que determina toda a sua acidez e prova que Kubrick é um gênio, talvez o maior cineasta de todos.

No final, Dr. Fantástico pode causar um gosto amargo na boca. Piadas, situações fora de controle e até mesmo um alucinado final causam isso num público mainstream. Mas agora eu entendo porque Dr. Fantástico é tão elogiado. Seu deboche e senso crítico é preciso e intenso, um verdadeiro sonho de comédia, algo que deveria aparecer nos cinemas a todo momento. É uma película despida de pudores, algo corajoso demais para ter fácil digestão perante todos. E mais complicado ainda é pensar que esse filme foi lançado no meio da Guerra Fria, para um grande circuito. Sinceramente, se eu soubesse que o filme foi banido em algumas nações eu entenderia perfeitamente.
Ofensivo e deliciosamente malicioso, Dr. Fantástico não é o melhor filme de Stanley Kubrick. Mas é, com certeza, um dos melhores que o espectador pode ver na vida.

***** 5 Estrelas

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pi

Estreia do gênio Darren Aronofsky perturba(de maneira positiva).

Um estudante de cinema de 28 anos. Com bastante amigos e conhecidos da faculdade, ele conseguiu 100 dólares de cada um e juntou 60.000 para um filme, com uma história dele próprio, um amigo ator chamado Sean Gullette e seu outro amigo produtor, Eric Watson. Então, ele realizou o filme, conseguiu uma distribuição nos USA e lançou em Sundance. Seu projeto se chama Pi e chegou no Brasil em 2002, apenas 4 anos depois do seu lançamento americano. Obviamente, Pi chegou no Brasil por causa do segundo filme do estudante(agora cineasta), Requiem para um Sonho, que chegou aqui em 2001. Esse estudante se chama Darren Aronofsky, um dos maiores diretores vivos(o maior, na opinião do humilde crítico aqui). Esse gênio contemporâneo já demonstra todo o estilo de direção que o fez famoso em Requiem e, posteriormente, em Fonte da Vida e O Lutador. Mas não apenas a direção se sobressai. O roteiro de Aronofsky(apenas a história é dos três acima citados) é preciso e, apesar do nível psicológico da trama, ela não se excede demais, mantendo apenas o padrão pesado dessas produções. Pi impressiona pois ser como Reservoir Dogs: Representa um talento bruto, sem estar lapidado, sem alguns caprichos de produtores e com mais liberdade criativa.

A trama, costurada de forma diferente, o que pode causar estranheza, apresenta Max Cohen(Sean Gullette), um matemático talentosíssimo, mas que corre sérios riscos por sua total imersão no trabalho. Ele tem transtornos, está sempre ansioso e com sangue no nariz. Suas doenças podem piorar se essa imersão continuar e suas enxaquecas não param de aparecer. Mas, ele continua com a cabeça num intrigante enigma: Ele acha que encontrou em Pi, número que representa qualquer circunferência, um padrão pra qualquer coisa na natureza. Das árvores num parque até o ciclo da Bolsa de Valores. Então, ele começa a acertar até as previsões mais difíceis sobre a Bolsa e ele é identificado por um tubarão do mercado de ações, que oferece um prêmio tentador para Max continuar tentando acertar. Mas, há obstáculos. Seu amigo matemático, Sol(Mark Margolis), acabou tendo um derrame com essas tentativas de achar Pi no Mundo. E, cada vez mais, Max começa a reavaliar sua situação, se vale a pena ir até o limite.
Isso já se prevê uma história difícil de acompanhar. E está correto, apesar da coisa só piorar com o tempo. Aronofsky introduz delírios psicóticos e uma montagem rápida em algo já difícil de se acompanhar. Mas, para a surpresa de todos, isso ajuda. E muito.

Nos quesitos técnicos, Pi é excelente, ainda mais sendo um filme independente. A direção de Aronofsky é o melhor do filme, o grande atrativo. Os impressionantes efeitos de montagem(que o fizeram ganhar fama de clipeiro para alguns desavisados) e sua direção segura e bem estática auxiliam o espírito do filme, bem sombrio. Alguns takes parados de Aronofsky lembram bastante os de um gênio, Stanley Kubrick. As tomadas que pegam o núcleo do PC de Max Cohen são parecidos com qualquer take de Kubrick, o que torna Aronofsky um cineasta impressionante. Aqui, é sua direção mais segura, porém não é a melhor. A fotografia de Matthew Libatique, outro estreante, é notavelmente bela. Altamente contrastada, a fotografia em Preto e Branco é bonita e bem interessante. Um ótimo exemplo da falta de recursos que auxilia no final das contas. Desde já Libatique demonstra ser um competente fotógrafo, mas é uma pena que ele nunca tenha igualado esse trabalho. A edição de Oren Sarch é muito boa também, auxiliando a direção de Aronofsky no Hip-Hop Montage e dando ritmo bom ao filme quando as cenas são paradas. Mas, outro fator de destaque é a trilha sonora. E já está até chato falar que Clint Mansell fez um trabalho soberbo, perfeito. Ele simplesmente arrebenta em sua estreia como compositor. Apesar de tardia(Mansell tinha 36 anos), a estreia é igualmente poderosa a suas trilhas atuais. Não é uma trilha de Requiem para um Sonho, mas é fantástica. Gênio.

Em atuações, difícil falar de Pi. Sean Gullette, ator amador e amigo de Aronofsky, faz um trabalho imensamente poderoso. Seu Max Cohen é neurótico, inteligentíssimo, transtornado e desesperado. Impressionante, uma pena que Sean tenha absloutamente SUMIDO. Ele é um ator talentosíssimo. No drama, ele atua bem. Mas quando surge o psicótico, Sean some no papel. Interessante. Mark Margolis, no papel de Sol, também atua bem. Seguro, apesar de seu pouco tempo de tela, Margolis conduz seu papel com destreza e serenidade. Outro que merece citação é Ben Shankman, o Lenny Meyer, que introduz Max na Kaballah. Ele atua bem, na média e não compromete seu relativamente grande tempo de tela. Por isso é difícil de falar de Pi: Além de amadores, os atores não são muito valorizados quando se sabe que o filme é de Gullette. Ele é o filme, o protagonista, o sentimento, o âmago do filme. E, por isso, ofusca os outros com certa facilidade.

Em roteiro, Pi não decepciona. Aronofsky é refinado e constante no roteiro, sem deixar o filme ficar entediante. Ele até cai de ritmo em certa parte, mas nada que prejudique o fantástico resultado final. Os diálogos, inteligentes e estimulantes intelectualmente, são precisos e só são travados quando é necessário, o que dá uma bela sensação de que o diretor faz questão de seguir a regra dos mestres: Apenas explicar o que uma boa imagem não pode mostrar. A estrutura também é competente, demonstrando a habilidade de Aronofsky em criar tramas complexas e até prolixas. Aqui, novamente, deve ser exaltado o talento do gênio, afinal Pi é baseado apenas em suas ideias e de seus amigos, sem ser adaptação de livro(Requiem) ou roteiro terceirizado(O Lutador). É claro que Aronofsky deixa sua marca em cada um desses filmes e sem dúvida sem resultado final fica melhor que o planejado, mas indiscutivelmente tem que se elogiar uma criação própria e independente. Na perda de ritmo de filme, não é culpa toda do roteiro e sim das saídas que eram possíveis. O caminho extremo do filme premeditava uma diminuída no ritmo e isso é compreensível. Num balanço final, o roteiro é brilhante.

Interessante e lisérgico, Pi impressiona e assusta a audiência. Um suspense psicológico com pitadas de ficção-científica que causa admiração na crítica em geral. Nos grandes festivais, o filme também foi bem recebido, mesmo sendo tão estranho como é. O tenso filme foi um ótimo ponto de partida para Aronofsky, que faria filmes muito melhores posteriormente. E um parabéns particular a Europa Filmes por ter trazido um filme independente como esse para o Brasil. Mesmo com o atraso, é digno de aplausos.
Quem puder, baixe ou compre o filme para apreciar esse talento genioso num ponto cru, em sua estreia. Sensacional, um filme para ver antes de morrer.

E uma última curiosidade, para ajudar o espírito do filme: A minutagem do filme é 1 Hora, 23 Minutos e 45 Segundos. 1:23:45. Acredite no Caos. =)

***** 5 Estrelas

domingo, 24 de janeiro de 2010

Up In The Air

Jason Reitman e um shake de seus dois filmes.

Jason Reitman é, para a indústria do cinema, jovem, mas já tem certa experiência e sabe o que faz. Tanto em Obrigado por Fumar quanto em Juno, o diretor cria obras muito boas, com temas divertidos e muito interessantes, mas ,peca ao carregar o filme adiante . Sofre de perda de ritmo , algo que pode atrapalhar um pouco suas criações a receberem uma nota máxima . Amor Sem Escalas(Up in the Air) é outro que segue por esse caminho.

O início, como de costume, é com uma sequencia de créditos iniciais estilosa, como de gosto de Jason Reitman. Música antiga e rítmica ao fundo, enquanto vários cortes de takes aéreos são exibidos. Dava pra reconhecer o realizador sem nem ao menos ler os créditos em si. Depois, um corte rápido para uma situação diária do protagonista, com uma narração em off nos apresentando tudo. Bem parecido com o primeiro filme do jovem cineasta, Obrigado por Fumar. Baseia-se , como no primeiro filme , num personagem que tem um trabalho um tanto peculiar, que gera situações engraçadas e reflexivas.

O Nick Naylor desta vez é Ryan Bingham, ( George Clooney) um Conselheiro de Transições de Carreira, que é, em outras palavras, um profissional contratado por empresas sem coragem de demitir seus funcionários (muito bem explicado o porque desse medo no início, a propósito) para realizar essa dura tarefa. Dinamicamente, Reitman nos mostra o trabalho de Ryan, e também seu cotidiano. Para chegar a todas as empresas que precisa colocar seu trabalho em prática , ele viaja constantemente pelo país, de maneira tão intensa que passa mais tempo da sua vida nos aviões e hoteis do que na sua casa ( pobremente mobilhada, devido a motivos óbvios ). Sendo tão desapegado a coisas materiais e a sua própria família, Ryan dá palestras de como ser menos apegado as coisas do dia-a- dia, e assim esvaziar a sua mochila mental de preocupações.

No meio de uma das viagens que faz, Ryan conhece Alex (Vera Farmiga), uma versão feminina de si mesmo. Ela também passa mais tempo viajando do que em casa e passa a se encontrar com Ryan a partir de aeroportos e hotéis compatíveis com as agendas dos dois. Em outro ponto de sua vida, Ryan conhece Natalie(Anna Kendrick), uma jovem profissional de sua empresa, que cria um método de demitir pessoas via internet. Receoso de perder a chance de viver viajando e prezando por um estilo mais pessoal de se trabalhar, Ryan decide mostrar a Natalie um pouco mais de seu trabalho na prática.

No roteiro, vemos algumas diferenças. No início, a comédia era ácida e rápida, e caminhava muito bem. Depois da apresentação das personagens secundárias, o filme dá uma acalmada. É o início da parte dramática do filme. É construído, a principio,com maestria costurando entre os encontros de Ryan e Alex e as lições de Natalie com o protagonista. A relação com as duas realçam as facetas de Ryan. Com Alex, ele vive parte de algo que podemos chamar de vida real. Uma relação que começa casual e aos poucos, vai se intensificando. Já com Natalie, uma relação onde se aprende mais sobre sua própria profissão, e que seu trabalho de carrasco tem suas didáticas e um sentimentalismo maior. Isso consegue nos passar que , muitas vezes, dependendo da abordagem da pessoa que demite, o evento pode não ser um fim, mas um reinício. E o filme serpenteia sobre a vida de Ryan, que pode apresentar um reinício, uma vida real. De resto, o roteiro tem ótimos diálogos , todos afiadíssimos. Muito interessantes são as piadas do filme, principalmente as da primeira metade . Algumas são engraçadíssimas, e os comentários dos demitidos são espetaculares. Entretanto, a parte final tem sua dramaticidade com um declínio para um lado mais morno, e isso determina a falta de ritmo citada no início desse texto. O clima do filme muda por alguns momentos, um declive que não compromete o todo, mas impede a nota máxima.

Outro fator que acompanha o declive e mudança de ritmo é a direção de Jason Reitman. Começa fabulosamente bem, um estilo naturalmente rápido, que opta por posições por vezes simétricas e interessantes nesse sentido. Existem, no início, espécies de hip-hop montage, que dão uma didática rápida ao filme . Entretanto, conforme o drama chega, a direção vai esfriando aos poucos, infelizmente.

As atuações são soberbas. Clooney se encaixa no papel como uma luva. Maravilhosamente bem, como sempre. Um dos melhores atores viventes, ele apenas reafirma isso. Vera Farmiga e Anna Kendrick seguram muito bem. Não posso dizem que transcenderam, mas estão entre as melhores atuações de 2009. A trilha sonora funciona bem como um pano de fundo quase apagado, mas a músicas são boas, em si. A fotografia de Eric Steelberg é muito boa. Meio cinza, nos faz sentir num aeroporto todo o filme.

É possível dizer, no final das contas, que Jason Reitman fez uma mistura de seus dois filmes anteriores, tanto no roteiro( escrito com Sheldon Turner , baseado no livro de Walter Kirn), quanto na direção . Aquilo que começou incrivelmente como Obrigado por Fumar , teve parte de seu desenvolvimento como Juno,e terminou com o gosto do filme estrelado por Ellen Page. Uma obra , no geral, esplendorosa, mas que escorrega no seu ritmo final. Jason Reitman podia abrir o olho para esse fator, pois não é novidade na sua cinematografia.

4 Estrelas ****

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Moon

Brilhante filme é sci-fi como poucas. O mais próximo de 2001 que temos em 4 décadas.

Há tempos circulava na internet o plot e uma ficha cinematográfica de Moon, curioso filme com Sam Rockwell, um cartaz fantástico(um dos melhores do ano) e um orçamento, de certa forma, ridículo: 5 Milhões de dólares. Moon então foi falado em alguns festivais e estreou nos Estados Unidos e foi recebido com frieza pelo público. Ganhou apenas 4 milhões e meio, não podendo nem pagar marketing. Mas, após ver Moon, é um fato mais que compreensível essa bilheteria baixa. O primeiro filme do talentoso Duncan Jones, filho de David Bowie, é fantasticamente... cult. É o novo 2001 em quesitos de direção de arte e narrativa. Lenta, contemplativa, poderosa e sem entregar muitas surpresas, a narrativa de Moon é de fácil compreensão, porém difícil para o público se entregar a ela e ver o filme. O marketing ridículo que a Sony deu ao filme também é notável. Aqui no Brasil, estreará direto em DVD e o pior: o teor do filme impossibilita MUITAS locadoras de não o comprar, deixando ele disponível apenas lá no exterior e aqui, para download. Além do que, Moon sofre do mesmo mal de Fonte da Vida: ele é mal vendido. Tão mal vendido que acredito que algumas pessoas foram ao cinema esperando um Star Trek. Mas, nada disso impossibilitou Duncan Jones e Sam Rockwell de fazerem um dos mais bonitos trabalhos dos últimos anos e, porque não, a sci-fi mais inovadora em 40 anos?

A trama, de uma simplicidade tocante e uma temática atual e verossímel, conta a história de Sam Bell(Sam Rockwell), um operário que trabalha na Lua, numa espécie de Estação Espacial. Ele colhe Helium-3 para sua empresa, a Lunar Industries, uma gigante da energia que, com essa energia da Lua, abastece 70% do Planeta. Mas, lá na Estação, Sam não vê a hora de voltar pra casa. Seu contrato de 3 anos com a empresa está acabando e ele está perto de seu sonho. Mas, coisas estranhas começam a acontecer e GERTY(a voz icônica de Kevin Spacey), seu amigo robô, o tranca dentro da Estação para segurança. Mas, depois de um pequeno plano, Sam consegue burlar a segurança de GERTY e faz uma descoberta. No mínimo, intrigante. E isso o deixa cada vez mais paranóico e doente.O desenvolvimento dessa trama é interessante porque introduz um suspense psicológico, sem se esquecer do sci-fi competente. E aqui cabe uma dica: Não espere reviravoltas, não espere um filme comum de suspense e não espere, DE JEITO NENHUM, um filme com ação.

Nos quesitos técnicos, Moon surpreende demais. Um filme que recebe o orçamento de 5 milhões é um drama ou um filme independente underground sobre algum tema forte. Mas, Duncan Jones é mais que isso, ele é corajoso. Com poucos recursos, ele faz uma direção impressionante, lembrando Stanley Kubrick. Takes parados, contemplativos, que exploram o ambiente sem esquecer dos atores. Se o mundo do cinema fosse justo, Duncan merecia figurar, pelo menos, nos 10 nomes a serem lembrados pro Oscar. Talvez não indicado, mas pelo menos lembrado. É um diretor a ser acompanhado daqui pra frente, sem dúvida. A edição de Nicholas Gaster é normal, o ponto fraco do filme. Ela se baseia na mania dos anos 70: Aquela imagem que vai entrando enquanto a outra some ao fundo. É apenas na média, mas não atrapalha a mensagem do filme. A fotografia de Garry Shaw é inspirada, valorizando os tons brancos do ambiente e a superfície lunar, feita a base de maquetes. Mas, dois fatores do filme merecem ser destacados o máximo possível. O primeiro é a direção de arte de Hideki Arichi e Josh Fifarek, que é sensacional. Os cenários criados pela dupla são curiosos, críveis e fabulosos. A predominante cor branca da estação, os aparatos eletrônicos e as roupas de Sam impressionam pela beleza. GERTY também é uma criação competente dos artistas, sendo verossímel e interessante. O segundo ponto é a trilha sonora, do genial Clint Mansell. Mas uma vez ele cria um trabalho memorável, um dos 20 de sua lista. Bem trabalhada e com seu ritmo neo-clássico, a trilha de Mansell é fantástica pro filme e fantástica sem ele, aquela típica trilha que você compra o CD.

Em atuações, Moon é um caso notoriamente curioso. Sam Rockwell é praticamente o único ator do filme e é o único com relativa importância. Claro que tem GERTY também, mas o adorável robô não vale. O resto dos atores só aparecem por pequenas telas, vistas da estação Sarang, a na Lua. Voltando a Rockwell, o ator britânico arrebenta. Seu jeito esquisito, como se não estivesse nem aí pra nada, é explorado pela metade. Quando virem o filme vocês entenderão porque. Mas na outra metade, ele começa uma atuação espetacular, de uma forma meio bruta até, trocando por um cara mais violento, enérgico. A atitude calma muda. Já Kevin Spacey faz seu trabalho de forma breve. Sua voz em GERTY é intrigante, dando uma áurea confortadora e misteriosa sobre a máquina.

Em roteiro, Moon é impressionante. O trabalho de Nathaniel Parker sobre a ideia de Duncan Jones é tocante. Um debate psicológico que usa um contexto muito atual pra ilustrar o mundo perfeito que o ser humano criou com a tal tecnologia. Um grande reflexo disso são os dois primeiros minutos do filme, de tirar o fôlego. Existe até a possibilidade do espectador gostar menos do filme comparando-o aos primeiros minutos. Um rápido e brilhante modo de explicar o mundo. Outra sacada de roteiro boa é não dizer em que época estamos. Com isso, a liberdade de efeitos é maior, podendo criar coisas mais inverossímeis com explicações críveis. Curiosamente, pela falta de verba ou por ser desnecessário, o filme não se excede e é peça de convencimento como poucas, mostrando uma Lua verdadeira e aparelhos que não são difíceis de acreditar. Já nos diálogos, travados por Sam Rockwell e GERTY, há uma precisão interessante. O tom de humanidade que o roteiro impõe a GERTY é inovador e bem executado. A própria criação do personagem é uma mais-valia para o filme. E, se todos podem ter uma certa desconfiança sobre GERTY ser igual a HAL 9000, de 2001, ela é coerente porém inválida. GERTY tem muito mais emoções e é ligado emocionalmente com Sam, o que mostra uma bonita relação de amizade. Por criar criativos personagens e excelentes situações, o roteiro de Moon é um grande destaque.

Já que o orçamento de Moon é baixo, se esperaria um filme bem feio, mal-feito. Mas, incrivelmente não é. A já citada direção de arte se soma a uma criatividade enorme. Se dentro de Sarang o visual é lindo, fora dela não está devendo nada. Apesar de ser claramente uma maquete, o solo lunar é muito rico em detalhes e é decente, bem-produzido. E, além disso, existem efeitos especiais no filme. Alguns são de uma riqueza impressionante(como a Terra vista no espaço ou a escavadeira na Lua), mas outros são fracos, meio toscos até(como a nave saindo da estação), o que lembram o quanto o filme é barato. Mas é incrível o que se pode fazer com tão poucos recursos.

Estranho, filosófico, pesado e bem científico, Moon é uma sci-fi como poucas. Não tem o entretenimento e diversão de Star Trek, não tem os magníficos efeitos de Avatar, mas tem a simplicidade de roteiro de um 2001 ou Solaris. Isso deve conquistar a todos que esperam um filme científico bem politizado e diferenciado. Uma grande prova de sua didática em relação ao mundo é o já citado primeiro minuto, o que certamente fará o espectador ficar até o final no filme. Um filme difícil, que merece mais ser visto que muito blockbuster por aí. Um trunfo de Duncan Jones. Que seu próximo projeto lance logo e nos cinemas.

***** 5 Estrelas

Funny People


Uma auto-reflexão adulta de Judd Apatow.

Judd Apatow é atualmente uma das maiores referências de comédia no mundo. Criador de o Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos , é de um diferencial ótimo . Não é de um humor refinadíssimo como o dos Cohen, mas tem sua inteligência cômica, deveras melhor do que o humor dos Wayans. Apatow praticamente "criou" um estilo novo de comédia : Aquela que utiliza refêrencias pop em massa, junta gags de vários tipos e arranca boas risadas. Tanto produzindo quanto dirigindo, ele ajuda a trazer ótimas obras para o público. Porém, desta vez, Apatow dá um passo além do costume, criando Funny People ( Do insípido título nacional " Tá Rindo do Que?"o qual me recuso a colocar.)

Funny People,não é, antes de mais nada, um outro Ligeiramente Grávidos, e não chega perto da qualidade de Segurando as Pontas. É um humor inteligente cheio de referências como de costume, mas passa longe de ser apenas uma comédia. É um drama, sobre os comediantes e humoristas, com muitos gags e tiradas cômicas. Uma auto -reflexão de Judd Apatow, que parece abrir para todo o público a vida real dos comediantes, desde aqueles que fazem Stand-up até os que realizam filmes idiotas e discerebrados.

A história é sobre George Simmons ( Adam Sandler ) um comediante famoso por estrelar filmes de comédia idiotas e sem graça ( De certo modo parecido com Sandler ) que descobre, num dia que vai no médico, que tem uma doença praticamente incurável , e tem pouco tempo de vida. Amargurado, Simmons volta as suas origens- a comédia em pé - e num dia em que visita uma dessas sessões acaba conhecendo o novato no humor Ira Wright (Seth Rogen), e começa a apostar no rapaz, crendo que seja seu herdeiro no mundo cômico. Além disso, Simmons também procura reencontrar seu grande amor ( Leslie Mann) hoje em dia casada com um australiano (Eric Bana).

Como de costume, também entram na massa do bolo Jonah Hill e Jason Schwartzman, a eterna dupla que interpreta colegas de quarto nerds de Ira. As partes mais engraçadas são dessa fantástica dupla, que apenas de estarem no set de filmagem já nos fazem sentir vontade de rir. Porém, boas piadas são também oferecidas tanto a Sandler quanto a Rogen, que conseguem atuar bem , sem ir muito além do feijão-com-arroz. As piadas, com referencias múltiplas, entram dessa vez com uma fluidez ainda melhor, já que as personagens envolvidas são profissionais da comédia. Então, qualquer tirada engraçada em qualquer lugar faz ainda mais sentido de existir , saindo de quem sairam. Já as refêrencias se encaixam com um algo a mais. Como George é uma celebridade, existe a brecha para várias outras celebridades entrarem no filme também. Vai desde Ray Romano até Eminem - e a cena em que os dois estão juntos é uma das mais engraçadas da película. E os filmes de George também tem uma pitada de conhecidos. Re-do é uma referência silenciosa ao idiota O Pequenino, dos Wayans, e os outros filmes são refêrencias a toda gama de babaquices já criadas em Hollywood.

Misturar drama e comédia não dá um resultado ruim, definitivamente, e falar de um comediante fadado a morte é algo bem engraçado e interessante a principio. Porém, não é da cinematografia de Apatow criar histórias muito com muitos diferenciais(A não ser por Segurando as Pontas, que escreveu ao lado de Seth Rogen e Evan Goldberg). O drama de Simmons é bom, e dá ao filme um tom mais adulto.Entretanto, isso é até um ponto, pois o último ato parece não ter muito sentido no todo, por reunir poucos gags e ter menos relevancia na história. Esse ato se estende até uma altura desnecessária e faz o filme ter uma duração que simplesmente não precisava. Outro problema são os pequenos vácuos que ocorrem entre as piadas do filme. Esse é um dos problemas de Apatow, estender muito o fio a história, quando o ideal seria deixar o filme mais curto e enxuto, e consequentemente mais engraçado.

É preciso reconhecer, entretanto, o talento de Judd Apatow na direção. Sua linguagem cinematográfica não extrapola nada, mas devo dizer que o cineasta está muito longe de ser só mais um. Nada de um estilo artístico, mas ele nos passa tudo com uma competencia acima do nível, conseguindo transmitir tudo o que queria, sem nenhuma dificuldade e com a mão firme.
E, se o cineasta enfrenta dificuldades em criar histórias inovadoras , ele não tem problemas nas descrições de seus personagens. Mesmo que a parceria de Seth Rogen, Jonah Hill e Jason Schwatzman continue se repetindo, nunca serão as mesmas características. Os diálogos serão sempre diferentes , o mundo em que se encontram também, e de comum só terão o fato de serem colegas de quarto. E esse fator favorável em relação a personagens permite que suas comédias continuem sendo feitas, mesmo que a história peque.

Mas no todo, Funny People não se sai mal , com certeza. Abrir ao mundo a vida real dos piadistas compensa de certa forma um ou outro escorregão no roteiro, e o drama adulto até a metade do filme é muito interessante. Suas gags são ótimas, e só precisam serem mais unidas por uma duração menor. Assim talvez, ele almeje mais dinheiro e um poucomais qualidade da próxima vez.

3 Estrelas ***

domingo, 17 de janeiro de 2010

Onde Vivem Os Monstros

Crescimento e imaginação fabulosa em obra muito corajosa.

Em 1963, o escritor Maurice Sendak criou uma típica obra infantil. Aquelas do tipo em que crianças leem, que apresentam uma frase e um grande desenho por página. Uma obra que poderia cair como mais um livro educativo de formato panfletário. Mas Onde Vivem Os Monstros não era isso. Escondia algo a mais, e mais profundo. E de primeiro olhar, esses detalhes que mostram o crescimento de uma criança criativa e mal-criada, podem não ser vistos. Mas na adaptação de 2010, é simplesmente impossível não captar as referências, compostas com qualidade máxima e muito aumentadas do livro, de forma maravilhosa.

Afinal, o objetivo dessa adaptação nada mais é do que captar os sentimentos levemente velados na obra literária e expo-los em tela, aumentando os quadros e situações do livro. E , definitivamente, esse objetivo é alcançado. O filme é belíssimo, e conta sua história de forma completamente diferenciada. Acompanhando a formação da obra original, o longa se constrói com uma estrutura completamente diferente das produções normais. Algo que poderia dar problema a produção nas bilheterias, se ela já não tivesse com problemas suficientes no mesmo quesito devido a seu todo do roteiro. Afinal, Onde Vivem Os Monstros é uma obra que dialoga sobre a infância, as invencionices das crianças - não das crianças modernas, mas das mais antigas, que trabalhavam mais seu cérebro do que o controle de TV ou video-game - mas tudo de forma muito adulta e artística.

Porém, se nas bilheterias a produção corre perigo, é só por aí. A história além de ser interessantíssima no modo de ser contada, é costurada com muita destresa. O menino Max, na história, é um garoto com imaginação muito fértil. Brinca com sua fortaleza iglu, manda nas cercas da casa e se auto - entitula seu rei, e foge para seu abrigo na cama quando o chão jorra falsa lava. Mas um dia, quando seus ânimos se exaltam e ele desobedece sua mãe, é castigado, e mandado para seu quarto sem jantar. Ele então foge , entra num barco e viaja até uma ilha distante e descobre que lá vivem criaturas, monstros selvagens. Lá, Max fala que era um rei, e se torna rei das criaturas, dando regras que ele proclama e tendo sua liberdade.

A história conta toda essa aventura de Max com os monstros, mas tem na verdade um fundo de filme de crescimento e rebeldia juvenil. Muitos de filmes com esses temas já surgiram, mas esse tem sua didática diferenciada já que mostra todo o aprendizado de Max direto na sua fonte , na sua mente. A história em si, é uma grande metáfora, já que todos os monstros na verdade são as facetas de Max. Mas não é preciso usar mais metáforas na sua execução. Tudo é mostrado com clareza na frente de nossos olhos. Um exemplo : Numa das sequencias iniciais, Max se decepciona com sua irmã, destrói o quarto dela por raiva, explode e põe todo seu lado selvagem pra fora. Logo depois, recolhe seu ímpeto, e sua racionalidade o faz refletir que ela é a irmã dele, e se amam. Ao conhecer o Monstro Carol (o ótimo James Gandolfini) , que representa seu lado impetuoso e selvagem, Max retorna a essa lição. Não é preciso usar mais metáforas disfarçadas, já que vemos sua mente de perto, e seu amadurecimento e relacionamento com os monstros ocorre explicitamente. E é esse um dos diferenciais de Onde Vivem Os Monstros : sua didática reta, que espeta o público de maneira que muitos outros filmes não fariam. Além disso, o filme exibe várias homenagens á infância. Como em Toy Story, porém o filme da Pixar vai na fase mais tenra da idade. Onde Vivem vai mais no fim da infância, onde a imaginação extrapola qualquer limite , mas siginifica um rompimento, uma rebeldia de uma mente que quer ser escutada , mas ainda precisa amadurecer.

E o relacionamento de Max com os monstros é de beleza fenomenal. Todo o movimento tomado tem um porque e explicação, e é desenvolvido vagarosamente, mas não é uma perda de ritmo, já que todo o filme é mantido assim, nesse estilo calmo. A descoberta de sua responsabilidade e muitas outras descobertas acontecem junto com as criaturas, que são ao mesmo tempo figuras infantis, mas servem de parâmetro para eventos que ocorrem na fase adulta. As atuações dos atores travestidos de monstros( muito simpáticos, até mais que os azulões de Pandora) são fenomenais e dão mais valor ainda ao filme.

Spike Jonze, por sua vez, nos premia com uma direção sublime. Não erra a mão, e prova que pode carregar dois tipos de direção: a de drama e a de ação ( mesmo que essa seja pouca). Opta por um estilo "câmera na mão", onde ela treme como num filme caseiro . Nas poucas cenas de ação, ele acompanha sem muitos cortes, mas com muita correria e captando todos os atores. Já os efeitos visuais não são algo para se contemplar isoladamente,- apesar de serem muito bons- mas para se misturar com a história.

A trilha sonora e a fotografia são também de esmero aplaudível. Karen O. cria uma trilha própria para o filme, e que se destaca com louvor. Um filme sobre criança pede uma trilha agitada, melodiosa e com sons que remetem a criança cantando. E é isso que a trilha nos trás. Já a fotografia de Lance Acord coloca de cara um tom muito belo, e não oscila muito nas paletas - Nos desertos e áreas descampadas um tom amarelo , nas florestas, um verde claro delicado - Muito elegante e nada over.
Enfim, é preciso dar o crédito ao estúdio Warner Bros. Depois desse filme e de muitos outros trabalhos corajosos - Como Watchmen - o estúdio parece entrar num outro patamar, e sai da loucura por dinheiro que o resto do mundo se encontra ( como os caras da Fox). É, em outras palavras, um estúdio idependente, só que com muito dinheiro , ou quase isso. Digo isso não por que esse é um filme pesado ou com censura alta. É simplesmente um filme que dialoga sobre a infância, mas não é destinado ás crianças. É algo artístico, um cult que teve um orçamento de 100 milhões. Onde Vivem Os Monstros simplesmente é um filme único, sem nenhum atrativo para o público alienado que leva seus alienadinhos para ver Alvin e os Esquilos 2.

O retorno nas bilheterias, como disse anteriormente, pode ser um fracasso total, mas os produtores devem pelo menos se orgulhar do grande material que tem em mãos. Uma homenagem aos bons tempos de criança que todo o adulto já passou. Merece ser visto , e sentido tanto com seu cérebro quanto com seu coração.


5 Estrelas *****

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes


Um novo velho Holmes.

Os clássicos livros de Sir Artur Conan Doyle marcaram o mundo, com dois dos mais conhecidos personagens da cultura mundial de todos os tempos: O detetive Sherlock Holmes e seu ajudante, John Watson. A frase " Elementar meu caro Watson " é uma das mais conhecidas das muitas já proferidas. Na década de 40, vários livros de Doyle foram fielmente adaptados para o cinema, e as características dos personagens, as aventuras vividas, todas, foram mudadas muito pouco, quase nada. O filme de 2009, entretanto, não se prende a adaptar e reproduzir com fidelidade as já consagradas aventuras do século IXX. O objetivo é criar novos personagens, transformar as histórias mais paradas em aventuras , com muita ação. Fazer de um personagem sério como Sherlock Holmes um herói de blockbuster, pegando suas caracteríscas mais "agitadas" - como a prática de boxe, conhecimentos em artes marciais - misturando com um pouco do persoangem original e dando origem à um novo Holmes, preparado para satisfazer os bolsos dos produtores e entreter milhões de espectadores.

Ora, cobrar fidelidade à obra original seria pedir um gosto doce de um prato de macarronada. Aqueles que reclamarem por conta disso, estão por fora do contexto do filme. Não é apenas mudar por mudar. É recriar um personagem sob a ótica de um cineasta talentosíssimo. Guy Ritchie - que surgiu fazendo filmes de gângster e se estagnou por ali, não evoluindo para nenhum outro gênero - tem técnica de sobra e é um diretor clipeiro, ágil, contemporâneo. Por isso, acredito que há uma semelhança entre Sherlock Holmes e o novo Star Trek. Mesmo que a qualidade dos dois seja muito díspar, os dois tem o mesmo objetivo : Recriar um universo consagrado.
As mudanças já são observadas nas características dos dois personagens principais. O Sherlock original era um inglês sério, com um semblante calmo, o padrão do detetive. O novo é muito mais descontraído, descabelado, age muito mais em lutas, e está muito mais moderno. Ainda há, claro, suas ótimas características clássicas, como o fato de ser extremamente detalhista e dedutor. Inflando essa faceta do personagem, ele se torna muito mais cool e bastante interessante. Watson, por sua vez, que era um ajudante mais atrapalhado , agora é quem de certo modo segura a coleira de Holmes. Um novo olhar sobre os personagens, um olhar por sinal, interessantíssimo.

Na trama do filme , a dupla consegue capturar Lord Blackwood, um criminoso que sacrificava jovens mulheres, e sendo preso, ele é condenado a morte. Mas ele misteriosamente ressucita, e começa a por em ação um plano mais perigoso. Enquanto isso ocorre, Holmes se depara também com uma antiga ladra , Irene Adler(Rachel McAdams), que entra em seu caminho diversas vezes durante a investigação.

O roteiro de diálogos e falas é sublime. São falas rápidas, inteligentes do modo ágil que são aplicadas. Outra marca de Ritchie, que apesar de não escrever o roteiro, já falou que deu uma mudadinha no que estava no script junto com os atores . O roteiro estrutural em si, é interessante por um lado. A história não é contada no início da carreira da dupla. Muito pelo contrário, ela começa num período de ruptura , já que Watson está perto de seu casamento , vai se mudar de casa e parar de se aventurar com Holmes.

Entretanto, o resto não vai muito além do comum. Toda a base da história, que se alicerça em geral num mistério, não é a das mais inovadoras. Tudo bem, isso já era de se esperar, mas alguns escorregões na hora de desenvolve-la são feios . Não há um certo mistério em si. Há um vilão, que precisa ser detido, custe o que custar. O mistério está nas artimanhas que o vilão usa para se safar. Mas essas artimanhas já são, para aqueles que conhecem as desculpas dadas em filmes, conhecidas. Pelo menos eu, já sabia. Outro problema é o roteiro explicadinho demais, pelo próprio protagonista. É uma das marcas de Holmes, sem dúvida, mas na situação do filme, fica meio artificial. Além disso, o modo como Holmes detecta as pistas e como as revela não são convencionais, e não caem bem, principalmente num filme que tenta estampar a "modernidade" na cara. Já o resto, é muita ação, aventura e todo o resto. Meio dispensável nesse sentido.

Na direção, Ritchie demosntra segurança, e não perde em momento nenhum as rédeas do filme. Dirige muito bem, com alguns takes mais diferenciados, e alguma lembrança distante de seu hip-hop montage já usado em Snatch.Em alguns momentos, utuliza uma câmera mais padrão, como nos cortes das cenas de ação. Mesmo assim, em um outro corte nessas cenas, ele poe bons takes em locais interessantes. A câmera lenta, utilizada em duas ou tres sequencias do filme, é realmente interessante, visualmente ótima. Mas parece que virou moda usá-la depois que Zack Snyder fez, já que até James Cameron usou em seu Avatar.

A parte técnica me surpreendeu um pouco. A trilha do genial Hans Zimmer está estranha, mais enlatada até, escancaradamente inferior ao trabalho que fez em Batman por exemplo. A fotografia é boa, só peca nos momentos de maior escuridão. De resto, nos introduz numa Londres bem suja, e contribui na modernizada que o filme pretendia.

Sherlock Holmes perde muito, portanto, ao tentar fazer dinheiro e não disperdiçar essa chance por nada. A trama tem de ser explicada, uma continuação tem de ser feita, e tudo isso reduz o filme praticamente a um caça-níqueis de ação, que tinha muito mais potencial para ser desenvolvido. Sobram a direção e as boas atuações de Downey Jr. e Law. Mas Sherelock Holmes ainda tem utilidades fora da tela. Coloca o talentoso Guy Ritchie fora do seu carma criminoso, em outra atmosfera, agora testando orçamentos altos.

3 estrelas ***