Old School Nerds

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sábado, 25 de setembro de 2010

Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

Oliver Stone dirige continuação que devia se focar mais no seu título.

Wall Street é um marco dos Anos 80. Não apenas satisfeito em alçar Charlie Sheen ao estrelato, transformar Stanley Weiner em exímio roteirista e colocar Oliver Stone no mapa de maiores diretores da História, o filme ainda criou o genial vilão Gordon Gekko, interpretado por um oscarizado Michael Douglas. Seu "Greed is Good" virou um dos maiores bordões dos icônicos vilões que cercam Hollywood. Agora, depois de 20 anos, Oliver Stone demonstrou não segurar seus clássicos por muito tempo e virou o irregular diretor que é hoje, que alterna projetos bons como W. com excentricidades como seu recente documentário sobre o regime de Hugo Chávez na Venezuela. E é nesse cenário que Stone retoma as câmeras pra continuar a história de seu seminal filme oitentista. E o contexto histórico ajuda, afinal a Crise Econômica de 2008, o período em que se passa o filme, é um prato cheio pra contar histórias sobre a Bolsa de Valores e seu mundo tão peculiar. Deixo bem claro que não assisti ao primeiro filme, logo, essa resenha procurará avaliar a continuação apenas como um filme, sem se deixar levar pela análise-comparação que se tornaria se eu tivesse assistido o longa de 87.

A trama segue um jovem corretor chamado Jacob Moore(Shia LaBeouf), que está em alta no mercado. Ele trabalha para a empresa de Lewis Zabel(Frank Langella) e trabalha com as ações em Wall Street. Jacob pensa em pedir Winnie(Carey Mulligan) em casamento, mas ela não gosta muito disso pois se lembra da relação traumática entre seus pais. Porém, Winnie é obrigada a conviver novamente com seu pai, ninguém menos que o lendário Gordon Gekko(Michael Douglas), quando Jacob começa a se reunir com Gekko, do qual é grande fã, pra pedir conselhos sobre a Bolsa, que está começando a declinar com a falência da companhia de Lewis. Em troca, Jacob ajudará Gekko a se reconciliar com sua filha. Mas quando Lewis tem um destino ruim, Jacob encontra Bretton James(Josh Brolin), o homem responsável pela quebra da empresa e começa a pensar num plano de vingança.

O roteiro escrito por Allan Loeb e Stephen Schiff é competente em apostar no filme de 87 pra trazer um fôlego novo aos filmes de golpe, em demonstrar a agilidade digna dos melhores filmes de roubo, mas falha grandiosamente quando procura solucionar problemas do passado. Jacob precisa de um elo entre ele e Gekko e, por isso é criada sua namorada, filha dele. E criando um personagem que toma tanto tempo de tela apenas por falta de desculpa melhor pra juntar Jacob e Gekko, o filme perde um pouco. Fora que, tentando dar uma profundidade maior ao arrependimento do lendário corretor, a importância de Winnie cresce e ela funciona como o escape dramático do filme. Mas as soluções apresentadas ali são arquetípicas e, algumas vezes, incongruentes. Peguemos por exemplo a cena da festa, a conversa de Winnie e Gekko. O arrependimento do personagem pode até soar verdadeiro, mas o rápido convencimento de Winnie no perdão é estranho e meio deslocado. Assim, a personagem é mais um problema do que um ponto pro filme. Pode até dar um fundo dramático, mas prejudica o filme quando se pensa que ele podia ser mais cínico, mais ácido e menos emotivo.

Mas ainda temos a parte ágil do filme, a ácida, a do mercado das ações. E ela não poderia ser melhor, registrada muito bem pelo diretor e escrita soberbamente. Sem explicar roteiro e tendo diálogos espetaculares e críveis, o filme avança muito nas partes da Bolsa, inclusive na parte final, quando temos uma reviravolta esplêndida. Se focasse apenas nessa inovação que é mostrar o mercado da bolsa de dentro pra fora, numa película, o filme ficaria facilmente entre os melhores do ano. Mas o drama impede isso e Wall Street 2 acaba, no final das contas, tendo um roteiro acima da média, mas que poderia ser melhor.

Se o roteiro fica devendo, tecnicamente o filme é impecável. Oliver Stone parece estar em sua melhor forma, apresentando takes interessantes e, nas passagens da Bolsa de Valores, é espetacular. Apresentando vários cortes ágeis, cortando a tela em dois, três ou até quatro pedaços pra mostrar o caos que é o mundo das ações. Agilidade marcante, com uma fluência impressionante, uma direção soberba. Nas partes de drama, entram os takes bem planejados mas lentos, com calma, sem aquele estiloso panorama corrido. Consegue enquadramentos competentes e uma direção de atores ótima, numa direção interessante, mostrando algo um pouco(apenas um pouco) diferente do que se vê ultimamente nos filmes dramáticos. No geral, a direção equilibra o bom com o espetacular. A fotografia de Rodrigo Prieto faz o feijão com arroz, retratando bem a cidade de Nova York e só. Poderia se sair melhor e verdadeiramente marcante se quisesse, por exemplo, utilizar o filtro de câmera que foi usado no espetacular cartaz. Porém, só conseguimos ver aquela fotografia sombria na conversa de Bretton com Jacob na sala do primeiro.

A edição de David Brenner e Julie Monroe é muito boa, sendo destaque nas anteriormente citadas sequências do mundo das ações. Auxiliando a direção de forma impecável, a edição é um dos destaques. Já a trilha sonora de Craig Armstrong é composta de maneira precisa. Com melodias clássicas no drama e agitadas nas partes dos corretores. O curioso dessa trilha, e que faz ela ser um pouco acima da média, é que Armstrong faz essa agitação com instrumentos clássicos, o que dá um ar novo a tudo aquilo. Fora isso, ainda entra as músicas escolhidas pra produção, que alternam a nostalgia do primeiro filme com a elegância.

As atuações de Wall Street 2 são ótimas, como era de se esperar. Shia LaBeouf demonstra que pode criar um personagem crível e interessante, com carga dramática e se distanciar do seu Sam Whitwicky de Transformers. Claro que não há como não notar a semelhança do biotipo do ator com Joseph Gordon-Levitt, um ator mais competente(e que ficaria melhor no papel). Mas Shia mostra seu talento e faz com que esqueçamos da tal semelhança. Carey Mulligan tem um papel reduzido e, como citei anteriormente, meio dispensável. Mas mesmo assim faz valer sua indicação ao Oscar no ano anterior, sendo uma das atrizes mais completas atualmente. Mesmo sem muita relevância na trama, Carey marca sua presença em cena com dignidade. Se Josh Brolin tem um papel estendido e só faz o caricatual vilão, sem ir muito além disso, temos Frank Langella no outro espectro. Mesmo tendo pouco espaço de tela, Langella engole qualquer um com sua atuação e mostra ter diferentes facetas, ficando irreconhecível se pensarmos que aquele cara era o Nixon.

Mas todos sabem que o mais legal do filme só poderia ser mesmo Michael Douglas. O espetacular ator, com atuações tão marcantes quanto os próprios filmes(Wall Street, Um Dia de Fúria), fica á vontade no papel que rendeu o Oscar a ele. No início do filme, aparece mais retraído, quase sentindo nostalgia de tudo aquilo e sendo um mero coadjuvante de luxo. Porém, quando a trama vai ganhando duração, Douglas aparece mais e mais e seu comportamento vai mudando de forma em que encontramos o bom e velho Gordon Gekko em cena. É interessante acompanhar esse processo pois parece que Douglas foi se reacostumando com o papel, provando a si mesmo que estava enferrujado e precisava voltar com o tempo ao lendário homem. Atuação soberba, que faz valer o ingresso e que deve fazer muita gente que viu o filme de 87 sentir nostalgia, principalmente na virada da trama, próxima do final.

Aliando uma técnica vencedora e um elenco vitorioso, Wall Street 2 era jogo ganho. Mas seu roteiro se autosabota em alguns pontos e isso prejudica o filme de ser algo marcante como o filme de 87. É sempre bom ver Oliver Stone de volta a forma depois de direções insossas como em As Torres Gêmeas e também é bom ver um elenco tão estrelado e competente junto, tendo todos(menos Shia) os principais atores indicados ou vencedores do Oscar. Porém, os rumos dramáticos do filme impediram que a agilidade caótica da Bolsa de Valores ocupasse todo o tempo de duração, resultando em algo marcante e espetacular. E aí entra a personagem de Mulligan e o núcleo da família Gekko. É estranho pensar que sem apelar pro drama arquetípico, o filme poderia ser um dos melhores lançamentos do ano. Apesar de seus erros e percauços, Wall Street 2 vale o ingresso, seja pela nostalgia ou pelos momentos inspirados do mercado financeiro.

*** 3 Estrelas

domingo, 19 de setembro de 2010

Resident Evil 4 - Recomeço - Crítica 2

Paul W.S. Anderson mostra história incompetente, mas 3D estiloso .

Em 2002, começava no cinema a franquia Resident Evil, baseada na série de videogames da empresa japonesa Capcom . O sucesso dos jogos era grande e exponencial, e obviamente Hollywood esperava a mesma coisa nas telonas . Dito e feito, o filme não fez feio nas bilheterias, arrecadando um pouco mais que 100 milhões de dólares, tendo como orçamento um pouco mais de 30 milhões. Paul W.S. estava nesse filme, como diretor , escritor e produtor, e talvez por esse mesmo motivo, a película não se saiu bem nas críticas mundias . Afinal, é um fato e uma constatação quase unânime que W.S. Anderson não possui competencia atrás das câmeras, o que só viria a ser evidenciado nos seus trabalhos seguintes, como a franquia risível Alien Vs. Predador . Infelizmente, o mesmo ocorreu com Resident Evil . Seguiram-se os anos , e foram lançados mais produtos da saga, entre animações, quadrinhos, video-games, e obviamente, mais filmes. Depois das sequencias Apocalypse, em 2004, e Extinção, em 2007, Resident Evil se tornou uma daquelas franquias onde é preciso ser muito fã, e ter muita força de vontade para acompanhar.

Portanto , como o próprio Anderson já disse em entrevistas, era preciso algo novo para se comercializar a franquia novamente nos cinemas . Afinal, repetição após repetição, filme após filme, uma hora os fãs se cansariam . E é aí que a modernidade chega para ajudar o quarto capítulo da série. Nos últimos anos, com a popularização definitiva do 3D , e com o fenômeno tridimensional Avatar, a maioria dos blockbusters passaram a introduzir o 3D nas suas histórias, como método de atrair mais público, e mais dinheiro - já que o ingresso é bem mais caro . Não é diferente o que passou pela cabeça de Anderson, e como diretor,escritor e produtor, novamente, ele tomou a decisão mais esperta para uma estratégia de mercado - colocou a novidade de três dimensões no seu filme, e utilizou a elogiadíssima câmera do ''pioneiro" James Cameron.

E o resultado final é o mesmo que o cineasta queria. Seu plano deu certo, e saiu melhor até do que o esperado. O dinheiro chega, o público se atrai pelo filme, e o 3D funciona. E paremos por aí. Resident Evil 4 -Recomeço , é estranho , pois reúne as melhores e as piores características de seu realizador, e por mais que seja divertido e utilize seus efeitos tridimensionais de maneira muito esperta, também contém o roteiro falho de Anderson.

A trama é quase a mesma de todos os outros filmes. Alice ( Milla Jovovich) continua na sua jornada de procura de sobreviventes do vírus mortal que transforma pessoas em zumbis. Ao mesmo tempo, também busca destruir e se vingar da empresa Umbrella, responsável pela contaminação, que tem como chefe o agente sem emoção Wesker .

Raso desta maneira, o filme se baseia nos pilares básicos dos filmes de terror e de sobreviventes a infestações zumbis. Após chegar ao encontro de um grupo de sobreviventes, Alice tem que levar seus agora companheiros até um local seguro, e lá mater a ''resistencia'' da espécie humana . Desta forma, eles vão enfrentando dezenas de zumbis no seu caminho - inclusive o gigante Executioner - e segue a fórmula de mortes dos filmes de terror , onde um por um morre até que apenas os protagonistas sobrevivam . Não podia se esperar nada além disso num filme desses, mas o roteiro ainda apresenta erros dispensáveis. Flash backs surgem sem necessidade, e acabam irritando. Ora, quem já conhece a série, não precisa deles, e quem não conhece, não fica sabendo de nada, nada se esclarece. Outro problema se dá pela excessiva explicação de roteiro, que se concentra principalmente na parte inicial do filme . Nos momentos onde a protagonista registra suas falas na sua câmera, a explicação de narrativa fica explicitada. Isso também atrapalha o produto, afinal, não peço que o filme seja inteligente , mas que apenas não julgue seu espectador por imbecil. Isso tudo somado aos já clássicos buracos de roteiro que produções assim necessitam para viver, já quebra qualquer estrutura narrativa no meio.

Mas tudo que citei já era de se esperar. A história não era definitivamente o ponto forte do filme, e o seu diferecial é, como todos sabem , o 3D . Utilizando-se das super-câmeras criadas por James Cameron , que permitem registrar o longa já em 3D, Paul W.S.Anderson consegue criar um filme que tem nas cenas de ação qualidade considerável . Com coreografias interessantes e bem executadas, as cenas de ação se saem realmente muito bem, com uma direção que foge do padrão - afinal o cineasta precisa filmar com takes mais longos para que o 3D possa funcionar. A tridimensionalidade em si, é muito bem explorada por Anderson . Existem bons takes, com tons profundidade muito bem utilizados, que conseguem criar uma imersão similar a de Avatar , por exemplo . Os conceitos de chuva e de fumaça também são testados de maneira muito eficiente, e passam uma interatividade praticamente inovadora . Mas é claro que Anderson não deixaria o filme passar sem os seus toques pessoais. Para cada cena de profundidade bem explorada, há duas de objetos voando na tela. Nada que desfavoreça o longa, obviamente, e no geral, a tridimensionalidade entretem de maneira muito eficaz.

O problema para as cenas de ação é, com certeza, o fundo musical . A trilha de Tomandandy( Tom and Andy, mas optaram pela tosqueira do nome conjugado sabe -se lá porque.) é pra lá de estranha e descompassada . Assistir as belas sequencias de ação com as musicas estranhas ao fundo nao é muito agradável, e a trilha só se salva com a música final e a da cena de luta com o Executioner . A fotografia teria méritos principalmente pela cena dentro da Arcadia, onde tudo é branco e muito mais claro. Infortuitamente, fora dali, a fotografia é escura, e com a presença dos óculos 3D tudo fica mais escurecida ainda. Fora isso, a parte que tem o desempenho abaixo da média são os efeitos especiais. Em certos pontos, parece que os efeitos eram maiores do que o orçamento de 60 milhões , o que gera certa queda na qualidade gráfica. Felizmente, isso não prejudica a diversão no cinema .

Num apanhado geral, podemos dizer que nada mudou na franquia Resident Evil como base para história. Seguem-se as mesmas linhas narrativas, os mesmos confrontos, e os mesmos ganchos pra prolongar a franquia. Não parece passar pela cabeça de W.S.Anderson finalizar a série agora. Entretanto, é importante ir começando a pensar nisso, pois daqui a uns anos, o 3D vai ser artifício comum no cinema, e se foi só ele que salvou o Recomeço do fracasso total, o que vai salvar o próximo filme?

2 Estrelas **