Old School Nerds

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domingo, 27 de setembro de 2009

Amantes

James Grey cria impactante romance dramático.

A Comédia romântica está muito na moda agora. Um gênero que é um vício de clichês, em que sabemos o final antes do meio, com atuações normais e nenhum proveito de roteiro. Mas está na moda porque ganha dinheiro e faz muitas mulheres felizes, mas irrita os cinéfilos.

Quando James Grey anuncia algum novo filme, é sempre de se esperar aquele esquema: Temática familiar, fotografia pesada e com tons de noir e uma direção que trata os protagonistas como pessoas normais diante da situação do filme.

Juntando o romance na moda com sua trama familiar, James Grey se consolida como ótimo diretor de drama. Ele põe todos os seus fatores rotineiros e coloca com eles um roteiro sincero, com situações possíveis, diálogos ágeis e muito clima pesado, típico dos problemas familiares.

Leonard(Joaquin Phoenix) é um homem que ainda vive com os pais e trabalha na tinturaria deles. Ele está extremamente infeliz, como se vê no primeiro frame(uma cena delicada de ser interpretada, que causa estranheza inicial). Logo depois, descobrimos que toda essa tristeza é causada pelo amor, principalmente o de sua noiva que o largou.
Mas Leonard vê uma oportunidade do amor retornar em sua vida quando ele conhece Sandra(Vinissa Shaw) em uma reunião familiar dos pais deles. A partir daí, se descobre que Sandra está gostando de Leonard e quer que ele recupere a alegria. Caminhando para essa relação, Leonard então conhece Michelle(Gwyneth Paltrow), sua vizinha. O jeito novo, liberal e descompromissado dela o encanta e ele aí fica em dúvida sobre o que ele irá fazer.

Para esse denso drama, Grey escalou um elenco soberbo. Joaquin Phoenix, em seu possível último trabalho, encarna com maestria o abobado Leonard. Leonard é tão esquisito que alguns no filme chegam a cogitar se ele tem sanidade mental ou não. Méritos para Phoenix, ator muito acima da média. Gwyneth Paltrow dá tudo de si para interpretar a intensa Michelle. Sua personagem é complicada, triste, determinada e, definitivamente, não consegue saber o que quer. Gwyneth faz tudo isso parecer normal. A desconhecida Vinissa Shaw atua com uma naturalidade enorme, passando tudo o que está sentindo para todos. Diferente de Michelle, Sandra é segura, feliz e é fácil de entender.
Todos os coadjuvantes atuam bem, mas são ofuscados pelos ótimos protagonistas, o que é normal aqui, tamanha a qualidade do elenco.

Nos quesitos técnicos, Grey exagera na qualidade de direção. Ele filma os atores com closes constantes, o que deixa o filme perturbador em alguns pontos. A agonia dos personagens é transmitida para o público de forma sutil. A direção de fotografia de Joaquin Baca-Asay é precisa e com os tons de noir conhecidos dos filmes de Grey. Mas aqui o noir não é relacionado ao cinema de crimes, de suspense. Aqui o noir é mostrado para demonstrar diferentes reações dos personagens, principalmente de Leonard. Quando ele está no telhado, com Michelle, a fotografia é mais clara, com posições de câmera em ângulos abertos, retratando a liberdade. Quando ele está com Sandra, o clima é escuro, com a câmera registrando o ambiente de forma sufocante, retratando a limitação do local, como se Leonard estivesse preso á aquilo. A edição de John Axelrad é boa, dando um ritmo nada apressado a trama.

O roteiro, de Grey e Richard Menello, é um achado. Com diálogos pesados, arrastados e cheios de culpa, o roteiro se sobressai da maioria, criando algo realmente único. É raro ver situações e diálogos sendo retratados de forma tão honesta e real. Situações, como a que Leonard sai da boate com Michelle, são bonitas de se ver. Quando Michelle chora ao retratar a sua realidade, fica evidente que Grey tomou cuidado em dar rumos ousados á sua trama. O próprio final representa essa ousadia.

Com Two Lovers, Grey não quis fazer o convencional. Ele resolveu ir contra a maioria, ávida por comédias-românticas. Ele resolveu voltar as raízes do romance bem executado e cativante. As cenas amorosas são bonitas e muito mais críveis que numa comédia romântica.

A partir de Two Lovers, eu irei confiante a qualquer sessão de filmes de James Grey e, principalmente, eu irei querer mais romance competentes como esse.

***** 5 Estrelas

O Sequestro do Metrô

Tony Scott ajuda, mas roteiro peca no longa.

Tony Scott sempre foi um cineasta talentoso. Entretanto, em Hollywodd não se pode fazer tudo sozinho. Se você tem um bom roteiro mas um diretor fraco e medíocre, seu filme não terá um bom efeito no público. Agora, se você tem um bom diretor mas um roteiro previsível e cheios de clichês, o filme muito provavelmente será esquecível. Esse é o caso de O Sequestro do Metrô.

O filme retrata a história de um sequestro no metrô(obviamente) Pelham 123. John Travolta faz o papel de Ryder, o líder dos sequestradores que rendem um vagão e pedem em troca dez milhões de dólares em exata uma hora, do contrário um refém será morto a cada minuto a mais do atraso. Denzel Washington é um coordenador de trilhos que estabelece contato com o auto-denominado Ryder, que exige conversar com ele, e com ninguém mais. Aparentemente, apenas um filme de ação, mas se tratando de Tony Scott, que fez trabalhos inteligentes como Dejavù( 2006) e Jogo de Espiões(2001), podíamos esperar algo de relevância maior. Realmente pensamos assim de início. A sequencia de créditos iniciais é dinâmica e rápida, com a trilha sonora de Harry Gregson-Williams, que nessa sequencia opta por uma trilha que gosta, baseada em hip-hop, o que torna essa sequencia agressiva e nos dá uma ótima visão do filme, entretanto não contamos com tantos caquetes e chavões que viriam pela frente.

O roteiro(De Brian Helgeland e David Koep, baseado no romance de Morton Freedgood) que já parece bastante comum, se torna cada vez mais a cada minuto que passa, desde a construções dos personagens às situações. A construção do herói vivido por Denzel Washington por exemplo. Um pai de família aparentemente injustiçado pelo o que fez no passado é solidário ao extremo e é o esteriótipo de mocinho. Já o personagem de Travolta é o bandido que tem várias frases de efeito e tem conversas sobre inocência e afins com o mocinho.Os diálogos que muitas vezes discursam sobre a vida e catolicismo entre os dois protagonistas já é muito batido. O drama dos reféns é outro escorregão. O filme realmente nos faz ter envolvimento emocional com esses personagens, porém, muitas vezes decisões heróicas e coincidencias dramáticas, além de serem batidas, são feitas às pressas e nesse ponto não fazem o apelo certo.

O que salva o filme por vezes é a boa direção de Tony Scott. O cara realmente sabe dirigir. Os closes que dá encaixam os personagens e acontecem em pontos dramáticos certos do filme. Todos os outros takes de cenas de ação são muito bons, rápidos e dão a emoção necessária para despertar o espectador. Praticamente impecável, ele também abusa de takes giratórios, em sua maioria nos momentos de suspense e emoção certos. Entretanto, uma ou outra câmera giratória são colocadas como um excedente desnecessário ao filme.

As atuações também fazem o filme se sair bem, com um Denzel Wasshington talentoso como sempre e com um Travolta competente, que no início parece um tanto caricato, mas depois se adequa perfeitamente. Tecnicamente o filme sai bem do mesmo modo. Tobias A. Schliessler nos dá uma fotografia bela, com um toque urbano que um filme de metrô realmente precisava.

Numa visão geral, temos um filme que realmente pode divertir, principalmente os fãs de ação. Entretanto , artísticamente este filme está condenado, e condenado graças a um roteiro batido e que faz personagens pré - construídos e pré - determinados em lados bom e ruim. É torcer para que Tony Scott receba um roteiro melhor da próxima vez.

3 Estrelas***

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

The Spirit - O Filme

O Frank Miller atual e suas mancadas.

Realmente não sei o que aconteceu com nosso companheiro Frank Miller. Tendo sido por toda a sua vida um quadrinista brilhante , que fez a maior história do Batman de todos os tempos( The Dark Knight Returns), Miller parece que morreu, e em seu lugar entrou uma outra pessoa, desde de 1996, ano de seu último projeto decente, Os 300 de Esparta. A partir daí, Miller só fez destruir sua carreira, com suicídios profissionais como The Dark Knight Strikes Again e All Star Batman . Mas parece que essa nova persona do Tio Frank não estava satisfeita de tanto lixo, e nos dá em 2009 The Spirit - O Filme, que já vou dizendo logo de início, é um desperdício de película cinematográfica.

O filme é baseado no grande personagem criado pelo Deus dos quadrinhos Will Eisner, The Spirit, o policial Denny Colt, que depois de morto volta e assume a figura de um vigilante, o herói do título. A história do filme de 2009 entretanto nada tem de talentosa. Aliás , talento é uma palavra que passa longe do filme. Numa busca por objetivos diferentes, O vilão Octopus( O desperdiçado Samuel L Jackson) e a ladra Sand Saref( A ruim Eva Mendez)acabam trocando por engano duas valises, uma com o sangue de Herácles, desejado por Octopus, e a outra com o tesouro dos Argonautas, anseiada por Sand. No meio disso , The Spirit( Gabriel Macht)entra para evitar que o vilão conquiste o seu poder e capturar seu antigo amor de adolescente, Sand. Com uma trama fraca dessas, não pode-se esperar que o filme vá muito além do fracasso.

Outro ponto ruim do filme foi contratar tantas estrelas e aproveita-las tão mal. Por exemplo, o que Scarlett Johanson está fazendo ali? Serve apenas de apelo sexual para o público, mas para a trama, não serve mais do que uma ajudante de vilão.Por falar em ajudante de vilão, o que três clones gordos com seus nomes escritos nas suas vestes fazem ali? Sem dúvidas, esses e muitos outros fatores nos remetem ao Frank Miller atual. Analise qualquer cena do filme ou seus significados para a trama e vem a sua cabeça, na hora, quadros de The Dark Knight Strikes Again. Prova de que Miller não se curou do mal que vem lhe afetando de 1996 pra cá.

A direção de Miller é ruim, mas nem reparamos tanto nela assim se pensamos no roteiro. Frases que eram para ser de efeito, são soltas a todo o momento, sendo seguidas de cenas de ação exageradamente violentas. Razões e motivações para os atos dos personagens também não convencem. Um exemplo é a cena em que The Spirit encontra uma raiva gigante do vilão e sua comparsa quando eles matam sem dó um gatinho. A face de revolta do herói nos dá vontade de rir. É inexplicável tanta falta de bom senso num filme só.

Num engodo desses, a única coisa que pode-se aproveitar é a bela fotografia em preto e branco de Bill Pope, que realça a beleza dos personagens. Mas elogiar apenas a fotografia é costume dos filmes ruins. Esse entretanto é um dos piores filmes do ano e uma injustiça com o herói de Will Eisner, que, onde quer que esteja, está praguejando Frank Miller por sua falta de competência.

1 estrela *

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Ultimato Bourne

Paul Greengrass finaliza franquia inteligente como poucas.

Nos dois primeiros filmes, Jason Bourne encarou todos os assassinos possíveis em perseguições frenéticas pelo mundo todo. Mas esse não era o principal trunfo dos dois excelentes filmes. As dores de cabeça do espião, o quebra-cabeça dentro da mente, pistas espalhadas por todo lugar e personagens cada vez mais desconhecidos e misteriosos cercavam Bourne e isso transformava os filmes em dois blockbusters realmente inteligentes, algo cada vez mais raro em Hollywood.

No final do segundo filme, Bourne descobre onde ele se baseava e o porque dele estar sendo caçado.
Nesse terceiro filme, que começa de forma não-linear na Rússia preenchendo lacunas deixadas no segundo, Bourne está mais maduro e passa por cima de todos os obstáculos para chegar em Nova York e descobrir o real porque dele ser matador da CIA.
É de se destacar que deve-se ver os dois primeiros pra ver o terceiro, um filme bem complicado. Por isso ele não tem uma sinopse bem definida, a trilogia só funciona quando vista inteira.

Paul Greengrass assumiu a franquia no segundo filme, repetindo a boa direção de Doug Liman no primeiro. Mas é só em Ultimato que Greengrass impõe seu ritmo interessante á direção. Sua câmera tremida nas cenas de ação é instigante, mas é nas cenas de drama que a direção se destaca. Ele nos põe como terceiro participante da conversa, inserindo o espectador no filme de forma calma e sem alarde.
O roteiro de Tony Gilroy, Scott Z. Burns e George Nolfi é muito bem amarrado, conduzindo a trama com ágeis diálogos e a ação habitual da franquia. É notável a capacidade do trio de fazer um roteiro com falatório de qualidade, mas sem se esquecer da ação. Tudo é frenético.
A direção de fotografia de Oliver Wood é um dos elementos mais bem utilizados. Cada perseguição urbana exige muito posicionamento da câmera e Wood consegue achar ângulos milimetricamente planejados em cenários comuns e difíceis, como um telhado. O clima de sua fotografia também é bem planejado, contemplando a cidade como ela mesma, sem excessos. A edição de Christopher Rouse é muito bem usada também, dando á trama um ritmo acelerado.

Mas um dos pontos de destaque é a trilha sonora. John Powell, um dos compositores mais competentes da atualidade cria algo ímpar. A tensão imposta pela sua trilha nas perseguições é algo pra todo mundo ficar nervoso. Genial.

As atuações do filme são todas boas e são fiéis á algumas marcas da franquia, como os matadores silenciosos aqui interpretado por Edgar Ramírez e Joey Ansar. Matt Damon novamente arrebenta como Bourne, dando um ar realista enorme ao conturbado personagem. Os coadjuvantes também atuam muito bem, como Julia Stiles e Joan Allen. As duas demonstram como uma mulher forte e determinada devem ser. Mas o grande ator coadjuvante do filme é David Strathairn, como Noah Vosen. Strathairn mostra o seu enorme talento aqui como o vilão mais crível e motivado dos últimos anos. Vosen não é uma cara odiável, um vilão literal. Ele é só um homem que foca seu objetivo na morte de Bourne. Seu cinismo é notável. Ótima interpretação, equiparável a de Boa Noite, Boa Sorte.

Os efeitos especiais do filme são outro fator curioso. Eles existem, devem ser utilizados, mas o realismo visto na tela é tão grande que as perseguições nas cidades, seja a pé, de moto ou de carro, são verossímeis demais, com os efeitos sendo utilizados por necessidade, não por capricho ou beleza,
Um grande exemplo da harmonia perfeita de todos da equipe do filme é a sequência na Estação Waterloo, em Londres. A tensão imposta pelo roteiro e pelas atuações magnificamente reais é de se espantar. Greengrass filma tudo nos mínimos detalhes, auxiliado pela ágil edição e pela nervosa trilha sonora. Perfeição pura e simples, como raramente vista nas telas. Outra sequência ótima é a de Tangier, no Marrocos. As perseguições de moto e pelos telhados da cidade são muito bem executadas.
Greengrass mostra em Ultimato que é um dos melhores diretores da atualidade e demonstra uma enorme felicidade em suas escolhas de projeto. Esse thriller de espionagem pode ser considerado o melhor da história, afinal é uma combinação que não existe mais em Hollywood: Inteligência + Ação.

***** 5 Estrelas

Homem de Ferro

O cabeça-de-lata dos quadrinhos surge nas telonas.

Sem dúvida nehuma, Homem De Ferro foi um dos melhores filmes de 2008. Tendo toda uma tradição da Marvel Comics, o personagem realmente merecia uma adaptção nos cinemas á altura.

Com uma fidelidade ótima a origem do herói nos quadrinhos, o filme se inicia mostrando o playboy Tony Stark do jeito certo. Dono de um império armamentista, Stark( Robert Downey Jr., completamente encaixado no papel) não liga muito para o mundo, é completamente politicamente incorreto e tem tudo que quer aos seus pés. Ao ser capturado por um grupo afegão que deseja que ele construa uma arma potente, o míssel Jericho, o milionário é ferido, tendo estilhaços de uma bomba dentro de seu peito, que se aproximam cada vez mais de seu coração. Para evitar sua morte, Ele e o professor Yinsen( o bom Shaun Toub) criam um poderoso ímã, que colado ao corpo de Stark, impede que esses estilhaços cheguem ao miocárdio de Tony. A partir daí, para conseguir fugir de seu cativeiro, ele cria uma armadura forjada com ferro,combate seus dominadores, e consegue sair de lá. Essa é origem do Homem de Ferro, que vê o mal que suas armas faziam para o mundo, e decide se redimir combatendo os pontos ruins do mundo, tendo como seu diferencial, uma outra armadura, que cria quando chega de novo ao mundo civilizado.

Essa fidelidade era muito importante para os fãs, mas também era importantíssima para a construção do personagem, que tem como ponto vital algo artificial, seu íma. Daí , seu nome tem uma razão literal de ser o Homem de Ferro.

Claro que também deveria ter seu vilão, nesse caso, o Monge de Ferro, ou Obadiah Stane, com seu nome real. Obadiah tem uma luta gananciosa com o protagonista, visando a tecnologia de seu ímã, além de visar o domínio das industrias Stark. Jeff Bridges atua muito bem como o vilão, sem escorregadas.

Como um filme de ação, Homem de Ferro não decepciona. Tem ação pontuada, mas muito empolgante. Nada de ação decerebrada e sem razão. Tudo tem um porquê e isso é um mérito do ótimo roteiro feito a dez mãos. Ele é ácido, por vezes cômico, o que se acomoda muito bem no contexto descontraido do filme. Algo que contribui para essa visão do filme é a direção de Jon Favreau. Ela favorece cortes rápidos em cenas de pontos cômicos, como no momento em que o Coronel James Rhodes(Terrence Howard) se embebeda no avião. Momento rápido, que contribui muito para a cena. Outro ponto favorecido por Favreau são os takes que mostram todo o local. Malibu, por exemplo, é muito bem registrada por ele, em cenas de vôos do cabeça - de -lata por exemplo.

Os efeitos especiais da Industrial Light and Magic são monstruasamente bons como sempre . Em alguns pontos você chega a acreditar que a aramdura é real, e foi construída em cada centímetro de verdade.

Emfim, Homem de Ferro não têm erros que possamos apontar, é esperar para a seqeuncia em 2010, pois esse filme de 2008 foi uma justa homenagem ao Homem de Ferro.
5 estrelas*****

Ensaio Sobre a Cegueira

Fernando Meirelles e sua metáfora humana.

José Saramago, autor português ganhador de diversos prêmios incluindo o Nobel de Literatura, sempre aderiu á escrita forte, de conteúdo e linguagem pesada. Em Ensaio Sobre a Cegueira, sua obra mais conhecida, ele retrata a selvageria humana por meio da perda de visão.

Avesso as adaptações cinematográficas de livros, Saramago foi contra a decisão do brasileiro Fernando Meirelles de levar para as telas o Ensaio. Segundo ele, "o cinema acaba com a imaginação literária.)

Mas, inexplicavelmente, Saramago chorou de emoção quando viu o filme finalizado. Disse que era exatamente aquilo nas telas que seu livro era nas páginas. E Meirelles, satisfeito, chorou ao lado do português.
Para quem leu a obra, Ensaio Sobre a Cegueira deve ter sido uma adaptação incrivelmente fiel.
Não li a obra. Então, pra mim, Ensaio não foi uma ótima adaptação. Foi um ótimo filme.

A história narra a trajetória de várias pessoas infectadas por uma inexplicável variação da cegueira, a cegueira branca. Depois de provocar diversos acidentes e implantar o caos no mundo, esse infectados foram postos em quarentena pelo governo(de um país desconhecido, uma exigência de Saramago). Entre esses infectados, está um oftalmologista(Mark Ruffalo). Sua mulher(Julianne Moore) incrivelmente não se infecta, mas vai junto para a quarentena para ajudar seu marido. Sendo a única com visão, a mulher(sem nome, como todos no filme, outra exigência de Saramago) começa a se responsabilizar por todos em sua ala.

As atuações do filme são todas soberbas. Julianne Moore arrebenta e faz uma heroína bastante crível, que tem raiva, desprezo e todos os sentimentos humanos, sem parecer artificial. Mark Ruffalo também faz o típico herói, mas com seus medos e ambições. Todos os outros coadjuvantes e figurantes fazem um ótimo trabalho, angustiando o espectador a cada frame.
O roteiro adaptado por Don McKellar também é único, criando situações verossímeis a partir do material literário e mostrando a realidade humana com uma fidelidade enorme.

Na direção, Fernando Meirelles faz o seu melhor trabalho até aqui. Ele encontra ângulos dificílimos e consegue focar seus personagens de maneira extremamente íntima. Dentro das alas de quarentena, você se sente um dos cegos. Sua direção é tão brilhante quanto a de Darren Aronofsky, outro gênio vivo.
Outro ponto belo do filme é a fotografia de César Charlone, colaborador frequente de Meirelles. Sua aura branca e meio turva é instigante e tem pontos curiosos em que os personagens andam para o vazio branco, emulando a cegueira deles. De repente, surge seu destino, com o sumiço do branco. Ótimo. A trilha sonora do grupo Uakti também não deixa pra menos e cria algo perturbador e angustiante, com alguns "tic-tacs" entre a trama. Outro fator que merece destaque é a mixagem de som, principalmente nas cenas urbanas. É impressionante o efeito que o som da cidade emite na cabeça do espectador. A mixagem aumenta isso ao máximo,criando algo insurdecedor.
Tecnicamente, é um filme brilhante.

Fernando Meirelles se mostrou um diretor cult, trazendo pro cinema um filme difícil de digerir, que revira o estômago. Existem cenas cruéis, como as jornadas pela ala toda suja por excrementos humanos. Mas as cenas que mais impactam são as secas, como o desespero de homens na ONU quando um deles fica repentinamente cego e outra em que a Ministra da Saúde(Sandra Oh, numa pequena participação) fica cega e diz, naturalmente: Como muitos de vocês, eu fiquei cega.

Esqueça tudo o que os protestos á favor de cegos tem dito sobre o filme. Não é porque o sujeito ficou cego que ele ficou irracional. Esse é apenas o meio utilizado por Meirelles, McKellar e Saramago para descrever a natureza do homem como um ser animalesco. Se o filme foi criticado em Cannes, foi por ser duro demais com as pessoas de estômago fraco. Mas o filme é Rated R e está tudo justificado na censura.

Meirelles é um dos caras mais corajosos que conheço. Um enorme parabéns por sua mais nova obra-prima. Se ele preferiu não filmar um estupro coletivo nos seus mínimos detalhes, é porque isso já seria algo corajoso demais pra ser lançado nos Cinemas. Seria banido.

***** 5 Estrelas

sábado, 19 de setembro de 2009

O Labirinto do Fauno

Del Toro volta ás origens da fantasia

Nos dias de hoje, onde a fantasia está meio mal das pernas com histórias destinadas apenas para o público infato-juvenil, com filmes como As Crónicas de Nárnia, ou Os Seis Signos do Anel da vida, precisavamos de algo que respeitassem as fantasias antigas, com elementos antigos da fantasia européia que eram muito distorcidos da sua idéia original. Um exemplo disso são as fadas, que são mostradas como criaturas belas, brilhosas, mas na fantasia original, eram criaturinhas foscas que se camuflavam de louva-deuses .

Em 2006, Guilermos del Toro, Criador da franquia de Hellboy no cinema, nos premia com uma obra fiél a fantasia original, assustadora, e por vezes com uma magia tão simples, que se parece muito mais crível com seu clima escuro do que o espetáculo colorido de filmes da Disney, por exemplo.

A história é de uma criança, a menina Ofélia, que adora contos de fadas e livros, e , no meio da guerra civil espanhola se mudacom sua mãe grávida para uma casa no interior, onde o seu padrasto, Capitão Vidal, está com sua equipe militar. Na chegada, ela acaba entrando num labirinto e lá dentro, encontra um fauno, que diz a ela que ela é uma princesa, e precisa realizar três provas para assumir seu lugar no Reino Subterrâneo de onde fugiu havia anos e havia retornado no corpo de Ofélia.

A princípio, a história seria fraca, uma aventura com final feliz e previsível. É nesse aspecto que Del Toro rompe com tudo que estava sendo feito, e coloca uma história adulta, com razão pela censura R que recebeu nos USA e os 16 anos no Brasil. Ele coloca duas tramas, aparentemente paralelas. Uma delas são os desafios e dramas de Ofélia. A outra é a guerrilha que ocorre entre os comunistas rebeldes e os militares coordenados pelo capitão. O que é extremamente diferenciado é o fato de Del Toro por vezes colocar a trama da guerrilha em primeiro plano , ao lugar da fantasia. E a fantasia que há é adulta,( tome como exemplo a magnitude do final)um aspecto que é tão raro que quase não me lembro de um outro exemplo a não ser esse filme.

Os efeitos visuais tem um ar diferente nesse filme. O CGI em si , não é muito bom, mas dá pra passar, principalmente pelo pouco orçamento. Porém algo que substitui em sua qualidade o CGI são os trejeitos de Doug Jones, O Fauno. A qualidade visual de seus gestos é ótima e junto com a ótima maquiagem, fazem esse filme ter um visual maravilhoso. Isso tudo registrado pela direção magistral, tranquila e uniforme de Del Toro, faz O Labirinto do Fauno sair sem erros.

***** 5 Estrelas

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

R.I.P Patrick Swayze


Depois de uma carreira invejável e de muito destaque, Patrick Swayze nos deixa muito cedo, com apenas 57 anos, com muito ainda para fazer e ver, sem sombra de dúvidas. Tendo uma vida pessoal muito bela, se casou em 1975 com Lisa Niemi e estava casado com ela até o dia em que partiu, em 14 de setembro de 2009, sem deixar filhos,depois de 20 meses numa luta contra um câncer no pâncreas, . Swayze marcou a década de 80 e 90. sendo chamado por muitos como o homem mais sexy dos anos dessa época. Pois é, ídolos que ficavam nas frentes e atrás das câmeras estão nos deixando,e desde já fazem muita falta. Vamos então a uma breve lista dos trabalhos mais importantes de Swayze:

Para Wong Foo, Obrigado por tudo, Julie Newmar(1995)

Trabalho que obteve grande destaque , principalmente por falar sobre travestis. Três drag queens uma delas Vida(Patrick Swayze) embarcam numa viagem até hollywood, para um evento sobre drag queens, e no meio da viagem arrumam confusão com homofóbicos ,racistas, etc.

Donnie Darko(2003)

Grande filme de ficção científica, é um cult, de um diretor até então estreante, Richard Kelly. Nele ,um garoto esquizofrênico( Jake Gyllenhaal ) tem visões com um amigo imaginário que é um coelho gigante de 1,80 m. Swayze faz um coadjuvante, porém com muita importancia na história, sendo na trama um tipo de psicólogo que ajuda o protagonista.

Caçadores de Emoção(1991)

Um clássico da Sessão da Tarde. Porém também um clássico dos filmes de ação sem muito compromisso. Nele, Bodhi( Patrick Swayze) é um bandido que rouba junto com sua gangue com máscaras de ex- presidentes do USA, além de curtir adrenalina aos montes com seus esportes radicais, na maioria das vezes o surf. Keanu Reeves faz Johnny Utah, um agente do FBI que se infiltra nessa gangue de aventureiros de Bodhi e tenta descobrir a verdade ao longo do tempo.


2° Dirty Dancing(1987)

O filme que alçou Swayze ao estrelato. Nele, ele interpreta um instrutor de dança Jonny Castle, por quem Baby(Jennifer Grey)uma hóspede no resort onde a história ocorre,tem uma queda . Depois da namorada de Jonny ficar grávida, ele chama Baby para substituí-la como parceira de dança. E o romance assim se desenrola, com boas danças, ótima trilha sonora, nesse filme que foi um marco na década de 80.

1°Ghost(1990)

Talvez um dos maiores romances no cinema, ghost foi um marco inovador, por contar uma história de espiritismo( claro que nada aprofundado nem documental) quando um homem( Patrick Swayze) é morto, mas sua alma fica vagando, querendo agora defender sua namorada, (Demi Moore). O filme tem um timing de romance , drama, suspense e até comédia muito bom, nada forçado, e com o estilo ainda oitentista no iníciozinho da década de 90.Talvez por esse filme, Dirt Dancing e Caçadores de emoção, chamaria Swayze de um dos reis da Sessão da Tarde, mas também um rei da época de ouro de 80 e 90.

Ps: A ordem de filmes não é diretamente por sua qualidade, mas por seu grau de expressividade na carreira do grande ator.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Transformers 2 - A Vingança dos Derrotados

Michael Bay em sua habitual incompetência.

Em 2007, um verdadeiro fenômeno estreou nos cinemas. Transformers, filme baseado na famosa linha de bonecos da Hasbro e no desenho oitentista, surpreendeu a todos. Divertido, cheio de ação, engraçado e por vezes inteligente, o filme arrancou elogios das críticas e do público, que ficou extasiado pela ação frenética.

Depois da ótima resposta e dos 709 milhões de dólares ganhos em bilheteria mundial, uma nova franquia começava. O poderoso Steven Spielberg, agindo aqui como produtor-executivo(mesma função que exerceu no primeiro), aumentou o orçamento para 200 Milhões. Isso possibilitou que os efeitos especiais, espetaculares no primeiro, fossem melhorados no segundo. Com a competência do elenco (principalmente de Shia LeBeouf) e o retorno de toda a equipe do primeiro, Transformers 2 parecia ir para o mesmo caminho de blockbuster inteligente.

Nessa nova trama, Sam(LeBeouf) vai para a faculdade e leva Bumblebee junto. Mikaela(Megan Fox, estonteante) fica em sua oficina trabalhando, mas poderá conversar com Sam pela internet. Os militares, agora numa força-tarefa-anti-Decepticon, conta com a ajuda de Optimus Prime e sua trupe alienígena. Voltando a faculdade, Sam acha um pedaço perdido do Allspark, caído no seu casaco. Quando o pega, ele surta e ficar super-inteligente e começa a desenhar aqueles símbolos estranhos que seu tataravô desenhava no primeiro filme.
Para piorar de vez a situação, Fallen, um antigo robô renegado que agora é chefe dos Decepticons, vem para a Terra para sua vingança.

Mas a decepção apareceu e pude ver o quão desastroso é Transformers 2. O roteiro de Alex Kurtzman, Roberto Orci(roteiristas do primeiro) e Ehren Kruger desmente o que houve posteriormente, criando de forma apressado e sem talento um capítulo que pode ser acompanhado sem ter visto o primeiro. Anteriormente, os Autobots encontraram a Terra pela primeira vez para pegar o Allspark. Mas na primeira cena de Transformers 2, há vários robôs Decepticons trabalhando num deserto, dezenas de milhares de anos antes de Cristo! Outra contradição evidente: Sam tinha sido procurado no primeiro por ser o dono dos óculos. Pelos óculos ele se meteu nessa guerra. Já no segundo filme, há uma tosca Adaga do Destino da qual Sam tem que pegar. E tudo isso com uma narração que diz que ele só está ali porque é o Escolhido. Mas não tinha sido por sorte(ou azar) que ele tinha se metido naquilo tudo?!
E o mais ridículo de tudo: Agora existem Decepticons transmorfos.
Pífio, o roteiro é um dos piores já feitos na história e um evidente trabalho feito ás pressas, sem a mínima preocupação de ser algo competente.

A trilha sonora de Steve Jablonsky é normal. A mesma coisa do primeiro, algo que empolga e nada mais. A fotografia passa despercebida, a edição é ágil e mantém o clima de ação, uma constante nesse filme. Já os efeitos especiais estão até inferiores aos do primeiro, mas continuam algo de primeira linha, com a marca de qualidade da Industrial Light and Magic.

O elenco, algo de muita qualidade no primeiro filme, continua muito bom. Mas os poucos atores que entraram pra contar a história não ajudam. Um grande exemplo disso é o personagem Leo Spitz, do limitado ator Ramón Rodríguez. Ele está ali para ser o alívio cômico e nada mais. E nem pra isso serve, já que o roteiro e seus possíveis improvisos o fazem ser sem graça.

Mas o pior de tudo é, sem dúvida, a falta de competência de Michael Bay. No primeiro filme, ele estava contido, sem aquelas suas manias ridículas como o mocinho acenando pro jato militar e a câmera não parar de jeito nenhum. Nem diálogo estático ele sabe filmar. É Michael Bay implodindo um filme por sua falta de talento.

Apesar de todos esses erros grotescos que fazem desse filme algo insosso e frouxo, o público normal de cinema não tem o que reclamar. São 147 minutos de pura pancadaria, robôs mortos e ressucitados, alívios cômicos que só fazem adolescentes rirem e um clímax de cerca de 40 minutos no final. Algo totalmente exagerado, só pra ter ação descerebrada, que incluem até os pais de Sam na guerra. Algo sem talento, mas que passará despercebido pelo público.

Um filme divertido mas extremamente estressante pra um cinéfilo. O recomendo como o Sexta-Feira 13, apenas pra ver com amigos. Mas acredito que esse seja um produto inferior até mesmo ao filme de Jason.

Que Michael Bay deixe Alex Kurtzman e Roberto Orci trabalharem em Transformers 3. Eles são profissionais que não são limitados e que sabem escrever muito bem, não são incapacitados como ele.

** 2 Estrelas

Crepúsculo

Muito pouco para se aproveitar em adaptação fraca.

Devo começar admitindo que nunca li o livro de Stephanie Meyer, Crepúsculo. Não me culpo, acredito que seja um livro fraco, meloso e extremamente chato em quesitos narrativos. É o que espero, deduzindo pelo o que assisti no filme de 2008. Entretanto, pelo o que ouço de fãs, o filme não foi fiel e o livro é muito superior. Acreditanto apenas no que vivenciei, vamos ao filme.

O filme começa com um clima muito normal, mostrando uma adolescente como qualquer outra, Isabella Swan(Kristen Stewart) que se muda para Forks,uma cidade pequena perto do estado de Washinton. Lá, conhece Edward Cullen( Robert Pattinson )um garoto que parece distante dos outros alunos da nova escola de Bella. Depois ela descobre que ele é um vampiro, e se desenrola um romance.

Acredito que não se faz necessário eu falar mais da sinopse que já deve estar mais que saturada pela febre contínua e initerrupta que essa marca Crepúsculo ganhou. Devemos então analisar a trama. Se tratando de um primeiro episódio de uma série, sempre é mais difícil de se criticar um filme, entretanto, esse é um filme mais completo, com um início, meio e fim. A história, para muitas adolescente fanáticas é linda, maravilhosa e romântica. Acredito que essa fórmula fácil funcione com elas. Comigo, não funcionou. É sim uma fórmula batida, e nesse aspecto, devo incluir o livro também . É um Romeu e Julieta do século 21, com I-Pods, roupas bonitas e sangue, que à propósito, não encontrei em quantidade suficiente para encher uma taça de vinho. Sei que nesse aspecto, honrar a história vampira não foi o objetivo, mas sim criar um romance teen. Porém, incluir dificuldades raciais na trama é apelação, uma coisa que não gosto nos dias de hoje. Simplesmente é fraco demais para enredar uma história decente. O fator de outros vampiros quererem perseguir a protagonista, não aprovarem o romance, e todos os outros caquetes do gênero são do Arco da Velha, que nao entreteem ninguém que busca algo inovador. São 121 minutos de coisas previsíveis e sem muita graça, que fazem com que o filme não saia do patamar de comum em relação a outros romances.

Tendo essa pouca coragem até aqui, vamos até os quesitos técnicos, e ver se há algo de bom para se aproveitar. A direção de Catherine Hardwick é de takes normais sem nada muito especial. A fotografia é média mas para um filme ruim, é um dos pontos bons, num tom branco, Mas eles podiam maneirar... Tudo muito branco deixa de ser reconfortante e vira sacal! A trilha sonora montada é o ponto alto do filme, com músicas de bandas semi-famosas, como"Decode" de Paramore( uma boa música, mas prefiro rock de raiz :-) ) . Mas um filme não vive de música. Esse é o fato.

Nas atuações , Kristen Stewart sabe fazer uma boa Bella, mesmo que a personagem seja fraca na minha visão. Robert Pattinson pra mim, não tem muito talento e parece mais zumbi do que vampiro.

Emfim, um filme que prende pouco a atenção, nao merece muitos aplausos, entretanto, prêmios fracos e extremamente errôneos como Teen Choice Award e MTV Movie Award encheram a adaptação do livro de Stephanie Meyer de troféus, em vitórias extremamente injustas e inconcebíveis como Crepúsculo ser melhor que TDK. Porém, se tratando de um prêmio de público burro e alienado, não se pode esperar muito.

2 estrelas **

sábado, 12 de setembro de 2009

Anticristo

Lars von Trier, sua depressão e um filmaço.

Lars von Trier estava em depressão, pensando que nunca mais conseguiria dirigir um filme quando pensou em fazer Anticristo. Ele estava errado. Ainda bem! Fez um dos maiores terrores que já vi, uma das cenas mais belas e ao mesmo tempo tristes que já passaram no cinema.

O filme é bom desde o primeiro frame. A sequencia inicial merece destaque. Ela é em câmera lenta e em preto e branco, mostra Willem Dafoe e Charlotte Gainsburg em uma cena de sexo explícito e orgasmo, enquanto o filho sai do berço em direção a janela do quarto dos pais. A trilha sonora que se dá nessa hora é de arrepiar. Música clássica, calma e triste, passa o momento triste e belo que é. Genial.

A história é simples em uma sinopse, mas completamente louca e psicótica em última análise. Marido e mulher perdem o filho ,e , para tentar se recompor vão para uma cabana no meio do nada, numa floresta de árvores altas, sem contato com o resto do mundo. E o filme é assim em todo o seu curso. Não mostra a face de outros humanos a não ser dos dois protagonistas. Dessa premissa, pode-se pensar um filme completamente focado e com um roteiro de base extremamente competente, já que não há outra escapatória a não ser os dois personagens. E assim o filme é.

Extremamente assustador, Anticristo aterroriza , porém sem usar imagens apelativas como um mulher morta ou uma crinçinha mutilada. Ele aterroriza por que a mulher fica completamente louca pelo o que acontece a seu filho e pela culpa que carrega . Durante todo o filme, o homem tenta ajudar a protagonista pelo meio psicologico, analisando suas visões , seus impulsos e seus medos. É de se morder o modo como a mulher tem impulsos sexuais com o homem , tendo isso por loucura pelo o que aconteceu a seu filho.

Outra coisa diferenciada no filme são as mutilações e cenas fortes. VonTrier fez isso sem medo, chocando o público sem medo da censura que fosse pegar. E isso pode causar desmaio , vontade de fechar os olhos e entranhas reviradas, nada apelativo, é claro, apenas mostranto o quão pesada é a situação, e como a insanidade é .

Mas acho que uma comparação quando se acaba de ver o filme é inevitável. Adão e Eva. O lugar para aonde vão se chama Éden, e tem muito a ver a trama com o que acontece com os primeiros representantes do ser humano. Depois de pecar e acabar desse modo com um símbolo de pureza, os dois embarcam em situações pecaminosas e de puro caos. Semelhante a uma passagem da Bíblia, não?

Von Trier contribui muito ao filme com sua direção. Ela é inovadora, com takes que outros diretores conservadores não fariam, portanto, é corajosa. é um diretor que precisamos hoje em dia, m diretor que faz arte. As atuações também ajudam muito ao filme.Charlotte Gaind burg nos dá toda realidade do personafem sem parecer que está atuando. Willem Dafoe tem competencia de sempre, se incorporando muito bem ao personagem.

Emfim, von Trier deve agora ter certeza de que tem capacidade sim de dirigir já que acabou de nos presentar com mais esse diamante do cinema cult.

5 Estrelas *****

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

2001 - Uma Odisséia no Espaço

Stanley Kubrick e a ficção-científica inovada.

"Essa conversa não faz mais sentido" diz HAL 9000 a Dave Bowman, o prendendo do lado de fora de uma estação espacial. HAL 9000 é um computador com inteligência artificial, o mais recente. Dave é um astronauta que viaja com destino a Júpiter, para investigar um estranho sinal de som. Junto a Dave na missão, está Francis Poole. Está missão foi enviada pelo Dr. Heywood Floyd, que 18 meses atrás esteve na Lua e achou um monolito, que era o emissor do tal som. Esse monolito, que foi encontrado na Terra há 4 milhões da anos atrás, foi uma descoberta pequena para os símios primatas, depois desenvolvidos ao longo dos anos pra serem chamados de Homens.

2001 - Uma Odisséia no Espaço é uma grande homenagem ao fator que movimenta o planeta e o Universo do filme: O Ser Humano. Por isso, tudo o que eu disse não é um spoiler. O interessante do filme é debater os diálogos precisos, as belíssimas imagens e outras coisas mais complexas. Num filme que debate muito com questões existenciais e filosóficas, tudo deve ser absorvido, nada está ali por acaso.

Depois de já estar consagrado, Stanley Kubrick resolveu investir nesse seu projeto de 5 anos, em parceria com o escritor Arthur C. Clarke. Uma iniciativa corajosa que planejava um lançamento paralelo de um livro(de Arthur) e do filme(de Kubrick). E tudo deu certo e o filme arrancou críticas positivas, assim como o livro. Mas no filme tudo é diferenciado afinal 2001 é tecnicamente irretocável. A trilha sonora baseada em músicas clássicas é perfeita e ajuda a comandar a linda viagem para o infinito. As atuações, todas com muita naturalidade e sem atores de grande renome, são ótimas. Todos transmitem a mensagem que deveriam. É interessante que cada personagem da trama tem uma personalidade diferente, mostrando que até entre si, os humanos são diferentes. Não é necessária a existência de vida extraterrestre pra todos falarem: Não estamos sós.

A direção de Kubrick é algo inovador. Calma, arrojada, corajosa e com toda a marca do cineasta, a direção é de outro patamar. Kubrick é o diretor mais visionário da história. Fato.

O roteiro, escrito por Kubrick e Arthur Clarke, é diferente de tudo já visto. De duas horas e meia de filme, apenas meia hora é falada. 2001 é tão poderoso que valoriza mais a imagem do que a palavra, provando que o Universo é mais espetacular quando contemplado em silêncio. O balé mudo de Dave e Francis na nave é incrível. Kubrick filma como ninguém, mostrando os protagonistas com criatividade, como se ele fosse o terceiro tripulante ativo da nave.

As pessoas podem estranhar (e muito) 2001. É um filme parado, que deve ser assistido com o máximo de atenção. Muitas pessoas sairiam revoltadas falando que o filme é chato, lerdo, sem propósito. Mas é a falta de costume do público perante algo que realmente estimula a inteligência do público. Tudo é complexo de entender, principalmente o final. E isso só prova que o exercício cinematográfico que Kubrick proporciona em seus filmes é algo visionário demais pras pessoas leigas em cinema.

Uma coisa que é curiosa em 2001 são seus efeitos especiais. Feitos visivelmente a partir de jogos de cores e filmagens da Terra com fotografia saturada ou negativa, eles são bons até mesmo para agora, 41 anos depois do lançamento do filme. Seus efeitos são melhores que os de Presságio, por exemplo. As estrelas, o céu, as máquinas que flutuam no espaço, os planetas... Tudo é registrado como um grande livro sobre o universo, algo realmente obrigatório pro apreciador do Mundo, da astronomia.

Das 3 partes em que 2001 é dividido a melhor é, sem dúvida, a dos primatas. Seus costumes, suas ações, suas novas descobertas e sua relação com os outros primatas é algo emocionante de se ver, principalmente após a estranha presença daquele objeto grande, preto e esquisito que emite um som bem forte. É interessante notar que Kubrick e sua equipe estudou muito bem as atitudes primatas para mostrar isso no filme. A coreografia dos atores é simplesmente perfeita, eles convencem como macacos. E, o mais legal, é notar que Kubrick conhece o jeito humano. O jeito com que os primatas têm seu primeiro contato com o monolito é de chorar de tão bonito e perfeito. O líder de seu bando chega de mansinho, tocando o objeto estranho aos poucos, com receio. Quando ele percebe que aquilo não representa perigo, os outros do bando se aproximam pra tocar também. Genial. Vai dizer que os humanos não agiriam assim(ou com violência, os tempos mudaram)?

2001 é o maior filme de ficção-científica já feito e algo obrigatório pra qualquer cinéfilo. Um filme recomendado para todas as idades. E que todos possam contemplar essa brilhante homenagem que Stanley Kubrick propõe ao Ser Humano. É Kubrick em sua obra máxima.

***** 5 Estrelas

Frost/Nixon

Frank Langella e Michael Sheen em surpreendente duelo político.

Ron Howard sempre foi um diretor requisitado e, por vezes, versátil. Mas também sempre trabalhou com extremos, com sua versatilidade ser sinônimo de dúvida.

Explico. Quando se limita as fórmulas de Oscar, Howard não faz feio. Com Apollo 13, Cinderella Man e A Beautiful Mind, ele acumulou carecas dourados. Mas quando decide dirigir algo diferente, como ação, saem películas fracas com O Código da Vinci e Anjos e Demônios.

Pra um diretor que só é competente quando segue a fórmula, Frost/Nixon veio como uma prova de fogo.

Na trama costurada com esmero pelo dramaturgo Peter Morgan(A Rainha, O Último Rei da Escócia), são narrados os preparativos e fatos principais da famosa e requisitada entrevista do apresentador David Frost e o ex-presidente americando Richard Nixon. Durante toda a entrevista, um verdadeiro duelo de personalidades é travado. O conservador Nixon é o total oposto do liberal e astuto Frost.

Para esse teste, principalmente sobre sua competência, Howard contou com uma talentosa equipe. A trilha sonora de Hans Zimmer é soberba como sempre, provando que ele é um dos compositores mais talentosos da história. A fotografia de Sal Totino é bem curiosa: ela representa o subúrbio americano, local da entrevista, como ele mesmo, sem maquiagens. A edição de Mike Hill é precisa e consegue impor um grande ritmo á trama.

Quanto aos atores, Howard também escolheu um casting matador. Nos coadjuvantes, ele conta com brilhantes atores como o contido Kevin Bacon, o estranho e maravilhoso Toby Jones e o versátil e sínico Sam Rockwell. Sem falar em Oliver Platt, que faz uma boa participação. Mas, num filme como esse, tudo é levado pelos protagonistas. E é aí que Frost/Nixon cresce mais ainda. Michael Sheen é talentoso e está em sua melhor forma aqui. Seu Frost é inseguro, inocente e, por vezes, confuso. Ele transmite muito bem qual é a parte dele na entrevista. Já Frank Langella está impecável. Um Nixon perfeito, com os trejeitos do verdadeiro ex-presidente. Langella faz tudo parecer fácil e atua como há muito tempo não via alguém assim. Sua competência é enorme. Justíssima indicação ao Oscar.

Com uma equipe sem falhas, Howard tinha de fazer a parte dele. E é por sua bela direção que Howard não é mais um alvo de piadas para mim. Ele demonstra seriedade, competência e consegue o equilíbrio entre aquele feijão-com-arroz do Oscar e aquela versatilidade de Anjos. Como poucas, sua direção é calma e lembra muito a de Darren Aronofsky em O Lutador, com takes por trás do personagem.

O roteiro de Peter Morgan também é ótimo e faz com que o filme tem o melhor ritmo que possa ser imposto por um filme lento como esse. A metralhadora de diálogos entre Frost e Nixon são ácidas e arrebatadoras. Por muitas vezes, sua entrevista mais parece uma luta e o subúrbio, um ringue. Tudo muito bem costurado pelas boas situações criadas por Morgan, como as pausas de entrevistas.

Por tudo ser feito com tanta seriedade e com tanto esmero, recomendo muito Frost/Nixon para aqueles que sejam cinéfilos. O público geral, como sempre, deverá detestar o ritmo lento do filme. Mas vale a pena. Ron Howard finalmente passou em seu teste, demonstrou ser algo além do normal. Ganhou indicações e prêmios, mas ganhou mais que isso: O respeito da crítica.

**** 4 Estrelas

O Lutador

Volta triunfal de Mickey Rourke.

Depois de fazer o maravilhoso Fonte da Vida, Aronofsky volta, em um trabalho que marca uma volta de Mickey Rourke(depois da tentativa fracassada de retorno em Sin City, como Marv). E foi uma grande volta. O Lutador é autoral, por vezes divertido e tem um teor emocionante alto.

A história enfoca a vida de Randy ''The Ram'' Robinson, lutador de luta livre dos anos 80, que hoje em dia vive de fazer pequenos shows de luta num pequeno ringue em sua cidade. Além disso, Randy trabalha na sessão de frios de um supermercado. Num dia em que Randy passa mal numa luta, de enfarto, ele passa a ser proibido pelos médicos de continuar lutando. E o mundo vai ao chão para ele.

E é isso que o filme mostra, e mostra muito bem. Na vida onde Randy ignorou a filha Stephanie( Evan Rachel Wood) por tanto tempo, ele se vê velho com poucos amigos,a não ser pela stripper Pam(Marisa Tomei) e os colegas de ringue. Ainda por cima, produtores propõem á ele uma partida comemorativa de 20 anos dele com Ayatollah .Nesse tempo onde é parado por obrigação, você pode imaginar a situação depressiva em que Randy se encontra . Sem poder competir,ele enxerga sua vida vazia, gélida e sem novas emoções, que apenas o ringue podia proporcionar. Essa é uma imagem implacável que o filme passa : Depois de uma vida inteira no auge, é duro costurar sentimentos rasgados, que agora se contentam com uma tarde de autógrafos com alguns fãs das antigas.

O Lutador mostra isso sem dó nem piedade. E prefere usar imagens, o que impacta muito mais, e que pode ser muito bem feito tendo um dos maiores diretores dessa nova geração. As cenas da primeira parte do filme abusam muito de planos inteiros de Randy de costas, andando pra resolver problemas práticos da vida. O contraste claro dos tempos de glória, onde víamos os lutadores caminhando até o local de sua luta deste modo.

Um ponto importante para comentar são os dois talentosos profissionais que tornam esse filme um espetáculo. Um deles é Mickey Rourke, que retorna às telas com um brilho nunca visto, e um talento invencível, digno da indicaçao ao Oscar de 2008 que recebeu. O outro é Darren Aronofsky , um diretor cujo talento não se pode elogiar mais. Sem erros na careira que teve até aqui. Esse filme começou de verdade, com uma surpresa pra mim. Era um ritmo diferente , que nem parecia um filme do pesado diretor(no bom sentido, é claro). Realmente, esse filme é diferente de Réquien Para Um Sonho, por exemplo. De uma forma nova, sem usar muito da ajuda de uma trilha sonora, Aronofsky vai colocando a vida melancólica do protagonista aos poucos, mas dando ao telespectador uma dor que cresce, e que dá pontadas no coração com certos takes. Uma coisa muito boa para o cineasta, que vai cada vez mais aperfeiçoando seu talento nato.

Antes do fim, é preciso falar que é impossível não perceber semelhanças entre Randy e Rourke. Mesmo que esse comentário pareça incabível, os dois têm semelhanças. Depois de carreiras de sucesso, os dois precisam catar os cacos e restaurarem-se, para um evento maior e de redenção.
***** 5 Estrelas

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Brüno

Sacha Baron Cohen e seu novo ícone.

Em 2006, um mockumentary(tipo de documentário em que tudo é falso) chamado Borat choca o mundo. Aquela forma irreverente de uma história de um repórter cazake que visita a América reescreveu a comédia como a conhecemos. Por trás daquelas piadas e situações engraçadas, havia um roteiro que criticava o famoso "american way of life". O tal Borat era um comediante inglês de médio sucesso chamado Sacha Baron Cohen.

Agora, três anos depois do choque mundial com o repórter, Sacha Baron Cohen nos apresenta Brüno, seu terceiro personagem adaptado pro cinema. Brüno é um gay austríaco fashion, de sucesso, que comanda um programa de moda. Em tudo quanto é festa, está Brüno na primeira fila para acompanhar. Mas aí começa seu declínio. Ele quer ir em busca da fama mundial de qualquer forma e por isso, vai para a América(e para outros cantos do mundo, depois) para fazer algo que o faça famoso.

Nessa busca pela fama, Brüno faz coisas abusrdas como adotar um bebê da África, chamar o candidato a presidência do Canadá para fazer um filme pornô, salvar países de conflitos e até mesmo virar hétero. Diferente de Borat, Brüno tem um objetivo mais coeso. Aqui, sua busca pela fama é o centro do filme. E tudo é bem captado pelas lentes nervosas e documentais de Larry Charles. Em um filme-documentário é difícil fazer uma avaliação técnica, ainda mais com as constantes sombras que Charles provoca para fazer o público pensar que tudo está sendo filmado, não acompanhado.

Mas um fator de destaque mesmo é a trilha sonora de Erran Baron Cohen. A sinfonia que mostra o declínio de Brüno, que sobe quando a tristeza do protagonista aparece, é fantástica e divertida. Outro trunfo de roteiro e trilha são as canções de Brüno, que ele canta no decorrer do filme. Seja pra ficar famoso ou pra resolver um combate de anos no Oriente Médio.

Como marca registrada dos filmes de Cohen, o legal é ver a reação do público perante aos absurdos. Tudo nem parece ensaiado e as reações bem reais de todos a Brüno são hilárias.

Num filme como esse, em que exige tudo de atuações e roteiro, ninguém faz feio. Baron Cohen está perfeito como sempre, atuando sem pudores e incrivelmente bem. Os coadjuvantes não fazem feio. O roteiro é impecável e é genuinamente engraçado. E quando um filme faz piadas racistas, sobre nazistas, anões e homossexuais e é engraçado, sem dúvida vale a pena ser conferido.

Que Cohen crie seu mais novo ícone e nos presenteie com outra aula de cinema.

***** 5 Estrelas

domingo, 6 de setembro de 2009

Os Intocáveis

Um dos porquês de Brian de Palma ser gigante

Filmes de Máfia são em sua maioria, bons desde o início. Se roteiro, direção, e casting soam bem, é porque vem bom filme por aí. Porém, nem todos viram clássicos do gênero. Os Intocáveis(1987, Brian de Palma) virou um deles. Não é a toa.

Em 1930, Al Capone(Robert De Niro) era praticamente o prefeito da cidade. Chefiava o crime organizado da época e traficava bebidas num tempo onde a Lei Seca ocorria em Chicago. Era praticamente impossível pega-lo pela lei, graças as suas artimanhas e braços infinitos de influencias. Quando o agente federal Eliot Ness(Kevin Costner) chega a cidade com a promessa de luta aos mafiosos, ele percebe que não pode trabalhar com os policiais que tem a disposição. Todos vendidos, corrompidos,então ele monta seu próprio grupo de ataque á esses criminosos: o grupo de intocáveis composto por Malone( Sean Connery) policial de rua que têm valores e conhecimento no que ocorre no local, Oscar Wallace( Charles Martin Smith) contador da polícia, e George Stone(Andy Garcia) recruta da polícia.

Todo o clima de policial é bem colocado no filme, desde o figurino até as atuações. Está tudo ali, os chapéus, o estilo dos ternos, o modo de falar. O modo como a trama nos leva é fascinantemente bom, simples, e rápido. Logo após a formação do grupo, eles vão ao ataque,sem rodeios, o que já tira do filme um peso que poderia estragá-lo. Aliás, acredito que a trama mais sucinta ajude a história a se desenrolar, a mostrar mais os personagens , já que o filme é baseado em fatos reais. Preste atenção, não disse que o filme é vazio de conteúdo, muito pelo contrário! Uma tirada muito boa dos roteiristas, que levam o filme de uma forma muito uniforme, sem perder ritmo, apenas ganhando e ganhando aos poucos.

Com essa forma de abordagem, temos tempo de ver e de comtemplar essa briga de Polícia X Máfia de uma maneira mais técnica, o que foi muito bom, pois o filme é um espetáculo tecnicamente. A fotografia em tom sépia em alguns momentos é ótima e contribui muito. Mas um dos pontos altos é a trilha sonora do monstro Ennio Morricone. A de abertura, principalmente,arrebenta e dá o tom certo do filme.

Mas um dos astros aqui é Brian de Palma. A direção é calma, tranquila e firme, de quem sabe exatamente o que está fazendo. Seus closes, sua didática um pouco mais seca em alguns momentos para cortes soam muito bem, e confortam muito a quem assiste.

As atuações são também muito boas. Destaque para Sean Connery que entra muito bem na pele do personagem e Robert De Niro, que faz um Al Capone memorável. E até Kevin Costner, o qual eu tenho uma certa implicancia atuou bem. Mas esses eram tempos antigos. Atualmente ele vem um pouco no piloto automático.

Finalizando, um dos meus filmes de Máfia preferidos, que joga muito bem com as armas que tem e abusa de personalidade.

5 Estrelas *****

Up - Altas Aventuras

Pixar e sua didática genial.
A Pixar consegue sempre algo que muitas empresas sempre lutam e dificilmente conseguem: misturar conteúdo artístico com cinema altamente comercial. É algo complicado, fazer um filme de qualidade cinéfila eleveada que venda bastante e faça sucesso. Filmes como Batman - O Cavaleiro das Trevas são exemplos disso. Fazem muitos milhões, e são elogiados pela crítica. A Pixar faz isso quase sempre. Toy Story, Os Incríveis, Procurando Nemo, Wall-e, e agora Up - Altas Aventuras.

Up começa muito bem , com uma sequencia inicial de dar lágrimas nos olhos. É um resumão da vida de Carl, o velho ranzinza que é protagonista. Na trama, Carl(vendedor de balões) está prestes a perder o direito de ter a casa, então, passa uma noite enchendo balões de gás, amarra-os a casa e voa, em direção a América do Sul, num lugar onde ele e sua falecida mulher sempre desejaram estar. Só que Russel, um escoteiro de 8 anos, entra junto na casa, e embarca nessa viajem também.

A trama de Up é bem simples , por isso, não há espaço para algo muito além de se admirar. Admirar a vida de Carl, seus feitos, sua melancolia e seus destinos. Pode parecer adulto demais para uma animação, destinada ao público infantil, mas é nesse aspecto que a Pixar revoluciona. Planta sementes de bom senso e de boas idéias ao espectador, Isso é muito bom, principalmente para as crianças. No filme, vemos o personagem Carl, mesmo tendo vivido uma vida feliz, à beira de perder tudo, se desprende das amarras do realismo, e vai em busca do sonho de sua mulher, buscando realizar o sonho dela mesmo depois da morte. É magnífico. Vemos tudo isso como uma representação figurada da realidade, é claro, mas que nos dá um tapa revigorante quando saímos da sala. Muito emocionante, sem dúvida. Entretanto, o filme não se baseia apenas no drama. Também temos comédia, essa claro, voltada para o público infantil, que deve sair muito satisfeito das salas de exibição também.

Tecnicamente, os filmes da Pixar têm já o mesmo aspecto: são sempre bons.Mas esse tem uma característica nova. O filme é exibido em 3D e em película comum, e acho interessante os dois modos. Se puder ver em 3D, é melhor, é uma experiencia nova, o 3D é realmente muito bem trabalhado no filme. Meu único receio, é que o filme fique rotulado e vulgarizado apenas como ''um filme 3D''. A maioria das pessoas que vai ao cinema, em sua maioria, dizem"e olha lá o filme é em 3D vai ser maneiro" e se esquecem do ponto artístico tão relevante que o filme tem. Isso não pode acontecer. Up é um filmaço, mas não deve seu sucesso pelos óculos em 3D. Não mesmo.
5 estrelas*****

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Se Beber Não Case

Todd Phillips dá aula de como fazer comédia

Uma coisa que sempre me deixa chateado com comédias de verão, em geral feitas por Irmãos Wayans da vida e outros cidadãos como os caras de Espartalhões ( cujo eu não me atrevo dizer o nome) são as piadinhas idiotas e escatológicas, sem nenhuma criação e que só divertem pessoas que não ligam pra arte, apenas cabeças cansadas e que assistem ao filme apenas por um motivo para estar sentado. Existem porém, almas caridosas que fazem comédias decentes, com piadas inteligentes e que fazem realmente rir. Um exemplo é Queime Depois de Ler, que os irmãos Coen fazem muito bem, misturando suspense e comédia. Outro exemplo é Segurando as Pontas, ótimo filme , que nos remete muito a Se Beber Não Case.

Se Beber Não Case é um filme imensamente poderoso em quesito de história. Mérito aos bons roteiristas e o diretor inovador Todd Phillips. O filme mostra o que realmente acontece quando quatro homens são largados em Vegas numa despedida de solteiro : Nada de bom, claro. Na trama, Phill(Bradley Cooper, ótimo e muito competente) Stu (Ed Helms, ótima descoberta para comédia) e Alan (Zach Galifianakis, o melhor dos três) armam uma despedida de solteiro para Doug (Justin Bartha) ,e depois de uma noite de muita bebedeira e farra, acordam doídos, com um tigre, uma galinha, um bebê no quarto, e não sabem onde Doug está, tendo uma Las Vegas inteira pra procurar.

Uma premissa muito boa, fazendo o público se interessar mais pelo filme a cada minuto que passa, num crescente adequado, sem quedas, sem erros. E a trama envolve coisas tão diferentes( um tigre e um bebê num quarto não é lá tão normal) e depois consegue uni-los de maneira tão fácil, que realmente devemos tirar o chapéu para os realizadores.É incrível como tantas coisas erradas e ineperadas acontecem em sequencia. Outro ponto forte do roteiro assinado porScott Moore e Jon Lucas, são as piadas infames e politicamente incorretas muito bem colocadas. É impossíovel não rir com as piadas de Holocausto, 11 de Setembro e Racismo que há no filme.

Outra coisa que ajuda muito um filme de comédia desse tipo é a direção. Diferente de tudo, Todd Phillips mistura muito bem elementos já utilizados em outros filmes , tudo isso enredado com uma direção que promove planos inteiros , closes bem colocados e uma fotografia muito bem , que comtempla muito bem Vegas como ela realmente é, sem tirar nem por.

No final das contas, é um filme diferenciado, pois consegue ser uma comédia inteligente e única, que passa muita coisa a fãs cinéfilos , e muita diversão a pessoas em busca apenas de entretenimento num sábado a tarde. Não descamba para o dramalhão no fim, como em alguns filmes de Adam Sandler que são tão vazios, que precisam por uma lição de moral no final para as pessoas não sairem da sala se perguntando o que eles tiraram dali. Brilhante, um dos melhores filmes do ano, que sem dúvida , pode deixar muita superprodução 3-D no chinelo.

5 estrelas *****