Old School Nerds

Old School Nerds

terça-feira, 30 de março de 2010

Onde os Fracos não tem Vez

Uma brilhante mudança de rumo dos Coen.

Especialistas em comédia, os Irmãos Coen estavam em uma fase morna em 2007. Os seus filmes anteriores eram Matadores de Velhinhas e Intolerable Cruelty, que não eram ruins mas se encaixavam mal na brilhante filmografia dos irmãos. Acostumados a fazer um filme por ano(ou a cada dois), eles sentiram o baque de Matadores e ficaram 3 anos sem dirigir-escrever. Então, surgiu o livro de Cormac McCarthy na mesa deles. O livro, de 2005, era um faroeste de suspense ambientado no Texas e que trabalhava com ideias de ambiente moldando homem, um típico filme de Werner Herzog. Os temas abordados por McCarthy eram agressivos e ajudavam na brilhante construção de personagens do livro. Ensaiava-se, portanto, um novo rumo na filmografia dos Coen, uma pequena saída das comédias de humor negro e uma volta aos policiais que os introduziram no mundo do cinema(Blood Simple e Miller's Crossing). Após algum tempo de divulgação, as primeiras críticas de 2007 apontavam o filme como forte candidato ao Oscar. E, logo depois, o filme foi agraciado com 4 Oscar, incluindo Melhor Diretor e Filme, ganhando do favorito e citado como novo clássico, Sangue Negro. E será que esse filme dos Coen tem algo a mais a ponto de ganhar o Oscar?

A trama, superficialmente vista como rasa, segue Llewelyn Moss(Josh Brolin), um caçador errante e despreocupado que está caçando cervos quando avista, lá no meio do deserto, um verdadeiro banho de sangue. Umas duas dezenas de homens mortos a tiros, possivelmente numa negociação de drogas que deu muito errado. Logo, lá no fundo, debaixo de uma árvore, ele vê um homem com uma valise. Dentro, dois milhões de dólares. Ali, um dilema moral se estabelecia. Porém, o bolso fala mais alto e, mesmo sabendo do eminente perigo, Llewelyn pega a valise. "Não pouparam nem o cachorro", diz o chefe Ed Michael Bell(Tommy Lee Jones), quando vê a cena do crime. No seu cavalo, ele está perto de se aposentar e conhece muito bem o código de ética do deserto texano, em 1980. Uma negociação deu errado, confirmado. Como Ed viu que era algo feito por profissionais, ele logo detecta a enrascada em que Llewelyn se meteu. E é aí que Anton Chigurh(Javier Bardem) entra. O profissional, o homem da valise, o contratado para encontrar ela e matar o ladrão. Pronto. Com uma brilhante construção de personagens e situações coesas e bem executadas, Onde os Fracos não tem Vez faz um panorama de sua trama. Logo, o duelo começará.

O roteiro dos Irmãos é talvez o seu melhor em construção de situações. A sua diferente abordagem, agora bem policial, foge á regra das black-comedys deles, mas ainda há alguns resquícios. Apesar do gênero, ainda há umas 3 ou 4 falas que remetem as piadas cohenianas, mas algo muito sutil e que depende de conhecimento prévio da dupla. Já nas situações, muitas são brilhantes por sua simplicidade. Os diálogos, por exemplo, são fantásticos e precisos, mas a simplicidade das cenas "mudas" é um dos destaques do filme. Pegue por exemplo a cena do hotel. Quase inteira sem diálogos, a cena tem um ótimo suspense inicial(pontuado pelo tic-tac do rastreador) e culmina num excelente tiroteio, filmado com arrojo e com planos-sequências grandes. Uma das melhores sequências do filme, sem dúvida. Mas, apesar da elegância no estilo do roteiro dos Coen, o que mais chama atenção em Onde os Fracos não é suas situações e sim seus personagens, construídos de forma invejável e usando o Texas oitentista como personagem.

Assim como alguns filmes de Werner Herzog, Onde os Fracos aposta no ambiente como coadjuvante principal da trama, moldando seus personagens. Tomando uma licença de resenha atemporal, diria que o Bad Lieutenant de 2009 de Herzog é um produto desse naipe também. Assim como a New Orleans caótica atormenta o tenente mal, o morto deserto texano aqui molda o mito de Anton e a humanidade de Llewelyn. No duelo dos dois, tudo é mostrado com clareza ao longo do filme: Llewelyn é mais pé no chão(como é visto na cena do cervo), um homem tentando fugir usando suas parcas habilidades para alcançar um objetivo impossível, de forma suicída. Ciente de suas limitações, Llewelyn foge, foge e foge. Anton é grande, austero, quase onipresente, uma lenda. Ele não é errante, atira para matar e só erra quando realmente quer errar. O ambiente pode mexer com os nervos de Llewelyn e Ed Michael e ainda pode moldá-los, o tornando mais vulneráveis ainda. Já Anton não. O calculista assassino psicopata não se deixa levar e, diferente de seu oponente, não deixar ser marcado pelo tenebroso Texas. E, num duelo em que até o mediador do confronto, Ed Michael, é afetado, o ambiente pode definir o desfecho.

Tecnicamente, o filme é bem apurado, uma marca dos Coen. Sua direção é competente ao extremo e premiada com muito louvor. Sendo no drama, sendo no suspense, a direção é fabulosa e arrojada. A edição dos Irmãos, escondidos dentro de Roderick Jaynes, é perfeita e faz seu trabalho com destreza, merecendo a indicação. A trilha de Carter Burwell é quase nula e o filme é até melhorado com isso. Aqui, os esquematismos que algumas músicas iriam impor seria ruim para o filme, calmo e calado na essência. Já a fotografia de Roger Deakins é linda e um de seus melhores trabalhos(talvez o melhor). Uma pena não ter ganho o Oscar pois é bonita demais e retrata bem tanto o Texas quanto os Anos Oitenta.

As atuações de Onde os Fracos não tem Vez são necessárias também, afinal, o ambiente pode ser decisivo, mas as peças do tabuleiro são os 3 homens. Josh Brolin faz seu papel bem, mostrando que Llewelyn é tudo aquilo que a imagem capturada pelos irmãos diz sobre ele. Um trabalho bem cumprido, mas ofuscado(propositalmente, vale citar) pelos outros dois atores. Tommy Lee Jones faz aqui o papel de linha entre Anton e Llewelyn. Sua situação como mediador é digna de um faroeste clássico e suas constatações após cada duelo do filme são precisas e não soam gratuitas(sendo até uma inteligente maneira de explicar o roteiro). A atuação de Jones só reforça isso. Com sua fala cansada e arrastada, suas rugas preocupadas e seus esbugalhados olhos impressionados demonstram o que realmente está sendo ali debatido: o duelo de Davi e Golias.
Mas, a atuação que extrapola tudo é a de Javier Bardem. O simpático e calmo ator espanhol se transforma no brutalmente psicopata Anton Chigurh. Seu complexo personagem exigia uma atuação a altura e foi o que ocorreu, com um merecidíssimo Oscar de Melhor Coadjuvante. Quando é necessário ser calmo, o ator consegue e quando é exigida a glorificação de Anton como mito, a atuação faz valer o ingresso por si só. E isso que é bem interessante em Onde os Fracos não tem Vez: suas atuações não são medidas pelas qualidades do ator(afinal, os três são perfeitos). Na verdade, o que é medido aqui é se ele conseguiu ou não expressar o que o roteiro pediu. Brilhante iniciativa dos Coen.

No veredito, o filme é simplesmente memorável. Um faroeste bem construído, emocionante e tenso, construído com uma mão profissional dos Coen. Aqui, seu cinema voltava a boa forma, ensaiando duas outras obras excelentes da dupla, Queime depois de Ler e Um Homem Sério. Agora, em 2010, lançará Bravura Indômita, remake do faroeste homônimo. Fica agora a espera pela nova aula de cinema dos Irmãos, em sua fase policial. Sim, uma nova pérola do cinema á vista. Um grande parabéns a essa icônica obra, que direcionou a carreira consagrada dos Coen a uma nova direção. Um ótima direção, por sinal.

***** 5 Estrelas

sábado, 27 de março de 2010

A Caixa

Qual Richard Kelly você quer ver nas telas?

Em 2000, um roteiro de ficção-científica dramática circulava pelo circuito independente de Hollywood. Depois de ser recusado por grandes estúdios, o roteiro foi aceito por Drew Barrymore, dona da Flower Films, que se propôs a financiar o filme. Com orçamento enxuto de 4 Milhões, Donnie Darko era lançado em 2001. O filme, com uma passagem boa pelo cinema, acabou ficando na memória dos cinéfilos, se tornando um instantânio cult. Assim, estava sacramentada a entrada de Richard Kelly no cinema. O diretor-roteirista, na época com 25 anos, estava sendo moldado para uma carreira vitoriosa. Porém, depois só veio "tragédia" pra carreira do talentoso Kelly. Primeiro, o roteiro do execrável Domino. Segundo, Southland Tales, tido como um dos filmes mais bizarros e pretenciosos da história, envolvendo de fim do mundo até reflexo atrasado no espelho. Mesmo com o baque, Kelly continuou. Agora, surge A Caixa nos cinemas, a chance de redenção dele. Será que houve a redenção?

Bom. Digamos que o talentoso Kelly agora é o pretencioso Kelly.

A trama, baseada no conto do genial Richard Matheson, segue o casal Norma(Cameron Diaz) e Arthur Lewis(James Marsden), dois perfeitos exemplos da classe média do subúrbio americano em 1976. Ela, professora. Ele, engenheiro da NASA. Mas, sua vida sem sal começa a mudar quando a falta de dinheiro aparece e quando um homem chamado Arlington Steward(Frank Langella) bate em sua porta e deixa uma caixa, junto com um bilhete, dizendo que Arlington aparecerá ás 17 horas. Então, quando ele chega, Arlington faz uma proposta pro casal: Se eles apertarem o botão, duas coisas acontecerão: Alguém no mundo irá morrer e eles receberão uma maleta com 1 Milhão de dólares. Logo, eles têm 24 horas pra decidir.

Vendo a trama, dá pra perceber facilmente que nas mãos de um Michael Haneke, de um Park Chan-Wook ou de um Darren Aronofsky, teríamos um suspense psicológico sobre moral e bons costumes, com a tensão lá em cima. Porém, estamos falando de Richard Kelly, que entrou na fase "quero colocar o maior número de referências sci-fi nos filmes". Em A Caixa, temos um absurdo número de referências desnecessárias que só fazem parecer que Kelly é Cineasta de um só filme. Quando James Marsden, em uma cena chave que envolve sobrevivência ou escuridão eterna, fica fascinado com o fato na tela e cita Arthur C. Clarke, toda a naturalidade se esvaiz.

O roteiro de A Caixa é o que afunda o filme em mais de 10 momentos. Kelly pega a trama principal, sobre a tal caixa e a resolve em ridículos 20 minutos. A partir daí, começa o famoso "jogo de gato e rato", a "corrida contra o tempo" ou o "vamos desvendar o passado do personagem". O pior de tudo é que esse resenhista, fã de Kelly, resolveu dar uma chance ao filme, afinal, se ele escolheu trilhar o caminho de descobrir o passado de Arlington, que o faça com destreza. Mais um ponto negativo. A trama de Arlington envolve desde experiência pós-morte até os ETs. É a tal mania de Kelly em colocar todas as referências Sci-Fi possíveis. Fora a estrutura, os diálogos de A Caixa são interessantes de acompanhar. Eles vão do sublime(não explicar o que a imagem já diz) ao desatroso("Você é real?" Cameron Diaz para Langella). As interações entre os personagens são pontuadas por esse contraste do diálogo, o que torna A Caixa uma experiência estranha e bizarra. Seja para o bem ou para o mal. Mesmo na estrutura, esse contraste é visível. O sublime(o bom final e os mistérios poucos explicados) ao ridículo(o idiota meio do filme). Assim, Kelly continua com o mal de Southland Tales: a pretensão.

Tecnicamente, não há o que reclamar de A Caixa. Kelly tem uma boa direção, posicionando ângulos mais suaves e clássicos. Apesar disso, sua direção de atores é fraca, afinal, ele só consegue extrair de Langella uma boa atuação. A trilha sonora de Win Butler, Régine Chassagne e Owen Pallett é extrema e eleva a tensão com notas clássicas, lembrando os filmes de horror dos anos 60. Cabe como uma boa homenagem, mas artisticamente serve pouco, sendo mediana. Funciona no filme e isso basta. A edição de Sam Bauer é competente e também ajuda no ritmo do filme. Mas, o ponto positivo extremo do filme é a fotografia de Steven Poster. A aura branca do filme, como se tudo fosse um sonho, é excelente. Fora isso, o excelente filtro de câmeras digitais que Poster usou ajuda na recriação dos bonitos anos 70 americanos. Outro ponto positivo é a direção de arte, que criou um cenário verossímel e bonito para aquela época tão peculiar. Em conjunto com a fotografia, a direção de arte forma o dueto fantástico do filme, talvez uma das únicas coisas que merecem nota em A Caixa.

Em atuações, pouco para se falar. Sem a ajuda de Kelly, que não se esforça em conseguir uma atuação no mínimo aceitável de Diaz e Marsden, todo o elenco se perde. Frank Langella engole qualquer um e demonstra sua competência habitual, mas Cameron Diaz faz uma caricatura mal feita de professora do subúrbio. Suas falas já não convencem sozinhas, quando Diaz abre a boca então... Nem quando ela tem suas expressões com marido e filho ela convence. Com certeza, Diaz pode ser boa, mas com um diretor excelente(Gangues de Nova York) ou quando ela é alívio cômico(As Panteras). Mas o pior, sem dúvida, é o pífio e metido-a-ator James Marsden. Se não bastasse ele ter como maior papel o Ciclope-corno-inexpressivo de X-Men, ele piora em A Caixa. Deslumbrado, bobo e sem convencer por um segundo, Marsden consegue um feito único: Ele tem uma expressão só para todos os sentimentos. Quando tá triste, faz cara de bobo. Quando tá feliz, também. Quando raivoso, também. E por assim vai. Apesar da falta de talento, uma parcela da incompetência se deve a Kelly e sua construção razoável de personagens. Enfim, um desastre.

Sendo assim, pode se dizer que A Caixa é execrável para muitos. Porém, o filme tem alguns méritos já citados, como um bom início e um bom final. Fora que, os mistérios poucos explicados da trama não são ridículos e, mesmo sendo chupados de tudo quanto é filme Sci-Fi, não são dignos de apedrejar.

No final das contas, A Caixa é algo pra se esperar o DVD. Apenas um filme que tinha potencial que foi devidamente destruído pela ganância criativa de seu diretor. E aqui fica a torcida por Kelly. Ele tem 34 anos. Ainda dá tempo de se concertar.

*** 3 Estrelas

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Livro de Eli

Os Irmãos Hughes nos trazem um competente sci-fi parecido com Mad Max.

Desde o início da produção, O Livro de Eli impressionava. Seja visualmente(as fabulosas e instigantes imagens que a equipe de marketing lançou) ou pela sua trama, o filme estava se tornando desde ali, um fenômeno cult. Denzel Washington apostava no filme também, sendo até um dos produtores. O roteirista era o novato Gary Whitta, o que sempre é bom: ver um novato quer dizer que ele não tem pudores ou restrições do estúdio. Grandes exemplos são Darren Aronofsky e Quentin Tarantino. Outro fator que contaria era a censura R, restrição a crianças e adolescentes. Violência então estava liberada e a mania puritana que o PG-13 impõe tinha acabado. Então, tudo estava para dar certo. Para os diretores, contrataram os Irmãos Hughes, competentes diretores que estavam sumidos desde a infeliz adaptação Do Inferno. Agora, O Livro de Eli chega ao Brasil, depois de uma bem sucedida carreira financeira nos Estados Unidos, porém com críticas mornas. Seriam elas justificadas?

Talvez. Livro de Eli é extremamente competente e bom na medida, mas será mais apreciado só no futuro.

A trama acompanha a jornada de Eli(Denzel Washington), um solitário homem que vaga por um mundo pós-apocalíptico, onde algo aconteceu há 30 invernos e causou toda aquela paisagem desértica, cinza e morta que é a Terra agora. Guiado por um sentimento infinito, a fé, Eli continua vagando para o Oeste até encontrar seu objetivo. Porém, um dia ele encontra um pequeno vilarejo que está começando a crescer sob o comando de Carnegie(Gary Oldman), um homem obcecado por um livro. Eli é induzido a esperar até o dia seguinte lá. Logo após, se descobre que o livro que Carnegie tanto quer está com Eli, a Bíblia Sagrada. A partir daí começa uma caçada de Carnegie e seus homens a Eli, que foge como pode, utilizando as habilidades que ele ganhou em 30 anos de estrada.

Essa trama inicial é atraente ao extremo e só é potencializada pelo excelente roteiro escrito por Whitta. Os 10 minutos iniciais, quase inteiramente mudos, fazem uma formidável apresentação de personagem. Cada ato, exposto sem cortes e de forma lenta, é praticado por Eli. Da caça a digestão, todos os passos da caminhada de Eli são mostrados. Além disso, a paisagem pós-apocalíptica remete bastante a Mad Max. Quando surge uma gangue com motocicletas, a associação é inegável. Quando Eli chega ao vilarejo, mais elementos atraentes são colocados na tela. A ausência de dinheiro, as roupas gastas, a mobília gasta e feia, a água escassa e os figurinos cada vez mais estranhos. Até mesmo no caos, a moda muda. Fora essa ambientação vitoriosa(talvez uma das melhores em anos), Whitta escreve diálogos sensacionais e uma construção de personagens ótima. A falta de conhecimento do passado, por exemplo, é pouco utilizada. Geralmente, no cinema comercial, o que importa é saber o que houve. Mas não aqui.
Eli é um personagem coeso e complexo, apesar de todos saberem suas motivações reais(e tocantes, diga-se de passagem). Carnegie também é o típico líder autoritário, mas pequenas sacadas, como o livro de Mussolini, fazem parte do pacote. Apesar de um ritmo lento e algumas situações previsíveis e comuns de estrutura, o roteiro de Whitta é fantástico.

Tecnicamente, O Livro de Eli também é bem bonito. A direção dos Irmãos Hughes é poderosa e segura. Impressionante, afinal, os Irmãos estão num hiato de 9 anos. Nos takes de drama, a direção é contida e nada faz demais. Porém, nas cenas de ação, a elegante direção dos Irmãos fazem dos combates uma nova experiência. Com poucos cortes, planos-sequência inteiros e uma valorização extrema a coreografia bem realizada, as lutas são fáceis de acompanhar e muito emocionantes. Dois destaques são a Luta do bar e a luta da estrada, em que tudo é captado apenas pelas sombras. Outro destaque são os fantásticos tiroteios, filmados de forma corajosa. Bem editado e até mesmo com câmera na mão, o tiroteio é empolgante e filmado como não via a algum tempo. Sublime. A trilha sonora de Aticuss Ross é bem mediana, fazendo apenas o seu papel sem extrapolar. A edição de Cindy Mollo começa esquisita, com uma cena cortada de forma amdaora, mas depois deslancha e faz um excelente trabalho. Já a fotografia de Don Burgess só não rouba o filme pra si pois Denzel faz um bom trabalho e os Irmãos Hughes também. Com tonalidades secas de cinza, as vezes explorando o árido deserto americano, a fotografia é precisa e condiz muito com o tema do filme. Nada para prêmios, mas essencial para a película.

Nas atuações, Denzel Washington é, obviamente, quem rouba a cena. Seu personagem foi construído com precisão e sua atuação também convence. Seu Eli é muito durão, mas desde sempre é motivado por uma bonita fé. E mais um ponto pro filme: consegue ser de fé sem soar piegas. Outro destaque de Washington são as cenas de luta. Ele conseguiu acompanhar uma ótima coreografia e convencendo também. Assim, Washington fez um papel excelente e na medida. Gary Oldman também está ótimo e á vontade. Podendo fazer o que bem entender, sendo mau do jeito que quiser(afinal, seu último vilão expressivo foi o Jean-Baptiste Emmanuel Zorg, de O Quinto Elemento), Oldman atua de forma segura, sendo caricato quando preciso e verossímel quando preciso. Outra atuação completa, mas sem ofuscar Washington. Mila Kunis está ali apenas para assistir Washington e faz bem sua parte.

Assim, O Livro de Eli se sai um excelente filme, com algumas pequenas falhas que são normais e corriqueiras, como soluções previsíveis e falta de ritmo. Mas num balanço total, é um trabalho acima da média e que merece ser visto agora e mais tarde, quando a apreciação sobre o filme pode ser até maior. Algumas cenas, como quando Oldman manda matar Washington pela primeira vez deixam grandes interrogações na cabeça do espectador. E, como um bom cult, isso será discutido em alguns fóruns da internet e por alguns cinéfilos daqui a 20 anos. E ainda tem o poderoso final, que não tem nenhuma reviravolta ou algo que subirá a nota do filme, mas é bonito e interessante.

Assista O Livro de Eli nos cinemas. Ele merece ser visto pois é um triunfo ver uma produção cara com teor inteligente. E esqueça o que o marketing dizia sobre o filme: Eu sou a Lenda com Denzel Washington. Aqui, o cinema comercial é pouco visto.

**** 4 Estrelas

segunda-feira, 15 de março de 2010

Ilha do Medo

O que Martin Scorsese pode fazer para o suspense, um gênero tão mal-feito ultimamente?

Martin Scorsese sempre foi um diretor querido entre os críticos. Com seus sensacionais trabalhos, sempre autorais, ele era tido como um dos mais injustiçados da história do Cinema, até ganhar seu merecido Oscar por Os Infiltrados, em 2007. Injustiçado pois Scorsese fez obras-primas como Taxi Driver, Mean Streets, Touro Indomável, A Última Tentação de Cristo e Alice não vive mais Aqui, mas nunca havia ganhado um Oscar. Esperava-se então que Scorsese se acomodasse um pouco depois de ter conseguido seu almejado prêmio. Porém, quando Shutter Island foi anunciado, três palavras vieram diretamente na cabeça: Cabo do Medo. Seria essa a volta de Scorsese nos suspenses mais sobrenaturais, corajosos e que tem um roteiro extremamente bem-sucedido? Assim, a espera foi se intensificando e a adaptação da pequena homenagem de Dennis Lehane aos Filmes B se transformou no "novo filme de Martin Scorsese". Isso ajudou pro filme? Sim e Não. Pode ter aumentado(e muito) a expectativa, porém aumentou a responsabilidade e o caricato livro de Lehane se transformou no filme sério do gênio. A única dúvida seria: Conseguiria Scorsese equilibrar seriedade e homenagem na adaptação?

A Resposta é: Sim. Scorsese consegue. Uma pena que Laeta Galogridis não consiga.

A trama segue o US Marshall Teddy Daniels(Leonardo diCaprio), que chega a uma ilha chamada Shutter Island com seu parceiro Chuck(Mark Ruffalo). Lá, ele terá que investigar um peculiar mistério: Num hospício com segurança máxima, uma paciente fugiu sem deixar pistas. O mais curioso é que a paciente deixou seus sapatos, ninguém sabe nada e os seguranças não cometeram erros aparentes. Então, Teddy e seu parceiro ficam na Ilha por tempo indeterminado para investigação. Mesmo com o mistério sendo cada vez aumentado por Dr. John Cawley(Ben Kingsley), Teddy não desiste. Logo, ele descobre que essa investigação pode tomar um rumo extremamente insano.

Quando o lado Scorsese da produção aflora, tudo é perfeito. O excelente começo, que mostra tudo na sugestão e ainda tem simbolismos perfeitos(o início é sem delongas, com o navio chegando á ilha). Pequenos detalhes do filme, como a carência de construção de personagens inicial(Teddy é o detetive, Chuck também, a Ilha é um hospício, apenas isso), representam bastante num filme de Scorsese: Estamos diante de um filme de situações, não de personagens construídos com destreza, como Travis Bickle. Sendo assim, Scorsese nos joga num intrigante jogo de símbolos, como a entrega de armas no início do filme.

Na direção, Scorsese é impecável. Fazendo seu trabalho habitual, sem muita identidade e mais competência mesmo, Scorsese dá uma brilhante aula de direção dramática e, durante o suspense, ele filma tensão como ninguém há muito tempo. Dado isso, podemos considerar que Scorsese fez um trabalho muito acima da média dos suspenses atuais, cheios de tiques(tensão no escuro que termina com um gato, porta batendo, etc.), nunca se usando de artifícios fáceis pra causar emoção no espectador. Louvável. A fotografia de Robert Richardson é soberba e uma das melhores do ano. O contraste escuro-claro das tomadas da Ilha é fascinante e pontua muito bem o clima sombrio que o filme pede. A trilha sonora, de basicamente uma música, também pontua bem a trama e ajuda muito o clima de homenagem, afinal, o tema principal é exageradíssimo e estamos falando de uma homenagem a filmes B de suspense. Direção de arte e figurino também são bem convincentes, bem elgantes até.

Porém, há uma falha nas partes técnicas. E essa falha é grotesca e muito estranha. A ganhadora de diversos Oscar e vários prêmios, Thelma Schoonmaker, fez um trabalho fraco mesmo. O filme tem diversos erros de continuidade e não tem a mínima fluidez de cenas em alguns pontos. Pegue, por exemplo, a cena inicial do navio. DiCaprio está com o cigarro na boca, aí não tá mais, aí tá, aí tá sem cigarro. É tão fraquinho que lembra a pífia edição de Simplesmente Complicado. Porém, nas cenas de suspense(como a cena da Ala C, muito bem editada), a edição não fica fraca. Fica então um trabalho comum.

As atuações de Shutter Island fazem um papel pequeno no filme. Leonardo diCaprio já provou que tem competência em papéis dramáticos e quando o filme toma um novo rumo, o ator faz um ótimo trabalho. Competência habitual, sem extrapolar. Ben Kingsley, excelente ator, faz um trabalho menor aqui, com pouco tempo de tela. Porém, faz um trabalho seguro e natural. Mark Ruffalo está no piloto-automático, mas não compromete. Michelle Williams tem pouco tempo demais para mostrar sua enorme competência. Apenas um ator, que participa 5 minutos do filme, extrapola: Jackie Earle Haley, o Rorschach de Watchmen, faz um trabalho impecável e cheio de emoção e, nesses 5 minutos, faz a melhor atuação do filme. Resta agora saber quando ele ganhará a chance de atuar mais em filmes maiores pra poder ganhar logo o merecido Oscar que lhe devem.

Mas, se Shutter Island ficou acima da média mas não memorável é um problema(na verdade, um semi-problema, logo explicarei): O roteiro de Laeta Kalogridis. A roteirista, que tem um ridículo currículo(Alexandre e Desbravadores), adapta o romance de Lehane com um defeito que incomoda: na parte dramática, explicações de roteiro e situações que caem no lugar comum dão as cartas. Já nas partes de suspense, tudo aflora com facilidade, auxiliado pelo estiloso modo que Scorsese filma algumas alucinações. Outra coisa que não agrada é os mistérios da trama. Apesar de bons e interessantes, são extremamente previsíveis. Não estranhe se você descobrir quem é o tal Paciente 67 com 25 minutos de película, por exemplo. Outro exemplo é o passado de um personagem principal. Claramente já dava pra saber o que ele era de verdade antes do minuto 20. Assim, o roteiro cai na vala comum, com falta de ousadia e um outro problema, se tratando de uma homenagem ao B: se levar a sério demais. No drama, claramente tudo ficou descompassado. Já na estrutura narrativa(apesar da já citada falta de ousadia), o resultado agrada e o suspense está bem servido.

Logo, Shutter Island é um filme corajoso de Scorsese. Depois do Oscar, ele se despiu de pudores e foi pra um suspense "mais comercial". E o resultado agrada, saindo um bom prato pra um suspense acima da média das porcarias que vemos aí nas telas. Mas, não deixa de ter seus problemas de roteiro, o que era um grande temor(estamos falando de um filme sem controle de roteiro de Scorsese). No final, saiu um filme bom, mediano, mas que irá agradar quem procura um passatempo de diretor oscarizado ou o que ele pode produzir com um roteiro limitado nas mãos. Um desbunde técnico, de estilo e dos famosos simbolismos do diretor, mas com seus problemas corriqueiros. Com certeza, Ilha do Medo vale o ingresso por tudo, mas sobretudo, pra ver como Scorsese faz do ruim, mediano e do bom, sublime.

*** 3 Estrelas

terça-feira, 2 de março de 2010

Toy Story Crítica 1

O corajoso retorno de um clássico.

Em 1995, a maior produtora de animações lançava seu primeiro longa no cinema. A Pixar criou Toy Story, uma das maiores animações de todos os tempos(a maior, na minha opinião) e com isso, projetou sua ascensão ao sucesso e a fama. A produtiva parceria com a Disney continua até hoje e Toy Story continua a ser lembrado como um verdadeiro clássico do cinema. Adorada por crianças e adultos desde seu lançamento, a aventura de Buzz e Woody volta aos cinemas, desta vez em 3D. Desde já, pode-se dizer que é uma corajosa iniciativa da Pixar. O filme, que apesar de ser atemporal, é pouco conhecido da juventude de hoje em dia, que acha que Disney é High School Musical e animação é Alvin e os Esquilos. Mas a Pixar ousou ao produzir Toy Story 3, que lança em junho nos cinemas, 11 anos após a segunda aventura da trupe dos brinquedos. Ousou, eu digo, pois é um épico definitivo, uma desconstrução da mitologia. E será isso que chegará aos cinemas daqui a 4 meses: Um filme sobre perda e ressurgimento. Então, para já acostumando os mais novos com essa obra-prima, a Pixar relança Toy Story. Fica, desde já, a OBRIGAÇÃO de ver essa maravilha nos cinemas, sendo que ele é um dos 50 maiores filmes de todos os tempos, segundo as mídias especializadas(veja bem, eu disse filme, não animação, para os preconceituosos).

A trama é conhecida do grande público. Woody(voz de Tom Hanks) é um brinquedo cowboy que é o preferido de Andy. Junto a ele, vários outros brinquedos adoráveis participam das aventuras criadas por seu dono. Mas então, chega o aniversário de Andy, dias antes sua mudança. E aí chega Buzz(voz de Tim Allen), um brinquedo patrulheiro do espaço, que tem luzes e vários aparatos tecnológicos que fazem a cordinha de voz de Woody parecer obsoleta. Então, Woody sente a dor de perder seu posto e começa a pensar como poderá retomar seu posto de preferido. Ensaia-se então, ao contrário do que se esperava, uma trama adulta sobre perda, ciúmes, superação e, principalmente, amizade.

Devo dizer que perto do balé tecnológico de Wall-E ou das lindas paisagens de Up ou da fantástica e detalhada ilha de Os Incríveis, os efeitos de Toy Story parecem amadores. Mas, para 1995, é um excelente avanço, de se encher os olhos. Apesar disso, o deleite visual, muito presente nas animações atuais(principalmente as da Dreaworks, que se foca no visual), é no talento estrutural de roteiro que o filme se sustenta. A direção de John Lasseter, por exemplo, salvaria qualquer produção do ostracismo futuro. Cheia de identidade, esbanjando a liberdade criativa(certos takes do filme são impossíveis no live-action sem efeitos), Lasseter mostra desde seu primeiro trabalho ao que veio. Mesclando primeira-pessoa, closes, movimentos ágeis de câmera e um domínio de ação fabuloso, Lasseter faz a melhor direção de todos os filmes Pixar, o que é algo de aplaudir.

Outro elemento importante é a trilha sonora, criada pelo mestre Randy Newman. Impossível não se lembrar de “You got a friend in Me”, uma das sinfonias belíssimas do filme. Tudo é memorável e com qualidade imensa. O principal ponto da trilha é realmente ilustrar o que o personagem está sentindo. Os precisos closes de Lasseter já faria bem sozinho, mas a trilha ajuda a tornar perfeito. E, um ponto para a dublagem brasileira, que criou melodias equiparáveis e traduzidas corretamente. Edição, fotografia, design e outros fatores técnicos são ótimos também, mas facilmente ofuscados pelo roteiro emocionante de Toy Story.

O roteiro, escrito por Joss Whedon, Andrew Stanton, Alec Sokolow e Joel Cohen e idealizado pelos homens criativos da Pixar(Lasseter, Andrew Stanton, Pete Docter e Joe Ranft), é o mais denso dramaticamente já criado pra uma animação. A cativante e ágil construção de personagens, destacada pelo excelente início, é um dos grandes motivos por manter Toy Story tão atual. E é interessante notar também que as características humanas de cada personagem, seus sentimentos, são tão bem expostos que mesmo na parte melodramática, não soa piegas. As situações do filme também são muito bem elaboradas, resultando num interessante e enlouquecido mix de gêneros.

Qual exatamente seria o gênero para definir Toy Story? Um drama de aventura? Uma comédia de aventura? Talvez um épico de terror? Sim, tudo isso pode ser ponderado. Afinal, o drama dos personagens é focado com freqüência, a aventura faz parte da trama toda, o alívio cômico está presente. E o terror? O terceiro ato inteiro é pontuado por um clima de terror, com direito a um vilão raso e ameaçador, o memorável Sid Phillips, o destruidor de bonecos. Numa média geral, algo agradável é feito, com um filme leve, tocante e, principalmente, revigorante. O excelente final, cheio de emoção(de ação e dramática), causa lágrimas nos olhos.

Sendo assim, podemos claro considerar Toy Story a melhor animação de todos os tempos. E aqui é uma ótima oportunidade pra ver ele em 3D, o que resulta numa experiência positiva ao extremo. O 3D aqui não serviu para compor a história, mas é bonito e vale a pena, ainda mais pelo exímio cuidado que a Pixar teve na mixagem de som, que é simplesmente fantástica e ensurdecedora. Uma experiência e tanto, uma verdadeira imersão, algo memorável. Se tiver filhos, leve-os com pressa. Se não tiver, arranje um tempo em sua agenda e vá ver Toy Story. E comece a se preparar para Junho. Pelos trailers, já dá pra perceber que o angustiante final de Toy Story 2(uma questão pontuada por toda a franquia, o futuro) vai ser explorado com muita satisfação.

Um parabéns a grande equipe da Pixar, o maior estúdio(ou o mais apaixonado) em Hollywood atualmente. Absolutamente, são gênios. Eles criaram um produto que é uma homenagem á infância verdadeira. Poucos homens tem a sensibilidade de expôr os verdadeiros espíritos infantis, esquecendo os tempos atuais, em que crianças assistem a obras alienadoras e sem relevância artística. Como o excelente Onde os Monstros Vivem, Toy Story é um deleite aos olhos ternos de uma criança ou aos cansados de um adulto. Capaz de emocionar, o filme é brilhante em todos os quesitos. Um triunfo. E gostaria de agradecer a John Lasseter e sua equipe. Esse resenhista, fã absoluto do filme desde o VHS, não podia ter ganho um presente melhor: Seu filme favorito da infância de volta aos cinemas e a corajosa volta de um verdadeiro clássico da 7ª Arte.

***** 5 Estrelas

Toy Story - Crítica 2

Uma homenagem a infância.

Desde sempre, a palavra animação era quase sinônimo de Disney . Os clássicos como Branca de Neve, A Bela Adormecida e tantos outros que foram lançados nas décadas de 30 e 40 marcaram todo o mundo de uma forma arrebatadora. Os personagens Disney são pate da Hitória da humanidade. Ao menos se igualar ao sucesso da Disney seria já bastante. Mas , décadas a frente, essa história iria mudar . Estava para surgir a Pixar, um estúdio de animação que elevaria o sentido de ''obra de arte''. Tudo começou em 1979 , e a Pixar nada mais era do que uma pequena divisão da área de computação gráfica da grande ILM .

Conforme a tecnologia ia sendo trabalhada ná década de 80, a proximidade de se criar filmes ia ficando maior . Em 1986, a então recente nomeada Pixar lançou um curta de pouco mais de 2 minutos sobre um pai e filho lamparinas . Luxo Jr. era o nome do agradável e criativo curta que daria o primeiro movimento a engrenagem criativa de um dos maiores estúdios atuais . Não havia tema mais apropriado para o prólogo de uma história brilhante.

Então, depois de mais 9 anos de trabalho para aperfeiçoar técnicas,em 1995, um dos maiores filmes de todos os tempos era lançado : Toy Story , o primeiro longa metragem da Pixar. Um filme curto, de 81 minutos, que conquistaria uma geração inteira de fãs, tanto de jovenzinhos quanto dos mais velhos, por seu apelo saudosista as crianças e seu drama bem empregado nos momentos certos. Aí é que ainda mora o diferencial arrebatador da Pixar até hoje : Seu drama colocado de maneira certa, sem soar piegas e sem ser pessimista, ideal para as crianças . Tais feitos são reparados até hoje nas obras mais recentes do estúdio, como o contemplativo Wall-e e o incrivelmente adulto Up . Porém, mesmo com essas obras geniais mais atuais, acredito que nenhuma conseguiu atingir o potencial máximo de Toy Story. O paradoxo em forma de homenagem criado no filme é mais que genial, obra-prima. Ao mesmo tempo que dialoga com as crianças, trata de tramas emocionais adultas, tudo isso ambientado num mundo de brinquedos infantis .

Mas Toy Story não foi reconhecido logo de cara por sua narrativa cativante . A primeira vista, o motivo que fez com que Toy Story despontasse antes mesmo de completar uma semana nos cinemas foi seu visual. Até ali, tudo que havia sido feito em animação era o que chamamos de 2D. Animações feitas em desenhos, sem maiores detalhes , basicamente tendo como produto final o que saísse da ponta do lápis . A Pixar veio trazer como revolução a técnica do visual das animações . As animações agora fariam as personagens terem detalhes muito mais aprofundados de luz, sombra , profundidade e expressões faciais . Mas falar que a revolução vinda com Toy Story era apenas visual, seria deveras incorreto. O modo clássico de se contar histórias foi alterado, o modo como os clímaxes ocorriam foi alterado, a tridimensionalidade das personalidades das personagens foi alterada . Uma revolução geral nas animações, que dariam frutos futuros. Afinal, a profundidade de Toy Story é tão gigantesca que é muito plausível compará-lo com filmes de pessoas de verdade. E não é surpresa reparar que a densidade dramática do filme de Jonh Lasseter é muito maior do que longas com pessoas reias .Até mesmo a técnica do diretor é mais inspirada do que de muitos outros renomados.

A história, como a maioria deve saber , é muito simples, mas não simplória . Ora, o filme é curto, contem uma soberba introdução e mais três atos diminutos se comparados a outras películas. Corte umas cenas e encurte outras, daria até um curta-metragem . Toy Story não merece aplausos por ser uma animação com história complexa . Merece aplausos por sua fabulosa composição e desenvolvimento de personagens. A história de Woody (Voz original de Tom Hanks), o brinquedo preferido de Andy, começa com uma brincadeira boba, e depois naquele universo de brinquedos se desenrola toda uma sociedade. É interessantíssimo ver todos os bonecos organizando uma verdadeira operação de guerra para descobrir quais os novos presentes , se serão tocados ou não. Emoções de abandono, tristesa e amizade elevando ao expoente máximo, encaixado com maestria num filme infantil . A descoberta de Buzz (Voz original de Tim Allen ) que é um brinquedo e não pode voar, é simplesmente emocionante . Um nível de drama muito além do normal, que transforma Toy Story em um clássico absoluto. Uma homenagem a infância, que parte da visão que os bonecos têm das criaças. Toda a ambientação contribui para esse cenário saudosista . O vizinho é um destruidor de bonecos, todos tem pavor de ser perder, afinal de contas, o objetivo da vida desses seres é puro e cristalino : Fazer de seu amigo, o dono, uma criança feliz .

Misture a isso doses de humor inteligente que conseguem agradar aos adultos e homenagens a clássicos desde a ficção(2001 claramente) até filmes de aventura em geral, e terá um dos maiores filmes já feitos, sendo ou não animações. Claro que toda a sequancia é maravilhosamente dirigida por John Lasseter, que simplesmente não perde nenhum segundo. Todos seus takes são inteligentes, apropriados ao momento e experimentam vários estilos , desde a câmera trêmida até pequienas visões em primeira pessoa.

Por todos esses motivos, Toy Story é marcante, principalmente para as crianças da década de 90 (como o crítico que aqui escreve) que têm como uma de suas referencias na infância esse tipo de obra . A Pixar, em 2010,resolveu corajosamente fazer um segunda sequencia, depois de Toy Story 2 . E é preciso muita coragem para tal feito. A maioria das crianças de hoje em dia está mais acostumada a ver outros tipos de animação, mais burra e aventuresca. Fazer uma sequencia seria, no mínimo, arriscadíssimo, e o índice de fracasso seria muito grande. Felizmente, a Pixar confia no próprio taco e o lançamento vai acontecer em 3D . Porém, antes de Toy Story 3, os realizadores decidiram converter os dois primeiros filmes para a nova tenologia.

Já tendo assistido ao primeiro filme em 3D, devo falar que é uma experiência fantástica. O 3D não é assombroso como em Avatar,mas é usado pontualmente como em Up. O suficiente para ressaltar toda a beleza original do filme e tocar tanto os que já conhecem a obra quanto aos que não conhecem. É obrigação, portanto, ver Toy Story nos cinemas. Assistir os ícones - que só a Pixar sabe fazer- da maior animação de todos os tempos no cinema é tirar a sorte grande .Não é todo dia que se vê um clássico nas telonas .

5 Estrelas*****