Old School Nerds

Old School Nerds

sábado, 25 de dezembro de 2010

Piranha 3D

Alexandre Aja cria o gênero 3Dexploitation.

O filme Piranha foi um sucesso trash produzido por Roger Corman, em 1978, que agradou a crítica pelo tom de humor negro que foi usado no filme aparentemente de terror. Porém, o filme de Joe Dante atravessou gerações e hoje é cultuado junto com uma leva enorme de filmes de um sub-gênero conhecido como exploitation. E o gênero é tão cultuado que Quentin Tarantino o homenageia em todos os seus filmes e até mesmo fez um filme exclusivamente sobre isso, o Top 10 de 2010, Á Prova de Morte. Mas os exploitation podem até ter envelhecido bem, mas não foram bem renovados. Hoje em dia, é raro ver um filme desse tipo entrando em cartaz, com pequenas aparições de um Machete ou o inédito no Brasil Black Dynamite, uma homenagem-sátira a Shaft, o grande policial negro que influenciou um tipo peculiar do exploitation, o blackexploitation. Agora, o 3D chegou á moda. E nada melhor que um filme que tem exagero em sexo, drogas e gore voltar á cena agora, usando o exploitation para fazer o 3Dexploitation. E um remake de um clássico trash seria o melhor a se fazer. Daí, chegou-se a pauta a produção de Piranha 3D.

O resultado, apesar de enrolativo em alguns pontos, é engraçadíssimo e divertido para as pessoas de mais estômago. É vistoso na tela o que o antes diretor de filmes sérios de terror Alexandre Aja faz com o que tem em mãos. Depois de um filme censura R chegar as telas utilizando o 3D da melhor forma possível(Resident Evil 4), Piranha 3D vem para ser o primeiro filme que se faz presente apenas pela diversão sem história e gore na Geração 3D.

A trama, se o filme tiver mesmo uma, é um grupo de jovens que se reúne num lago todo ano. Mas nesse ano, um diretor de filmes pornográficos(Jerry O'Connell) resolve rodar um filme revolucionário e chama duas de suas atrizes(Kelly Brook e Riley Steele) para o lago. Junto, ele chama o jovem Jake(Steven R. Queen) e sua amiga Kelly(Jessica Szohr) para o passeio de lancha que irá para fazer o filme. Porém, o lago é atacado por piranhas geneticamente modificadas da Era Mezozóica(Deus...), o que causa terror aos jovens bonitos e seminus do lago. Enquanto isso, Julie(Elizabeth Shue), mãe de Jake, e Fallon(Ving Rhames) vão pro lado pra salvar gente e matar piranhas.

Como já deu pra ver, o roteiro da dupla do ridículo Pacto Secreto Josh Stolberg e Pete Goldfinger é profundo como uma piscina de 50 litros. A história é imbecil demais, com até mesmo a ordem das mortes sendo previsíveis. O desenvolvimento é nulo, refletindo o que a história mesmo propõe. A trama vai progredindo com cenas de dar horror a qualquer cineasta que saiba o que é edição, sendo bem arrastadas e apresentando não apenas clichês corriqueiros a qualquer filme de terror com jovens, mas tendo um ritmo truncadíssimo e nenhum atrativo para continuar na sala de cinema. E olha que Richard Dreyfuss já tinha aparecido nos 2 minutos iniciais, apenas pra morrer e apresentar a divertida homenagem a Tubarão feita pelos realizadores.

Porém, é pra se ter na cabeça de que aquele filme ali é um exploitation de essência e logo logo a bobagem vai acabar e as destemidas piranhas irão aparecer. Para tentar enrolar esse tempo das piranhas apenas rondarem o lago sem atacar, era necessário um polimento melhor e talvez uma sátira melhor ao gênero, sem tentar contar uma história boba como essa com o tom trivial. O início de Piranha 3D é o maior defeito do filme, por apresentar personagens e situações como qualquer outro filme de terror. E isso cansa bastante, visto que os diálogos são terríveis e os personagens, arquetípicos. Em pensar que esses defeitos poderiam ser bem piores, se não houvesse a homenagem com Dreyfuss e as atuações de profissionais como Elizabeth Shue e Ving Rhames.

Até que, lá pros 45 minutos, um verdadeiro MILAGRE acontece. As piranhas atacam. E começa um dos espetáculos gore mais vistosos em anos. Sem aquelas restrições que Jogos Mortais provoca a si mesmo, Alexandre Aja libera o rio de sangue e corta cerca de 300 corpos com criatividade e reúne, partir dali, as referências exploitation do filme. E só a partir dessa genial sequência que o filme faz valer o excelente cartaz que dizia: Suor-Sexo-Sangue. As piranhas comem todo mundo no lago, com destaque para o modo nojento como que Aja filma os ataques, nos mínimos detalhes. Espanta-se a censura 16 anos. Além disso, os sobreviventes que conseguiram subir no palanque e se livrar das piranhas não deixam de ser mero banquete pra Aja, que pouco se importa em identificar os personagens com o público, que consequentemente só quer ver eles morrerem mesmo. E tome palanque virando pelo peso extra e mais 100 pessoas viram vítimas das piranhas. E o filme se engrandece nisso. Divertido e sangrento, Piranha 3D se torna um espetáculo do grotesco, sem história e muito gore. Quanto ás homenagens, Piranha até mesmo atualiza algumas delas. Se uma clássica linha cortante atinge milimetricamente o biquini de uma mulher para mostrar seus seios antes de cortá-la ao meio, o espírito contemporâneo devolve com uma participação de Eli Roth.

Após essa magnífica sequência, poucas coisas merecem nota no filme. A genial cena final é divertida e o balé das atrizes nuas, com a lindíssima ópera The Flower Duet ao fundo, valem o filme. A direção de Aja nada faz demais, mas serve bem para o propósito dela: enquadrar o maior número de belas mulheres e mortes que o filme exige. A edição de Baxter é lamentável, assim como a fotografia de John R. Leonetti. A trilha de Michael Wandmacher nem se fala também, sendo comum porém passável.

No resumo geral, Piranha 3D diverte demais. Se Steven R. Queen, Jerry O'Connell e Jessica Szohr não conhecem o termo atuação, ao menos Kelly Brook é uma maravilhosa mistura de Blake Lively e Jennifer Garner, visto que Elizabeth Shue segura suas cenas e as piranhas fazem o resto. Um filme com diversos defeitos, roteiro pífio e estapafúrdio, mas que diverte pelas suas homenagens e seu gore sem limites. Seus exageros também são uma benvinda volta do exploitation á moda, o que me deixa feliz pelo fato desse tipo de filme divertir de uma forma grotesca e incorreta. Piranha 3D faz o que se propõe, apesar do péssimo início. E isso basta ás vezes. Agora é esperar pela sequência, já que o final deixa um gancho maravilhoso.

Exagero é mesmo o que define o filme. Não bastava fazer a Piranha engolir um pênis. Tinha que fazê-la arrotar ele também.

*** 3 Estrelas - Aceitável

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Old School Trailers

Paul

O interessante filme de sci-fi de comédia, roteirizado pelos gênios da comédia britânica Simon Pegg e Nick Frost, apresenta um trailer inspirado. A direção de Greg Mottola, do cool Superbad e do nostálgico Adventureland, é concisa e bonita. O alien dublado por Seth Rogen, falando inglês britânico descarado, é engraçado até a raiz e serve como um belo elemento de cena junto com os diálogos igualmentes engraçados e afiados dos dois protagonistas, Pegg e Frost, dois nerds viciados em ficção científica que pretendem invadir a Área 51. Um road movie de perseguição cômico que promete muito.

**** 4 Estrelas

Cowboys e Aliens

O novo filme de Jon Favreau apresenta um bom trailer, seguindo o estilo de montagem que lhe é familiar, começando com a introdução da trama e gastando os 40 segundos finais com uma cena inteira de impacto. Desde Homem de Ferro é assim e tem sido de bom gosto essa escolha. O elenco está afiado e a história interessante da HQ promete ser bem adaptada pelos 3 competentes roteiristas, Alex Kurtzman, Roberto Orci e Damon Lindelof. O tom sério do trailer também ajuda, para quem esperava um faroeste caricato. Até mesmo a fotografia de Matthew Libatique evoca os clássicos do gênero. Um ótimo lançamento para a temporada de blockbusters.

**** 4 Estrelas

Limitless

O bom trailer do suspense com tons de ficção é auxiliado pela montagem ágil e pela direção elegante de Neil Burger. Bradley Cooper faz o papel de um escritor que, para conseguir fazer seu novo livro sair, toma uma droga que libera a atividade cerebral mais rápida, que o faz entregar seu livro em apenas 4 dias. E daí em diante, o trailer mostra a ascenção do escritor, exibindo sua genialidade e o dinheiro/mulheres que conseguiu com ela. Porém, a montagem se estende demais e revela um ponto que talvez seja importante pra narrativa. Mas vale a conferida.

*** 3 Estrelas

O Número 4

A nova bobagem adolescente dessa vez toma como pano de fundo a ficção-científica alienígena. O novo filme de D.J. Caruso, dos bons Paranoia e Controle Absoluto, evoca Crepúsculo em todos os sentidos, chegando até a ser constragedor. Alex Pettyfer, o Alex Rider, põe um capuz e entra no colégio, onde é o "freak", se apaixona pela menina indefesa e combate caras maus. Pra piorar, a fotografia põe tons sombrios em ambientes de floresta, o que soa cretino vista a semelhança com a história dos vampiros gays. Junto com A Garota do Capuz Vermelho, esse Número 4 nada mais é que uma palhaçada mal-roteirizada(são os mesmos escritores de Smallville e Múmia 3) e feita na esteira de um sucesso teen.

* 1 Estrela

Water for Elephants

O novo filme de Francis Lawrence, do intrigante Constantine e de Eu Sou a Lenda, se demonstra como um despretencioso drama que se torna grande pela sensibilidade. Desde a música emotiva até os diálogos nostálgicos, o trailer do filme é montado de forma linda, com Reese Witherspoon, Christoph Waltz e Hal Halbrook em suas habituais competências. O texto parece dramático e triste, com um tom anos 30 maravilhoso. Fora que ainda tem o desastre anunciado logo na sinopse, o que provavelmente potencializará o final. Robert Pattinson, apesar de ser um idiota, atua de forma consistente e pode impressionar. Um excelente lançamento menor no meio de genialidades como Árvore da Vida e blockbusters como Lanterna Verde.

***** 5 Estrelas

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

The Losers - HQ vs Filme

A cultuada história em quadrinhos Os Perdedores é interessantíssima. O grupo antigo dos Perdedores, quer era representado no Universo DC sempre em Guerras foi repaginado de forma inteligente pelo escritor Andy Diggle e o expressivo ilustrador Jock. Como o contexto cultural da época que os Losers foram criados era a Guerra do Vietnã, nada mais natural que eles serem heróis de guerra.

Porém, os anos 2000 são outra história.

A Vertigo, melhor editora de Quadrinhos atualmente há uns 15 anos, possibilita grandes autores a entrarem pro mundo dos quadrinhos adultos. E Andy Diggle, egresso da HQ 2000 AD, celeiro dos gênios ingleses, colocou o contexto do cinema atual na HQ e transformou os Losers em soldados traídos pelo governo. Tudo isso num pano de fundo blockbuster.

A HQ não tem grandes ambições e é interessante justamente por entregar o que propõe: uma diversão com roteiro intrincado e redondinho, com desenhos espetaculares e sequências cheias de estilo. Explosões, plot twists e personagens carismáticos são a essência da HQ e o grande atrativo dela. Sou fã da HQ justamente por não cobrar muito dela e por impor uma estética de filme de orçamento alto numa ágil história de menos de 200 páginas(a série teve 32 edições, mas o filme parece se basear no primeiro arco apenas).

E claro, como toda obra bem recebida nas mídias literárias, The Losers ganhou uma adaptação cinematográfica, orçada em 25 Milhões, o que pros padrões Hollywoodianos(e pras explosões grandiosas da HQ), é uma ninharia.

A ADAPTAÇÃO

A adaptação da HQ teve muitos problemas. Antes estava prevista pra ser rodada em 2007, com o roteiro de James Vanderbilt e Peter Berg a ser dirigido por Tim Story. Porém, na época o projeto não vingou e, aliando isso a atribulada agenda de Story com o Quarteto Fantástico, o filme foi adiado.

Então, em 2008 Sylvain White entrou para o grupo. Daí, foi um passo para em 2009, o elenco ser todo anunciado. Jeffrey Dean Morgan havia acabado de sair do sucesso de crítica Watchmen, Chris Evans se tornava cada vez mais arroz de festa, se encontrando em qualquer trabalho e Zöe Saldana estava na época de sua espetacular atuação em Avatar.
Aliando isso aos outros integrantes estarem caracterizados de forma muito similar á da HQ(com exceção de Roque, que virou negro no filme), o filme prometia bastante.
Até Jock desenhou um poster teaser do filme, que era sem dúvida um dos mais cool do ano.

Mas a coisa saiu diferente.

A produção em si não teve problemas nenhum internos, mas deu azar logo na data de estreia. Seu lançamento era próximo demais de Esquadrão Classe-A, um filme extremamente parecido com Os Perdedores. A temática da série de Tv, porém, era totalmente diferente da pegada inteligente da HQ. Porém, virou-se padrão um modo de filme de ação, como no filme RED(que vitimou a excelente HQ de Warren Ellis), destinado á toda família, tendo sempre que envolver conspirações e traições e, principalmente, um grupo carismático que faça a platéia rir.

E o filme segue essa cartilha á risca e ainda copia os defeitos de seus exemplares semelhantes. Se Patrick Wilson e seu débil mental vilão Lynch quase afundaram Esquadrão Classe-A em várias oportunidades, aqui Jason Patric chuta o pau da barraca. O Max das HQs era um homem misterioso, que nunca aparecia(o que ajudava a montar sua aura). O do filme é um engraçadinho retardado que está sempre com terno branco e sapato mocassim, seja em Miami ou Dubai. Suas frases de efeito não tem sentido, seus atos são inteligentes como jumentos e seu timing carismático é inexistente.

Já o resto do elenco é mais parecido com a HQ, mas nem tanto. Se Jeffrey Dean Morgan parecia perfeito pro papel, não foi. Suas limitações como ator, que pareciam não existir, ficam evidentes em The Losers, em que ele constrói seu personagem como um frágil e indeciso homem, passando longe do decidido líder Clay. Zoe Saldana, apesar de ser idêntica a Aisha(e até mesmo repetir uma ou duas frases dela na HQ), não corresponde as expectativas. Ela atua bem demais e é carismática demais, como o roteiro pede. A Aisha das HQs era uma mulher fria e assombrada por seu passado, não uma engraçadinha reservada. Nem vale citar Roque e Pooch, mas vale ressaltar que Chris Evans e Oscar Jaeneda, respectivamente Jensen e Cougar, estão perfeitos, em atuação e fidelidade á HQ. Nem me pergunte do Wade porque ele virou um gordo burro no filme...

Tecnicamente, nem vale falar. Se o visual que Jock desenhava era sujo, escuro e bonito, a fotografia e a direção de Sylvain White são o oposto. As boas passagens da luta de Aisha e Clay e o tiroteio no quarto, os dois em câmera lenta, não são suficientes pra esconder a estética idiota de telefilme que quiseram impor ao filme.

Sendo assim, é uma pena que a interessante HQ da Vertigo tenha sido adaptada de maneira tão preguiçosa e péssima desse jeito. Entre as duas mídias, fique com a literária. Afinal, a HQ de Diggle e Jock é muito mais cinematográfica e inteligente que o próprio filme. Em pensar que poderia ter sido feito um dos blockbusters mais legais do ano nesse filme.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tron : O Legado

Continuação apara as arestas do clássico de 82.

Em 1982, a computação gráfica dava seus primeiros passos no cinema. Foi Tron- Uma Odisséia Eletrônica, que introduziu os primeiros arcaicos esboços de um artifício que viria a ser explorado em proporções caoticamente mais avançadas décadas mais tarde . Era com uma história simples, mas recheada de detalhes , que Tron exibia diversos conceitos do seu mundo digital : as clássicas lightcycles , os grandes planos quadriculados e negros, além de uma infinidade de construções poligonais que, devido a clara limitação dos efeitos da época, eram primitivas e até simplórias, comparadas aos efeitos tão realistas de hoje em dia . Por isso mesmo, por seu estilo conceitual tão datado, um dos filmes precursores da utilização da computação gráfica é tão vagamente lembrado nos dias de hoje, sendo citado apenas por escassos aficionados por clássicos cult. Entretanto, se na década de 80 , Tron foi criado para exibir a temática cibernética com os efeitos que eram novidade, nada mais justo e interessante, que estabelecer um equivalente nos dias atuais, onde a computação gráfica tem níveis cada vez melhores e o 3D se desenha como uma inovação que veio para ficar.

Portanto, é uma atitude atrativa, e também corajosa, trazer Tron : O Legado, para os cinemas, 28 anos depois do original ter sido lançado . Viver a experiência do mundo eletrônico proposto no clássico oitentista com toda a tecnologia digital existente hoje, foi de fato o argumento mais forte para a realização do longa. Uma atualização grande, um enorme update das concepções visuais do primeiro filme é o que se estampa logo de cara, como a motivação primordial para a existência da seqüência . Porém, como já estamos calejados de saber, nada que se baseia em alegorias - e efeitos especiais não passam disso no cinema - tem muito futuro . Se este novo Tron fosse apenas um filme lindo mas que nada possuísse em conteúdo, seria uma verdadeira frustração, devido a expectativa que se criou em cima dele. Graças aos deuses do cinema, enfim, não foi isso que aconteceu dessa vez, e Tron : O Legado, mostra que , mesmo com alguns tropeços, é mais do que apenas um “rostinho bonito”.

A história começa alguns anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, com Kevin Flynn (Jeff Bridges) conversando com seu filho de sete anos, Sam , sobre sua recente descoberta, a Grade. Depois disso, o pai de Sam desaparece, e não mais retorna. Se passam mais 20 anos, e o já adulto Sam (Garret Hedlund ) ocupa seu tempo atrapalhando o curso da companhia que herdou, a ENCOM . Até que um dia, o paradeiro de sue pai é dado na velha casa de jogos onde trabalhava . Indo até lá, Sam acaba adentrando o mundo cibernético que seu pai havia criado há tantos anos, e precisa ajuda-lo a sair de lá.

O roteiro desta seqüência faz jus exatamente ao original de 1982 : Uma trama com estrutura enxuta, típica de aventura, onde existe um objetivo e este precisa ser alcançado. Entretanto, no clássico cult oitentista, tínhamos um tipo de desenvolvimento mais lento,com uma narrativa que acabava por tornar o caminho que parecia tão simples, mais “tortuoso”, se assim podemos dizer. Em Tron : O Legado, todas as arestas que sobravam do original foram aparadas , tanto em seu roteiro, quanto no seu visual (este sendo muito explícito, obviamente). A narrativa do longa de 2010, mostra sua simplicidade sem medo, coloca seus objetivos em tela, e aguarda seus protagonistas irem atrás deles. Entretanto, num ritmo mais veloz e adequado. É também preciso ser dito que o roteiro é amarrado e apresenta um encadeamento de fatos coerente.

Diante disso, só é triste constatar que os roteiristas fizeram o mais difícil, com sucesso – criaram toda uma estrutura narrativa coesa – e o mais fácil, com erros – bolaram diálogos , uma parte fácil do roteiro, com infantilidades e alguns tropeços tolos. Uma revisada básica não faria mal algum nesta situação.

A escolha do diretor, o egresso de curtas e comerciais Joseph Kosinski, se apresentou acertada, no balanço geral . Kosinski mostra uma certa segurança na direção e tem seu diferencial nas partes de ação, que coordena com maestria, conseguindo arrepiar o crítico que vos fala na seqüência da luta das lightcycles. Boa direção somada a efeitos primorosos. Um resultado de encher os olhos. Kosinski nem aparenta ser estreante, e já se mostra preparado para qualquer outro grande blockbuster que pegar pela frente.

Na sua parte técnica, Tron é irretocável . Os efeitos especiais do mundo cibernético são sensacionais, belíssimos e muitos elegantes. Todos os aparatos – desde veículos até as roupas usadas – são de uma beleza simples , porém rara . Neste ponto, todos estão de parabéns, tanto o pessoal dos efeitos especiais quanto o da direção de arte. Impecável, e ilustra uma evolução indescritível. E se a parte visual do filme teve uma evolução tremenda, nem se fale da trilha sonora. Um conjunto de sons estranhos do primeiro filme dá lugar ao ritmo eletrônico ESPETACULAR da dupla francesa Daft Punk. A trilha é parte essencial ao filme, e o incrementa de maneira incrível. As músicas funcionam adicionando ao filme um potencial cool impressionante. Uma das melhores trilhas que não vejo há tempos.

Já nas atuações , não teríamos problema algum, não fosse Garret Hedlund. O ator tem problemas na interpretação de Sam Flynn, que vão desde o modo como desempenha suas falas até o modo como seu corpo se movimenta. Hedlund anda como um modelo, seu jeito de se mover é incrivelmente artificial, quase robótico. Fora Hedlund, todos os outros dão o seu melhor, destaque para Bridges, sempre a vontade e Olívia Wilde que empresta uma atuação muito adequada á personagem Quorra.

Numa cotação final, Tron: O Legado , agrada muito. Possui um roteiro estrutural muito agradável e que tem tanto no seu conteúdo, quanto no seu ritmo uma superioridade ao original. Se esta continuação de Tron foi pensada para uma evolução visual, teve, por resultado final, uma verdadeira revolução visual e uma boa evolução em sua história, suprindo ás expectativas na medida certa.

Obs: O 3D é um tanto quanto inócuo, e o que surpreende mesmo é a beleza dos efeitos, com a tridimensionalidade ficando visivelmente de lado.

4 Estrelas **** - Bom

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Old School Trailers

A Árvore da Vida

O aclamadíssimo diretor Terrence Malick lança em 2011 seu novo filme, resultado de uma idéia que vinha sendo desenvolvida desde dos anos 70. O explêndido trailer impressiona pela beleza de imagens sublimes, mas ao mesmo tempo simples . Paisagens do espaço e do campo se misturam na trama que parece profunda, no nível de questionamento existencial . Nela, Jack( o garoto Hunter McCracken) é o mais velho dentre os três irmão de uma família texana . A história acompanha o menino aprendendo as coisas da vida, enquanto também mostra Jack adulto (Sean Penn), deprimido, devido a uma provável formação conturbada, marcada pela morte de um dos irmãos . Brad Pitt e Jessica Chastain interpretam os pais . Devemos esperar além de um drama de família disfuncional, uma grande discussão de elementos fundamentais da vida. Se tratando de Malick, já podemos nos preparar para o melhor possível.

5 Estrelas *****

domingo, 12 de dezembro de 2010

Comer Rezar Amar

Pretenciosa adaptação tem problemas pessoais e de estrutura.

Comédia Romântica é um gênero saturadíssimo no cinema. Sempre tem algum filme com clichês, viradas no terceiro ato e beijos em aeroporto prontos pra aparecer. Numa pesquisa rápida, podemos notar que, só no circuito atual, temos Juntos Pelo Acaso, Amor por Acaso, Coincidências do Amor e por aí vai. Porém, a variedade das tramas é tão ampla quanto a galeria dos títulos traduzidos, que tem sempre "Amor", "Surpresa" ou "Acaso" no título. Então, quando lançam variações saudáveis desse gênero sofrível, é amplamente válida a visita ao filme. Nesses últimos 2 anos, tivemos dois exemplos: o genial 500 Dias com Ela e Educação. Porém, se foi Educação o indicado ao Oscar, foi um erro grave. O filme começa de maneira sensacional, apresentando uma charmosa comédia coming-to-age, com toques românticos e elegância tipicamente inglesa(e ainda apresentava a atriz mais bonita do mundo para esse crítico que escreve, Carey Mulligan). Porém, uma escolha da protagonista no final se demonstra imbecil e excessivamente infantil. E é nessa linha que Comer Rezar Amar segue. A adaptação do livro da feminista Elizabeth Gilbert é falha na mesma forma que Educação, mas com problemas ainda maiores.

A trama segue Elizabeth que, ao perceber que está infeliz em sua vida, decide que é preciso mudar. Primeiro, remove o obstáculo mais evidente: seu casamento, iniciando assim um doloroso processo de divórcio. Depois, a tentativa de viver uma vida normal e buscar novos relacionamentos amorosos. No entanto, a aparente felicidade inicial logo dá lugar ao mesmo vazio existencial que ela antes sentia. Elizabeth então embarca em uma viagem de um ano pela Itália, Índia e Indonésia.

O roteiro adaptado por Ryan Murphy e Jennifer Salt é correto em diversos pontos, mas comete erros de estrutura. Como o filme é dividido em atos, nas três viagens de Elizabeth, um ritmo cadenciado é completamente válido, afinal, estamos falando do que, na teoria, era um drama de superação. Porém, a escolha feita pelos roteiristas é ditar um ritmo arrastado, que não chega a cansar em momento algum, mas que atrapalha muito a mensagem do filme. Em vez de apresentar os fatos de maneira fluida, dividido em etapas, acrescentando algo para a vida de Elizabeth(com ela tirando lições de cada ato importante), o filme escolhe narrar as partes engraçadas, as partes desnecessárias e as importantes. Logo, o filme se torna episódico e extremamente truncado. Na Itália, temos vários dos clichês habituais, como o jeito dos italianos mostrado de uma forma caricata, falas engraçadinhas e diálogos dispensáveis, usados apenas pra exaltar a genialidade repentina que a protagonista ganhou. Na Índia, o ritmo é mais truncado ainda, apresentando ainda um personagem bem interessante, mas que tira o foco do filme. O desastre se concretiza em Bali, num segmento do filme que simplesmente não devia existir se levarmos em conta o início do filme.

Porém, caro leitor, essa é uma CINEBIOGRAFIA. Logo, o ritmo do filme ser tosco é culpa dos roteiristas, sim, mas não é deles a culpa de Elizabeth Gilbert ser a maior recalcada, hipócrita, irritante e pretenciosa mulher na história recente da Sétima Arte.

E aqui começa a comparação com Educação. Da mesma forma que é infantil a escolha de Carey Mulligan no final do filme inglês, as escolhas tomadas pro Elizabeth beiram a ridicularidade. As feministas já dirão que sou machista, que não gosto da mulher querendo se libertar do casamento e etc.
Não mesmo. Mulheres com coragem são uma máxima maravilhosa nas telas. O fato que deve ser levado em conta é a hipocrisia ambulante que é a protagonista. Uma contradição viva. Elizabeth é uma mulher que se julga independente. Porém, ela fica o filme inteiro tentando achar o amor de sua vida, ficando com alguns homens antes do final. Nada contra, se não fosse pelo fato dela achar que a jornada dela NADA VALE SEM UM HOMEM AO SEU LADO. Bonito, não? A mulher é independente, mas precisa de um homem com ela. Então porque largou o marido no início? Afinal, o que Beth não gostava era da instituição do casamento, de ser dona de casa, não de seu marido. Se não fosse esse ridículo pensamento, o segmento de Bali não precisava existir(e o filme fluiria melhor). É uma festa só. A protagonista é um ser tão desastrado na alma que consegue até determinar o fracasso de ritmo do filme.

Mas não só essa contradição deve ser levada em conta. Auto-proclamada livre de pudores e preconceitos, a recalcada Elizabeth conhece seu primeiro apartamento na Itália, numa pensão. E qual é a primeira coisa que nossa heroína faz? Reclama do teto, que está sujo e feio e talvez isso faça o apartamento ceder. Tão espiritual, já que foi nessa jornada só porque uma espécie de líder espiritual a guiou, que não se desliga do material. Essa questão é até abordada no filme, no segmento da Índia, em que ela não consegue parar de pensar em trabalho e na decoração da sala de reflexão, em vez de ter paz interior. Porém, essa questão é esquecida e nunca é solucionada, quando é ofuscada pelo drama do personagem do excelente Richard Jenkins. A questão romântica da protagonista é a determinante pra tirar a alcunha desse filme de drama para comédia romântica dramática.

A construção de personagem é fraca. O roteiro gasta tantos minutos em situações arrastadas e desnecessárias que se esquece de explorar a profundidade da tristeza de Elizabeth no casamento. Porém, existem boas partes no filme. E elas são as cômicas e de drama leve, em que partes engraçadas são conduzidas habilmente por Ryan Murphy. As belas locações utilizadas ajudam e tornam o filme simpático. Os coadjuvantes também fazem parte desse pacote e suas participações são cruciais pra tornar o filme aceitável. O drama leve se deve a partes como a que a irritante protagonista junta amigos e declara o quanto a vida dela está muito melhor agora, sem nada de aparências ou materialista(o pior é que o filme parece acreditar que isso é verdade...) e pede aos seus amigos pra ajudar a quem realmente precisa, doando milhares de dólares pra salvar uma mãe solteira em Bali. O bonito ato sacramenta, de vez, a imagem de mulher independente clichê que é Elizabeth Gilbert. Mulher determinada genérica. Um papel típico de Julia Roberts.

O que ajuda bastante o filme também são os quesitos técnicos. A elegante direção de Ryan Murphy é criativa e explora bastante o ambiente que filma. Buscando ângulos bonitos e recheando as transições de cena com planos aéreos, Murphy executa uma direção bonita de se ver e salva muitas partes do filme que passaram com desinteresse pelo roteiro. A trilha sonora de Dario Marianelli também é muito boa e eleva ainda mais o tom de drama leve romântico que a história pede. Destaque para a música do espetacular Eddie Vedder no final do filme. Mas o melhor momento do filme é a fantástica fotografia de Robert Richardson remete a uma aura clara, diferente de suas fotografias recentes, o belo contraste clássico de Bastardos Inglórios ou o Noir pesadíssimo da melhor fotografia do ano(junto com Inception), Ilha do Medo. Excelente e ajuda a alavancar a potência que as locações representam pra tornar o filme agradável de assistir. Fora isso, a fotografia de Richardson varia em diversos pontos com os sentimentos da protagonista, se tornando mais clara ou escura, sem tornar-se esquematizada. A edição do filme, por Bradley Buecker, peca em diversos pontos como no desinteresse pela separação das 3 viagens, que só torna o roteiro episódico... mais episódico ainda.

Nas atuações, a única que merece citação extra, além do genial Jenkins, é a protagonista. Julia Roberts atua como se Elizabeth fosse ela mesma, numa atuação na média, em que comete o maior erro em acreditar com tanta veracidade naquele personagem arquetípico. Logo, é raro ver Julia num papel desafiador e diferente pra ela mostrar todo o talento que tem, como em Duplicidade.

No final das contas, Comer Rezar Amar é um filme pra sessão de sábado á noite, bem filmado e simpático, quando se esquece a mulher vazia que protagoniza-o. Ryan Murphy faz o que pode e realiza um filme que, se não fosse a contradição latente que beira o ridículo que permeia a vida de Elizabeth, poderia ser melhor. Poderia ser realmente bom, uma película de jornada que apenas peca pelo ritmo truncado e mal dividido que o filme tem por si só. Porém, não há como fazer uma adaptação sem mudar a essência dela. O maior defeito de Comer Rezar Amar, nas duas mídias, é a escritora. O ideal de liberdade é algo maravilhoso a ser mostrado no cinema e não deve ser colocado em comédia românticas dramáticas como essa.

Elizabeth Gilbert largando o marido? Que nada. Bom era o tempo que April Wheeler se matou pra fugir da vidinha de dona de casa na massante Revolutionary Road.

*** 3 Estrelas - Aceitável

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Megamente

Dreamworks continua fazendo a mesma comédia de ação.

No campo das animações, a Disney sempre foi uma líder. Porém, com a chegada da modernidade, os roteiros clássicos do padrão da empresa se tornaram obsoletos e a chegada de fracassos de bilheteria, como A Nova Onda do Imperador, Irmão Urso e Lilo e Stitch, decretaram o fim absoluto do reinado Disney. Mas havia a Pixar, empresa antiga divisão da LucasFilms que despontaria pro sucesso com seu primeiro longa, a maior bilheteria de 1995 Toy Story. A Disney, sentindo o fim de sua hegemonia uma década antes do lançamento de Irmão Urso, bancou a distribuição de Toy Story e ali se formou a maior parceria do ramo cinematográfico animado. Aliando a habilidade Disney em marketing e tradição com a genialidade dos excelentes roteiros das cabeças criativas da Pixar, a hegemonia tinha trocado de mãos, mas com o apadrinhamento Disney. Vendo que animação tinha mercado, a Dreamworks, empresa de Steven Spielberg, começou no ramo, mas seu primeiro longa de expressão fez tremer as bases Disney. Enquanto a Pixar entregava o bom Monstros S.A, a concorrente lançava o excelente Shrek.

Como a Dreamworks viu que aquele caminho fazia sucesso(mesmo Shrek sendo inferior a todos os filmes Pixar desde Procurando Nemo), resolveu trilha-lo. E se a Pixar é a empresa mais apaixonada e competente no cinema(veja bem, não apenas animação), entregando declarações de amor á sétima arte com roteiro dramáticos, a Dreamworks continua fazendo Shrek. E Megamente é o novo Shrek, mas dessa vez com o mundo dos super-heróis.

A trama segue Megamente, que é um super-vilão que sempre perde pra MetroMan, o herói da cidade de MetroCity. Entre os planos de Megamente, está o sequestro da Lois Lane da vez, Rosane Rocha, repórter namorada de MetroMan. Em um dos diversos sequestros dela, Megamente atrai MetroMan e finalmente consegue destruir seu bonzinho inimigo. Mas como todo vilão só é vilão com um herói na sua cola, Megamente resolve criar um novo super-herói pra poder voltar aos dias de Glória. Porém, sua cria, o Titan, foge do controle e se volta contra MetroCity. E cabe apenas a Megamente, outrora vilão, salvar o dia.

É interessante observar que a empresa de animação tem possibilidades de alcançar novos horizontes(como no recente Como Treinar seu Dragão), investindo no drama que a Pixar sabe fazer tão bem(mesmo que em menor densidade). Mas mesmo assim, a Dreamworks intercala esses projetos mais ousados e originais com os seus filmes-evento(Megamente) e bobagens com fins lucrativos que não deviam existir(Shrek 4). Há um quê de visão nessa estratégia, afinal Dragão pode até ter sido o melhor filme desde Shrek(ou da empresa), mas foi o menos lucrativo. Megamente entra no campo dos lucrativos, auxiliado pelo 3D, com um roteiro que promete a descontrução definitiva dos super-heróis. Campo já testado anteriormente pela rival, na obra-prima Os Incríveis, o gênero super-herói tem duas gamas diferentes. A linha dos blockbusters, cinemão-pipoca descarado que promete diversão(quase sempre bem-executada) e a linha mais séria, que cria arte num gênero tão banalizado, contando histórias seríssimas e excelentes. Como espectador, gosto muito das duas gamas e adoro esse gênero. Por isso, é fácil constatar que se Os Incríveis parecia Watchmen, Megamente parece Homem de Ferro.

A comparação é válida não só pelo teor da história, com o exemplo da Pixar sendo sério e Megamente divertido. As tramas são parecidas também e há um esforço contínuo da Dreamworks em fazer Megamente parecer Homem de Ferro. Os Incríveis tinha super-heróis mortos por um super-vilão amargurado, que acaba colocando Sr. Incrível no posto que tinha sido retirado de si na lei que proibiu os heróis. Pra quem não leu Watchmen, essa lei se chama Keene Act e foi inspiração clara pra produção da Pixar. Já Megamente tenta se distanciar tanto de Homem de Ferro que coloca Back in Black e Highway to Hell, do AC/DC, que COMPÔS a trilha do segundo filme do Ferroso. Jurei que ia ouvir Iron Man nos créditos finais, mas acabou sendo o Michael Jackson mesmo.

E daí vem o abismo entre Pixar e Dreamworks. Enquanto a primeira pega como inspiração uma história adaptada ao cinema com censura 18 anos e um dos maiores e mais maduros quadrinhos da História, a segunda força a barra, copiando diversos elementos de sua inspiração, como a já citada trilha sonora e frases como "Super-heróis não nascem, são criados!". E é aí que uma sacada de roteiro, manjada e clichê, é sabotada. Adaptando Homem de Ferro pras crianças da geração 3D, fica claro que a referência do filme é um anti-herói, não um vilão como a trama fazia parecer. Sei que era óbvia a redenção do vilão(na boa, alguém achou que vilão protagonista ia continuar vilão num filme da Dreamworks?), mas colocando o Homem de Ferro como inspiração, fica paupável demais a reviravolta de comportamento de Megamente. Até porque, se o vilão fosse continuar vilão, se houvesse uma descontrução corajosa mesmo, seria o Coringa, por exemplo, a ser adorado pelo protagonista. Se o vilão fosse vilão mesmo, faria maldades pesadas, não planos maquiavélicos engraçadinhos. Megamente é um vilão tão sério que tem até o seu Criado como alívio cômico...

Mas coloquemos isso no contexto que o filme pede. A ambiciosa ideia de revolução que a empresa prometia jamais seria feita, obviamente. Então esqueçamos a falta de modéstia descabida e avaliamos o filme como uma película descompromissada de ação e comédia. Aqui, entramos em outro campo do cinema Dreamworks: o de Kung Fu Panda. Nesse ponto, Megamente engrandesce. Engraçado, ágil, divertido, o filme tem uma construção muito boa de personagens, com a sequência inicial sendo um exemplo do que a Dreamworks sabe fazer muito bem: Megamente e MetroMan, a cópia do Superman(com direito a Lois Lane-Rosane Rocha e um Jimmy Olsen-Hal Stewart), saindo de seus planetas, tendo a mesma origem, porém com um destino completamente oposto aqui na Terra. Enquanto um é criado em berço de ouro, o outro é criado na prisão. Aí se reforça uma referência muito boa pescada pela Dreamworks: a de A Piada Mortal, de Alan Moore, escritor de Watchmen. No final das contas, é apenas um dia ruim que mudou a vida dos dois seres extraterrestres. Há também um quê de drama, típico dos terceiros atos dos filmes da empresa, que é convincente, mantendo a atenção do espectador presa na tela.
E os personagens são tão simpáticos e a ação, ainda que exagerada(o clímax tem mais de 15 minutos justamente pela falta de história), é entretenimento de pura qualidade. Qualidade tão grande e divertida que basta pra disfarçar a falta de conteúdo no roteiro estrutural.

Juntando isso a diversas referências pop, como a da Mamba Negra de Kill Bill, Megamente se torna um produto sem relevância artística, mas extremamente divertido e interessante. Seguindo a linha de sucessos, como Kung Fu Panda e Madagascar 2, Megamente agrada e é perfeito pra uma sessão sem compromisso e de fim de semana. Não se deve julgar dispensáveis as referências conhecidas da empresa. Elas são essenciais pra tornar os seus filmes acima da média, como fez com Monstros vs. Alienígenas, que tem uma trama um tanto pobre, mas que é divertida e fica melhor ainda se pescarmos as citações aos filmes B de terror dos anos 50.

Apesar de ter acompanhado a versão em português, é bom exaltar o elenco soberbo de dubladores do filme. Will Ferrell se encaixa perfeitamente como Megamente, se reunindo ainda com outros comediantes como Tina Fey(Rosane), Jonah Hill(Hal) e até mesmo Ben Stiller, numa ponta como Bernard. Fora que ainda tem a genial sacada de chamar o galã Brad Pitt pra dublar o MetroMan.

Tecnicamente, nada a se declarar de especial. A direção de Tom McGarth é muito boa, seguindo o padrão das animações desde Toy Story, explorando os ângulos grandiosos que são caros demais no live-action. A fotografia do filme é bonita e o 3D não a escuresse, como sempre tende a acontecer. Um belo trabalho de Phill McNally. A trilha sonora de Hans Zimmer e Lorne Balfe é muito boa também e ajuda a tirar cada emoção que o filme precisa, encaixando-se perfeitamente na película, ainda que essa trilha não deva ser levada em conta como música propriamente dita. Excelente no filme, nem tanto pra ouvir sozinha.

Mesmo sendo um mix de ideias e mais uma promessa quebrada da Dreamworks, Megamente é um excelente entretenimento passageiro, que não marcará em nada sua vida, mas fará ela feliz por 96 minutos. Para o público médio de cinema, o verdadeiro alvo da empresa, o filme deve ser uma satisfação. Já eu tive que aguentar com pesar o fato de ter esquecido do filme logo que saí da sessão, lembrando mais do filme visto 2 dias antes, a genial obra-prima contemporânea A Rede Social(aliás, vale a dica, só assista Megamente se for ver Rede Social antes).

E a Dreamworks continuará a mesma. Espero que continue executando bem essa mesmice, já que algumas empresas simplesmente decidem insistir no erro. Se é assim que eles querem, eu já estou preparado. Que não se leve em conta mais nenhuma revolução que a empresa prometa. Afinal, a revolução de verdade aconteceu em Os Incríveis. E é duro dizer, mas a outra revolução de verdade não pode ser feita agora simplesmente porque a Dreamworks não tem talento pra executá-la. E não terá, pelo fato dela querer fazer um novo Shrek até esgotar a fonte. Pelo menos Dragão sai da desconstrução, dando ainda um pouquinho de esperança.

Andam dizendo por aí que Megamente é uma homenagem ao Superman, como até sugere a referência a Marlon Brando como pai de Titan. Respeitosamente, discordo. Pra mim, Tony Stark foi que ganhou essa homenagem, divertida á beça.

**** 4 Estrelas

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Old School Trailers

Real Steel

A julgar pelo diretor, talvez seja besteira dar atenção para Real Steel, afinal , Shawn Levy não é daqueles realizadores que costumam acertar a mão no que constroem . Mas, com uma história um tanto peculiar, Real Steel parece, pelo menos a primeira vista, destoar do lugar comum . No filme, o universo do boxe mudou , e nele não há mais pessoas lutando, e sim robôs - estes, de fato, são muito parecidos com os Transformers de Michael Bay , tanto na aparencia quanto no modo de se mover. A trama em si acompanha um pai (Hugh Jackman) que, com seu filho(Dakota Goyo), precisa treinar um robô para ser campeão . Entretanto, eles só têm acesso a peças de baixa qualidade , e isso torna-se um obstáculo no caminho do grupo . Até que um dia, eles descobrem um robô descartado que sempre vence suas lutas - e ele pode ser a solução. O trailer dá pistas de que o filme deve cair nos clichês manjados, mas vale a pena a espera pelo menos pela aposta no conceito interessante, e também por que Jackman costuma escolher bem os filmes em que vai estrelar.

3 Estrelas ***


Rio

A nova animação de Carlos Saldanha para o Blue Sky Studios, ganha seu segundo trailer, que, como de costume, vem para apresentar melhor os personagens que compõem a aventura e dar mais detalhes sobre a trama. Nela, uma arara azul norte-americana sai de seu lar nos Estados Unidos e vai parar no Rio de Janeiro , pois lá é onde está a última fêmea de sua espécie. A dublagem original das araras é de Jesse Einsemberg - o protagonista - e Anne Hathaway -a fêmea . Devemos esperar boas piadas e um filme divertido - talvez até mais que a própria franquia Era do Gelo - num nível alto.

3 Estrelas ***