A cultuada história em quadrinhos Os Perdedores é interessantíssima. O grupo antigo dos Perdedores, quer era representado no Universo DC sempre em Guerras foi repaginado de forma inteligente pelo escritor Andy Diggle e o expressivo ilustrador Jock. Como o contexto cultural da época que os Losers foram criados era a Guerra do Vietnã, nada mais natural que eles serem heróis de guerra.
Porém, os anos 2000 são outra história.
A Vertigo, melhor editora de Quadrinhos atualmente há uns 15 anos, possibilita grandes autores a entrarem pro mundo dos quadrinhos adultos. E Andy Diggle, egresso da HQ 2000 AD, celeiro dos gênios ingleses, colocou o contexto do cinema atual na HQ e transformou os Losers em soldados traídos pelo governo. Tudo isso num pano de fundo blockbuster.
A HQ não tem grandes ambições e é interessante justamente por entregar o que propõe: uma diversão com roteiro intrincado e redondinho, com desenhos espetaculares e sequências cheias de estilo. Explosões, plot twists e personagens carismáticos são a essência da HQ e o grande atrativo dela. Sou fã da HQ justamente por não cobrar muito dela e por impor uma estética de filme de orçamento alto numa ágil história de menos de 200 páginas(a série teve 32 edições, mas o filme parece se basear no primeiro arco apenas).
E claro, como toda obra bem recebida nas mídias literárias, The Losers ganhou uma adaptação cinematográfica, orçada em 25 Milhões, o que pros padrões Hollywoodianos(e pras explosões grandiosas da HQ), é uma ninharia.
A ADAPTAÇÃO
A adaptação da HQ teve muitos problemas. Antes estava prevista pra ser rodada em 2007, com o roteiro de James Vanderbilt e Peter Berg a ser dirigido por Tim Story. Porém, na época o projeto não vingou e, aliando isso a atribulada agenda de Story com o Quarteto Fantástico, o filme foi adiado.
Então, em 2008 Sylvain White entrou para o grupo. Daí, foi um passo para em 2009, o elenco ser todo anunciado. Jeffrey Dean Morgan havia acabado de sair do sucesso de crítica Watchmen, Chris Evans se tornava cada vez mais arroz de festa, se encontrando em qualquer trabalho e Zöe Saldana estava na época de sua espetacular atuação em Avatar.
Aliando isso aos outros integrantes estarem caracterizados de forma muito similar á da HQ(com exceção de Roque, que virou negro no filme), o filme prometia bastante.
Até Jock desenhou um poster teaser do filme, que era sem dúvida um dos mais cool do ano.
Mas a coisa saiu diferente.
A produção em si não teve problemas nenhum internos, mas deu azar logo na data de estreia. Seu lançamento era próximo demais de Esquadrão Classe-A, um filme extremamente parecido com Os Perdedores. A temática da série de Tv, porém, era totalmente diferente da pegada inteligente da HQ. Porém, virou-se padrão um modo de filme de ação, como no filme RED(que vitimou a excelente HQ de Warren Ellis), destinado á toda família, tendo sempre que envolver conspirações e traições e, principalmente, um grupo carismático que faça a platéia rir.
E o filme segue essa cartilha á risca e ainda copia os defeitos de seus exemplares semelhantes. Se Patrick Wilson e seu débil mental vilão Lynch quase afundaram Esquadrão Classe-A em várias oportunidades, aqui Jason Patric chuta o pau da barraca. O Max das HQs era um homem misterioso, que nunca aparecia(o que ajudava a montar sua aura). O do filme é um engraçadinho retardado que está sempre com terno branco e sapato mocassim, seja em Miami ou Dubai. Suas frases de efeito não tem sentido, seus atos são inteligentes como jumentos e seu timing carismático é inexistente.
Já o resto do elenco é mais parecido com a HQ, mas nem tanto. Se Jeffrey Dean Morgan parecia perfeito pro papel, não foi. Suas limitações como ator, que pareciam não existir, ficam evidentes em The Losers, em que ele constrói seu personagem como um frágil e indeciso homem, passando longe do decidido líder Clay. Zoe Saldana, apesar de ser idêntica a Aisha(e até mesmo repetir uma ou duas frases dela na HQ), não corresponde as expectativas. Ela atua bem demais e é carismática demais, como o roteiro pede. A Aisha das HQs era uma mulher fria e assombrada por seu passado, não uma engraçadinha reservada. Nem vale citar Roque e Pooch, mas vale ressaltar que Chris Evans e Oscar Jaeneda, respectivamente Jensen e Cougar, estão perfeitos, em atuação e fidelidade á HQ. Nem me pergunte do Wade porque ele virou um gordo burro no filme...
Tecnicamente, nem vale falar. Se o visual que Jock desenhava era sujo, escuro e bonito, a fotografia e a direção de Sylvain White são o oposto. As boas passagens da luta de Aisha e Clay e o tiroteio no quarto, os dois em câmera lenta, não são suficientes pra esconder a estética idiota de telefilme que quiseram impor ao filme.
Sendo assim, é uma pena que a interessante HQ da Vertigo tenha sido adaptada de maneira tão preguiçosa e péssima desse jeito. Entre as duas mídias, fique com a literária. Afinal, a HQ de Diggle e Jock é muito mais cinematográfica e inteligente que o próprio filme. Em pensar que poderia ter sido feito um dos blockbusters mais legais do ano nesse filme.
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