Old School Nerds

Old School Nerds

sábado, 31 de outubro de 2009

Wall-E

Pixar demonstra-se irretocável em homenagem á ficção.

Em 1995, uma animação modesta, de custo baixo(30 Milhões) e produzido por um estúdio desconhecido chega aos cinemas. Os tais produtores eram da Pixar, que era uma pequena empresa de curtas animados até 95, quando, apadrinhada pela Disney, ela lançou seu primeiro longa.

Em 2008, uma animação ambiciosa, de custo altíssimo(180 Milhões) e produzido por um famosíssimo estúdio chega aos cinemas. Os tais produtores são da Pixar, que é uma empresa muito lucrativa e que faz um longa metragem por ano, algo invejável para as outras produtoras de animação(inclusive a Disney)

Entre esses períodos, se passaram nove longas e treze anos. Outras produtoras só pensariam em lucro, público e diversão, afinal são filmes animados. Com tanto dinheiro em caixa também, é fácil fazer lucro com histórias rápidas e cheias de ação, como a Dreamworks. Mas essa produtora é a Pixar. E a única diferença entre o Toy Story de 95 e o Wall-E de 2008 é: O tempo. Nada mais que isso, afinal, a Pixar manteve sua essência e chegou a seu ponto máximo aqui, sem se importar com produtos de merchandising ou rechear seu filme de ação. A equipe criativa da Pixar é exatamente isso: Um time de apaixonados pelo cinema, pela arte, pela qualidade cultural. Não se preocupam em fazer trabalhos adultos em animação assim como Alan Moore e outros autores não se preocupam em fazer quadrinhos adultos. E é por causa dessa equipe que os milhões de dólares não mudaram absolutamente nada no teor das histórias, eles não idolatram os efeitos ou o dinheiro. Eles idolatram seus personagens. Alguém novo, que não tenha Buzz, Woody, Flik, Nemo ou Sr. Incrível em seu imaginário, não teve uma infância completa. Mas não só as crianças, afinal, o adultos tem motivos de sobra pra gostar dos filmes anteriores da Pixar e, principalmente de Wall-E. Eles tem motivos de sobra para apreciar as referências enormes dos filmes de suas épocas. Vai de Chaplin a 2001.

A trama de Wall-E conta a história de Wall-E, um pequenino robô que tem a missão de limpar o lixo da Terra, num futuro de 2800. Com o tempo de limpeza, ele adquiriu sentimentos e vários artigos humanos extremamente úteis pra ele, como lâmpadas. E, depois de anos de solidão, apenas com a companhia de uma pequena barata, uma luz vermelha chega na Terra. Wall-E, dotado de uma curiosidade inocente, começa a seguí-la. Quando ela para, ele vê uma enorme nave chegando e deixando um robô em fórmula de cápsula lá. Então, A robô, chamada Eve, começa a vasculhar o lixo organizado por Wall-E, procurando algo. E assim começa uma das mais bonitas histórias de romance do cinema.
Quando Eve está na Terra, Wall-E sente uma vergonha enorme dela, chegando perto quando possível e cometendo trapalhadas a cada frame. Num supermercado, por exemplo, ele vê Eve e sem querer aciona carrinhos de compras, que o esmagam na parede. A cena é brilhante por sua simplicidade e seu humor único.

Tecnicamente, Wall-E é o filme mais bonito da Pixar. Seus efeitos são muito realistas e causam um balé belo nas telas. Um exemplo da perfeita harmonia dos efeitos é na emocionante dança de Wall-E e Eve no espaço. Ela, voando. Ele, munido de um extintor. Com exceção dos humanos, propositalmente caricatos, todos são realistas. A direção de Andrew Stanton é soberba, fazendo closes, ângulos abertos, filmagens de cima e planos-sequência. Cheio de identidade, Stanton cria algo único com essa sua direção moderna. A fotografia de Roger Deakins é, como sempre, perfeita e belíssima. O ganhador do Oscar cria climas extremamente atraentes e pesados. Na Terra, sua fotografia é meio amarelada, meio sépia, retratando a poluição exagerada. Na nave, é mais azulada, mais limpa, retratando as possíveis "melhoras" que aquilo trouxe. A edição de Stephen Schaffer é competente, pontuando a trama muito bem e determinando o clima do filme assim como a fotografia. Mas, o destaque é a trilha sonora de Thomas Newman. Durante todo o filme, ela apresenta uma tensão triste, representando a situação péssima em que a Terra se encontra. Na nave, a trilha é mais leve, pontuando a ação dos pixels. E, se não bastasse a beleza musical durante todo o filme, nos créditos finais Newman e Peter Gabriel nos presenteiam com a belíssima Down to Earth.

O roteiro de Stanton e Jim Reardon é um dos mais geniais da história. Além de ter uma trama coesa, adulta e muito bem costurada, eles ainda cobrem o roteiro com homenagens e mensagens ambientais, mas que não são merchandising. É a típica mensagem que está implícita e nos faz pensar sobre como estamos tratando nosso planeta. Os diálogos, presentes a partir da chegada de Wall-E na nave com humanos, são extraordinários. Todos aqueles descobrimentos que os humanos presenciam são de uma inocência tocante e pura. É incrível como as comparações com os bebês são válidas, afinal, os dois estão em fase de descobrimento. Anteriormente, eu mencionei os itens humanos que Wall-E pegava para si e eram úteis. Em um momento do filme, ele pega uma caixinha azul com um enorme anel de diamante. Ele pega o anel, joga fora e fica com a caixa, já que ficou encantado com o mecanismo dela fechando. Sem alarde algum, Stanton e Reardon fazem uma crítica ás futilidades humanas, que deixam de valorizar o verdadeiramente belo em nome do dinheiro. Outra sacada genial foi o fato dos humanos serem obesos agora e nem saberem ao menos andar. Depois de 7 séculos sendo "escravos" da tecnologia, eles não saem de seus computadores nem ao menos pra comer. Isso que é um roteiro depurado e inteligente.

Definitivamente um filme irretocável, Wall-E sofreu com o preconceito nas premiações, sendo injustamente não-indicado ao Oscar de Melhor Filme. Mesmo sendo uma animação, esse filme merece por todos os méritos que ganhou e merecia ainda mais. Nos faz apreciar um bom cinema, com humor leve, drama bem-executado e uma ficção-científica como há tempos não se via. Que a Pixar continue nos presenteando com suas belezas visuais e cinematográficas. Ela é o estúdio mais corajoso que existe, mais apaixonado e o único que consegue transpor um drama romântico de ficção como esse, para o cinema. E de forma brilhante.

***** 5 Estrelas

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O Desinformante

Matt Damon em um filme que mostra os papéis de um informante. Um mau informante.

Nos últimos dois anos o cinema mundial tem tido ótimos trabalhos quando se refere a espionagem, e quando digo espionagem, me refiro de espionagem mais chegada ao nosso mundo, sem efeitos especiais ou tiroteios aos montes, como num filme de James Bond. Me refiro a trabalhos de cineastas inteligentes, que pegam um roteiro intrincado - como em Queime Depois de Ler dos irmãos Cohen, e Duplicidade, de Tony Gilroy -e deslumbram os espectadores mais inteligentes com essa façanhas textuais.

Como nos dois filmes citados anteriormente, O Desinformante lida com uma situação que nos remete a espionagem - a didática de um informante ingênuo -com um desvio para um outro gênero, nesse caso, a comédia. Porém, a comédia desse estilo pode não fazer rir . Pelo menos não a pessoas menos informadas e com um humor menos refinado. As risadas nesse caso ficam muito a cargo do roteiro, seus absurdos e do timing dos atores. Um humor inteligente e que só os mais antenados pegam.

E é mostrando a vida de Mark Whitacre,um funcionário de porte considerável numa companhia produtora de milho e seus derivados que a trama começa. Com a descoberta dele que a empresa sofria de um vírus que atacava a lisina do milho,e que esse vírus tinha sido implantado por um agente duplo,Whitacre decide chatagear a própria empresa , prometendo consertar o problema e dar as informações em troca de favores dentro da empresa. Contudo, o FBI descobre tudo, e sem outra saída, Mark Whitacre vira um informante da polícia no caso, mas acaba soltando informações a mais. O resultado: o personagem de Damon tem o dever de ajudar o FBI em dar informações contra a própria empresa.

O destaque dessa história não é o fato da espionagem industrial, que já foi abordado outras vezes recentemente, mas um novo olhar a um personagem importante em filmes até mesmo policiais e de ação. Sempre, na maioria dos filmes desse gênero, existe um informante que ajuda o governo, porém, o foco se vira sempre ao lado dos policiais, ou dos atacados. Neste podemos ver uma importância ao personagem de Matt Damon, que não é apenas o personagem que leva notícias ao governo. É o personagem que faz isso, mas tentando levar uma parte da vantagem para si, ocasionando situações absurdas e saídas engraçadas.

O personagem de Damon, aliás, é interessantíssimo e merece um olhar além. Alguem que é extremamente burro, mas não vai ao pastelão.Ele tem as suas crenças, algumas idiotas, mas isso não faz do personagem algo que não seja crível. Mark Whitacre é uma pessoa normal, com atitudes muitas vezes estapafúrdias, mas com golpes algumas vezes inteligentes, que encrementam a história de maneira boa. A narração em off do protagonista, por exemplo, nos acompanha por todo o filme, e muitas vezes, com comentários de comparações interessantes das situações do filme, com metáforas. Algumas delas são realmente engraçadas, por conter elementos diferenciados e unusuais.E a atuação de Damon é muito boa, e se diferencia das atuações de ação como na Franqui Bourne. Damon mostra mais uma vez que ´´e ótimo ator de ação, e com outros gêneros, é ainda melhor.

O clima do filme, desde a sua trilha sonora até a direção, nos remetem a trabalhos ateriores de Steven Soderbergh , como A trilogia 11, 12 e 13 homens. Entretanto, apesar da trilha sonora ser boa, as vezes se encaixa em momentos desnecessários, ou se prolonga demais. Em compensação, a direção de Sorderbergh é ótima, como de costume. Principalmente nesse gênero de comédia. A captura das imagens - sejam elas rostos ou TVs - são feitas muito bem, sem aumentar ou perder o tempo da piada, conseguindo configurá-la muito bem. A fotografia de ''Peter Andrews''(ou Steven para íntimos) é sensacional. Além de tudo, Soderbergh é um ótimo diretor de fotografia. O estilo amarelado,que opta por ressaltar mais o interior das casas se encaixa com o feitio dos anos 90.O que é importante para a ambientação da trama.

Devo dizer que a cada vez que saio do cinema tendo visto um filme desse estilo, saio mais feliz. Um dos motivos para acreditar no cinema, na sua inteligência e humor. Um humor de certo modo difícil, no estilo dos Cohen, mas existem bons apreciadores para ele. Ainda bem.

4 Estrelas****

Garota Infernal

Megan Fox e Diablo Cody em um interessante terror que não assusta.

Com o Oscar de 2008 pelo seu roteiro de Juno, Diablo Cody ganhou credibilidade suficiente pra qualquer trabalho. Ainda mais com os 230 milhões de dólares que Juno fez no mundo inteiro, tornando-o um sucesso crítico e comercial. Assim, qualquer estúdio pagaria milhões por qualquer coisa saída da criativa mente de Cody. Então, a Fox Atomic, divisão de terror, da Fox, comprou o roteiro de Jennifer's Body e contratou estrelas como Megan Fox e Amanda Seyfried para os papéis principais e chamou Jason Reitman, diretor de Juno, para produzir. Juntando-se a elas e Jason, a diretora Karyn Kusama(do ruim Aeon Flux) entrou para fazer o melhor que podia.

Com orçamento de 16 milhões, o filme prometia bastante, devido a uma grande propaganda pela internet. Mas, como era um filme rated R, era esperado que apenas os fãs de Megan Fox e do filme Juno iriam ver o terror. Mas isso não aconteceu, com o filme apenas pagando seu modesto orçamento no mundo todo. Apesar de tudo, o filme é interessante e um bom exercício de entretenimento.

A trama conta a vida de Jennifer Check(Megan Fox), líder de torcida do time do Devil's Kettle. Ela é a garota popular do colégio e é melhor amiga de Needy(Amanda Seyfried), uma nerd meio isolada. Muitos no colégio nem entendem como Jennifer pôde dar bola para alguém como Needy. Mas, ao longo da história, percebe-se que há uma antiga amizade ali, sustentada desde os tempos de jardim de infância. Devidamente apresentados, os personagens começam a entrar na trama central do filme. Quando uma banda de rock vai se apresentar na cidade, as duas amigas vão ao show, mas um incêndio lá ocorre. Então, no meio das chamas, a banda chama Jennifer para entrar em seu trailer. Mais tarde, Jennifer vai na casa de Needy e começa a parecer algo demoníaco, que assassina os garotos de seu colégio.

No geral, a trama é razoável, batida. Em muitos momentos, ela é até previsível. Mas é nos diálogos, nas interações dos personagens, que a trama ganha força. Com discursos pops, várias referências a bandas conhecidas e até mesmo á Wikipedia, o roteiro se demonstra ser divertido e até verossímeis. É justamente nesses momentos que a Diablo Cody autoral aparece e demonstra toda sua criatividade. Mas a própria premissa condiz com uma Cody mais comercial, apenas um vício de quem acabou de se tornar importante. Normal, se depois for corrigido.

As atuações do filme são extremamente no padrão. Megan Fox continua atuando como recém-profissional, mas de luxo. Nos momentos em que é exigida a comédia de sua personagem, ela dá muito bem a conta, mas sua competência não é muita coisa desde Transformers.
Amanda Seyfried é o destaque do elenco, atuando acima do padrão, se demonstrando uma atriz promissora. Quando ela divide cenas com Megan, o talento dela simplesmente está em outro patamar, não há o que comparar. Devido a falta de profundidade de seu personagem, Amanda não pôde mostrar todo seu talento, mas já mostra ao que veio. Outro que também interpreta acima da média é Johnny Simmons, que faz Chip, namorado de Needy. Seu personagem já é cool por si só e ele só faz isso melhorar, criando alguém tão agradável e divertido quanto Needy. Mas, dentre todos do elenco, a maior transformação é de Adam Brody, como o vocalista da banda Nikolai. Ele, antes limitadíssimo ator de O.C e que fez um papel mísero em Sr. e Sra. Smith e Obrigado por Fumar, cresce em talento de forma primorosa. Ele some no papel, um cara gótico, mal pra cacete e engraçado por seu sadismo. Aliás, suas passagens são de um humor negro muito legal, como pouco visto em filmes comerciais.

Tecnicamente, o filme se limita a fazer o normal. A direção de Kusama, que foi bem irregular e descompassada em Aeon Flux, é competente e cresce mais ainda em ambientes abertos. Esse é um bom exemplo de um profissional que ouviu as críticas e resolveu se aprimorar. Em Aeon, as cenas capturadas em ambientes abertos são simplesmente horríveis, com a câmera até perdendo alguns momentos da ação. Aqui, ela utiliza bem a grua e monta um bom trabalho. Que Kusama faça mais um filme de ação, para confirmar seu aprendizado. A direção de fotografia de M. David Mullen é normal, deixando bem claro que aquilo é o interior e algo está acontecendo de sombrio. Nada demais. A edição de Plummy Tucker é rápida e dá um ritmo tenso ou parado quando pedido, sem muitos truques especiais ou que destaquem-a. Mas a trilha sonora de Theodore Shapiro se sobressai, acrescento músicas modernas e colocando a moda pop-rock em evidência. Tratando-se se de um filme colegial, nada mais certo e interessante, demonstrando uma pesquisa minimamente depurada em relação a gosto musical juvenil. E quando é exigida uma trilha composta, Shapiro também faz um bom trabalho, criando melodias muito boas.

Há também um outro trunfo no roteiro de Cody: os personagens. Ela até pode esteriotipar alguns deles: Tem a popular, a nerd, o emo, o nerd que não é looser, tem o valentão, tem o looser e por assim vai. Mas quando se conhece mais dos personagens, suas personalidades se demonstram mais que comuns. São clichês, mas clichês reais, da vida real.

Apesar do filme ser tecnicamente positivo, não é irretocável. Nem um pouco. O filme coleciona erros, que começam da premissa até as situações que Cody cria. Acredito que o lado comédia do filme se sobressai justamente por Cody ser boa escritora de diálogos. Quando lhe cabem situações mais sombrias, seu roteiro simplesmente não funciona. Apesar das partes de terror não funcionarem, a boa química dos atores faz com que tudo passe indolor.

Um filme divertido, que não funciona como terror e, sobretudo, engraçado. Mas muito pouco para uma escritora como Cody. Muitos fãs dos Sexta-Feira 13s e Almas Perdidas da vida vão gostar do filme. Os fãs jovens que apreciaram Juno também vão. Mas os cinéfilos, esses que glorificaram Juno, não se contentaram com esse passatempo escrito por uma Oscar Winner.

*** 3 Estrelas

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

Bastardos Inglórios é puramente... Quentin Tarantino

No mundo cinematográfico de hoje em dia, com produções saindo pelo ladrão e falta de originalidade pairando sobre todos, é bem difícil achar algum diretor com estilo próprio. Brett Ratners da vida ganham espaço fazendo trabalhos fracos a produtores que visam lucro e assim segue boa parte das produções hollywoodianas. Entretanto, ainda temos esperança se a questão é personalidade. Nomes que vem a cabeça são poucos, mas um deles sem a menor dúvida é Quentin Tarantino. Já mostrou a todos seu estilo, sem medo de ser extremamente violento ou saudosista. Kill Bill, sendo visto como uma experiência completa, é uma dupla homenagem: aos filmes de Faroeste e Kung Fu.

Em Bastardos Inglórios, Tarantino mexe no terreno da II Guerra Mundial encrementando personagens, situações e elementos nunca existentes. O filme nada mais é , que uma clara homenagem a tudo que já foi feito no cinema, e, acima de tudo, uma obra de ''auto -homenagem'' pois mostra a II Guerra pelos pensamentos insanos e divertidos de Tarantino.

Logo de início, o filme tem o logotipo de Tarantino, com os créditos iniciais ao som de uma música que nos remente a Kill Bill, e letras que o cineasta usa como sempre em seus trabalhos. Com a divisão de capítulos de sempre, o filme conta a história de um grupo de soldados liderados pelo tenente Aldo Raine( Brad Pitt), que têm um objetivo apenas: matar nazistas e arrancar seus escalpos(e acreditem, essa última parte é mostrada de maneira bem explícita =D). Em outro hemisfério da trama, gira o plano de vingança de Shosanna Dreyfus, dona de um cinema(Mélanie Laurent), que assistiu a família ser morta pelo ''Caçador de Judeus" Coronel Hans Landa(Christoph Waltz), e planeja sua vingança . Esses dois hemisférios seguem numa rota de encontro, que o filme se encarrega de contar. E conta muito bem. Todo o caminho que o roteiro traça para que suas duas horas e meia se completem não é demorado ou complicado. As cenas, em si, não são muitas, porém longas,mas nem um pouco cansativas.

O roteiro, aliás, é um dos mais corajosos já feitos no que diz respeito a ''respeito aos fatos ocorridos''. Como dito no início desse texto, é preciso ter muita personalidade, coragem e criatividade para fazer um filme como esse surgir. Tratar de temas tão famosos como o nazismo e a Guerra de maneira particular é coisa de gênio. O filme não se inibe, por exemplo, em mostrar várias vezes, a figura de Hitler, como personagem, o que geralmente não se faz em filmes, livros ou quadrinhos que tratam o tema nazismo. O maior trunfo deste filme portanto é o roteiro, que reescreve muitas páginas da História à moda de Tarantino, como um nerd gostaria de ver.Por falar em nerd, aliás, o diretor honra sua nerdice, e faz referências incessantes ao cinema. As soluções, os motivos ,as desculpas, tudo tem um esbarrão cinematográfico. Quando um personagem diz ser quem não é, por exemplo, usa como desculpa '' eu participei do filme tal...você não viu?". Todas essa referencias incomodariam se fossem colocadas por um outro realizador, mas sendo colocadas de maneira jeitosa e divertida, elas ajudam o filme a ficar muito mais cool.

A direção de Tarantino também já tem suas marca registradas. Uma delas é o modo caricato e seco como mostra cenas de violência e mutilação. Outro ponto que já conhecemos de sua direção mas que não nos cansamos de ver são os closes nos personagens. Não fica aquela coisa artificial. Toda a cena que os closes são empregado são de ápice dramático, e esse ''truque'' de direção simples e antigo funciona muito bem, principalmente nos filmes desse diretor. O diretor também consegue instigar o espectador ao máximo com seu suspense. Há cenas em que se sabe que algo brutal vai acontecer, e por isso, como um sádico, Tarantino deixa as cenas mais e mais extensas, sem muitos movimentos de câmera, para que no clímax, ocorra o que se esperava.

Outro ponto mais que positivo do filme foram as escolhas de atores. Brad Pitt foge do seu papel comum de galã, e faz um personagem caricato e sensasionalmente engraçado. São em papéis assim que os atores honram seus nomes já feitos. Outro que rouba as cenas que participa é Christoph Waltz. Impressionante sua intepretação do vilão Hanz Landa. Mostra como um nazista matador de judeus consegue manter sua classe, pompa, bom humor e crueldade todos em uma só persona.Digno de Oscar.(vamos prestar atenção na premiação do ano que vem) Uma grande atriz também é colocada em evidência, não só pela sua beleza estonteante. Ela é Mélanie Laurent, que tem muita carga dramática no filme, e leva o trabalho com uma seriedade e talento únicos. É mais uma que agora tem um destaque maior, e merece receber mais chances pois tem talento. O resto do elenco também é sensasional, e são fundamentais no filme.

Analisando todos os pontos afinal, não encontro defeitos visíveis a Bastardos Inglórios, um dos melhores filmes do ano com certeza. E com todo o seu contexto e coragem, pode ser definido como a obra-prima de Quentin Tarantino (superando inclusive Kill Bill.). E ser a obra - prima de alguém como ele, não é pouca coisa.

5 estrelas*****

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Distrito 9

A Ficção do momento dá um gosto de decepção.

Realmente é de cair o queixo o bom rendimento de Distrito 9 obteve nas bilheterias. Com uma produção de orçamento baixo o filme conseguiu quase quadriplicar o valor do orçamento inicial( de 30 milhões) apenas nos EUA. Um fator da grande atenção e dos holofotes virados á essa produção se deve ao nome de Peter Jackson , que apadrinhou o diretor estreante em longas(Neill Blomkamp) e produziu o filme.Inicialmente, eles eram cotados pra trabalhar em uma adaptação do game Halo, da Microsoft, que, por problemas com o orçamento, foi cancelada, e substituída quase em última hora por Distrito 9, filme baseado no curta realizado por Blomkamp.

E que genial é essa trama inicial de Distrito 9. Sem dúvidas teria vindo para revolucionar todos os outros anteriores do gênero. Colocando um contexto até mesmo político na trama. O filme começa sem muito alarde, mostrando logo de cara que é para ser encarado como um documentário falso sobre acontecimentos decorrentes de uma parada de uma nave alienígena sobre a capital da África do Sul, Joansburgo. O início é espetacular, e mostra com todo o cuidado e calma os eventos, suas consequencias e perigos. Os áliens, achados em condições precárias dentro da nave , são transferidos para um lugar como ''um campo de refugiados'' denominado Distrito 9. Entretanto o relacionamento entre áliens e seres humanos na região fica difícil, com muitos conflitos e problemas. Assim,depois de 20 anos desde a chegada da nave, o governo prepara um plano para transferir toda essa população álien para um outro campo, afastado da cidade.

Essa trama de início, como uma sinopse, é muito boa. Mostra uma referência óbvia porém muito bem colocada ao Aparteid.Colocar áliens é mostrar com imagens o que talvez um discurso não conseguisse. Dessa premissa, esperamos uma história de drama desse povo extra-terrestre, suas dificuldades de relacionamento com os humanos e sua vontade de voltar para casa. Blomkamp nos dá esse gosto, colocando de início todos os problemas e toda a ambientação da trama . Faltava apenas desenrolar o resto. Mais foco dramático, talvez um embate entre as duas raças e o problema do retorno dos E.Ts pra casa. Entretanto, ele nos tira o doce da boca e vira a trama em cima de um personagem um tanto descabido e que tira a trama do seu foco mais legal. Wikus van de Merwe( o bom Sharlto Copley) é o trabalhador da MNU( um tipo de ONU para relações alienígenas) que fica encarregado como chefe da operação de transferimento dos áliens para o novo local. Esse personagem foi o início do erro do cineasta. Um protagonista seria nocivo para o desenvolvimento da trama, pois toda atenção seria desviada a ele. Assim foi. Pelos meados do filme, Wikus já tinha se tornado o cern da história. Suas implicações mais fúteis ainda, se comparadas ao grande drama de ficção que Blomkamp poderia ter tornado esse filme se desse mais atenção a didática do E.Ts. Contudo, ele coloca um protagonista com problemas ''sérios". É quando Wikus é infectado pelos áliens e começa a ser perseguido pelo governo,que quer coloca-lo sob testes, pois obtendo dois DNAs, ele pode manusear as armas potentes dos áliens.

Deste modo, o filme fica condenado, dando 80% da atenção aos problemas do protagonista e o resto a trama dos áliens. Mas o bom espectador sabe o que é melhor assistir. E não é a trama de controle bélico com certeza. A partir daí, o filme se restringe a um grande filme de ação, com uma sequencia final monstruosamente agitada e violenta( a censura dar apenas 14 anos foi estranho)com uma batidíssima cena de sacrifício do herói.

Descrever a direção como um só é um tanto difícil, se tratando de um filme que apresenta uma boa parte de documentário. Mas sem dúvidas, o estreante é um ótimo diretor de ação. Não acrescenta nada muito revolucionário aos tipos de direção já existentes, mas registra tudo sem perder nada e só aumenta o ritmo.Fora isso ele consegue simular bem um documentário.Sem parecer artificial. Outro quesito técnico que merece distinção é o visual do filme. O clima quente de Joanesburgo é bem capturado , e a fotografia nessas cenas externas é maravilhosae quase consegue no passar o calor real. Em cenas internas,o diretor de fotografia Trent Opaloch opta por um tom esbranquissado, que dá um tom maravilhoso, mesmo já tendo sido usado antes em outros diversos filmes.

Uma observação a técnica do filme também deve se destacar pelos efeitos especiais. Com pouco orçamento, os efeitos tanto de naves como de seres extraterrestres são maravilhosos. Os detalhes dos ''camarões'', apelido dos seres, são ótimos, e não devem nada a muita superprodução por aí. Por falar nisso, em comparação com filmes de orçamento um pouco mais alto como Presságio, Distrito 9 se sobressai facilmente em relação aos efeitos. Tudo bem que sendo o dono da Weta o produtor do filme, os efeitos dos camarões devem ter sido feitos com um preço camarada.

Fica então o meu desejo de que esse filme tivesse sua parte do meio para o fim inteira refeita, pois é um tema muito bom, mas mal executado pela falta de coragem e visão a longo prazo de Neill Blomkamp. É uma pena. Mais um dos tantos lamentos cinematográficos.

3 estrelas***

sábado, 17 de outubro de 2009

Os Estranhos

Bryan Bertino peca em escrever algo baseado em clichês.

Geralmente, no primeiro trabalho de vários diretores, o terror é usado como base pro roteiro. Por ser um gênero fácil de ser executado, ele ainda pode ser feito com baixos orçamentos. Em alguns casos, dá certo como em Cabin Fever, de Eli Roth. Em outros, dá errado demais como em Jogos Mortais, de James Wan.

Acredito que Bryan Bertino tenha puxado mais pro caso que deu errado. Em Os Estranhos, Bertino acerta em apostar num terror mais psicológico, mas erra fatalmente em cobrir as situações, já inverossímeis, com clichês aos montes. Em outros filmes, como 1408 e O Nevoeiro, as situações aterroradoras envolvidas com o psicológico humano, muito longe daquele gore de Jogos Mortais, funciona. Mas Bertino nunca poderia ser Haneke ou Darabont em seu primeiro longa.

A trama começa com um casal chegando numa cabana, bem escondida, no meio do mato. Depois que chegam, poucos diálogos são trocados. Com o tempo, decobrimos que Kristen(Liv Tyler) e James(Scott Speedman) estão brigados por uma recusa dela ao pedido de casamento de James. Após uma reconciliação, principalmente devido a fragilidade de Kristen e a carência de James, o casal volta ás boas. E é durante isso que um estranho grupo de pessoas mascaradas entra em sua casa, fazendo barulhos estranhos, deixando bilhetes escritos e assustando o, agora vulnerável, casal.

Com esse começo com um bom desenvolvimento de personagens, o filme prometia tomar um rumo bem legal, com interação de diálogos competente e aquela premissa do terror psicológico. Mas tudo toma um rumo diferente do competente, indo ao terrorzinho barato.
As atuações do filme são realmente razoáveis. Scott Speedman continua um ator limitado e Liv Tyler, apesar de ter competência e começado o filme atuando muito bem, resolveu tomar o rumo de mocinha-de-terror-que-berra-de-medo. Pode até julgar que isso se deve á fragilidade de Kristen depois da briga, mas não justifica os gritos de medo que todo terror tem. Scott Speedman também começa bem, mas resolve ir para o mesmo rumo de sempre. As outras atuações são todas meramente dispensáveis, afinal são 3 maníacos e o amigo de James.

Tecnicamente, o filme não faz totalmente feio. Com uma direção visivelmente iniciante, Bertino impressiona. Seu estilo "câmera na mão" dá mais realismo nas cenas, deixando ela meio tremida. Seu posicionamento de câmera também é bem interessante, explorando bastante o ambiente. A trilha sonora do grupo Tomandandy é normal demais, aderindo ao clichê que cerca a trama. Sua trilha, subindo a qualquer momento pra dar aquela impressão de susto, não impolga e só se mostra uma cópia idêntica as outras trilhas de terror. Já a fotografia de Peter Sova é ruim demais. Se em Push ele registrou Hong Kong com um olhar urbano e único, aqui ele opta por apenas pôr tudo escuro e botar pra filmar. E essa iluminação escura prejudica o filme, apesar de ocultar os maníacos bem. Com esse trabalho, ele põe sua competência em risco. A edição de Kevin Greutert é ágil, dando um ritmo mais rápido á trama arrastada. Não é um primor, mas facilita várias vias de entretenimento do filme, como o suspense.

O roteiro de Bertino é, ao mesmo tempo, um defeito e um acerto. No início, como já mencionei, a construção de personagens é notável. Mas depois o clichê, que assombra até os quesitos técnicos do filme, aparece. As pequenas situações de desespero do casal são previsíveis demais. Confesso que previ 3 ou 4 vezes o que um dos protagonistas ia tentar fazer. Sempre tem uma arma na casa, sempre tem um meio de comunicação sem ser o celular(que, obviamente, já foi devidamente inutilizado pelos maníacos) e sempre tem tramas paralelas a serem resolvidas. Em alguns momentos, fiquei revoltado com a mania de colocar objetivos a serem feitos, como os da arma e do meio de comunicação. Essa fórmula já foi muito usada no gênero terror e nunca deu certo. Se deu certo, foi na mídia dos Jogos computadorizados e em jogos de sobrevivência.

Apesar do filme colecionar mais erros que acertos, é interessante notar que Bertino tem potencial. Num drama, por exemplo, ele poderia fazer um trabalho mais bem acabado e digno de se apreciar. Até mesmo num terror ele pode fazer melhores trabalhos futuramente. Nessa trama explicitamente igual a de Violência Gratuita, Bertino poderia ter optado por mais interação de personagens e menos sustinhos previsíveis. Mas valeu pelo teste, que ele ouça a crítica e aprenda na próxima.

A única coisa que me assombra de verdade nisso é o final deste filme. Acredito que se a sequência já planejada(o filme custou 9 e arrecadou 90 milhões em solo americano) seguir os fatos do primeiro filme, ele só perderá mais pontos futuramente. E isso é bem possível, acredite. O povo americano adolescente é louco por um terror com sustos ridículos. Tá aí Jogos Mortais, em seu sexto exemplar, pra provar isso.

** 2 Estrelas

terça-feira, 13 de outubro de 2009

9 - A Salvação

Com roteiro diferenciado e boa direção, 9 tem bom desempenho.

Antes de começar a crítica do filme em questão, é preciso fazer uma observação: Meu objetivo inicial ao ir ao cinema não era assistir 9 - A Salvação, mas sim ao novo filme de Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios. Pela censura 18 anos , fui barrado na entrada e entrei num filme que nem queria, mas era o único que havia. Assim, vamos a crítica de 9, deixando o filme de Tarantino pra quando der.

Sendo assim, podemos vislumbrar desde início a enrascada que 9 se meteu, competindo com estréias de peso como Distrito 9 e Bastardos Inglórios na mesma época de seu lançamento. Muita pouca gente se interessou no filme, e quem se interessou pensou em ver apenas mais uma animação fraquinha sem potêncial algum além de levar os espectadores ao sono. Isso é injusto, já que temos aqui uma animção diferenciada e corajosa. O tema e o pano de fundo já nos revelam isso: Num futuro pós apocalíptico, as máquinas ganham uma guerra contra os humanos, extintos, e a salvação do mundo fica na mão de alguns bonecos, criados por um cientista, que ganham vida.

Um desses bonecos é 9, o personagem que acompanhamos desde o início. Ao longo do filme ele encontra outros semelhantes, e juntos tramam alguns planos e investidas para ganhar das máquinas e tornar o mundo reabitável. Essa premissa é realmente um trunfo das animações. Colocar esses elementos em uma animção não é fácil, ainda mais com elementos mais assustadores (assustadores para uma animação.) e um clima mais pesado e adulto. Isso ajuda a explicar a censura que não foi livre aqui no Brasil. Mas um dos fatores que faz com que 9 não alçe voos maiores talvez seja a falta de habilidade de se trabalhar com uma trama que se tem em mãos e adicioná-la detalhes. Em alguns momentos do filme falta a calma e paciência para que as doses de drama se elevem. Do modo que foi feito, o filme ficou meio apressado demais. Me agradam cortes rápidos e sem muita enrolação, mas parece que 9 não se preocupou em criar muitos elos entre os personagens, nem os motivos desses elos ( a ajuda mútua no meio do caos)
nem ao menos se preocupou em desenvolver mais os próprios personagens( O que seria muito interessante pela revelação no final de onde eles foram originados.). Ao invés disso, aumentou cenas de aventura e ação. Mas ora, se o filme é especial pois tem seus dotes artísticos, pra que então tentar dá uma de blockbuster? Fora isso, as revelacões finais e seus resultados pra trama estão de parabéns, muito inovadores e originais.

Quanto a direção, tiro o chapéu para Shane Acker: Ele dirige ação muito bem, balançando a tela e introduzindo os espectadores de uma forma realista que nehuma outra animação nesse estilo já fez. Em cenas paradas ele utiliza closes muito bem, e não fazem seus personagens repetitivos, mesmo sendo bonecos. A única coisa que atrapalha sua direção é o seu pano de fundo. Afotografia deixa de ser noir, e passa a ser meio escura, com um tom ruim.

Num arrematado geral, 9 inova muito, tem um roteiro estrutural muito bom, mas peca aao desenvolve-lo. Não era preciso. O filme tem apenas 79 minutos. Mais calma e cabeça da próxima vez, Shane Acker!

3 estrelas***

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A Verdade Nua e Crua

Gerard Butler e mais uma comédia romântica desnecessária.

É incrível a insitencia dos produtores de Hollywood em criar novas comédias românticas todos os anos, mudando apenas os atores (e algumas vezes nem tendo a decência de fazer isso, como em Eu odeio o Dia dos Namorados, de 2009)e os assuntos, por que do resto, já sabemos tudo, tendo uma vidência sem precedentes com esses filmes. Resta-nos a rir de algumas piadas e ponto.

A Verdade Nua e Crua, portanto, não tem os requisitos básicos para fazer nem rir, pelo menos não para alguem inteligente. Os motivos desse desagrado são muitos, a começar pela trama fraca e uma das mais previsíveis que já vi. A bela Katherine Heigl interpreta Abby Richards, a produtora de TV bem sucedida, que tem conselhos para seus coordenados quando ficam nervosos e tem o controle de tudo sobre seu programa. Porém, quando o calhorda mulherengo Mike Chadway( Gerard Butler) é contratado por sua emissora, ela precisa lidar da melhor forma possível com esse homem que fala do que os homens gostam, e como a cabeça masculina funciona. A partir dessa premissa, podemos pensar no que o filme poderia inovar- mas não inovou.

Um dos diferenciais que esperava com minha pobre ilusão era o desligamento amoroso completo dos protagonistas, apenas com as dicas de relacionamento dele, ajudando ela. Entretanto, o filme cai nos clichês românticos, com descobertas, desencontros entre os protagonistas.Você muito provavelmente já deve ter visto isso antes, algumas...milhares de vezes. Não os culpo. Realmente, se tratando de uma comédia romântica que já nasce fraca, que visa apenas dinheiro e nem um pouco de arte, seria idiotice minha querer algo profundo de um filme desses. Mas pelo menos um diferencial, algo que fosse mais a comédia, e restringisse o romance apenas ao assunto principal não seria pedir demais.

Aliás, o fator cômico dessa ''comédia'' está em baixa. Não que as piadas não sejam boas. Elas são até razoáveis, com boas tiradas, mas a falta de inteligencia dos organizadores do filmes desmoronam um possível ponto positivo. Todas as piadas e tiradas mais criativas ou menos iguais ao resto já tinham sido mostradas no trailer. E pior: Praticamente na ordem que aparecem no filme. Ouso a dizer que o filme é o trailer , com cenas excluídas mais longas e com um desfecho. Pra resumir, o único ponto que esboçei um sorriso foi num momento de humor físico meia boca de Katherine Heigl. Ah, ri outras vezes no filme também. Mas foi por causa da falta de competencia e originalidade dos criadores dele.

O diretor, por exemplo, não consegue imprimir seu ritmo é realmente imcompleto. Logo de início, na primeira cena interna do filme(no escritório da emissora), ele começa a girar a câmera em volta dos personagens, com o objetivo de dar dinâmica na cena e fazer os espectadores entrarem no ritmo filme. Ele, no entanto,não consegue. A sensação que ele conseguiu me fazer sentir naquela sequencia foi algo semelhante a náuseas. Incompleto também, pois não consegue dirigir cenas mais agitadas, como uma mera dança. Os atores saem do enquadramneto da câmera, pela falta de habilidade do diretor em segui-los.

Sinceramente, as únicas duas coisas que conseguiram algo realmente positivo no filme para mim foram: A beleza de Katherine Heigl, e os créditos finais com a música Right Round. Essa música, por assim dizer, também não é original do filme. Já foi utilizada anteriormente nos maravilhosos créditos finais de Se Beber Não case. Essa sim é uma boa comédia.
1 estrela*

domingo, 4 de outubro de 2009

Senhor das Armas

Andrew Niccol, Nicolas Cage e um dos melhores roteiros já feitos.

Nicolas Cage sempre foi um ator requisitado pelo mercado Hollywoodiano. E, quando vai fazer um de seus blockbusters mega-milionários, ele é um ator limitado, sofrível e sem talento algum. Em O Vidente, por exemplo, ele atua pior do que um amador. Quando resolve fazer algo mais artístico, com orçamentos menores, Cage alterna entre bons projetos e péssimos projetos. Do seu lado mais artístico e cult, saiu o ridículo O Sacrifíco. Mas também saiu sua indicação pro Oscar, por Despedida em Las Vegas.

Senhor das Armas é tido por muitos leigos como um blockbuster. Ainda mais quando se vê um poster, um dos mais bem elaborados da história, que compõe Cage com balas de diferentes calibres. Pra esses leigos, é um filme de ação com Nicolas Cage. Para quem se aproxima do filme e o vê esperando um drama, é o novo projeto do excelente Andrew Niccol.

Yuri Orlov(Cage) está numa zona de Guerra, com milhares de cápsulas de balas aos seus pés.
Ele, com terno sofisticado e maleta de executivo, parece não pertencer á aquele mundo. Então ele começa um pequeno discurso, que não merece ser falado aqui por ser extremamente espetacular e pra não estragar essa ótima demonstração de bom roteiro. Com esse discurso, ele se apresenta como traficante de armas e dali, o filme parte para o início de Yuri, em 1982. A partir daí, ele fala de seu conturbado relacionamento com o irmão Vitaly(Jared Leto), sua paixão imensa por Ava(Bridget Moynaham) e seu jogo de gato-e-rato com o agente da Interpol Jack Valentine(Ethan Hawke).

Senhor das Armas é, de fato, um dos filmes mais impactantes já feitos. E as atuações condizem bem com isso. Nicolas Cage aqui é ator artístico, diferente de tudo que ele já fez. Ele emociona com sua brilhante atuação, algo que me deixou embasbacado, tamanha a limitação em outros trabalhos comparando com esse. Jared Leto, cuja única boa interpretação tinha sido em Réquiem para um Sonho, faz seu segundo trabalho competente. Angustiado e a toda hora com olhos revirados ou inchados, ele retrata com destreza o distante e viciado em drogas Vitaly. Bridget Moynaham acrescenta pouco, mas faz bem o pouco que é destinado a Ava Fontaine nas telas.
Mas o ator que rouba o filme é Ethan Hawke. Aqui, o ator limitado com cara de mocinho arrebenta. Seu cínico e determinado Jack é simplesmente cativante. Ele constrói o personagem com uma personalidade forte e bem durona, mas sem sair da lei.

Construção de personagens. Tá aí um dos grande trunfos do roteiro de Andrew Niccol. Com uma calma invejável, Niccol dá detalhes ínfimos sobre cada personagem, fazendo com que conheçamos eles melhor do que ninguém e dando ao espectador a possibilidade de discutir sobre eles com segurança. Outro trunfo do roteiro são os diálogos. Disparados pra qualquer um com acidez, eles são objetivos e precisos, com um intuito em cada palavra. Nada ali é falado á toa.
Quando Yuri começa a falar em sua narração em off, é perfeito. Essa narração é crucial pro filme, determinando os sentimentos dele e apresentando o público como confidente.

Nos quesitos técnicos, o filme imprime qualidades diversas. A direção de Niccol é excelente e explora muito bem o espaço da cena. Nas cenas de carro, por exemplo, ele mostra a cena pelo símbolo da Cadillac. Excelente e genial. A edição de Zach Staenberg é muito boa. Ela faz com qe o filme fique tenso em algumas partes e de um humor negro incrível e bem sacado em outras. A trilha sonora de Antonio Pinto é um espetáculo á parte. As músicas pops vão de Buffalo Springfield a Leonard Cohen, todas curiosíssimas. Mas não apenas a trilha montada é espetacular. Quando as músicas compostas por Antônio entram na tela é ótimo. São intensas e com um tom neo-clássico inovador. A fotografia de Amir Mokr dá um tom honesto ao filme, com momentos escuros, lembrando filmes independentes, o que cabe muito bem aqui.

Honesto, profundo e sem igual. Senhor das Armas merecia ser um filme mais visto pelo público por tudo o que ele representa. Seus diálogos são mais dolorosos que os tiros das metralhadoras do filme.
Parabéns ao corajoso Andrew Niccol, que chocou o público com um filme tão arrebatador.

***** 5 Estrelas