Andrew Niccol, Nicolas Cage e um dos melhores roteiros já feitos.
Nicolas Cage sempre foi um ator requisitado pelo mercado Hollywoodiano. E, quando vai fazer um de seus blockbusters mega-milionários, ele é um ator limitado, sofrível e sem talento algum. Em O Vidente, por exemplo, ele atua pior do que um amador. Quando resolve fazer algo mais artístico, com orçamentos menores, Cage alterna entre bons projetos e péssimos projetos. Do seu lado mais artístico e cult, saiu o ridículo O Sacrifíco. Mas também saiu sua indicação pro Oscar, por Despedida em Las Vegas.
Senhor das Armas é tido por muitos leigos como um blockbuster. Ainda mais quando se vê um poster, um dos mais bem elaborados da história, que compõe Cage com balas de diferentes calibres. Pra esses leigos, é um filme de ação com Nicolas Cage. Para quem se aproxima do filme e o vê esperando um drama, é o novo projeto do excelente Andrew Niccol.
Yuri Orlov(Cage) está numa zona de Guerra, com milhares de cápsulas de balas aos seus pés.
Ele, com terno sofisticado e maleta de executivo, parece não pertencer á aquele mundo. Então ele começa um pequeno discurso, que não merece ser falado aqui por ser extremamente espetacular e pra não estragar essa ótima demonstração de bom roteiro. Com esse discurso, ele se apresenta como traficante de armas e dali, o filme parte para o início de Yuri, em 1982. A partir daí, ele fala de seu conturbado relacionamento com o irmão Vitaly(Jared Leto), sua paixão imensa por Ava(Bridget Moynaham) e seu jogo de gato-e-rato com o agente da Interpol Jack Valentine(Ethan Hawke).
Senhor das Armas é, de fato, um dos filmes mais impactantes já feitos. E as atuações condizem bem com isso. Nicolas Cage aqui é ator artístico, diferente de tudo que ele já fez. Ele emociona com sua brilhante atuação, algo que me deixou embasbacado, tamanha a limitação em outros trabalhos comparando com esse. Jared Leto, cuja única boa interpretação tinha sido em Réquiem para um Sonho, faz seu segundo trabalho competente. Angustiado e a toda hora com olhos revirados ou inchados, ele retrata com destreza o distante e viciado em drogas Vitaly. Bridget Moynaham acrescenta pouco, mas faz bem o pouco que é destinado a Ava Fontaine nas telas.
Mas o ator que rouba o filme é Ethan Hawke. Aqui, o ator limitado com cara de mocinho arrebenta. Seu cínico e determinado Jack é simplesmente cativante. Ele constrói o personagem com uma personalidade forte e bem durona, mas sem sair da lei.
Construção de personagens. Tá aí um dos grande trunfos do roteiro de Andrew Niccol. Com uma calma invejável, Niccol dá detalhes ínfimos sobre cada personagem, fazendo com que conheçamos eles melhor do que ninguém e dando ao espectador a possibilidade de discutir sobre eles com segurança. Outro trunfo do roteiro são os diálogos. Disparados pra qualquer um com acidez, eles são objetivos e precisos, com um intuito em cada palavra. Nada ali é falado á toa.
Quando Yuri começa a falar em sua narração em off, é perfeito. Essa narração é crucial pro filme, determinando os sentimentos dele e apresentando o público como confidente.
Nos quesitos técnicos, o filme imprime qualidades diversas. A direção de Niccol é excelente e explora muito bem o espaço da cena. Nas cenas de carro, por exemplo, ele mostra a cena pelo símbolo da Cadillac. Excelente e genial. A edição de Zach Staenberg é muito boa. Ela faz com qe o filme fique tenso em algumas partes e de um humor negro incrível e bem sacado em outras. A trilha sonora de Antonio Pinto é um espetáculo á parte. As músicas pops vão de Buffalo Springfield a Leonard Cohen, todas curiosíssimas. Mas não apenas a trilha montada é espetacular. Quando as músicas compostas por Antônio entram na tela é ótimo. São intensas e com um tom neo-clássico inovador. A fotografia de Amir Mokr dá um tom honesto ao filme, com momentos escuros, lembrando filmes independentes, o que cabe muito bem aqui.
Honesto, profundo e sem igual. Senhor das Armas merecia ser um filme mais visto pelo público por tudo o que ele representa. Seus diálogos são mais dolorosos que os tiros das metralhadoras do filme.
Parabéns ao corajoso Andrew Niccol, que chocou o público com um filme tão arrebatador.
***** 5 Estrelas
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