Old School Nerds

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sábado, 17 de outubro de 2009

Os Estranhos

Bryan Bertino peca em escrever algo baseado em clichês.

Geralmente, no primeiro trabalho de vários diretores, o terror é usado como base pro roteiro. Por ser um gênero fácil de ser executado, ele ainda pode ser feito com baixos orçamentos. Em alguns casos, dá certo como em Cabin Fever, de Eli Roth. Em outros, dá errado demais como em Jogos Mortais, de James Wan.

Acredito que Bryan Bertino tenha puxado mais pro caso que deu errado. Em Os Estranhos, Bertino acerta em apostar num terror mais psicológico, mas erra fatalmente em cobrir as situações, já inverossímeis, com clichês aos montes. Em outros filmes, como 1408 e O Nevoeiro, as situações aterroradoras envolvidas com o psicológico humano, muito longe daquele gore de Jogos Mortais, funciona. Mas Bertino nunca poderia ser Haneke ou Darabont em seu primeiro longa.

A trama começa com um casal chegando numa cabana, bem escondida, no meio do mato. Depois que chegam, poucos diálogos são trocados. Com o tempo, decobrimos que Kristen(Liv Tyler) e James(Scott Speedman) estão brigados por uma recusa dela ao pedido de casamento de James. Após uma reconciliação, principalmente devido a fragilidade de Kristen e a carência de James, o casal volta ás boas. E é durante isso que um estranho grupo de pessoas mascaradas entra em sua casa, fazendo barulhos estranhos, deixando bilhetes escritos e assustando o, agora vulnerável, casal.

Com esse começo com um bom desenvolvimento de personagens, o filme prometia tomar um rumo bem legal, com interação de diálogos competente e aquela premissa do terror psicológico. Mas tudo toma um rumo diferente do competente, indo ao terrorzinho barato.
As atuações do filme são realmente razoáveis. Scott Speedman continua um ator limitado e Liv Tyler, apesar de ter competência e começado o filme atuando muito bem, resolveu tomar o rumo de mocinha-de-terror-que-berra-de-medo. Pode até julgar que isso se deve á fragilidade de Kristen depois da briga, mas não justifica os gritos de medo que todo terror tem. Scott Speedman também começa bem, mas resolve ir para o mesmo rumo de sempre. As outras atuações são todas meramente dispensáveis, afinal são 3 maníacos e o amigo de James.

Tecnicamente, o filme não faz totalmente feio. Com uma direção visivelmente iniciante, Bertino impressiona. Seu estilo "câmera na mão" dá mais realismo nas cenas, deixando ela meio tremida. Seu posicionamento de câmera também é bem interessante, explorando bastante o ambiente. A trilha sonora do grupo Tomandandy é normal demais, aderindo ao clichê que cerca a trama. Sua trilha, subindo a qualquer momento pra dar aquela impressão de susto, não impolga e só se mostra uma cópia idêntica as outras trilhas de terror. Já a fotografia de Peter Sova é ruim demais. Se em Push ele registrou Hong Kong com um olhar urbano e único, aqui ele opta por apenas pôr tudo escuro e botar pra filmar. E essa iluminação escura prejudica o filme, apesar de ocultar os maníacos bem. Com esse trabalho, ele põe sua competência em risco. A edição de Kevin Greutert é ágil, dando um ritmo mais rápido á trama arrastada. Não é um primor, mas facilita várias vias de entretenimento do filme, como o suspense.

O roteiro de Bertino é, ao mesmo tempo, um defeito e um acerto. No início, como já mencionei, a construção de personagens é notável. Mas depois o clichê, que assombra até os quesitos técnicos do filme, aparece. As pequenas situações de desespero do casal são previsíveis demais. Confesso que previ 3 ou 4 vezes o que um dos protagonistas ia tentar fazer. Sempre tem uma arma na casa, sempre tem um meio de comunicação sem ser o celular(que, obviamente, já foi devidamente inutilizado pelos maníacos) e sempre tem tramas paralelas a serem resolvidas. Em alguns momentos, fiquei revoltado com a mania de colocar objetivos a serem feitos, como os da arma e do meio de comunicação. Essa fórmula já foi muito usada no gênero terror e nunca deu certo. Se deu certo, foi na mídia dos Jogos computadorizados e em jogos de sobrevivência.

Apesar do filme colecionar mais erros que acertos, é interessante notar que Bertino tem potencial. Num drama, por exemplo, ele poderia fazer um trabalho mais bem acabado e digno de se apreciar. Até mesmo num terror ele pode fazer melhores trabalhos futuramente. Nessa trama explicitamente igual a de Violência Gratuita, Bertino poderia ter optado por mais interação de personagens e menos sustinhos previsíveis. Mas valeu pelo teste, que ele ouça a crítica e aprenda na próxima.

A única coisa que me assombra de verdade nisso é o final deste filme. Acredito que se a sequência já planejada(o filme custou 9 e arrecadou 90 milhões em solo americano) seguir os fatos do primeiro filme, ele só perderá mais pontos futuramente. E isso é bem possível, acredite. O povo americano adolescente é louco por um terror com sustos ridículos. Tá aí Jogos Mortais, em seu sexto exemplar, pra provar isso.

** 2 Estrelas

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