Old School Nerds

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Ultimato Bourne

Paul Greengrass finaliza franquia inteligente como poucas.

Nos dois primeiros filmes, Jason Bourne encarou todos os assassinos possíveis em perseguições frenéticas pelo mundo todo. Mas esse não era o principal trunfo dos dois excelentes filmes. As dores de cabeça do espião, o quebra-cabeça dentro da mente, pistas espalhadas por todo lugar e personagens cada vez mais desconhecidos e misteriosos cercavam Bourne e isso transformava os filmes em dois blockbusters realmente inteligentes, algo cada vez mais raro em Hollywood.

No final do segundo filme, Bourne descobre onde ele se baseava e o porque dele estar sendo caçado.
Nesse terceiro filme, que começa de forma não-linear na Rússia preenchendo lacunas deixadas no segundo, Bourne está mais maduro e passa por cima de todos os obstáculos para chegar em Nova York e descobrir o real porque dele ser matador da CIA.
É de se destacar que deve-se ver os dois primeiros pra ver o terceiro, um filme bem complicado. Por isso ele não tem uma sinopse bem definida, a trilogia só funciona quando vista inteira.

Paul Greengrass assumiu a franquia no segundo filme, repetindo a boa direção de Doug Liman no primeiro. Mas é só em Ultimato que Greengrass impõe seu ritmo interessante á direção. Sua câmera tremida nas cenas de ação é instigante, mas é nas cenas de drama que a direção se destaca. Ele nos põe como terceiro participante da conversa, inserindo o espectador no filme de forma calma e sem alarde.
O roteiro de Tony Gilroy, Scott Z. Burns e George Nolfi é muito bem amarrado, conduzindo a trama com ágeis diálogos e a ação habitual da franquia. É notável a capacidade do trio de fazer um roteiro com falatório de qualidade, mas sem se esquecer da ação. Tudo é frenético.
A direção de fotografia de Oliver Wood é um dos elementos mais bem utilizados. Cada perseguição urbana exige muito posicionamento da câmera e Wood consegue achar ângulos milimetricamente planejados em cenários comuns e difíceis, como um telhado. O clima de sua fotografia também é bem planejado, contemplando a cidade como ela mesma, sem excessos. A edição de Christopher Rouse é muito bem usada também, dando á trama um ritmo acelerado.

Mas um dos pontos de destaque é a trilha sonora. John Powell, um dos compositores mais competentes da atualidade cria algo ímpar. A tensão imposta pela sua trilha nas perseguições é algo pra todo mundo ficar nervoso. Genial.

As atuações do filme são todas boas e são fiéis á algumas marcas da franquia, como os matadores silenciosos aqui interpretado por Edgar Ramírez e Joey Ansar. Matt Damon novamente arrebenta como Bourne, dando um ar realista enorme ao conturbado personagem. Os coadjuvantes também atuam muito bem, como Julia Stiles e Joan Allen. As duas demonstram como uma mulher forte e determinada devem ser. Mas o grande ator coadjuvante do filme é David Strathairn, como Noah Vosen. Strathairn mostra o seu enorme talento aqui como o vilão mais crível e motivado dos últimos anos. Vosen não é uma cara odiável, um vilão literal. Ele é só um homem que foca seu objetivo na morte de Bourne. Seu cinismo é notável. Ótima interpretação, equiparável a de Boa Noite, Boa Sorte.

Os efeitos especiais do filme são outro fator curioso. Eles existem, devem ser utilizados, mas o realismo visto na tela é tão grande que as perseguições nas cidades, seja a pé, de moto ou de carro, são verossímeis demais, com os efeitos sendo utilizados por necessidade, não por capricho ou beleza,
Um grande exemplo da harmonia perfeita de todos da equipe do filme é a sequência na Estação Waterloo, em Londres. A tensão imposta pelo roteiro e pelas atuações magnificamente reais é de se espantar. Greengrass filma tudo nos mínimos detalhes, auxiliado pela ágil edição e pela nervosa trilha sonora. Perfeição pura e simples, como raramente vista nas telas. Outra sequência ótima é a de Tangier, no Marrocos. As perseguições de moto e pelos telhados da cidade são muito bem executadas.
Greengrass mostra em Ultimato que é um dos melhores diretores da atualidade e demonstra uma enorme felicidade em suas escolhas de projeto. Esse thriller de espionagem pode ser considerado o melhor da história, afinal é uma combinação que não existe mais em Hollywood: Inteligência + Ação.

***** 5 Estrelas

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