Ron Howard sempre foi um diretor requisitado e, por vezes, versátil. Mas também sempre trabalhou com extremos, com sua versatilidade ser sinônimo de dúvida.
Explico. Quando se limita as fórmulas de Oscar, Howard não faz feio. Com Apollo 13, Cinderella Man e A Beautiful Mind, ele acumulou carecas dourados. Mas quando decide dirigir algo diferente, como ação, saem películas fracas com O Código da Vinci e Anjos e Demônios.
Pra um diretor que só é competente quando segue a fórmula, Frost/Nixon veio como uma prova de fogo.
Na trama costurada com esmero pelo dramaturgo Peter Morgan(A Rainha, O Último Rei da Escócia), são narrados os preparativos e fatos principais da famosa e requisitada entrevista do apresentador David Frost e o ex-presidente americando Richard Nixon. Durante toda a entrevista, um verdadeiro duelo de personalidades é travado. O conservador Nixon é o total oposto do liberal e astuto Frost.
Para esse teste, principalmente sobre sua competência, Howard contou com uma talentosa equipe. A trilha sonora de Hans Zimmer é soberba como sempre, provando que ele é um dos compositores mais talentosos da história. A fotografia de Sal Totino é bem curiosa: ela representa o subúrbio americano, local da entrevista, como ele mesmo, sem maquiagens. A edição de Mike Hill é precisa e consegue impor um grande ritmo á trama.
Quanto aos atores, Howard também escolheu um casting matador. Nos coadjuvantes, ele conta com brilhantes atores como o contido Kevin Bacon, o estranho e maravilhoso Toby Jones e o versátil e sínico Sam Rockwell. Sem falar em Oliver Platt, que faz uma boa participação. Mas, num filme como esse, tudo é levado pelos protagonistas. E é aí que Frost/Nixon cresce mais ainda. Michael Sheen é talentoso e está em sua melhor forma aqui. Seu Frost é inseguro, inocente e, por vezes, confuso. Ele transmite muito bem qual é a parte dele na entrevista. Já Frank Langella está impecável. Um Nixon perfeito, com os trejeitos do verdadeiro ex-presidente. Langella faz tudo parecer fácil e atua como há muito tempo não via alguém assim. Sua competência é enorme. Justíssima indicação ao Oscar.
Com uma equipe sem falhas, Howard tinha de fazer a parte dele. E é por sua bela direção que Howard não é mais um alvo de piadas para mim. Ele demonstra seriedade, competência e consegue o equilíbrio entre aquele feijão-com-arroz do Oscar e aquela versatilidade de Anjos. Como poucas, sua direção é calma e lembra muito a de Darren Aronofsky em O Lutador, com takes por trás do personagem.
O roteiro de Peter Morgan também é ótimo e faz com que o filme tem o melhor ritmo que possa ser imposto por um filme lento como esse. A metralhadora de diálogos entre Frost e Nixon são ácidas e arrebatadoras. Por muitas vezes, sua entrevista mais parece uma luta e o subúrbio, um ringue. Tudo muito bem costurado pelas boas situações criadas por Morgan, como as pausas de entrevistas.
Por tudo ser feito com tanta seriedade e com tanto esmero, recomendo muito Frost/Nixon para aqueles que sejam cinéfilos. O público geral, como sempre, deverá detestar o ritmo lento do filme. Mas vale a pena. Ron Howard finalmente passou em seu teste, demonstrou ser algo além do normal. Ganhou indicações e prêmios, mas ganhou mais que isso: O respeito da crítica.
**** 4 Estrelas
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