Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge
O segundo trailer do terceiro filme da franquia de Christopher Nolan para o morcego está enfim na rede. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge tem uma prévia espetacular, depois do bombástico teaser lançado em agosto . A trama enfim começa a se desenhar com traços mais claros: Oito anos após os eventos de O Cavaleiro das Trevas , Bruce Wayne (Christian Bale) já aposentou o Batman faz tempo . Entretanto, uma ''tempestade'' - como diz Selina Kyle (Anne Hathaway) no trailer - está se aproximando de Gothan, prometendo destruição e carnificina. Ela se chama Bane (Tom Hardy) um adversário que ameaça o herói tanto por sua força física estupenda, quanto por seu avançado intelecto . A partir disso, Wayne precisa trazer o Batman de volta, para salvar a cidade de um destino trágico . Com todo seu potencial épico, o vídeo traz frases marcantes, além da cena da implosão do estádio - parte que dispensa comentários . ''Quando a cidade virar cinzas, você terá minha permissão para morrer'' diz Bane a Bruce . A lenda termina em 2012, e nós não temos a permissão perder esse lançamento.
Fúria de Titãs 2
Parece que Jonathan Liebesman não ficou satisfeito em quase provocar suicídio coletivo com Battle LA : Ele já está de volta ás câmeras para dirigir Fúria de Titãs 2, filme que acaba de ganhar seu primeiro trailer . Usando a versão de Marilyn Manson para a belíssima música Sweet Dreams, hit dos anos 80, a prévia começa abusando - de maneira ineficaz -do tom épico . A trama trata da sequêcia do primeiro filme, e nela, Perseu ( Sam Worthington) precisa ajudar seu pai Zeus (Liam Nesson), já que os deuses vivem uma crise - como os humanos perderam sua fé neles, os moradores do Olimpo perdem suas forças - e estão em guerra com os Titãs, que são liderados por Cronos. Sequestrado por Hades(Ralph Fiennes) e Ares - que foram contratados por Cronos - Zeus só pode ser salvo por Perseu e seus companheiros . Realmente, a Warner tenta passar uma vivacidade muito grande com o vídeo, e busca aumentar a expectativa de qualquer jeito . Entretanto, quem já viu o trailer do primeiro filme, ou conhece brevemente Jonathan Liebesman, sabe que esses dois minutos podem muito bem ser mera enrolação, para uma verdadeira desgraça de cerca de duas horas .
Fornecendo críticas há 2 anos, o OSN é uma colaboração de Gabriel Papaléo e Joaquim Pedro, onde o Cinema é o assunto principal a ser analisado, debatido e admirado.
Old School Nerds
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Machine Gun Preacher
Unidimensionalizando o tridimensional.
Sam Childers está em um quarto, na África, com seu amigo Deng. Sabemos de sua causa comunitária ali, mas ali ainda não dá pra prever com certeza os caminhos que isso irá tomar. Sam sabe da terra de ninguém que é o Sudão e sabe, também, que a luta de Deng é pesada, violenta. Então, ele vê a arma do lado do amigo com certa casualidade. Pede para pegá-la nas mãos. Questiona sobre qual o problema dela. E o identifica de imediato. O sudanês pergunta, intrigado, como Sam sabe tanto sobre a Ak-47.
"Gosto de armas", diz o americano do Minnesota. Não necessariamente "entendo" ou "conheço", ele "gosta" de armas.
Emblemática, a passagem poderia ser descrita como a cena-chave de Redenção, o novo filme de Marc Forster, sobre o tal pastor da metralhadora do título original. Uma opção de simplificar (seja por incompetência ou por preguiça) um personagem que tende a ser bem vasto em suas facetas, o que não poderia ser pior em uma película que exige um apego emocional grande aos envolvidos. Se o Sam Childers da vida real é um caipira que usa o conhecimento das armas para lutar pelo que, certo ou não, acredita, o de Gerard Butler é um redneck maluco (com direito a moto invocada e tatuagem da Harley-Davidson).
Inclusive, a decisão da Imagem Filmes de encaixar um título edificante e genérico aqui pode funcionar como estratégia de marketing, mas é péssimo no contexto. "Redenção" é mais convidativo, mas já entra errado por apontar, de imediato, uma falha do projeto. O mais honesto, O Pastor de Metralhadora, poderia soar como um grindhouse dos mais cultuados, mas representaria mais o que é passado aqui. E falha se caracteriza porque de "redenção", o filme de Forster tem muito pouco.
Logo após o prólogo (que, em teoria, serviria para estabelecer a violência no Sudão mas não causa impacto suficiente), somos introduzidos aos créditos iniciais. Os reducionismos começam, ainda que tímidos. O preso, devidamente vestido de colete preto, sai para encontrar sua mulher, com maquiagem meio borrada. Ao final dos créditos, eles transam dentro do carro, de maneira exclusivamente carnal. Depois do sexo (um mero prazer que Sam havia perdido na prisão), ele pede um cigarro, em busca de outro prazer. Não há dúvida: Lynn não foi ali porque é a sua esposa, mas porque Sam precisava tirar o atraso. Essa tendência unidimensional no desenvolvimento de personagens atinge a metástase logo em seguida. Na cozinha de casa, quando descobre que sua mulher trabalha em uma fábrica agora, Sam grita "Por que largou a dança?! Você é só uma dançarina viciada!". Chega a ser inacreditável a passagem do roteiro pifiamente escrito por Jason Keller.
Se a preguiça em apresentar seus personagens já é tamanha, as elipses de Keller também são igualmente equivocadas. A história é daquelas absurdas demais para serem uma ficção, que soam realistas justamente pelo seu caráter surpreendente. Já no filme, a tal redenção parece só um passe de mágica. Cada evento importante da construção da virada do personagem é observado com pressa, sem ser absorvido. Sam mostra que não sofreu transformação nenhuma na prisão, afinal volta a cometer todos os erros que tinha em sua vida. Assalta, injeta doses de heroína, vai ao bar para arranjar briga. E, após a passagem do morador de rua, parece que se cansou. Porém, não parece que é a primeira vez que Sam mata alguém. Logo, não há impacto. A cena do batismo, que em teoria seria a mais importante do filme, acaba sendo mal realizada justamente porque nenhum desconforto, impacto ou laço afetivo aconteceu na meia hora anterior de projeção.
E se já é uma pena acompanhar as desperdiçadas situações criadas pelo roteiro, pior ainda é ver o personagem do título ser reduzido a um senso comum. Premeditada ou não, a canastrice de Gerard Butler acaba reforçando mais ainda a limitação de Childers. A ira espartana do escocês acaba funcionando (e nas partes emocionais, Butler não compromete), mas ao debater as implicações políticas e ideológicas do que está lutando, o protagonista acaba reduzido. É como tentar encaixar o cinema oitentista raso de ação a um discurso moral que se acha relevante. Mas no final, é equivocado tentar debater, sobre algo já difícil, de maneira rasa.
Utilizar de um fundo político para produções de ação não é novidade. Redenção, desde o trailer, parecia usar disso como Diamante de Sangue fez com a exploração dos diamantes. É a mania do thriller de ação que almeja soar "contemporâneo" apenas por dar razão á pancadaria. Nesse caso, Redenção só piora. Não almeja ser só um filme de ação; almeja ser um estudo de personagem, um drama de situação, uma história revigorante, um debate sociológico e um manifesto manjado anti-Guerra Civil ("Fomos esquecidos pelo mundo!"). Num apanhado geral, o título trash Pastor de Metralhadora faz mais sentido que tudo: no fundo, Redenção acaba sendo um grindhouse "de arte" dos mais involuntários. Chega a ser cômico quando Forster, demonstrando ter dirigido a película enquanto dormia, encaixa o quadro de Butler atirando com um lança-mísseis, logo após uma cena dramática.
Não satisfeitos em conduzir com desleixo a história, Keller e Forster ainda unidimensionalizam Childers de tal forma que o transformam em um idiota. Exímio estrategista, fã incondicional de armas, o americano não consegue prever armadilhas óbvias, como a das duas crianças inertes, que permaneciam assim mesmo depois de chamadas. Não é um mero detalhe. Confesso que previ o perigo assim que entrou a cena (e não foi porque a fraca trilha de Ascher & Spencer avisou). Childers está em uma guerra civil há anos; eu só joguei Call of Duty.
Fora isso, ainda retratam o protagonista como um homem desatento, já que o mesmo só percebe as implicações erradas do que faz depois que alguém o avisa. Childers só questiona sua violência depois que a médica inglesa o atenta para isso; só pensa em reconstruir a igreja depois que a mulher o liga; o americano só percebe que está exagerando na violência depois de bater em uma criança e esbravejar em um culto. É indubitável que o Sam Childers real é muito mais complexo. Seria simplesmente impossível um ser tão bem intencionado ser tão unidimensional na vida real.
Forster, por sinal, mais uma vez encaixa um bom olhar estético a história, devido a fotografia hiper-granulada do sempre competente Roberto Schaeffer. Porém, se a estética é bonita, não se pode dizer o mesmo das escolhas dramáticas do alemão. Decupando seus quadros com uma falta de cuidado surpreendente, o diretor cria incompetentes cenas de impacto, que diminuem a força do já fraco roteiro. O batismo é filmado com preguiça; o ataque ao mendigo é glamourizado e estilizado, quando deveria focar na emoção do protagonista ao ataque; as cenas de ação são caóticas e mal coordenadas. Forster só acerta quando investe em travellings manjados (como o bonito take de Butler na cruz da igreja) e quando conduz de maneira evasiva (como no raro momento de genuína emoção da película, a cena com o africano com a cicatriz no final). O impacto que Redenção poderia causa é imenso. Cenas como a da filha de Childers, chorando e falando "você ama mais suas crianças africanas que a mim", poderiam ser esplêndidas. Podendo ser ousado, questionador, o filme se limita ao primeiro patamar.
Pelo menos, o projeto ganha ritmo quando se concentra na tensão passada no Sudão. A cada vez que tenta ganhar dimensão dramática, Redenção fica pior. O que dizer da ridícula passagem em que Childers, quando já sabíamos do afastamento com a família, SE ESQUECE da data do aniversário da filha apenas para martelar a mensagem? E a coisa piora: era uma senha de cofre. Mas cada vez que a fotografia granulada se funde à paisagem árida dos desertos sudaneses, o filme se torna passável, já que na superfície ao menos funciona. Inclusive, sem a besteira do politicamente correto, o que sempre ajuda. Já como debate e retrato de uma figura curiosa e interessante, soa apenas imbecil.
Childers real pode ser o caipira caricato por natureza (o orgulho com que exibe a destreza ao atirar com uma mão só a shotgun é a síntese disso), mas é um caricato tridimensional. Pertence mais a um O Vencedor e O Poder e a Lei do que a um Redenção.
** 2 Estrelas - Fraco
Sam Childers está em um quarto, na África, com seu amigo Deng. Sabemos de sua causa comunitária ali, mas ali ainda não dá pra prever com certeza os caminhos que isso irá tomar. Sam sabe da terra de ninguém que é o Sudão e sabe, também, que a luta de Deng é pesada, violenta. Então, ele vê a arma do lado do amigo com certa casualidade. Pede para pegá-la nas mãos. Questiona sobre qual o problema dela. E o identifica de imediato. O sudanês pergunta, intrigado, como Sam sabe tanto sobre a Ak-47.
"Gosto de armas", diz o americano do Minnesota. Não necessariamente "entendo" ou "conheço", ele "gosta" de armas.
Emblemática, a passagem poderia ser descrita como a cena-chave de Redenção, o novo filme de Marc Forster, sobre o tal pastor da metralhadora do título original. Uma opção de simplificar (seja por incompetência ou por preguiça) um personagem que tende a ser bem vasto em suas facetas, o que não poderia ser pior em uma película que exige um apego emocional grande aos envolvidos. Se o Sam Childers da vida real é um caipira que usa o conhecimento das armas para lutar pelo que, certo ou não, acredita, o de Gerard Butler é um redneck maluco (com direito a moto invocada e tatuagem da Harley-Davidson).
Inclusive, a decisão da Imagem Filmes de encaixar um título edificante e genérico aqui pode funcionar como estratégia de marketing, mas é péssimo no contexto. "Redenção" é mais convidativo, mas já entra errado por apontar, de imediato, uma falha do projeto. O mais honesto, O Pastor de Metralhadora, poderia soar como um grindhouse dos mais cultuados, mas representaria mais o que é passado aqui. E falha se caracteriza porque de "redenção", o filme de Forster tem muito pouco.
Logo após o prólogo (que, em teoria, serviria para estabelecer a violência no Sudão mas não causa impacto suficiente), somos introduzidos aos créditos iniciais. Os reducionismos começam, ainda que tímidos. O preso, devidamente vestido de colete preto, sai para encontrar sua mulher, com maquiagem meio borrada. Ao final dos créditos, eles transam dentro do carro, de maneira exclusivamente carnal. Depois do sexo (um mero prazer que Sam havia perdido na prisão), ele pede um cigarro, em busca de outro prazer. Não há dúvida: Lynn não foi ali porque é a sua esposa, mas porque Sam precisava tirar o atraso. Essa tendência unidimensional no desenvolvimento de personagens atinge a metástase logo em seguida. Na cozinha de casa, quando descobre que sua mulher trabalha em uma fábrica agora, Sam grita "Por que largou a dança?! Você é só uma dançarina viciada!". Chega a ser inacreditável a passagem do roteiro pifiamente escrito por Jason Keller.
Se a preguiça em apresentar seus personagens já é tamanha, as elipses de Keller também são igualmente equivocadas. A história é daquelas absurdas demais para serem uma ficção, que soam realistas justamente pelo seu caráter surpreendente. Já no filme, a tal redenção parece só um passe de mágica. Cada evento importante da construção da virada do personagem é observado com pressa, sem ser absorvido. Sam mostra que não sofreu transformação nenhuma na prisão, afinal volta a cometer todos os erros que tinha em sua vida. Assalta, injeta doses de heroína, vai ao bar para arranjar briga. E, após a passagem do morador de rua, parece que se cansou. Porém, não parece que é a primeira vez que Sam mata alguém. Logo, não há impacto. A cena do batismo, que em teoria seria a mais importante do filme, acaba sendo mal realizada justamente porque nenhum desconforto, impacto ou laço afetivo aconteceu na meia hora anterior de projeção.
E se já é uma pena acompanhar as desperdiçadas situações criadas pelo roteiro, pior ainda é ver o personagem do título ser reduzido a um senso comum. Premeditada ou não, a canastrice de Gerard Butler acaba reforçando mais ainda a limitação de Childers. A ira espartana do escocês acaba funcionando (e nas partes emocionais, Butler não compromete), mas ao debater as implicações políticas e ideológicas do que está lutando, o protagonista acaba reduzido. É como tentar encaixar o cinema oitentista raso de ação a um discurso moral que se acha relevante. Mas no final, é equivocado tentar debater, sobre algo já difícil, de maneira rasa.
Utilizar de um fundo político para produções de ação não é novidade. Redenção, desde o trailer, parecia usar disso como Diamante de Sangue fez com a exploração dos diamantes. É a mania do thriller de ação que almeja soar "contemporâneo" apenas por dar razão á pancadaria. Nesse caso, Redenção só piora. Não almeja ser só um filme de ação; almeja ser um estudo de personagem, um drama de situação, uma história revigorante, um debate sociológico e um manifesto manjado anti-Guerra Civil ("Fomos esquecidos pelo mundo!"). Num apanhado geral, o título trash Pastor de Metralhadora faz mais sentido que tudo: no fundo, Redenção acaba sendo um grindhouse "de arte" dos mais involuntários. Chega a ser cômico quando Forster, demonstrando ter dirigido a película enquanto dormia, encaixa o quadro de Butler atirando com um lança-mísseis, logo após uma cena dramática.
Não satisfeitos em conduzir com desleixo a história, Keller e Forster ainda unidimensionalizam Childers de tal forma que o transformam em um idiota. Exímio estrategista, fã incondicional de armas, o americano não consegue prever armadilhas óbvias, como a das duas crianças inertes, que permaneciam assim mesmo depois de chamadas. Não é um mero detalhe. Confesso que previ o perigo assim que entrou a cena (e não foi porque a fraca trilha de Ascher & Spencer avisou). Childers está em uma guerra civil há anos; eu só joguei Call of Duty.
Fora isso, ainda retratam o protagonista como um homem desatento, já que o mesmo só percebe as implicações erradas do que faz depois que alguém o avisa. Childers só questiona sua violência depois que a médica inglesa o atenta para isso; só pensa em reconstruir a igreja depois que a mulher o liga; o americano só percebe que está exagerando na violência depois de bater em uma criança e esbravejar em um culto. É indubitável que o Sam Childers real é muito mais complexo. Seria simplesmente impossível um ser tão bem intencionado ser tão unidimensional na vida real.
Forster, por sinal, mais uma vez encaixa um bom olhar estético a história, devido a fotografia hiper-granulada do sempre competente Roberto Schaeffer. Porém, se a estética é bonita, não se pode dizer o mesmo das escolhas dramáticas do alemão. Decupando seus quadros com uma falta de cuidado surpreendente, o diretor cria incompetentes cenas de impacto, que diminuem a força do já fraco roteiro. O batismo é filmado com preguiça; o ataque ao mendigo é glamourizado e estilizado, quando deveria focar na emoção do protagonista ao ataque; as cenas de ação são caóticas e mal coordenadas. Forster só acerta quando investe em travellings manjados (como o bonito take de Butler na cruz da igreja) e quando conduz de maneira evasiva (como no raro momento de genuína emoção da película, a cena com o africano com a cicatriz no final). O impacto que Redenção poderia causa é imenso. Cenas como a da filha de Childers, chorando e falando "você ama mais suas crianças africanas que a mim", poderiam ser esplêndidas. Podendo ser ousado, questionador, o filme se limita ao primeiro patamar.
Pelo menos, o projeto ganha ritmo quando se concentra na tensão passada no Sudão. A cada vez que tenta ganhar dimensão dramática, Redenção fica pior. O que dizer da ridícula passagem em que Childers, quando já sabíamos do afastamento com a família, SE ESQUECE da data do aniversário da filha apenas para martelar a mensagem? E a coisa piora: era uma senha de cofre. Mas cada vez que a fotografia granulada se funde à paisagem árida dos desertos sudaneses, o filme se torna passável, já que na superfície ao menos funciona. Inclusive, sem a besteira do politicamente correto, o que sempre ajuda. Já como debate e retrato de uma figura curiosa e interessante, soa apenas imbecil.
Childers real pode ser o caipira caricato por natureza (o orgulho com que exibe a destreza ao atirar com uma mão só a shotgun é a síntese disso), mas é um caricato tridimensional. Pertence mais a um O Vencedor e O Poder e a Lei do que a um Redenção.
** 2 Estrelas - Fraco
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Margin Call
Opressivo suspense funciona, mas não vai além.
Lá para o meio do filme, Peter Sullivan (interpretado por Zachary Quinto) está em um táxi, se deslocando de um ponto para outro, nessa noite complicada. Nervoso com sua própria descoberta, Sullivan olha para as pessoas na rua, pela janela, apreensivo. Então, ele fala com seu amigo Seth: "Essas pessoas não têm ideia do que está por vir".
É sobre isso que Margin Call fala. Mas principalmente, é nesse nível que o mesmo opera. Tendo completa ciência sobre o evento que debate, o diretor e roteirista J.C. Chandor se revela muito habilidoso nas informações com que trabalha e na tensão que impõe, mas peca justamente em dar rosto ao acontecimento.
Logo no início, a atmosfera do longa se instala com facilidade. Eric Dale (Tucci) está em seu escritório trabalhando, com uma aparência serena mas com os ombros pesados, até ser chamado para uma sala á parte, devidamente preenchida com um headhunter. Após separar suas coisas, com certo pesar, Dale avista seu colega Sullivan (Quinto), a quem parece ter uma relação professor-aprendiz, e o avisa sobre um aplicativo em um pen drive, que seria bom dar uma olhada. Mas antes da porta do elevador fechar, Dale previne o amigo: "Cuidado com isso". Jogando uma interessante isca, o longa fisga o espectador logo aqui, ao introduzir o mistério que levará a trama á frente e ainda cria um clima essencialmente frio e profissional na história, o que reforça o caráter financeiro e técnico que Margin Call carrega até o fim.
E ao abrir o espaço para Zachary Quinto, o filme entra numa vertente diferente de exploração em filmes de corporações: a da hierarquia ás avessas. Basicamente, um empregado de baixo escalão acaba sendo o desbravador da cruzada de 12 horas para tentar salvar a firma que trabalha. Logo, as forças maiores são acionadas. Aquela executiva que vimos no início, interpretada por Demi Moore, acaba se tornando personagem chave mais tarde. Sem saber a quem recorrer, Sullivan fala com Rogers (Spacey). Sem saber também de muito ("Me explica em inglês claro!", diz ele após um dos cientificismos corriqueiros que o filme oferece), Rogers chama Cohen (Baker). Este que convoca a reunião geral que resolverá o problema por vir, com a chegada de John Tulid (Irons), o executivo-chefe da empresa. Á medida que essa hierarquia empresarial começa a aparecer, a película vai revelando sua verdadeira intenção: o de suspense cauteloso e baseado em atuações.
E nisso, Margin Call não decepciona. Kevin Spacey volta ás grandes atuações com uma segurança natural no papel de Rogers. Simon Baker diverte com seu cinismo, da mesma maneira que surpreende com sua competência; Zachary Quinto acaba anulado a partir do meio (o que abordarei a seguir), Demi Moore faz bem seu papel, Stanley Tucci encarna com destreza e serenidade seu Eric Dale. Mas é em Paul Bettany e Jeremy Irons que J. C. Chandor se demonstra um belo condutor de elenco. O primeiro, com a competência de seus trabalhos "artísticos", abraça a frieza cafajeste de um yuppie convicto ao passo que Irons, normalmente um ator que passa sem se abalar entre a absoluta competência e o risível caricato, acaba sendo reducionista em sua composição para esbanjar uma segurança que não costuma ter.
Chegando perto da resolução, porém, o filme perde um tanto de sua força. O ritmo naturalista, cadenciado, acaba sendo rígido com seus personagens e os torna coadjuvantes de suas próprias histórias. Não por acaso, o maior elo com o espectador, o personagem de Quinto, acaba sendo reprimido no final, por ser "fora da alçada profissional" do assunto a que trata. Não se engane: grandes projetos panorâmicos foram perfeitos em omitir algo de seus personagens, como Traffic, A Rede Social e Tropa de Elite 2. O problema é quando temos um indeciso paralelo entre o panorama rígido e o desenvolvimento de personagens. Preferindo dar ênfase em dramas menores (como a condição da cadela de Rogers), Chandor acaba vitimando a unidade de seu trabalho ao não dosar suas duas vertentes principais do roteiro: a ambientação e o desenvolvimento. Chandor não tem a habilidade de um Soderbergh em Contágio e, por isso, acaba condenando as grandes atuações e a tensão financeira a um projeto indeciso. Em síntese, o diretor faz um panorama que dá espaço demais para os personagens e um estudo que se preocupa demais em se ambientar.
O senso de urgência, o que em teoria seria o mais complicado de se fazer num filme sobre um evento alarmante, acaba sendo o que Margin Call tem de melhor. O desenvolvimento, o que é crucial em um filme essencialmente de atuações, acaba soando precário demais, reduzido demais, preguiçoso até. A ambientação é contagiante (com uma trilha precisa de Nathan Larson), a montagem clipada das cenas do comércio de ações é fabulosa (que nunca faz o barato projeto parecer pobre visualmente), as interações entre os inteligentes personagens são estimulantes. Porém, não sentir nada emocional por aqueles personagens (indo de encontro á proposta do diretor) acaba sendo ruim para quem queria ser mais que um belo retrato histórico da economia.
Preciso, complexo, urgente e cínico, Margin Call é bom em suas pretensões, mas fica perigosamente na superfície das emoções do período que retrata. E "competente" pra quem almeja ser "brilhante" não é a melhor das opções.
*** 3 Estrelas - Bom
Lá para o meio do filme, Peter Sullivan (interpretado por Zachary Quinto) está em um táxi, se deslocando de um ponto para outro, nessa noite complicada. Nervoso com sua própria descoberta, Sullivan olha para as pessoas na rua, pela janela, apreensivo. Então, ele fala com seu amigo Seth: "Essas pessoas não têm ideia do que está por vir".
É sobre isso que Margin Call fala. Mas principalmente, é nesse nível que o mesmo opera. Tendo completa ciência sobre o evento que debate, o diretor e roteirista J.C. Chandor se revela muito habilidoso nas informações com que trabalha e na tensão que impõe, mas peca justamente em dar rosto ao acontecimento.
Logo no início, a atmosfera do longa se instala com facilidade. Eric Dale (Tucci) está em seu escritório trabalhando, com uma aparência serena mas com os ombros pesados, até ser chamado para uma sala á parte, devidamente preenchida com um headhunter. Após separar suas coisas, com certo pesar, Dale avista seu colega Sullivan (Quinto), a quem parece ter uma relação professor-aprendiz, e o avisa sobre um aplicativo em um pen drive, que seria bom dar uma olhada. Mas antes da porta do elevador fechar, Dale previne o amigo: "Cuidado com isso". Jogando uma interessante isca, o longa fisga o espectador logo aqui, ao introduzir o mistério que levará a trama á frente e ainda cria um clima essencialmente frio e profissional na história, o que reforça o caráter financeiro e técnico que Margin Call carrega até o fim.
E ao abrir o espaço para Zachary Quinto, o filme entra numa vertente diferente de exploração em filmes de corporações: a da hierarquia ás avessas. Basicamente, um empregado de baixo escalão acaba sendo o desbravador da cruzada de 12 horas para tentar salvar a firma que trabalha. Logo, as forças maiores são acionadas. Aquela executiva que vimos no início, interpretada por Demi Moore, acaba se tornando personagem chave mais tarde. Sem saber a quem recorrer, Sullivan fala com Rogers (Spacey). Sem saber também de muito ("Me explica em inglês claro!", diz ele após um dos cientificismos corriqueiros que o filme oferece), Rogers chama Cohen (Baker). Este que convoca a reunião geral que resolverá o problema por vir, com a chegada de John Tulid (Irons), o executivo-chefe da empresa. Á medida que essa hierarquia empresarial começa a aparecer, a película vai revelando sua verdadeira intenção: o de suspense cauteloso e baseado em atuações.
E nisso, Margin Call não decepciona. Kevin Spacey volta ás grandes atuações com uma segurança natural no papel de Rogers. Simon Baker diverte com seu cinismo, da mesma maneira que surpreende com sua competência; Zachary Quinto acaba anulado a partir do meio (o que abordarei a seguir), Demi Moore faz bem seu papel, Stanley Tucci encarna com destreza e serenidade seu Eric Dale. Mas é em Paul Bettany e Jeremy Irons que J. C. Chandor se demonstra um belo condutor de elenco. O primeiro, com a competência de seus trabalhos "artísticos", abraça a frieza cafajeste de um yuppie convicto ao passo que Irons, normalmente um ator que passa sem se abalar entre a absoluta competência e o risível caricato, acaba sendo reducionista em sua composição para esbanjar uma segurança que não costuma ter.
Chegando perto da resolução, porém, o filme perde um tanto de sua força. O ritmo naturalista, cadenciado, acaba sendo rígido com seus personagens e os torna coadjuvantes de suas próprias histórias. Não por acaso, o maior elo com o espectador, o personagem de Quinto, acaba sendo reprimido no final, por ser "fora da alçada profissional" do assunto a que trata. Não se engane: grandes projetos panorâmicos foram perfeitos em omitir algo de seus personagens, como Traffic, A Rede Social e Tropa de Elite 2. O problema é quando temos um indeciso paralelo entre o panorama rígido e o desenvolvimento de personagens. Preferindo dar ênfase em dramas menores (como a condição da cadela de Rogers), Chandor acaba vitimando a unidade de seu trabalho ao não dosar suas duas vertentes principais do roteiro: a ambientação e o desenvolvimento. Chandor não tem a habilidade de um Soderbergh em Contágio e, por isso, acaba condenando as grandes atuações e a tensão financeira a um projeto indeciso. Em síntese, o diretor faz um panorama que dá espaço demais para os personagens e um estudo que se preocupa demais em se ambientar.
O senso de urgência, o que em teoria seria o mais complicado de se fazer num filme sobre um evento alarmante, acaba sendo o que Margin Call tem de melhor. O desenvolvimento, o que é crucial em um filme essencialmente de atuações, acaba soando precário demais, reduzido demais, preguiçoso até. A ambientação é contagiante (com uma trilha precisa de Nathan Larson), a montagem clipada das cenas do comércio de ações é fabulosa (que nunca faz o barato projeto parecer pobre visualmente), as interações entre os inteligentes personagens são estimulantes. Porém, não sentir nada emocional por aqueles personagens (indo de encontro á proposta do diretor) acaba sendo ruim para quem queria ser mais que um belo retrato histórico da economia.
Preciso, complexo, urgente e cínico, Margin Call é bom em suas pretensões, mas fica perigosamente na superfície das emoções do período que retrata. E "competente" pra quem almeja ser "brilhante" não é a melhor das opções.
*** 3 Estrelas - Bom
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