Old School Nerds

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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Margin Call

Opressivo suspense funciona, mas não vai além.

Lá para o meio do filme, Peter Sullivan (interpretado por Zachary Quinto) está em um táxi, se deslocando de um ponto para outro, nessa noite complicada. Nervoso com sua própria descoberta, Sullivan olha para as pessoas na rua, pela janela, apreensivo. Então, ele fala com seu amigo Seth: "Essas pessoas não têm ideia do que está por vir".

É sobre isso que Margin Call fala. Mas principalmente, é nesse nível que o mesmo opera. Tendo completa ciência sobre o evento que debate, o diretor e roteirista J.C. Chandor se revela muito habilidoso nas informações com que trabalha e na tensão que impõe, mas peca justamente em dar rosto ao acontecimento.

Logo no início, a atmosfera do longa se instala com facilidade. Eric Dale (Tucci) está em seu escritório trabalhando, com uma aparência serena mas com os ombros pesados, até ser chamado para uma sala á parte, devidamente preenchida com um headhunter. Após separar suas coisas, com certo pesar, Dale avista seu colega Sullivan (Quinto), a quem parece ter uma relação professor-aprendiz, e o avisa sobre um aplicativo em um pen drive, que seria bom dar uma olhada. Mas antes da porta do elevador fechar, Dale previne o amigo: "Cuidado com isso". Jogando uma interessante isca, o longa fisga o espectador logo aqui, ao introduzir o mistério que levará a trama á frente e ainda cria um clima essencialmente frio e profissional na história, o que reforça o caráter financeiro e técnico que Margin Call carrega até o fim.

E ao abrir o espaço para Zachary Quinto, o filme entra numa vertente diferente de exploração em filmes de corporações: a da hierarquia ás avessas. Basicamente, um empregado de baixo escalão acaba sendo o desbravador da cruzada de 12 horas para tentar salvar a firma que trabalha. Logo, as forças maiores são acionadas. Aquela executiva que vimos no início, interpretada por Demi Moore, acaba se tornando personagem chave mais tarde. Sem saber a quem recorrer, Sullivan fala com Rogers (Spacey). Sem saber também de muito ("Me explica em inglês claro!", diz ele após um dos cientificismos corriqueiros que o filme oferece), Rogers chama Cohen (Baker). Este que convoca a reunião geral que resolverá o problema por vir, com a chegada de John Tulid (Irons), o executivo-chefe da empresa. Á medida que essa hierarquia empresarial começa a aparecer, a película vai revelando sua verdadeira intenção: o de suspense cauteloso e baseado em atuações.

E nisso, Margin Call não decepciona. Kevin Spacey volta ás grandes atuações com uma segurança natural no papel de Rogers. Simon Baker diverte com seu cinismo, da mesma maneira que surpreende com sua competência; Zachary Quinto acaba anulado a partir do meio (o que abordarei a seguir), Demi Moore faz bem seu papel, Stanley Tucci encarna com destreza e serenidade seu Eric Dale. Mas é em Paul Bettany e Jeremy Irons que J. C. Chandor se demonstra um belo condutor de elenco. O primeiro, com a competência de seus trabalhos "artísticos", abraça a frieza cafajeste de um yuppie convicto ao passo que Irons, normalmente um ator que passa sem se abalar entre a absoluta competência e o risível caricato, acaba sendo reducionista em sua composição para esbanjar uma segurança que não costuma ter.

Chegando perto da resolução, porém, o filme perde um tanto de sua força. O ritmo naturalista, cadenciado, acaba sendo rígido com seus personagens e os torna coadjuvantes de suas próprias histórias. Não por acaso, o maior elo com o espectador, o personagem de Quinto, acaba sendo reprimido no final, por ser "fora da alçada profissional" do assunto a que trata. Não se engane: grandes projetos panorâmicos foram perfeitos em omitir algo de seus personagens, como Traffic, A Rede Social e Tropa de Elite 2. O problema é quando temos um indeciso paralelo entre o panorama rígido e o desenvolvimento de personagens. Preferindo dar ênfase em dramas menores (como a condição da cadela de Rogers), Chandor acaba vitimando a unidade de seu trabalho ao não dosar suas duas vertentes principais do roteiro: a ambientação e o desenvolvimento. Chandor não tem a habilidade de um Soderbergh em Contágio e, por isso, acaba condenando as grandes atuações e a tensão financeira a um projeto indeciso. Em síntese, o diretor faz um panorama que dá espaço demais para os personagens e um estudo que se preocupa demais em se ambientar.

O senso de urgência, o que em teoria seria o mais complicado de se fazer num filme sobre um evento alarmante, acaba sendo o que Margin Call tem de melhor. O desenvolvimento, o que é crucial em um filme essencialmente de atuações, acaba soando precário demais, reduzido demais, preguiçoso até. A ambientação é contagiante (com uma trilha precisa de Nathan Larson), a montagem clipada das cenas do comércio de ações é fabulosa (que nunca faz o barato projeto parecer pobre visualmente), as interações entre os inteligentes personagens são estimulantes. Porém, não sentir nada emocional por aqueles personagens (indo de encontro á proposta do diretor) acaba sendo ruim para quem queria ser mais que um belo retrato histórico da economia.

Preciso, complexo, urgente e cínico, Margin Call é bom em suas pretensões, mas fica perigosamente na superfície das emoções do período que retrata. E "competente" pra quem almeja ser "brilhante" não é a melhor das opções.

*** 3 Estrelas - Bom

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