O merecido reconhecimento de um mestre.
Se existe um grupo de cineastas que fizeram por toda sua vida trabalhos geniais, obras marcantes, mas não obtiveram tal reconhecimento em Hollywood, certamente Martin Scorsese se encaixa nele. Talento nato na direção, Scorsese surgiu como diretor no período da Nova Hollywood, uma época de mudanças drásticas nos filmes comerciais americanos, e fez diversos filmes que foram verdadeiros marcos na história do cinema, e apesar de muito cultuados posteriormente, não levaram os prêmios americanos mais importantes-O Oscar, principalmente -. A partir, daí, a cada filme fantástico que Scorsese fazia e não conseguia arrancar um Oscar, reforçava mais o tabu da falta do prêmio da Academia. Em 2006, porém, isso estava para mudar.
Baseado numa história de um aclamado filme japonês sobre policiais e bandidos infiltrados, o roteiro de Os Infiltrados foi escrito por William Monaham, que escreveu o mesmo sem assistir a obra original, algo louvável, evita inspirações desnecessárias, e adapta para o universo americano com mais liberdade e criatividade . A história ganha, nas mãos de Monaham, um aspecto americanizado extremamente natural e interessante. Os núcleos abordados são da polícia de Boston e da máfia irlandesa local . Não poderia ser mais apropriado Scorsese pegar o posto de direção, já que um dos seus filmes anteriores , o nomeado ao Oscar Gangues de Nova York, já dialogava sobre a temática dos imigrantes irlandeses nos EUA. Some isso a temática violenta já associada facilmente a Scorsese, e a premissa se torna um prato cheio para referências e maneirismos do diretor.
A premissa em si não é complexa, e ,superficialmente, poderia ser considerada apenas de mais um filme policial comum. Entretanto, todo o desenvolvimento em cima da trama estrutural simplesmente eleva o filme da mediocridade. A história mostra a vida de dois homens com objetivos alheios, mas carmas semelhantes. De um lado, Billy Costigan ( Leonardo DiCaprio), um descendente de irlandeses que tem na sua árvore genealógica um emaranhado de conexões criminosas, mas , mesmo assim, quer entrar para a polícia estadual. Ele, diferente de toda a família, quer entrar para o lado da lei e da ordem, e um dos modos de servir ao estado seria infiltrar-se na gangue do grande chefe da máfia irlandesa Frank Costello(Jack Nicholson). Costello, por sua vez, criou um garoto da sua vizinhança, chamado Collin Sullivan (Matt Damon) para, no futuro, poder entrar na polícia, e servir como um informante a Costello.
Os detalhes , em sua maioria, é que transformam Os Infiltrados um suspense policial tão diferenciado. O cerco se fecha gradativamente, sem pressa, mostrando ao longo dos 151 minutos de filme toda a dualidade dos infiltrados . Chamados de ''ratos'' por serem os dedo-duros das corporações -tanto a criminosa quanto a policial - os dois protagonistas sempre vão e vem dos dois mundos, mas sempre estão a um passo de serem pegos.É mais um caso de filme policial bem programado, com sub-tramas que interessam e objetividade na dose certa.O suspense da trama é muito bem desenvolvido, também, por toda a compreensão do universo colocado no papel. Nada ali é colocado de maneira burra, e ao mesmo tempo que um dos infiltrados ataca, sua defeza fica a mostra, colocando tudo a perder.
Fica a quilômetros do filme, entretanto, a mudança de lado de algum dos dois. Os lados estão bem definidos e a única dúvida existente é a dos outros personagens, que não sabem em quem podem confiar, afinal desconhecem quem são os traidores. Essa dúvida, aliás, é o que dá o tom ao filme todo. Sempre que Costigan ou Sullivan agem como traidores nas corporações que se infiltraram, a verdade ameaça aparecer, podendo acabar com os planos dos dois. Um jogo de xadrez bem delineado que realça cada vez mais a dualidade referida linhas acima. A própria persoangem de Vera Farmiga serve para isso: mostrar a simetria nas relaçõies dos ratos. E se todo o filme corre no estilo Michael Mann, onde um dos dois lados vai ganhar o duelo, o final não poderia se diferenciar mais.
Apesar do grande apuramento que o roteiro apresenta, esse é o tipo de filme que podemos encher a boca e falar: é mais do diretor. Ainda mais se o diretor for um Martin Scorsese. Todas as qualidades que botam o roteiro um patmar acima dos demais do gênero merecem ser divididas com a direção sublime que Scorsese apresenta. O suspense que o roteiro contém é muito bem lidado pelo cineasta, que consegue criar clímaxes e dar a inquietação necessária ao espectador durante as cenas. Toda a simbologia presente no filme também é de responsabilidade do ótimo cineasta . No início do filme, a cena começa fechada, num fundo preto, onde só se ve o personagem de Damon. Logo depois, a cena se abre, mostrando que naquele momento ainda é fácil se camuflar. Mais tarde, o efeito é usado de novo, de forma contrária( a cena começa aberta e se fecha num dos ''ratos'') mostrando que naquele momento, o cerco para descobrir o X9 só se fecha cada vez mais . O resto varia de planos muito belos, que enquadram todos com talento de sobra, movimentações de câmera que só embelezam mais a técnica do filme e cortes rápidos que não deixam o filme passar devagar. Há ainda, claro , referencias a filmes anteriores do diretor, mas dessa vez, de forma mais contida.
Mas passar por Os Infiltrados e não falar das atuações é impossível. Jack Nicholson usa de um estilo ecêntrico, como de costume, e consegue roubar a cena de costume. Daria até para indicar ao Oscar, mas a Academia já deve ter ficado cansada por tantas vezes. DiCaprio atua na medida, não fazendo nada além da atuação padrão. Apresenta um nível bom, mas se se esforçace mais , o resultado poderia ser melhor . Fora Nicholson, os grandes destaques ficam para Matt Damon e Mark Wahlberg. Damon consegue passar uma dissimulção maravilhosa, atuação sublime, mostrando que pode tanto convencer como espião do bem como criminoso disfarçado. Uma das maiores atuações da carreira. Wahlberg também é engolido pelo personagem e consegue se destacar com uma atuação bem realista, diferente dos seus outros trabalhos. Mereceu a indicação ao Oscar, apesar de não se a melhor atuação do filme. Sem dúvida, sem essa escolha fenomenal de atores o filme não teria todo o seu potencial explorado.
No final das contas, a técnica de Os Infiltrados é muito competente sim, mas serve apenas de cereja no bolo de um filme com profissionais excelentes e história bem desenvolvida. A fotografia suja nas ruas e limpa nos ambientes mais fechados é maravilhosa, e tem uma beleza como poucas. A edição premiada de Thelma Shoonmaker é muito inventiva em certos pontos, mudando o jeito de determinada cenas e segurando com competencia outras. Erra só na continuidade de certas sequencias, erros bobos, mas que poderiam ter sido evitados. Já a trilha de Howard Shore mistura momentos de músicas tranquilas com músicas mais agressivas, variando de acordo com o momento que o filme se encontra.
Certamente, Os Infiltrados não é o melhor filme de Scorsese e também não é sua melhor direção. É provavelmente o melhor trabalho recente do diretor, mas não se compara a um Taxi Driver ou a direção inventiva de um Touro Indomável. O fato de Os Infiltrados ganhar 4 Oscar- entre eles os mais importantes, de Direção e Filme - é justíssimo. Deveras, merecia no ano em que disputou, e Scorsese foi o que mais se destacou em 2006. Porém o gosto que fica é que foi feita uma justiça por tudo que Martin Scorsese fez pelo cinema em toda sua carreira. O reconhecimento tardio - mas pelo menos em vida - a um dos maiores mestres do cinema americano e internacional.
5 Estrelas *****
Se existe um grupo de cineastas que fizeram por toda sua vida trabalhos geniais, obras marcantes, mas não obtiveram tal reconhecimento em Hollywood, certamente Martin Scorsese se encaixa nele. Talento nato na direção, Scorsese surgiu como diretor no período da Nova Hollywood, uma época de mudanças drásticas nos filmes comerciais americanos, e fez diversos filmes que foram verdadeiros marcos na história do cinema, e apesar de muito cultuados posteriormente, não levaram os prêmios americanos mais importantes-O Oscar, principalmente -. A partir, daí, a cada filme fantástico que Scorsese fazia e não conseguia arrancar um Oscar, reforçava mais o tabu da falta do prêmio da Academia. Em 2006, porém, isso estava para mudar.
Baseado numa história de um aclamado filme japonês sobre policiais e bandidos infiltrados, o roteiro de Os Infiltrados foi escrito por William Monaham, que escreveu o mesmo sem assistir a obra original, algo louvável, evita inspirações desnecessárias, e adapta para o universo americano com mais liberdade e criatividade . A história ganha, nas mãos de Monaham, um aspecto americanizado extremamente natural e interessante. Os núcleos abordados são da polícia de Boston e da máfia irlandesa local . Não poderia ser mais apropriado Scorsese pegar o posto de direção, já que um dos seus filmes anteriores , o nomeado ao Oscar Gangues de Nova York, já dialogava sobre a temática dos imigrantes irlandeses nos EUA. Some isso a temática violenta já associada facilmente a Scorsese, e a premissa se torna um prato cheio para referências e maneirismos do diretor.
A premissa em si não é complexa, e ,superficialmente, poderia ser considerada apenas de mais um filme policial comum. Entretanto, todo o desenvolvimento em cima da trama estrutural simplesmente eleva o filme da mediocridade. A história mostra a vida de dois homens com objetivos alheios, mas carmas semelhantes. De um lado, Billy Costigan ( Leonardo DiCaprio), um descendente de irlandeses que tem na sua árvore genealógica um emaranhado de conexões criminosas, mas , mesmo assim, quer entrar para a polícia estadual. Ele, diferente de toda a família, quer entrar para o lado da lei e da ordem, e um dos modos de servir ao estado seria infiltrar-se na gangue do grande chefe da máfia irlandesa Frank Costello(Jack Nicholson). Costello, por sua vez, criou um garoto da sua vizinhança, chamado Collin Sullivan (Matt Damon) para, no futuro, poder entrar na polícia, e servir como um informante a Costello.
Os detalhes , em sua maioria, é que transformam Os Infiltrados um suspense policial tão diferenciado. O cerco se fecha gradativamente, sem pressa, mostrando ao longo dos 151 minutos de filme toda a dualidade dos infiltrados . Chamados de ''ratos'' por serem os dedo-duros das corporações -tanto a criminosa quanto a policial - os dois protagonistas sempre vão e vem dos dois mundos, mas sempre estão a um passo de serem pegos.É mais um caso de filme policial bem programado, com sub-tramas que interessam e objetividade na dose certa.O suspense da trama é muito bem desenvolvido, também, por toda a compreensão do universo colocado no papel. Nada ali é colocado de maneira burra, e ao mesmo tempo que um dos infiltrados ataca, sua defeza fica a mostra, colocando tudo a perder.
Fica a quilômetros do filme, entretanto, a mudança de lado de algum dos dois. Os lados estão bem definidos e a única dúvida existente é a dos outros personagens, que não sabem em quem podem confiar, afinal desconhecem quem são os traidores. Essa dúvida, aliás, é o que dá o tom ao filme todo. Sempre que Costigan ou Sullivan agem como traidores nas corporações que se infiltraram, a verdade ameaça aparecer, podendo acabar com os planos dos dois. Um jogo de xadrez bem delineado que realça cada vez mais a dualidade referida linhas acima. A própria persoangem de Vera Farmiga serve para isso: mostrar a simetria nas relaçõies dos ratos. E se todo o filme corre no estilo Michael Mann, onde um dos dois lados vai ganhar o duelo, o final não poderia se diferenciar mais.
Apesar do grande apuramento que o roteiro apresenta, esse é o tipo de filme que podemos encher a boca e falar: é mais do diretor. Ainda mais se o diretor for um Martin Scorsese. Todas as qualidades que botam o roteiro um patmar acima dos demais do gênero merecem ser divididas com a direção sublime que Scorsese apresenta. O suspense que o roteiro contém é muito bem lidado pelo cineasta, que consegue criar clímaxes e dar a inquietação necessária ao espectador durante as cenas. Toda a simbologia presente no filme também é de responsabilidade do ótimo cineasta . No início do filme, a cena começa fechada, num fundo preto, onde só se ve o personagem de Damon. Logo depois, a cena se abre, mostrando que naquele momento ainda é fácil se camuflar. Mais tarde, o efeito é usado de novo, de forma contrária( a cena começa aberta e se fecha num dos ''ratos'') mostrando que naquele momento, o cerco para descobrir o X9 só se fecha cada vez mais . O resto varia de planos muito belos, que enquadram todos com talento de sobra, movimentações de câmera que só embelezam mais a técnica do filme e cortes rápidos que não deixam o filme passar devagar. Há ainda, claro , referencias a filmes anteriores do diretor, mas dessa vez, de forma mais contida.
Mas passar por Os Infiltrados e não falar das atuações é impossível. Jack Nicholson usa de um estilo ecêntrico, como de costume, e consegue roubar a cena de costume. Daria até para indicar ao Oscar, mas a Academia já deve ter ficado cansada por tantas vezes. DiCaprio atua na medida, não fazendo nada além da atuação padrão. Apresenta um nível bom, mas se se esforçace mais , o resultado poderia ser melhor . Fora Nicholson, os grandes destaques ficam para Matt Damon e Mark Wahlberg. Damon consegue passar uma dissimulção maravilhosa, atuação sublime, mostrando que pode tanto convencer como espião do bem como criminoso disfarçado. Uma das maiores atuações da carreira. Wahlberg também é engolido pelo personagem e consegue se destacar com uma atuação bem realista, diferente dos seus outros trabalhos. Mereceu a indicação ao Oscar, apesar de não se a melhor atuação do filme. Sem dúvida, sem essa escolha fenomenal de atores o filme não teria todo o seu potencial explorado.
No final das contas, a técnica de Os Infiltrados é muito competente sim, mas serve apenas de cereja no bolo de um filme com profissionais excelentes e história bem desenvolvida. A fotografia suja nas ruas e limpa nos ambientes mais fechados é maravilhosa, e tem uma beleza como poucas. A edição premiada de Thelma Shoonmaker é muito inventiva em certos pontos, mudando o jeito de determinada cenas e segurando com competencia outras. Erra só na continuidade de certas sequencias, erros bobos, mas que poderiam ter sido evitados. Já a trilha de Howard Shore mistura momentos de músicas tranquilas com músicas mais agressivas, variando de acordo com o momento que o filme se encontra.
Certamente, Os Infiltrados não é o melhor filme de Scorsese e também não é sua melhor direção. É provavelmente o melhor trabalho recente do diretor, mas não se compara a um Taxi Driver ou a direção inventiva de um Touro Indomável. O fato de Os Infiltrados ganhar 4 Oscar- entre eles os mais importantes, de Direção e Filme - é justíssimo. Deveras, merecia no ano em que disputou, e Scorsese foi o que mais se destacou em 2006. Porém o gosto que fica é que foi feita uma justiça por tudo que Martin Scorsese fez pelo cinema em toda sua carreira. O reconhecimento tardio - mas pelo menos em vida - a um dos maiores mestres do cinema americano e internacional.
5 Estrelas *****
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