Old School Nerds

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domingo, 18 de setembro de 2011

Bridesmaids

Produção de Judd Apatow subverte a comédia feminina .

Quando vamos falar de comédia, um tópico já precisa ser deixado bem claro : de modo geral , aquelas voltadas ao público feminino - as famosas comédias românticas - são terrivelmente ruins. Pode parecer uma generalização , mas na verdade é pura estatística . A cada Diário de Bridget Jones lançado , temos hordas de mediocridades - vide A Proposta - e também verdadeiros atentados terroristas á intelectualidade - consulte os trabalhos recentes de Katherine Heigl . Atualmente , não podemos dizer que a situação melhorou de forma agradável - a moda de filmes ''mulher bomba-relógio'' , chegou até no Brasil , com desastres lamentáveis como Qualquer Gato Vira-Lata . Moda essa, aliás , que surgiu justamente dos longas protagonizados por Heigl .

Ironicamente , a atriz que cometeu pérolas como A Verdade Nua e Crua e Par Perfeito, foi revelada nas telonas justamente por um dos criadores mais inventivos e originais da atualidade : o aclamado Judd Apatow . Detentor de personagens verdadeiros e que roubam a atenção do espectador justamente por sua tridimensionalidade singular , - algo difícil de se encontrar no mercado do cinema - Apatow mal sabia que estava trazendo ao mundo em Ligeiramente Grávidos uma atriz que viria a produzir - e atuar - comédias femininas desprezíveis e imbecis . Com Bridesmaids , em 2011, o produtor parece vir trazer um pedido de desculpas , e também um desvio necessário ao fluxo que as comédias destinadas ás mulheres seguiam .

Escrito por Annie Mumolo e Kristen Wigg - esta também protagoniza a película - Bridesmaids trás um tema surradíssimo, clássico de comédias destinadas ao público feminino, trabalhado anteriormente em diversas ocasiões : o dilema da mulher balzaquiana e o casamento . Justamente por estabelecer uma premissa já tão conhecida pelos espectadores , Bridesmaids trás desde sua concepção um espírito de subverter o gênero, ainda mais tendo alguém do estilo de Apatow apadrinhando a produção . A trama , como já é de costume dos filmes de Judd Apatow , não representa grandes diferenciais na sua estrutura , mas ao revelar seus personagens e suas interações minuciosas, ganha grandeza .

Nela , conhecemos Annie (Kristen Wigg) uma mulher solteira de 30 e poucos anos , que não tem um relacionamento sério , e apenas é a ''peguete'' de Ted ( Jon Hamm , em aparição hilária e não creditada) . Ainda frustrada pela falência de sua loja de doces , Annie encontra felicidade na companhia da amiga de infância Lilian (Maya Rudolph) . Tudo começa a mudar , entretanto , quando Lilian é pedida em casamento . Quando os preparitivos começam , também se iniciam os pesadelos de Annie , que se entristece por não ter um namorado . Helen ( Rose Byrne) dondoca arrogante que preparará o casamento, vira amiga inseparável de Lilian , gerando desgoto e ciúmes por parte de Annie . Então , entre reuniões para damas de honra e chás de panela, começam as gags .

Num cenário atual onde comédias para macho fazem sucesso de público e por ventura também de crítica - Se Beber, Não Case ! é o exemplo mais citado - entra em cena uma comédia destinada ao público feminino , mas que trás um bom humor e gags de qualidade tão elevada quanto aquelas do filme de Todd Phillips . É explícito de onde Bridesmaids bebe da fonte . A cena emblemática : O grupo de mulheres que protagoniza o filme (a noiva mais 5 damas de honra) anda em câmera lenta , unido , com uma música estilosa ao fundo . Sobra espaço até pra gordinha engraçada do grupo levar uma pochete cruzada na barriga - algo que o personagem de Zack Galifianakis já eternizou em Hangover . Além dessas referências claríssimas , é também muito interessante ver como um filme teoricamente ''feito pra mulher'' usa e abusa de palavrões sem pudor , otimizando todos para construções de ótimas gags . Há até humor escatológico bem utilizado - e sabemos a linha tênue que separa o hilário do estúpido , quando o assunto é gross humor .

Mas o que nos faz comprar a idéia de Bridesmaids é sua verdade . Realismo que não encontramos em enlatados - os da TV e os do cinema . Não é a toa que Judd Apatow topou produzir o projeto . Seu olhar tridimensional ao retratar personagens encontra reflexo no roteiro do longa . Por seus trunfos de criar personas cristalinas , o script de Bridesmaids só aumenta em comparação com similares . Só para tomar um exemplo, comparemos este filme com Sex and The City - e aqui me prenderei a avaliar apenas a obra cinematográfica , e não a série de TV . Ora , os dois produtos tem tramas semelhantes - a ''já não tão balzaquiana'' Sarah Jessica Parker também estava a procura de um marido no longa de 2008 - mas desenvolvimentos completamente diferentes . Sex and The City se mostra extremamente superficial em duas vias : tanto naquela que se refere ao sexo , mas também naquela que trata de suas personagens - que , convenhamos , são meras peruas que não despertam muito além do que pena , por suas vidas fúteis . Em Bridesmaids , o elo criado com o espectador é mais fundo, pois a construção das personas é mais verdadeira . É possível perceber isso nos diversos diálogos sinceros entre as protagonistas . São toques sutis , mas muito significativos .

Só que nem tudo são flores, em Bridesmaids . Apesar de , desde já , ser uma comédia importantíssima por subverter um gênero que andava muito mal das pernas , o roteiro estrutural é levado por uma estrada que não inventa , e se demonstra um tanto quanto comum . Se na hora de desenvolver personagens há o sucesso , com atuações muito interessantes - destaque para o talento de Kristen Wigg para a comédia - o mesmo brilho não surge na hora de prender cada gag e cada personagem numa história em si . Entre momentos hilariantes e diálogos interessantes , há um vazio de história , que se baseia simplesmente na disputa entre duas mulheres pela amizade de uma terceira . Assim , o longa perde fôlego ao longo da exibição , se tornando uma obra mais modesta do que dava a impressão de ser .

Usando a linguagem de televisão desde o primeiro frame do filme , o diretor egresso dos seriados de TV , Paul Feig , consegue sucesso ao aplicar seu modo de dirigir séries como The Office , em diversas sequências de Bridesmaids . Afinal, em The Office a vergonha alheia dita as risadas , e aqui também funciona assim .

Nada de negativo, entretanto, tira a força simbólica que Bridesmaids tem . Em tempos onde há roteiristas cretinos fazendo humor fácil e babaca para encaixar no suposto '' gosto'' das mulheres em geral , é muito bom ver obras subvertendo gêneros e ganhando reconhecimento com isso - Bridesmaids faturou muito nos EUA , tanto em crítica , como em público . Em vez de preparar cotas para um tipo de comédia ''para mulheres'' no mercado do cinema , é muito melhor retratar o quanto de humor tipicamente masculino elas conseguem desenvolver por si próprias . Afinal, não é isso que é igualdade dos sexos?

3 Estrelas ***

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