Old School Nerds

Old School Nerds

sábado, 24 de julho de 2010

Predadores

Robert Rodriguez e sua equipe resgatam franquia.

Em 1987, o cinema de ação estava caminhando ao auge. Astros como Schwarzenegger, Sylvester Stallone e Dolph Lundgren estavam no centro do mercado dos filmes blockbuster típicos da época. Após o boom dos blockbusters(que hoje são o carro-chefe dos estúdios e com orçamentos exorbitantes), chegaram as produções mais baratas do cinema, principalmente envolvendo heróis de guerra em conflito com ameaças ao espírito americano(sendo elas vietnamitas, como em Comando para Matar ou alienígenas, como Predador). Após Rambo consagrar Stallone, Schwarzenegger se consagrava com Predador, interessante suspense de ficção-científica, que colocava um time de super mercenários contra uma figura em comum, o Predador, numa floresta na Guatemala. Com o sucesso do filme, vários outros o copiaram nessa fórmula de "carnificina viva", como Doom, Resident Evil e até o derivado Alien vs Predador. Mesmo com Predador continuar sendo um filme original até hoje, apesar de sua previsibilidade de roteiro, o gênero dos action-guys não teve um destino tão generoso, sendo hoje encontrado em apenas produções de orçamento ridículo e lançadas direto em DVD(como os filmes de Wesley Snipes e Steven Seagal).

Em Predador, o diretor John McTiernen esbanjou todo o estilo que tinha e ainda se aproveitou de todos os clichês de ação que tinham(herói escondido na lama virou um clássico) pra criar um filme que marcou época por explicitar a forma irônica de cinema de ação, a que se assume descartável. E ainda criou um invocado personagem icônico. Agora, o conceituado produtor Robert Rodriguez trouxe o Predador de volta aos cinemas, depois de tentativas lastimáveis como Alien vs Predador 1 e 2. E com bastante estilo, diga-se de passagem.

A trama, parecidíssima com o longa de 87, segue Royce(Adrien Brody), um mercenário que cai de pára-quedas em um lugar desconhecido e armado. Enquanto vasculha a selva em busca de respostas, Royce vê que vários outros mercenários também estão na ilha e todos, quando se juntam, tentam achar respostas do porquê de eles estarem ali, enquanto enfrentam uma perigosa raça ali presente: a dos Predadores, que estão em guerra com seus semelhantes e ainda arrumam tempo pra fazer sua "temporada de caça". Aos humanos.

O roteiro, escrito pela dupla Michael Finch e Alex Litvak, é vencedor desde o início em constatar que o icônico Predador tem que voltar ás origens pra encontrar a glória novamente. Enquanto as sequências e crossovers com o personagem flertavam com novos horizontes(muito ruins e que tiravam a identidade do personagem), Predadores resgata a trama pra que o século 21 conheça o espírito de caça do filme de 87. Aqui, o roteiro dá novos toques á franquia(a ausência de um Scwarzenegger, a quantidade enorme de Predadores, a inversão de papéis de caça e caçador) sem se esquecer do passado, trazendo uma continuação-reboot que funciona bem demais. E as falas caricatas fazem parte do pacote. Quando um preocupado Danny Trejo exclama "This is Hell" ou quando Adrien Brody exclama a já famosa frase do trailer "Isso é uma reserva de caça e nós somos a caça", constata-se que Predadores não se leva mesmo a sério, criando um produto que se importa em entreter e nada mais.

Reforçando o lado caricatual, temos a construção de personagens e situações. Temos o homem que "trabalha melhor sozinho" mas que vira líder, o engraçadinho, o asiático, o covarde e até a heroína bad-ass(algo novo e excelente pra franquia). Nas situações, temos o duelo no fogo, o herói escondido na lama(outra homenagem explícita ao primeiro), o homem que conseguiu sobreviver naquele lugar, responsável por explicar o que está acontecendo aos novos habitantes e etc.

Isso poderia soar um tanto ridículo e até mesmo trash, mas Rodriguez e os roteiristas dosam de uma forma em que o filme homenageie o original e não saia datado. Pras platéias de multiplexes, a ação também é bem escrita e tem passagens ótimas, como a fuga na água dos mercenários. E o melhor: tendo a completa ciência de que aquilo é um filme de ação e terror. Mesmo esse sendo o primeiro filme e sendo responsável pela criação de um novo mundo, Predadores se sai bem em recolocar a franquia nos trilhos e ainda propor novas sequências áquele ambiente bem construído.

Já que não cuidaria da direção, Rodriguez deveria chamar um diretor que compartilhasse de seu amor ao filme original. E a escolha de Nimród Antal não poderia ter sido melhor. O diretor, responsável por filmes melhores e de locadoras, como Assalto ao Carro Blindado e Temos Vagas, já mostrava um pouco de talento nesses filmes. Porém, a liberdade criativa, sem pressão de estúdio, que Antal teve aqui favoreceu muito á sua direção, competente e ágil. Mesmo sem cortar um milhão de vezes, Antal impõe agilidade na direção e ainda organiza planos interessantes, como na já citada fuga dos mercenários na água. Fora isso, sua direção de atores e diálogos é boa, sem fazer grandes takes, mas enquadrando bem os atores. Além disso, extrai boas atuações de todos os presentes.

A edição de Dan Zimmerman compreende a direção de Antal e corta com calma, dando a fluência necessária pras cenas. A fotografia de Gyula Pados também é interessante, pois cria um clima como o do Predador original, mas com tons mais escuros e que dão a estranheza necessária ao planeta desconhecido. E a homenagem se intensifica na gloriosa trilha de um John Debney influenciado por Alan Silvestri. Usando uma trilha extremamente oitentista e com instrumentos tradicionais(harpas, trompetes), Debney não copia a trilha do original, mas capta o modo como ela foi feita e a reinventa de forma interessante.

Porém, é nas atuações que o filme se distancia mais do original. Enquanto no longínquo 87 tínhamos um halterofilista carismático e brucutu de ação e um time de super mercenários(que de super não tinham nada, todos apenas servem de corpos pra carnificina), aqui temos um Adrien Brody inspirado comandando um time mais humano, sem deixar a caricatura de lado. Brody é mais imprevisível que Schwarzenegger, pois tem um biotipo bem mais contido e uma vulnerabilidade maior. Quem tem mais chance de morrer? Um franzino pianista ou um nato exterminador? Logo, Brody tem liberdade de ser um anti-herói mais real e menos ameaçador, sem deixar as frases icônicas de efeito de lado. Alice Braga, quase uma co-protagonista, também atua muito bem e dando o frescor novo feminio á franquia, sem ser o mero par romântico do herói. Das outras atuações, nada além do bom, com exceção do instável Topher Grace, que faz o papel do médico covarde que tem um final que exigia alguma competência artística do ator, que infelizmente carece dela.

Logo, há de se admirar(mas não muito) esse Predadores. Além de trazer a iniciativa oitentista de ação barata, algo que Rodriguez é mestre, o filme serve de diversão como é sempre bom ver no cinema. E traz um icônico personagem de volta ao reinado que o pertence, após os crossovers anteriores com o Alien de Ridley Scott. Sem dúvida, um deleite aos olhos dos fãs originais(a sequência de citação aos eventos na Guatemala é sensacional) e um gás a um mundo tão interessante(a guerra civil dos Predadores diferentes pode ser explorada num confirmado segundo filme). É diversão descerebrada? Sim. Mas foi isso que ela nos propôs a dar. E é incrível e brilhante ver como Rodriguez usou 40 Milhões num filme de criação de mundo e com florestas, enquanto outros cineastas gastam 237 Milhões em mesmos cenários, mas em CGI. Um brinde ao saudosista Rodriguez, que traz os cenários reais e a maquiagem de volta.

*** 3 Estrelas

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Exorcista

William Friedkin e o Terror original.

Em 1971 , o escritor americano William Peter Blatty lançou seu mais novo livro na época, O Exorcista . Tal obra foi baseada no exorcismo de Robbie Mannheim, o qual Blatty ouviu falar enquanto estudava na Universidade de Geogetown . Com sua tamanha qualidade e por conter assuntos , digamos, obscuros, o livro foi bem sucedido . E nessa época em que o cinema americano estava em seu auge, na chamada Nova Hollywood , pouco dos materiais que faziam sucessos na literatura não eram adaptados para a sétima arte . Ora, foi daí que surgiram clássicos absolutos como Laranja Mecânica ou O Poderoso Chefão , que fizeram tanto – ou mais – sucessos que as obras em que se basearam . Desse modo, em 1973 , era lançado o Exorcista , dirigido por William Friedkin .

Friedkin, por sua vez , era um diretor conceituado , tendo ganho antes daquele ano , um Oscar, por Operação França . Com sua fama de bad-ass, Friedkin tinha o talento nato daquela geração nova de diretores revolucionários. E essa combinação de talento elegante na direção e bom embasamento de roteiro – que também foi adaptado para o cinema por Blatty – que tornam o Exorcista tão bom, e relembrado ao longo dos anos .

A trama acompanha a atriz Chris MacNeil ( Elen Burstyn) que grava um filme na cidade de Georgetown, e por isso vive lá com sua filha Regan (Linda Blair) enquanto as filmagens não acabam. Enquanto isso, também se desenvolve a história do padre -psiquiatra Damien Karras ( Jason Miller), que vive perturbado pelo sentimento de culpa na morte da própria mãe, a qual ele não conseguiu auxiliar no tratamento de sua doença terminal . Os dois arcos passam a se entrelaçar quando atos maléficos misteriosos começam a rondar a cidade de Georgetown, e a adorável Regan muda gradativamente de comportamento. Aos poucos, a menina passa a xingar palavrões , ter hábitos agressivos e comportamentos assustadores . Depois de tentar todo o tipo de tratamento, a mãe só pode recorrer ao exorcismo. Aí entram os padres Karras e Merrin (Max Von Sydon), sendo o último um certo especialista em exorcismos.

O roteiro do filme é sem dúvida um marco no cinema de Terror. Nessa mesma época, eram feitos outros filme de terror com crianças diabólicas – O Bebê de Rosemary e A Profecia, por exemplo – tendo sido dirigidos por cineastas talentosos, que conseguiam transformar um gênero famoso por ser gore, em algo mais sério, mais assustador e profundo . Em O Exorcista, a dualidade que permeia a “doença” de Regan no início do filme é baseada na sempre controversa relação Igreja X Ciência. Entretanto, os realizadores não deixam dúvidas na mente do espectador , já que desde o início, na cena do Iraque , somos apresentados ao mal , e esse mal tem origem espiritual . A partir daí, tudo que é alegado como possível doença é descartado da nossa mente , e não existe o suspense para se descobrir o que vai acontecer, mas sim o horror, do que já se sabe que vai ocorrer – a possessão de Regan. O suspense que arrepia os cabelos tem origem na dúvida de como o cineasta vai mostrar aquilo pelo qual pagamos pra ver, e não na ansiedade do inesperado. Essa, afinal, é a diferença básica entre os gêneros suspense e terror.

Por isso pode ser dito que O Exorcista é um dos pilares fundamentais do terror moderno . Por mais que a trama seja simples , não há a previsibilidade – o final deste filme é um dos mais inventivos e corajosos do cinema de terror – e a fundamentação do filme é na contemplação do tema abordado, e não em sustos cretinos que só servem para atrair a massa ( como em quase todo slasher movie de hoje em dia, onde as repetições de tema são continuas, e a abordagem, a mesma.). A contemplação ao tema fica clara na construção de bons diálogos, que destrincham cada informação interessante sobre o exorcismo e levam o filme adiante atraindo todo o público. Outra característica clássica do terror fica também na contemplação da figura horrenda . Regan, quando possuída, tem a figura de um verdadeiro demônio, que vomita, esperneia, e xinga , enquanto todo o público se vê de mãos atadas, tendo que “admirar” o feio .Tal feito desperta emoções de medo muito mais marcantes e duradouras do que simples cortes rápidos que geram sustos medíocres.

Além de ser um filme de terror que segue o gênero sem se vender, tornando-se uma peça muito original e criticamente louvável, O Exorcista ainda acrescenta a carga de talento típica dos filmes da Nova Hollywood . Os personagens não são rasos, sem importância . Em outras palavras , não são meros peões para o jogo de horror se estabelecer . Cada personagem tem sua fundamentação e tridimensionalidade. O padre Karras, que poderia ser só mais um herói relutante, tem sua diferenciação na atuação segura de Jason Miller, e na sua personalidade de padre conturbada devido aos eventos com sua mãe. Até mesmo o demônio que está em Regan não é simplório. Procura assuntos estratégicos em quais tocar e apresenta “personalidade” diferenciada de um demônio convencional. Primores de um roteiro bem criado, que recebeu o Oscar com toda justiça.

E com um roteiro bem apurado e desenvolvido, William Friedkin só vem para colocar a cereja no bolo. Sua direção é elegante, clássica, que combina-se com o tema pesado de maneira sublime . Aqui, ela não serve apenas para elevar de nível o filme em si, mas todo o gênero do qual ele faz parte . Com takes bem enquadrados e direção de atores sem erros, Friedkin tira todo o proveito que podia do filme. Em outros termos técnicos, O Exorcista ainda mostra muito talento . A fotografia de Owen Roizman é simples, branca, mas ao mesmo tempo, suja. Assemelha-se com a bela fotografia de um filme muito mais recente : Réquiem Para um Sonho. Já nas atuações, O Exorcista tem seu carro chefe como Linda Blair. Uma revelação da época, Linda consegue passar realidade na sua parte saudável, e completa transformação na parte possuída. É tamanho talento que não é difícil pensar que foi outra pessoa que atuou naquela parte do filme . Sensacional. Todos os outros atores passam emoções verdadeiras, e não aderem a esteriótipos para construir as reações de seus personagens .

É necessário, por fim, constatar-se de que o Exorcista não é um clássico do cinema mundial a toa, e que o verdadeiro terror é concretizado nesse filme. As emoções são reais, e a contemplação da figura horrenda da criancinha possuída cria uma sensação catártica mais densa do que meros sustos do cinema comercial de hoje. Sem a menor dúvida, o cinema de horror precisa de mais Williams Friedkins .

5 Estrelas *****

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Á Prova de Morte - Crítica 2

O toque de um gênio para um sub-gênero.


O cinema de Grindhouse percorreu os anos 70 de forma marcante. Os filmes mal feitos, censura alta e com doses cavalares de monstros, sangue, sexo, matança, exagero e caricaturas serviu pra entreter e animar a adolescência de um dos maiores diretores da história do cinema, Quentin Tarantino. E ele, cinéfilo até a alma, apreciador de geniais obras antigas, sempre usou referências em seus filmes e, constantemente, homenageia elas nas telas. Desde Pulp Fiction, em que imortalizou a literatura policial até Bastardos Inglórios, um filme de Segunda Guerra Old School com trilha de faroeste, o diretor bebe de clássicos antigos pra criar seus clássicos modernos. Agora, era a vez de Tarantino homenagear os filmes de Grindhouse, filmes em que se viam nos estacionamento e cinemas vagabundos da época de baixo orçamento e, principalmente, trash até a essência.

E, nesse projeto, Tarantino chamou Robert Rodriguez, também amante desses filmes. Tomavam forma os dois projetos: Planeta Terror e Á Prova de Morte. Logo, essa enorme diversão gerou 2 longas e 5 curtas, que seriam exibidos entre os dois filmes. Esse era o esquema: Dois filmes pelo preço de um. Porém, a longa duração do projeto e a falta de conhecimento da maioria do público sobre o sub-gênero fez o filme fracassar nas bilheterias e eles foram divididos para o lançamento mundial. Então, o Brasil também dividiu os filmes. Porém, se a Europa Filmes viu Planeta Terror(o segmento de Rodriguez) chegar aos cinemas em 2007, Á Prova de Morte foi segurado pela distribuidora até 2010, quandio os direitos foram expirados e comprados pela Playarte, que lança o filme essa semana nos cinemas. E toda essa expectativa gerada é, sem dúvida, recompensadora.

A trama segue um grupo de garotas em Austin, Texas. Elas são modelos e vivem muito bem nessa pequena cidadezinha e vivem indo a bares e andando de carro, demonstrando sua sensualidade. Porém, num bar, elas são surpreendidas por um homem chamado Stuntman Mike(Kurt Russell), um sádico dublê que tem um legítimo Muscle Car "Á Prova de Morte". E, com isso, leva suas vítimas a um aterrorizante passeio, extremamente violento.

A proposta inicial de Grindhouse era homenagear esse gênero cultuado pelos dois cineastas. Porém, se em Planeta Terror Robert Rodriguez realizou um filme de grindhouse mais exagerado, mais caricato e action-packed, Tarantino fez uma legítima HOMENAGEM, dando sua marca ao gênero. Enquanto Planeta Terror é um filme grindhouse comum, Á Prova de Morte é a homenagem de um gênio para o sub-gênero. Tarantino pegou uma trama do sub-gênero e construiu uma narrativa completamente sua, com suas situações divertidas e seus diálogos afiados(e descartáveis). E, homenageando, colocou falhas na película, falhas de continuidade, edição tosca e situações engraçadíssimas pelo espírito trash, como o repentino final. Também perto do final, temos a perseguição dos Muscles, um branco contra o preto. Engraçada até a alma, não havia forma mais exata de demonstrar quem é do mal e quem é do bem.

Desde a construção de personagens até as situações criadas por Tarantino, Á Prova de Morte é um enorme acerto. Apesar de discursarem o tempo inteiro sobre cinema, cultura pop em geral e afins, agora os personagens tarantinescos tem uma diferença: são mulheres. E é incrível como o criador tem mão até pra escrever diálogos femininos depois de duas décadas fazendo filmes extremamente masculinos. E até nisso há a homenagem: aqui, os diálogos servem pra típica enrolação de filme de terror, que culmina no grande ato(nesse caso, as batidas de carro com Stuntman Mike). Até mesmo o sexo e o erotismo das Grindhouses Tarantino homenageou, na dança sensuaal de colo feita por Vanessa Ferlito. Tudo isso, somado a icônica criação do personagem de um inspirado Kurt Russell torna Á Prova de Morte um filme sensacional. Pode até ser o filme de Tarantino com ritmo mais lento, mas tudo isso é recompensador.

Tecnicamente, o filme também arrebenta. A direção de Tarantino é mais uma vez completa, com destaque ao genial take inteiro de 7 minutos em que as amigas conversam no bar sobre perseguições de carro no cinema(mulher falando disso?!) e as perseguições de carro, orquestradas de maneira fabulosa. E isso, confesso, até me espantou. A mão de Tarantino para a ação nunca havia sido mostrada antes e aqui é excelente. A edição de Sally Menke é competente quando pedida e homenageia no tom certo quando necessário. No início, cortes mal feitos e caricatos. Homenagem. No final, perseguições montadas de forma ágil. Competência. A fotografia de Tarantino é maravilhosa também e o envelhecimento da película foi preciso pra dar o tom trash. E isso é aliado à trilha sonora que, como de costume nos filmes do diretor, é sensacional e vai ficar horas e horas na sua cabeça.

Avaliando de uma forma geral, ainda se somando ás inspiradas atuações de Kurt Russell, Vanessa Ferlito e até a dublê Zöe Bell, Á Prova de Morte é um deleite aos olhos e um legítimo produto cinéfilo. Tarantino entrou pra história novamente com um novo filmaço, excelente por conter cada segundo de sua marca. Se, apesar de ter 113 minutos, esse é o filme mais lento em ritmo dele, é porque homenagens nem sempre podem construir um filme todo sem incomodar. Pois aqui não incomoda. Aos cinéfilos, temos uma nova pérola tarantinesca aqui. Completamente diferente do que Rodriguez fez com seu Planeta Terror, Tarantino fez uma verdadeira homenagem ás Grindhouses. Os diretores dos trashs setentistas podem ficar honrados.

***** 5 Estrelas

domingo, 18 de julho de 2010

Á Prova de Morte - Crítica 1

Tarantino faz mais uma de suas obras-primas, mas com homenagem e estética Grindhouse.

Em 2007 ,Quentin Tarantino e Robert Rodriguez entraram num projeto em conjunto chamado Grindhouse, para homenagear os tantos filmes da década de 70 pertencentes a esse quase gênero - onde as produções eram baratas , as histórias toscas, e o cuidado dos distribuidores quase inexistente - que marcou a geração dos cineastas , que assistiam ás famosas sessões duplas em estacionamentos ou cinemas baratos . A produção , então , foi dividida em dois filmes : Planeta Terror , de Rodriguez , e Á Prova de Morte , de Tarantino . Por azar do destino e extrema falta de destreza administrativa das distribuidoras brasileiras , O filme de Robert Rodriguez chegou ao Brasil em sua data prevista, mas o mesmo não aconteceu com a película de Tarantino. Mas , depois de um inexplicável atraso de 3 anos, Á Prova de Morte enfim chega ao Brasil .

E é fato de que esse ''passatempo'' do diretor é simplesmente mais uma de suas obras-primas, e , avaliada separadamente do seus contexto, é ainda melhor . Ora, o projeto Grindhouse sofre afinal de dois ritmos diferentes : Um é o caricato mundo criado por Robert Rodriguez, e o outro é o interessantísimo mundo tarantinesco de Á Prova de Morte. Em poucas palavras é possível resumir a diferença básica : Rodriguez criou algo convencional, e Tarantino algo pessoal, onde a homenagem brota de maneira mais cativante .

A história de Á Prova de Morte apresenta tudo o que uma produção Grindhouse original tinha : garotas sexy , clima de suspense e horror, e sanguinolência . Nesses pilares, Tarantino consegue estabelecer sua originalidade através de uma história única . Nela, acompanhamos o dublê misterioso Stuntman Mike ( Kurt Russel) que vaga pelas cidadezinhas á procura de futuras vítimas do seu carro - Um Chevrolet Muscle adaptado para dublês, seguro para quem o dirige. Paralelamente seguimos as histórias das vítimas que Stuntman Mike pretende atacar. Entram para interpretá-las , Rosario Dawson, Zöe Bell , Vanessa Ferlito ,entre outras . A história, é claro, não é tão simplória a resumir-se por matanças , e na inteligente divisão de seus arcos de história, Tarantino ganha pontos mais uma vez.

O roteiro se estabelece de maneira interessante, principalmente em sua estrutura . Tarantino pega uma trama básica típica de Grindouse (vilão matador que vai atrás de suas vítimas) e utiliza todos os detalhes recorrentes de sua carreira, comos os diálogos extensos e estranhos ou os seus arcos gigantes de narrativa, além de utilizar muito da auto-referência - desde de detalhes do figurino até músicas, marcas e situações chave. O cineasta também utiliza todos os recursos presentes num filme de terror barato. A típica ''enrolação'' antes da ação em si, e o erotismo farto(emblematizado na cena da dança do colo), que estava presente na maioria dos filmes Grindhouse . Na parte da divisão de arcos, Tarantino se sobressai mais uma vez , como dito antes . Assim como em Kill Bill ou Bastardos Inglórios, em Á Prova de Morte Tarantino divide sua narrativa em trechos objetivos e que são contundentes para o entendimento da história . Como se trata de uma história de horror básica, Tarantino resolve simplificar mais ainda as relações : o filme se baseia praticamente em dois atos : Ação e reação. E, como de costume, seus diálogos estão afiados e com assuntos estranhos. Porém , desta vez, Tarantino os coloca em situações onde personagens são apresentados, fazendo com que a típica parte de ''enrolação'' inicial dos filmes de terror seja interessante para trama. Além disso tudo, Á Prova de Morte ainda apresenta mais uma novidade : os erros . O filme não desperdiça oportunidades de criar erros de edição, problemas na construção de som e efeitos mal acabados. Além disso, Tarantino inclui propositalmente em seus script de personagens situações que não vão se resolver - como a da personagem Lee - ou que não tem relevância nenhuma para a história - como a participação de Eli Roth pretendendo embebedar as garotas.

Na direção, Tarantino aproveita para experimentar novidades e lapidar algumas de suas marcas registradas. Todas as cenas de ação filmadas com carros eram de certo modo novidade para a filmografia de Tarantino na época em que o fime foi rodado. Nessas cenas, ele mostra que consegue acompanhar a ação passando toda a emoção e sem perder o estilo . Nas marcas registradas, a cenas da conversa entre as dublês no bar entra em destaque. Ali , o diretor busca criar um conversa extensa, mas filmar tudo em um take apenas. O desafio já havia sido proposto em seu primeiro filme, Reservoir Dogs , e foi aperfeiçoado aqui. Enquanto ele gira no eixo de uma personagem que fala, ele mostra todas as outras, de costas, e conforme a conversa segue, os eixos mudam, mas sem cortes. Genial . De resto, Tarantino abusa de bons enquadramentos e direção de atores competente como sempre.

Nas atuações, quem mais impressiona é Kurt Russel, que apesar de ser um ator consagrado, nunca obeve um papel onde pudesse mostrar todo seu talento. Aqui, como o vilão carismático , Russel encanta a platéia, e quando troca olhares com o público e com os outros personagens, a sintonia é perfeita. O papel de sua vida. Todas as outras garotas mostram grandes atuações e entrega total para o desempenho do filme. Nas partes técnicas o diretor mais uma vez não decepciona. A jukebox mental de Tarantino não parece ter fim, e as músicas de seus filmes são sempre um destaque. A fotografia, assinada por ele mesmo, é boa, e ajuda a dar o tom de velho e de baixo custo ao filme.

Depois de um avaliação completa, é possível dizer que Á Prova de Morte é mais uma das grandiosas obras-primas da genial galeria de Quentin Tarantino. Um toque do seu talento nato ao gênero Grindhouse . Aqui, o garoto do Tenessee cria uma homenagem adicinando doses de seu cinema primoroso. Enquanto Rodriguez criou uma homenagem convencional e caricata, Tarantino proporcionou uma história única, e uma experiência única , marcando sua assinatura profundamente em nossas mentes, de novo.


5 Estrelas *****

Encontro Explosivo

Tom Cruise eleva comédia romântica a filme de ação divertido.

Tom Cruise é conhecido por fazer, na maioria das vezes, papéis rasos ou de heróis de ação. Nos primórdios da carreira(e, atualmente, de vez em quando), resolve fazer papéis mais cômicos ou até mesmo tirando sarro de si mesmo, como em Trovão Tropical. Mas sua persona é cada vez mais comentada no mundo fora do cinema, sendo por afirmações pouco felizes, sua crença na cientologia, seu casamento com Katie Holmes ou a pauta principal: O episódio Oprah. Porém, assim como Nicolas Cage, Tom Cruise pode ter seus arroubos de personalidade ou se meter em papéis ridículos ou secundários, mas quando acerta é uma ovação, algo simplesmente divertido.

Aqui, em Encontro Explosivo, definitivamente é um acerto. Cruise abandona certos caprichos e abandona de vez o lugar produtor-ator, que atingiu seu ápice em Missão Impossível 3. Como em Trovão Tropical, o ator se liberta e constrói um personagem interessante.

A trama segue o espião Roy Miller(Cruise), um agente traído que precisa limpar seu nome depois se ser acusado de roubar um artefato que é uma fonte ilimitada de energia. Durante um voo, apenas com agentes do FBI e Roy, uma mulher chamada June(Cameron Diaz) acaba entrando no voo e conhece Roy. A partir daí, uma vertiginosa perseguição é iniciada contra o casal, sempre que Fitzgerald(Peter Sargaasd) no encalço.

O roteiro, escrito pelo estreante Patrick O'Neill, é interessante por ser uma comédia romântica que usa a ação para se desenvolver. Basicamente, é uma história da mulher entediada que conhece o homem da ação, agente secreto/policial/assassino. Logo, eles se apaixonam e, como toda comédia romântica, existe a separação no terceiro ato. Por isso, o maior trunfo do roteiro de O'Neill não seja a construção de personagens(arquetipíca e sem se levar á sério) ou as situações ali propostas(a maioria, mirabolantes ou testadas anteriormente), mas sim enxergar que o cinema de ação e o da comédia romântica são tão próximas que dá pra fazer um filme de ação amorosa ou uma comédia romântica com metralhadoras. Da mesma forma que Roy atira em todo mundo, salva o dia, salva a bateria, matas os bandidos, ele percorre um tiroteio inteiro, lentamente, apenas pra beijar June. É um típico filme feito pra agradar os casais e, se visto como uma sátira ao gênero da ação/espionagem(afinal, Cruise imita Bourne e Bond em várias cenas e até usa um chicote!), serve muito bem e se encaixa como uma boa diversão.

Então, Encontro Explosivo serviria basicamente como uma diversão pras mulheres e diversão para os homens. Visto a olho crítico, ele seria apenas um filme de ação comum. Porém, entra aí o fator James Mangold. O profílico diretor, de dramas oscarizados(Garota Interrompida) a comédias biográficas(Johnny e June), passando por faroeste(Os Indomáveis), conseguiu uma proeza: fez uma direção de ação explosiva como não se viu no ano. Abusando de planos sequências únicos, Mangold faz um Louis Letterier chorar de vergonha. Tirando belos takes da cidade de Sevilla, a vertiginosa sequência final é filmada com maestria, prezando pela plasticidade e dublês e não dos cortes rápidos e CGI. Competente e uma das melhores do ano. Engatados na direção, os quesitos técnicos seguem junto. Edição competente, auxiliada pela fotografia boa de Phedon Papamichael. Demonstrando o clima descontraído do filme, a trilha dum John Powell na média faz seu papel bem - e nada mais. Nem parece o mesmo compositor do Bourne(olha as semelhanças com os clássicos da ação de novo).

Nas atuações, Cruise é o que arrebenta mesmo, com seu jeito assumidamente neurótico. Mas Cameron Diaz também dá conta do recado e faz bem seu papel na ação e é engraçada quando necessária. Peter Sargaarsd é até um ator muito bom, mas aqui tem seu papel limitado, sendo só mais um vilão da vez.

Logo, Encontro Explosivo é um filme na média, bom, que fez o melhor que pôde com sua limitada capacidade. Serve como uma boa diversão e entretem muito bem, mas que tem problemas de roteiro, como a previsibilidade. Vale, principalmente, por Cruise se autoparodiando e demonstrando seu talento e pela direção fabulosa de Mangold. Se ele é apenas entretenimento e nada mais, pelo menos faz isso muito bem.

*** 3 Estrelas

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Esquadrão Classe-A

Adaptação oitentista é divertida e mantém o espírito absurdo da série.

A Série Esquadrão Classe-A é grande conhecida da geração de adultos de hoje em dia. Uma série descompromissada e cheia de ação que tinha personagens carismáticos, episódios divertidos e um nível técnico acima da média. E ainda tinha Mr. T., engraçado e bad-ass em um papel que fez parte de uma geração e que deu evidência ainda maior pro astro. E, como todo grande sucesso da TV, a série atraiu os olhos hollywoodianos, ávidos por novas franquias, mesmo que isso nunca tenha rendido um ótimo filme nas telas. Para cada As Panteras, temos dois Sou Espião. Porém, com o tempo, o filme dos 4 especialistas no absurdo tomou forma e com uma excelente parte técnica. Liam Neeson tinha abraçado o projeto, o elenco estava ótimo, o estiloso Joe Carnahan assumia a direção e até mesmo haviam arrumado um cara parecido com o Mr. T.

Enfim, o resultado visto nas telonas é recompensador. O filme tem seus defeitos, que não sou poucos, mas agrada demais. Diversão garantida e que respeita o espectador, entrando no cinema com méritos. Ao público antigo, old-school, fã da série, temos um filme respeitoso e que flerta com novos horizontes, servindo como um prelúdio da série, um A-Team Begins, não só modernizando os personagens como mantendo o espírito de cada um deles. As situações inverossímeis da série também estão aqui e só estão presentes pra divertir ainda mais. Aos não-iniciados na série, temos um legítimo produto feito pra entreter por 110 minutos, que só tem a agradar mais quando visto pela segunda vez e que consegue algo que é raro e emocionante hoje em dia: Cria um interesse em conhecer mais a série antiga.

A trama, assumidamente rasa, acompanha um time de soldados especiais que se encontram pela primeira vez 8 anos antes do filme. Nesse primeiro encontro, descobrimos que dois desses soldados são Hannibal(Liam Neeson) e Cara-de-Pau(Bradley Cooper) e que Hannibal está tentando salvar Cara-de-Pau de uma gangue. Porém, Hannibal precisa de um furgão. E Bosco Barracus(Quinton Jackson) está na cidade com seu furgão e encontra Hannibal no meio do deserto. Uma operação absurda depois, incluindo uma divertidíssima sequência de helicóptero, pilotado pelo insano Murdock(Sharlto Copley), e o time está formado. Porém, 8 anos depois, o grupo é acusado de traição pelo roubo de formas de dinheiro no Iraque. Presos, eles recebem a ajuda de Lynch(Patrick Wilson) e tem que provar sua inocência.

O roteiro, escrito por Briam Bloom, Joe Carnaham e o irregular Skip Woods, agrada bastante pela consciência do que ele representa. É um roteiro previsível, cheio de situações arquetípicas, mas recheadas de humor e que se assumem divertidos, sem grandes ambições. Entretenimento é a chave segundo os escritores e isso é ótimo. Em tempos de ambiciosos remakes épicos e pancadaria descompassada de robôs, Esquadrão Classe A encontra um espaço. Por mais inverossímeis que sejam as situações(a sequência do tanque é insana), elas fazem sentido e não ofendem. E a construção de personagens, uma especialidade da série e essencial pra uma possível franquia, é excelente e só ajuda o filme. Sem contar a fidelidade á série. Hannibal continua genial, Cara-de-Pau continua irresponsável, B.A continua sendo um brutamontes sensível e Murdock está mais maluco que nunca. Falando em Murdock, suas tiradas de humor são fantásticas, abrangendo de Blue Man Group até mesmo a nacionalidade de Sharlto Copley.

Nas partes técnicas, o filme também agrada. A direção de Joe Carnahan não tem uma marca assinada e estilo esbanjado como em Narc e A Última Cartada, mas tem bons enquadramentos e fluidez nas cenas de ação. Acompanhando a direção, temos uma edição igualmente fluente. A fotografia do oscarizado Mauro Fiore faz uma boa homenagem á série, com tons desérticos e insiste na mania atual de retratar o Bem com tonalidades azuis e o Mal com tonalidades laranjas. Apesar de clichê, serve e é mediana. A trilha sonora de Alan Silvestri também homenageia a série e cria uma trilha tipicamente americana e com tons patrióticos, bem de exército.

Nas atuações, pontos a mais, apesar de um enorme incômodo. Liam Neeson está no limite do caricato, o que funciona. Não espere ver uma magistral atuação do ator e todos sairam satisfeitos. Bradley Cooper também segue esse ritmo, mas por estar em início de carreira, já dá pra ter um panorama maior dela. Atingindo o ápice do action guy aqui, o ator se concretiza como um ator de blockbuster acima da média, sendo engraçado quando pedido(Se Beber não case!) e tendo carisma quando pedido(como aqui). Quinton Jackson tinha a tarefa mas árdua do elenco, mas capta perfeitamente o carisma e o bom coração de B.A. Ainda mais no final, quando seu lado brutamontes entra em evidência. E, a melhor atuação, Sharlto Copley. O excelente ator de Distrito 9 já provou que tem densidade dramática, mas aqui ele mostra seu lado cômico. São dele as melhores tiradas do filme e até nas sequências de ação, suas tiradas insanas servem. Não só pra entreter, mas também pra construir o personagem como um cara insano. Jessica Biel, no papel da Agente Sosa, só serve pra ser um colírio e não compromete.

Porém, existe o tal incômodo já citado. E ele responde por Patrick Wilson. Estranho pensar que o competente ator de Watchmen e Pecados Íntimos tenha feito um personagem tão estúpido e ridículo como Lynch. Quando tem que ser engraçado, ele exagera na dose e quem dá as cartas é a vergonha alheia. Quando tenta fazer algo mais sério, tenta fazer a caricatura do vilão. Tão esdrúxulo que só faltava ele pedir pro mocinho passar pro lado dele no final. Enfim, suas cenas são tão fracas que o filme até perde ritmo nelas, até incomodando um pouco.

Apesar de Wilson, Esquadrão Classe A flui muito bem e aposta nas cartas certas, provando que entretenimento puro e divertido pode render bons filmes, sem incomodar a crítica. Apesar de não ser relevante artísticamente, vale a pena gastar dinheiro com o filme. Joe Carnahan, apesar de ter acabado com seu lado autoral e ter se rendido aos caprichos de estúdio com esse blockbuster, consegue criar um universo divertido e interessante, apesar da densidade dramática zero. Agora fica a torcida pro filme arrecadar bastante, pra que haja uma sequência tão frenética quanto essa.

*** 3 Estrelas