Old School Nerds

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Á Prova de Morte - Crítica 2

O toque de um gênio para um sub-gênero.


O cinema de Grindhouse percorreu os anos 70 de forma marcante. Os filmes mal feitos, censura alta e com doses cavalares de monstros, sangue, sexo, matança, exagero e caricaturas serviu pra entreter e animar a adolescência de um dos maiores diretores da história do cinema, Quentin Tarantino. E ele, cinéfilo até a alma, apreciador de geniais obras antigas, sempre usou referências em seus filmes e, constantemente, homenageia elas nas telas. Desde Pulp Fiction, em que imortalizou a literatura policial até Bastardos Inglórios, um filme de Segunda Guerra Old School com trilha de faroeste, o diretor bebe de clássicos antigos pra criar seus clássicos modernos. Agora, era a vez de Tarantino homenagear os filmes de Grindhouse, filmes em que se viam nos estacionamento e cinemas vagabundos da época de baixo orçamento e, principalmente, trash até a essência.

E, nesse projeto, Tarantino chamou Robert Rodriguez, também amante desses filmes. Tomavam forma os dois projetos: Planeta Terror e Á Prova de Morte. Logo, essa enorme diversão gerou 2 longas e 5 curtas, que seriam exibidos entre os dois filmes. Esse era o esquema: Dois filmes pelo preço de um. Porém, a longa duração do projeto e a falta de conhecimento da maioria do público sobre o sub-gênero fez o filme fracassar nas bilheterias e eles foram divididos para o lançamento mundial. Então, o Brasil também dividiu os filmes. Porém, se a Europa Filmes viu Planeta Terror(o segmento de Rodriguez) chegar aos cinemas em 2007, Á Prova de Morte foi segurado pela distribuidora até 2010, quandio os direitos foram expirados e comprados pela Playarte, que lança o filme essa semana nos cinemas. E toda essa expectativa gerada é, sem dúvida, recompensadora.

A trama segue um grupo de garotas em Austin, Texas. Elas são modelos e vivem muito bem nessa pequena cidadezinha e vivem indo a bares e andando de carro, demonstrando sua sensualidade. Porém, num bar, elas são surpreendidas por um homem chamado Stuntman Mike(Kurt Russell), um sádico dublê que tem um legítimo Muscle Car "Á Prova de Morte". E, com isso, leva suas vítimas a um aterrorizante passeio, extremamente violento.

A proposta inicial de Grindhouse era homenagear esse gênero cultuado pelos dois cineastas. Porém, se em Planeta Terror Robert Rodriguez realizou um filme de grindhouse mais exagerado, mais caricato e action-packed, Tarantino fez uma legítima HOMENAGEM, dando sua marca ao gênero. Enquanto Planeta Terror é um filme grindhouse comum, Á Prova de Morte é a homenagem de um gênio para o sub-gênero. Tarantino pegou uma trama do sub-gênero e construiu uma narrativa completamente sua, com suas situações divertidas e seus diálogos afiados(e descartáveis). E, homenageando, colocou falhas na película, falhas de continuidade, edição tosca e situações engraçadíssimas pelo espírito trash, como o repentino final. Também perto do final, temos a perseguição dos Muscles, um branco contra o preto. Engraçada até a alma, não havia forma mais exata de demonstrar quem é do mal e quem é do bem.

Desde a construção de personagens até as situações criadas por Tarantino, Á Prova de Morte é um enorme acerto. Apesar de discursarem o tempo inteiro sobre cinema, cultura pop em geral e afins, agora os personagens tarantinescos tem uma diferença: são mulheres. E é incrível como o criador tem mão até pra escrever diálogos femininos depois de duas décadas fazendo filmes extremamente masculinos. E até nisso há a homenagem: aqui, os diálogos servem pra típica enrolação de filme de terror, que culmina no grande ato(nesse caso, as batidas de carro com Stuntman Mike). Até mesmo o sexo e o erotismo das Grindhouses Tarantino homenageou, na dança sensuaal de colo feita por Vanessa Ferlito. Tudo isso, somado a icônica criação do personagem de um inspirado Kurt Russell torna Á Prova de Morte um filme sensacional. Pode até ser o filme de Tarantino com ritmo mais lento, mas tudo isso é recompensador.

Tecnicamente, o filme também arrebenta. A direção de Tarantino é mais uma vez completa, com destaque ao genial take inteiro de 7 minutos em que as amigas conversam no bar sobre perseguições de carro no cinema(mulher falando disso?!) e as perseguições de carro, orquestradas de maneira fabulosa. E isso, confesso, até me espantou. A mão de Tarantino para a ação nunca havia sido mostrada antes e aqui é excelente. A edição de Sally Menke é competente quando pedida e homenageia no tom certo quando necessário. No início, cortes mal feitos e caricatos. Homenagem. No final, perseguições montadas de forma ágil. Competência. A fotografia de Tarantino é maravilhosa também e o envelhecimento da película foi preciso pra dar o tom trash. E isso é aliado à trilha sonora que, como de costume nos filmes do diretor, é sensacional e vai ficar horas e horas na sua cabeça.

Avaliando de uma forma geral, ainda se somando ás inspiradas atuações de Kurt Russell, Vanessa Ferlito e até a dublê Zöe Bell, Á Prova de Morte é um deleite aos olhos e um legítimo produto cinéfilo. Tarantino entrou pra história novamente com um novo filmaço, excelente por conter cada segundo de sua marca. Se, apesar de ter 113 minutos, esse é o filme mais lento em ritmo dele, é porque homenagens nem sempre podem construir um filme todo sem incomodar. Pois aqui não incomoda. Aos cinéfilos, temos uma nova pérola tarantinesca aqui. Completamente diferente do que Rodriguez fez com seu Planeta Terror, Tarantino fez uma verdadeira homenagem ás Grindhouses. Os diretores dos trashs setentistas podem ficar honrados.

***** 5 Estrelas

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