Em 2007 ,Quentin Tarantino e Robert Rodriguez entraram num projeto em conjunto chamado Grindhouse, para homenagear os tantos filmes da década de 70 pertencentes a esse quase gênero - onde as produções eram baratas , as histórias toscas, e o cuidado dos distribuidores quase inexistente - que marcou a geração dos cineastas , que assistiam ás famosas sessões duplas em estacionamentos ou cinemas baratos . A produção , então , foi dividida em dois filmes : Planeta Terror , de Rodriguez , e Á Prova de Morte , de Tarantino . Por azar do destino e extrema falta de destreza administrativa das distribuidoras brasileiras , O filme de Robert Rodriguez chegou ao Brasil em sua data prevista, mas o mesmo não aconteceu com a película de Tarantino. Mas , depois de um inexplicável atraso de 3 anos, Á Prova de Morte enfim chega ao Brasil .
E é fato de que esse ''passatempo'' do diretor é simplesmente mais uma de suas obras-primas, e , avaliada separadamente do seus contexto, é ainda melhor . Ora, o projeto Grindhouse sofre afinal de dois ritmos diferentes : Um é o caricato mundo criado por Robert Rodriguez, e o outro é o interessantísimo mundo tarantinesco de Á Prova de Morte. Em poucas palavras é possível resumir a diferença básica : Rodriguez criou algo convencional, e Tarantino algo pessoal, onde a homenagem brota de maneira mais cativante .
A história de Á Prova de Morte apresenta tudo o que uma produção Grindhouse original tinha : garotas sexy , clima de suspense e horror, e sanguinolência . Nesses pilares, Tarantino consegue estabelecer sua originalidade através de uma história única . Nela, acompanhamos o dublê misterioso Stuntman Mike ( Kurt Russel) que vaga pelas cidadezinhas á procura de futuras vítimas do seu carro - Um Chevrolet Muscle adaptado para dublês, seguro para quem o dirige. Paralelamente seguimos as histórias das vítimas que Stuntman Mike pretende atacar. Entram para interpretá-las , Rosario Dawson, Zöe Bell , Vanessa Ferlito ,entre outras . A história, é claro, não é tão simplória a resumir-se por matanças , e na inteligente divisão de seus arcos de história, Tarantino ganha pontos mais uma vez.
O roteiro se estabelece de maneira interessante, principalmente em sua estrutura . Tarantino pega uma trama básica típica de Grindouse (vilão matador que vai atrás de suas vítimas) e utiliza todos os detalhes recorrentes de sua carreira, comos os diálogos extensos e estranhos ou os seus arcos gigantes de narrativa, além de utilizar muito da auto-referência - desde de detalhes do figurino até músicas, marcas e situações chave. O cineasta também utiliza todos os recursos presentes num filme de terror barato. A típica ''enrolação'' antes da ação em si, e o erotismo farto(emblematizado na cena da dança do colo), que estava presente na maioria dos filmes Grindhouse . Na parte da divisão de arcos, Tarantino se sobressai mais uma vez , como dito antes . Assim como em Kill Bill ou Bastardos Inglórios, em Á Prova de Morte Tarantino divide sua narrativa em trechos objetivos e que são contundentes para o entendimento da história . Como se trata de uma história de horror básica, Tarantino resolve simplificar mais ainda as relações : o filme se baseia praticamente em dois atos : Ação e reação. E, como de costume, seus diálogos estão afiados e com assuntos estranhos. Porém , desta vez, Tarantino os coloca em situações onde personagens são apresentados, fazendo com que a típica parte de ''enrolação'' inicial dos filmes de terror seja interessante para trama. Além disso tudo, Á Prova de Morte ainda apresenta mais uma novidade : os erros . O filme não desperdiça oportunidades de criar erros de edição, problemas na construção de som e efeitos mal acabados. Além disso, Tarantino inclui propositalmente em seus script de personagens situações que não vão se resolver - como a da personagem Lee - ou que não tem relevância nenhuma para a história - como a participação de Eli Roth pretendendo embebedar as garotas.
Na direção, Tarantino aproveita para experimentar novidades e lapidar algumas de suas marcas registradas. Todas as cenas de ação filmadas com carros eram de certo modo novidade para a filmografia de Tarantino na época em que o fime foi rodado. Nessas cenas, ele mostra que consegue acompanhar a ação passando toda a emoção e sem perder o estilo . Nas marcas registradas, a cenas da conversa entre as dublês no bar entra em destaque. Ali , o diretor busca criar um conversa extensa, mas filmar tudo em um take apenas. O desafio já havia sido proposto em seu primeiro filme, Reservoir Dogs , e foi aperfeiçoado aqui. Enquanto ele gira no eixo de uma personagem que fala, ele mostra todas as outras, de costas, e conforme a conversa segue, os eixos mudam, mas sem cortes. Genial . De resto, Tarantino abusa de bons enquadramentos e direção de atores competente como sempre.
Nas atuações, quem mais impressiona é Kurt Russel, que apesar de ser um ator consagrado, nunca obeve um papel onde pudesse mostrar todo seu talento. Aqui, como o vilão carismático , Russel encanta a platéia, e quando troca olhares com o público e com os outros personagens, a sintonia é perfeita. O papel de sua vida. Todas as outras garotas mostram grandes atuações e entrega total para o desempenho do filme. Nas partes técnicas o diretor mais uma vez não decepciona. A jukebox mental de Tarantino não parece ter fim, e as músicas de seus filmes são sempre um destaque. A fotografia, assinada por ele mesmo, é boa, e ajuda a dar o tom de velho e de baixo custo ao filme.
Depois de um avaliação completa, é possível dizer que Á Prova de Morte é mais uma das grandiosas obras-primas da genial galeria de Quentin Tarantino. Um toque do seu talento nato ao gênero Grindhouse . Aqui, o garoto do Tenessee cria uma homenagem adicinando doses de seu cinema primoroso. Enquanto Rodriguez criou uma homenagem convencional e caricata, Tarantino proporcionou uma história única, e uma experiência única , marcando sua assinatura profundamente em nossas mentes, de novo.
5 Estrelas *****
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