Todd Phillips e a problemática da piada repetida .
No mundo da comédia , há muitos meios de se fazer rir . Há o humor físico, as anedotas clássicas , o humor involuntário e gags de situações de saia-justa . O ponto principal de tudo , e que nos configura o âmago de comicidade em qualquer produto que intitule-se humorístico , é a famosa quebra de expectativa , termo conhecido e aprendido até mesmo no colegial básico . Para trazer as gargalhadas , portanto , é necessário a posse de uma idéia original , algo que nos surpreenda , adicionado de uma dose de timing . Por que esse lembrete sucinto sobre humor ? Simples : O primeiro Se Beber, Não Case , de 2009 , utilizava uma idéia genial sobre um gênero deixado de lado nos anos 80 - o filme de comédia sobre e para macho . Com a temática clássica da ressaca em Vegas , o longa de Todd Phillips arrebentou por ousar numa história de amnésia, com personagens no timing certo, piadas originalíssimas e uma mão cheia para o escracho . Seguiu o que a cartilha do humor inteligente manda , e foi um sucesso arrebatador . O que o segundo longa - que estréia esse final de semana - faz, entretanto , não vai de encontro ao que o micro lembrete no início dessa crítica diz . Repete as piadas , não aposta em quase nada novo , e se aparenta perdido e inócuo em seu roteiro, principalmente se colocado lado a lado do original .
Não foi só agora que Phillips começou a apostar em algo repetido . Depois do sucesso de 2009, o diretor realizou um Parto de Viagem , e utilizou o tema já presente em Se Beber , Não Case , acoplando-o a um road movie . Sem nada muito novo para explorar - e com um Zach Galifianakis que praticamente repetiu o papel de Alan , mas dessa vez ao lado de Robert Downey Jr. - Phillips apostou em piadas de oralidade pura , e só não se saiu muito pior porque terminou o longa no momento certo . Já em Se Beber , Não Case - Parte II , tudo vai pelo ralo pois abandona-se o mínimo de originalidade - o argumento é quase idêntico ao do original . É a piada repetida em essência , a previsibilidade em película .
Desde o primeiro frame somos expostos a isso . A única diferença básica - e que parece que foi a motivação para o filme ser realizado - é a mudança de cenário de Las Vegas para a Bangcoc . Dessa vez quem se casa é Stu ( Ed Helms) , e como a cerimônia será na Tailândia , para lá vai o resto da matilha com ele - Alan (Zach Galifianakis) e Phill (Bradley Cooper). Depois da farra, dessa vez, eles não perdem o noivo , mas sim o irmão menor de idade da noiva . A partir daí , é amnésia de cá, envolvimento com gangues de lá , e as mesmas viradas de roteiro já degustadas no genial primeiro filme .
Não é exagero. A estrutura da narrativa é meticulosamente igual a do hit de 2009 , uma opção consciente de quem estava preparando o roteiro , apostando em um retorno financeiro certo com o sempre eficiente caça-níqueis que o cinema “mais do mesmo” é . Desse modo, toda a trama de quebra-cabeça proposta em 2009 - com o suspense gradativo das descobertas do que haviam realizado na noite que se passara - é simplesmente colocada de lado . A imprevisibilidade e o artifício do inesperado , que são pontos fundamentais para qualquer boa piada , são impossibilitados de existirem aqui, por motivos óbvios. Mesmo que não se saiba exatamente como cada evento se sucedeu , é possível prever as soluções ,e também os problemas pelos quais nossos protagonistas vão passar . E eles ocorrem na mesma ordem e na mesma lógica do primeiro filme , com os mesmo desfechos , sem inovações . De maneira esquemática e já conhecida, fica difícil de engolir o script dessa sequência-cópia , que perde seu tempero principal - a originalidade .
E se na estrutura e no encadeamento de arcos o filme já exalava previsibilidade , nos pontos em que ele se diferencia, e apresenta detalhes originais - como os personagens provenientes da cidade, por exemplo - simplesmente não consegue tirar o máximo deles . São pontos desenvolvidos com preguiça , sem uma vivacidade necessária e ''jogados'' na narrativa sem muita relevância para a trama . É a prova de que Se Beber , Não Case! 2 consegue fracassar até nos ralos termos originais que propõe , e que mesmo deixando a inevitável comparação com o original de lado , ainda assim permanece na falha . É o triste resultado de um argumento desenvolvido ás pressas - e sem um pingo do preciosismo do primeiro longa - instigado pela ganância de lançar logo uma continuação nos cinemas mundiais .
Mas se este segundo Hangover consegue não ser uma perda total , é muito pelos seus detalhes . Há várias gags isoladas que fazem um trabalho interessante , e mesmo que não sejam suficientes para carregar a produção nas costas , geram gargalhadas verdadeiras . Outro trunfo que auxilia e muito a segurar o ritmo deste novo filme são seus personagens . Phill , Alan e Stu são engraçados por natureza , e apesar de não estarem tão ''conectados'' aqui quanto no primeiro filme , ainda asseguram a atenção do espectador com confiança . Galifianakis segue com seu talento nato , extraindo momentos de pura genialidade e servindo como óleo lubrificante para a produção . Com momentos pontuados de humor físico sublime , e um ou outro escracho bem empregado , Se Beber...2 se sustenta como uma daquelas anedotas que você já conhece, mas que se for contada por quem sabe, ainda faz surgir um grato sorriso enviesado .
Nada que salve o resultado final do fracasso esperado . A tática de repetir milimétricamente a fórmula de um sucesso para garantir os cofres do estúdio deixa a amarga sensação de desperdício de rolo cinematográfico . Como um meme , que aos poucos perde sua força no mundo virtual , Se Beber Não Case! 2 fará rir , mas será facilmente esquecido diante de sua irrelevância em essência . Desnecessário e fraco, só nos faz lembrar o que o personagem de Bradley Cooper fala no início da projeção : ''Será que não poderíamos fazer tudo de novo em Vegas ?'' . Não . Simplesmente não deveriam fazer de novo , em lugar nenhum .
2 Estrelas ** - Aceitável
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