Quarto filme da série é antiquado em todos os sentidos.
Quando o assunto é Crepúsculo, não é preciso ir muito longe numa análise para o veredito indubitável : não se trata de um produto - tanto cinematográfico, quanto literário - considerado bom . Não pelos seus erros - que são muitos - ou infantilidade , mas pelo simples fato de não conseguir atingir o limiar mínimo de qualidade, quando apenas sua história é avaliada , livre de suas incoerências ou interpretações . Sua trama, por si só, é batida , repetitiva , monótona e previsível . Não há aspectos positivos que possam ser apontados no enredo da ''saga'' (com muitas aspas). Apenas por sua falta de criatividade ou relevância , a série de livros escrita por Stephenie Meyer já merecia pairar próxima da mediocridade . Nada mais justo, já que não possui características dignas de mérito , nem personagens cativantes , ou uma construção de universo bem feita - como em outros best-sellers que fizeram sucesso com os jovens , como Harry Potter e Senhor dos Anéis.
Entretanto , até a mediocridade é demais para o conto de Bella , Edward e Jacob . Não satisfeito em NÃO construir um universo interessante , o sucesso entre as jovens do mundo ainda destrói uma mitologia tão fascinante quanto a dos vampiros . Com seus heróis metrossexuais , e portadores de fobia a vestimentas, ainda sobra para a cultura dos lobisomens . Tudo isso já seria suficiente para decretar a plena nocividade da ''saga'' e seu status inquestionável de ''ruim'' . Mas Crepúsculo não é ruim : está abaixo deste conceito . Podemos atestar claramente isso com a chegada do tão aguardado Amanhecer aos cinemas . O quarto capítulo da franquia cinematográfica chega para tirar mais pontos ainda da mesma . Além de tudo já citado , a série ainda se apresenta incrivelmente retrógrada , em vários sentidos.
Já era possível perceber esse claro estigma machista , infantil e ultraconservador durante os filmes que precedem Amanhecer , mas aqui tudo fica mais evidente e escancarado , conforme o casamento de Bella se aproxima . Na trama da vez , Bella ( Kristen Stewart) e Edward ( Robert Pattinson) preparam seu casamento e enviam seus convites a diversos personagens . O primeiro a receber é Jacob (Taylor Lautner) , que , em mais um momento pomba-gira da franquia, arranca a camisa e vira um lobisomem para extravasar sua revolta licantropa - a cena se passa na chuva, então o calor está descartado como motivo da tirada de camisa , que passa a ser relacionada agora com alguma provável alergia a algodão . Apesar da aparente indecisão , palavra que circunda a série desde o primeiro frame , os dois pombinhos se casam , vêm passar a lua-de-mel no Rio de Janeiro, e aqui consumam seu casamento. Um tempo depois disso, entretanto, Bella tem a ''surpresa'' - isso já não deveria ser esperado? - de estar grávida , e de um feto vampiro .
Dirigido de maneira burocrática, e esteticamente pobre por Bill Condon , Amanhecer é mesmo o pior filme da série . Muito disso causado por seu aspecto monótono - que aliás, sempre acompanhou fielmente a franquia - passando por seus erros técnicos, mas, principalmente, por seu discurso . Este capítulo da série declara, de diversas maneiras, seu machismo, e grande subestimação da classe feminina . Seus recados surgem constatemente, mas ficam cristalinos em determinadas situações, como na gravidez-sacrifício de Bella, que surge como a metáfora clara para aquilo que conhecemos como '' a gravidez é o fim da vida da mulher'' . Ou seja , após o fardo de mãe, não há perspectiva para nenhuma outra meta na vida. Uma visão que se revela errada em qualquer momento da história da humanidade, mas que , em pleno século XXI, é extremamente repreensiva .
Há várias outros momentos que colocam Bella num segundo patamar na relação com Edward : Sua fraqueza - tanto de espírito, já que depende mortalmente daquele homem , quanto física - e também sua inferioridade mental - as cenas em que Edward ganha de Bella no xadrez só servem pra ilustrar a fragilidade da personagem de Stewart , que se demonstra incrivelmente indecisa e frouxa durante toda a exibição . Aliás, minto . Bella se mostra muito determindada num ponto em particular : naquele em que ela precisa se sacrificar pelo filho. As mulheres servem apenas para isso, afinal, correto?
Certamente não. E Amanhecer traria uma boa discussão sobre essa subestimação que ocorre com a mulher caso não fizesse justamente apologia desse fato. Há uma adoração - tanto da escritora , quanto de suas fãs - por esse esquema dito romântico, mas que na verdade só tem de imaturo e antiquado . Ora, Stephenie Meyer não escreve para formar mulheres, mas sim para gerar nas adolescentes uma saudade incrível de serem meras meninas . Repare nas cenas pré-casamento : Bella vive uma indecisão hipoglicêmica, depressiva, sem a menor fagulha de vontade, a acomodação em pessoa . Encarna uma situação similar á de Justine em Melancolia, porém sem nem um por cento do ímpeto da maravilhosa personagem vivida por Kirsten Dunst no filme de Lars Von Trier . O caráter depressivo patológico de Bella chega ao máximo quando nem mesmo seu namorado acredita que ela esteja feliz com o casamento. ''Eu estou'' ,ela diz. Só se for uma felicidade sem semblante - a lá Kimi Raikkonen . Em outro momento do filme, Bella se opõe a usar salto alto, como uma clara criança que recusa o crescimento...Tudo isso só corrobora para o diagnóstico de imensa infantilidade e machismo, presente com maior explicitação do que nunca neste Amanhecer .
Porém, o filme de Bill Condon possui ainda mais defeitos . Não satisfeito em contradizer sua carreira ao assinar contrato para realizar o filme - afinal Condon comandou , em 2004, Kinsey, onde tabus eram quebrados, e agora dirige esta adaptação, onde tabus são mais do que nunca glorificados - o diretor ainda detona a película com sua participação infeliz . Os comandos de set falham , os cortes são desajeitados, a montagem não ajuda . A direção de atores parece tão quadrada, que beira a vergonha alheia . Também, pudera : com excessão de Anna Kendrick e algum outro gato pingado, o elenco de Amanhecer está pior do que nunca . O índice de teatralidade permanece alto, e a culpa é essencialmente dos atores . Atores, aliás, que fracassam ao tentar demonstrar um mínimo de dramaticidade necessária, ou até mesmo expressividade, principlamente neste capítulo tão importante para a ''saga'' . Taylor Lautner e Robert Pattinson estão meramente ruins - Lautner um pouquinho pior - e Kristen Stewart tem mais problemas ao formular expressões .
Além disso, Amanhecer ainda sofre por ser ultrapassado também esteticamente . Sua fotografia é pedestre, e , não satisfeita em não colaborar com o filme, tem tons que variam bruscamente entre cortes . Um Guilherme Navarro irreconhecível . A direção de arte também falha ao dar ao filme um tom extremamente brega, como na cafoníssima cena em que Bella sonha com o casamento. Pilha de mortos? Vestimentas brancas com detalhes de sangue, num fundo estourado branco? Definitivamente, o discurso obsoleto de Amanhecer combina com seu visual.
Diante de tudo isso, ainda temos problemas de roteiro , meros buracos ,como na parte onde vampiros não sabem o que pode acontecer com o nascimento de um bebê vampiro . Séculos de existência para tanta desinformação ? Tudo fica ainda mais cômico na parte onde Edward vai pesquisar sobre o assunto, e entra no Google imagens...Precário, no mínimo.
São muitos os problemas, e Amanhecer, como os outros filmes com o selo Crepúsculo, ainda sofre por ser extremamente modorrento . Antiquado tanto na narrativa quanto em sua técnica, temos aqui o pior filme dos vampiros brilhantes . Um filme indefensável, e se não for por Jack and Jill - mais um desastre de Adam Sandler que vem por aí - este pode ser considerado o pior filme do ano .
1 estrela *
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