Old School Nerds

Old School Nerds

domingo, 29 de novembro de 2009

Beleza Americana

Sam Mendes estreia na direção acabando com o vazio subúrbio americano.

Em 1999, Beleza Americana estreava no cinema. Comoção geral e muitos comentários foram disparados na saída das sessões, tenho certeza. O retrato realista, cruel, triste, belo e duro em que o ácido roteiro de Alan Ball tratou a vida do típico suburbano americano foi impactante demais. O pequeno filme de 15 milhões, estrelado por um desacreditado Kevin Spacey e uma sumida Annette Bening, arrebatou a todos e foi agraciado com 5 Oscar, inclusive de Melhor Filme e Melhor Diretor, na estreia de Sam Mendes no cinema. E, há uns dias, eu vi essa obra-prima. E digo que todos os Oscar são merecidos, que todos os comentários surpreendidos são válidos e que esse filme fez a Kevin Spacey o que Pulp Fiction fez a John Travolta: O ressucitou. Beleza Americana é fora desse mundo, é um dos filmes mais corajosos já feitos, recomendado para qualquer um que quer repensar seu senso crítico ou até mesmo sua vida. Ao mesmo tempo que esse filme se faz espetacular por sua técnica e esmero cinematográfico, ele é algo além de qualquer nota máxima em emocionar o público com a tocante história de Lester Burnham, um dos personagens mais verdadeiros e verossímeis já criados. Seu drama é real, seu modo looser é real. Não duvido nada que vários caras, em qualquer parte do mundo, são um pouco Lester.

A trama, costurada com uma atenção notável, conta a história de Lester(Kevin Spacey) e sua vida medíocre. Ele é comandado pela mulher Carolyn(Annette Bening), submisso, odiado pela filha Jane(Thora Birch), considerado derrotado pela família e o pior: infeliz consigo mesmo. Trabalha num lugar onde não suporta e vive num lugar que considera imbecil. Mas, um dia, ele conhece Angela(Mena Suvari), amiga de sua filha. E Angela vira o motivo da virada de Lester, seu motivo por ainda ver razão pra viver, melhorar si mesmo e se libertar das regras impostas pela vida. Nessa vizinhança, ainda tem o estranho Rick(Wes Bentley) e seu ferrenho e machão pai(Chris Cooper). Seus dramas também são acompanhados de perto, fazendo com que todos tenham seu espaço imenso na tela.

Uma das coisas mais belas de Beleza Americana é sua direção. Sam Mendes proporciona uma experiência único, arrumando ângulos improváveis e os tratando como vasto local para filmar. Seja num espelho, em cima de um carro ou se aproximando de uma TV, Mendes honra seu Oscar de maneiro maravilhosa. Outro elemento de destaque é a direção de arte. O figurino de todos condizem muito com suas personalidades. Quando Carolyn sai de sua casa com seu terninho fashio, fica claro que ela vai lá tentar vender mais uma de suas casas. A trilha sonora de Thomas Newman também é algo fora desse mundo. Com notas calmas, ele pode fazer algo agressivo e muito sensacional, como a música de abertura ou pode também criar algo lindíssimo e simplista, como a sinfonia final. Dinâmico, o compositor se afirma como um dos melhores atualmente. Wall-E também impressiona por sua trilha. Newman criou algo tão memorável quanto em Beleza. Mas, nada desses quesitos técnicos aqui se equipara a fantástica fotografia de Conrad L. Hall. O experiente mestre da fotografia nos entrega um clima tenso, belo, intimidador e vazio para um filme completamente impregnado por essas emoções, por esse sentimentos distintos. Quando Conrad nos entrega imagens simples e belas como Carolyn com uma American Beauty na mão ou quando a chuva, em câmera lenta, contrasta com o vermelho sangue da porta da casa dos Burnham, tudo se torna pleno e bonito. Aqui, ele faz seu melhor trabalho, o que não é nada menos que esplêndido vista a vasta carreira do saudoso fotógrafo.

Num filme denso como Beleza Americana, especialmente por ser um drama, ele se baseia em atuações para tirar seus maiores destaque. E esse filme só fica maior ainda quando falamos disso. Kevin Spacey, resgatado da amargura na carreira, flertando com o ostracismo, volta como o brilhantemente construído Lester Burnham. Spacey se entrega ao papel e some nele, praticamente como Johnny Depp em qualquer de seus trabalhos. Atua na medida quando lhe é pedido e, na virada de seu personagem, Spacey extrapola seu talento. Soberbo. Poucas vezes o Oscar acertou tanto. Annette Bening também estava esquecida pela mídia quando retornou de maneira tocante ao estrelato. Sua Carolyn é também construída com precisão, ajudada pelo cinismo de Bening. A cada quadro seu, Bening demonstra como a sua personagem, bem comum, pode se diferenciar, chocando o espectador. Mena Suvari, apesar de ser um papel importantíssimo a trama, apenas faz o seu trabalho com destreza, sem o impacto dos protagonistas. Wes Bentley desponta como um talento a ser visto a partir daquela época, com um papel difícil e bem executado por ele. Thora Birch também atua bem, mas como Suvari, é ofuscada pela beleza das outras atuações. Mas o coadjuvante que realmente reina, o que pode se juntar a gama de talento dos protagonistas é Chris Cooper. Seu Frank Fitts, o pai machão, fuzileiro, típico chefe de família suburbano é fantástico. Suas cenas emocionam, sejam pela densidade do roteiro ou das comoventes lágrimas de Cooper. Se demonstrando uma jóia rara, Cooper foi injustiçado pelo Oscar, que não entregou seu prêmio, que eu daria como certo se tivesse visto o filme na época.

O roteiro de Alan Ball é majestoso. Seu trabalho de estreia tem a estrutura de um veterano, o arrojo de um novato e uma construção de personagens habitualmente ótima, como na maioria dos dramas. Mas ele foge do comum contando a história de cidadãos comuns. Seu protagonista é um derrotado patético, submisso a esposa e odiado pela filha. Sinceramente, nunca vi um herói tão arrojado quanto esse. Os sentimentos de Lestar, determinados pela bela narração em off de Spacey, são verdadeiros, algo que só uma pessoa realmente saturada da realidade poderia ser. Excelente, apurado e verdadeiro. Esse é o primeiro, melhor e talvez nunca igualável de Alan Ball.
Talvez não, nunca igualável. Quem cria True Blood anos depois não tem capacidade pra fazer obra-prima equiparável. Mas espero estar errado.

Uma pérola do cinema moderno, que irá arrebatar o mais ferrenho crítico, chateará o público dos fins de semana e irá ganhar mais status com o passar dos anos. Não duvido de daqui a 20 anos estar ouvindo de Sam Mendes e seu Beleza Americana. Uma obra marcante, que permanesce gravada no peito, no coração de qualquer um apreciador de cinema. Mendes já deixa sua marca corajosa aqui, o que é potencializado pelo ótimo porém inferior Foi Apenas um Sonho. E aqui agradeço a Kevin Spacey, por ter mudado meu conceito de personagens, por ter revirado meu senso crítico e, principalmente, por ter me ensinado vários sentimentos humanos nunca visto na telona. Gênio.
***** 5 Estrelas

PS.: Desculpe, sei que o cartaz é genial. Mas tive que colocar o momento SPECTACULAR como foto =).

domingo, 22 de novembro de 2009

2012

Roland Emmerich destroi o mundo mais uma vez. Com outra desculpa.

Em Hollywodd, os diretores normalmente têm seus gêneros preferidos, e trabalham nele , variando de projeto em projeto, procurando melhorar e fazer algo diferente sempre. Roland Emmerich se especializou e colocou a frente os chamados "filmes - catátrofe",onde algum acontecimento devastador acontece, e os danos se mostram gigantescos. Depois de fazer o abalamento do mundo por ETs no dia da independencia dos EUA, e dar uma lição de moral sobre o aquecimento global, Emmerich se tornou o pai desse tipo de filme, e veio para mais um projeto:2012.

A(tão comentada) teoria Maia, entre muitas outras, confirma que o mundo acabará em 2012, mais precisamente no dia 21 de Dezembro desse ano. Com várias teses de inversão dos polos, tsunamis e terremotos, o diretor alemão não podia pensar em outra coisa: realizar um grande, muito grande blockbuster sobre o fim do mundo. Com muito dinheiro e efeitos, Emmerich arregaçou as mangas para dirigir, e toda a propaganda do filme nos fazia acreditar que estaríamos pra ver um filme cheio de efeitos maravilhosos, com corajem digna de um fim de mundo definitivo. Entretanto, a maré não foi tão boa assim.

A história, como em muitos outros filmes - catástrofe, tem seu pai de família, Jackson Curtis,(John Cusack)que se divorciou da mulher Kate (Amanda Peet) e tenta reconquistar o filho que o odeia passando algum tempo com ele e com sua filhinha linda. Pois é, alguém se lembrou de Guerra dos Mundos? Outro afluente da história nos leva ao cientista Adrian Helmsley, que após voltar de uma pesquisa na Índia, vê que o cataclisma mundial pode acontecer ante do que ele previa. É preciso então alertar o presidente negro dos EUA, e a partir daí, decidir como lidar com o fim do mundo.

Obviamente, um filme de destruição não poderia ter muitas invenções ou super-tiradas de roteiro.Se resumindo apenas a destruição e coragem, o filme podia se sair bem, até melhor do que o esperado. Entretanto, 2012 peca nos próprios quesitos em que podia ganhar, em em outros pequeninos deslizes. De começo, acredito que o filme poderia ter um pouco mais de seriedade. Tudo bem, é um filme blockbuster nada inteligente, direcionado para o público geral. É aceitável uma piadinha ou outra. Mas várias vezes elas entram, e sem uma necessidade real. É uma história que poderia se comprometer mais com o objetivo central e seus danos, e menos com destinos insignificantes de personagens. O mundo está acabando, todo o governo assume isso, e o namorado atual de Kate ainda se preocupa em explicar como conheceu uma mulher que o chamou na rua. Todos os personagens correm perigo, e Roland Emmerich se preocupa em mostrar a saga completamente estúpida e descabida de um Chiwawua - que não demonstrou uma importância lá muito grande no contexto - fugindo, tentando se salvar. Não dá né? Um pouco mais de seriedade e menos criancisse seria bom.

O apego também extremo aos personagens é de revoltar. Um filme ser mentiroso tudo bem, mas ser mentiroso e com clichês, sem fazer uma paródia, é bem ruim. O personagem de John Cusack parece um sobrevivente que passa nos episódios de "Câmeras Nervosas" da vida. Por mais ferrado ou sem saída que esteja, tudo dá certo a ele. Nesse momento o filme precisava de um pouco mais de parceria com a realidade. Mas parece ser mais fácil criar situações complexas onde apenas saídas não críveis dão solução. Seriedade. É o que falta a 2012. Um filme desse porte poderia ser assim. Sem querer tirar o rótulo"Filme B" em sua testa. Mas qual a dificuldade de destruir mundos, criar ação e fazer isso sem precisar apelar para a sorte 20 vezes ?

2012, por fim, se consolida como um grande pedido de desculpas a sociedade mundial. Um pedido de desculpas ao mundo por Bush. Um pedido de desculpas e homenagem a África. O seu final talvez seja uma das melhores partes. Surpreendentemente, 2012 mostra de uma outra visão o fim do mundo. Interessante, mas sem empolgar. Esse é o espírito do filme aliás. Divertido, mas sem criar raízes em nossa mente.

Tecnicamente, o filme tem seus deslizes. O Centro e o mais legal do filme sempre foram, desde o início, os efeitos e as cenas de destruição. Não faltam ao público, mas aos mais atentos, fica claro que faltou um pouco mais de dedicação.Em uma cena em que os protagonistas estão dentro de um pequeno avião e "contemplam" a destruição, o plano é amplo, e mostra a paisagem inteira, e no fim dessa cena esse avião passa sob o canto direito da tela. Em outra cena, o fundo é diferente, mas a movimentação do avião é idêntica.Um problema de direção, quesito o qual Emmerich faz com normalidade e nada muito além. Em cenas que requer o chroma-key, o famoso fundo verde,ele parece mal colado e os atores se destacam levemente dele. São pequenos erros, mas que não passam despercebidos. Fora isso, todas as outras cenas são ótimas em sua maioria. Efeitos realmente bem colocados, que inclusive assustam, como na virada monstruosa do navio ou na destruição da Casa Branca, como mostrada no trailer.

No final das contas, 2012 consegue penetrar em nossas mentes com as mensagens de que o ser humano não perde sua ganância nem em face ao fim dos tempos, e consegue nos impressionar com efeitos realistas. Porém, por diversos momentos, me vi assistindo a uma aventura criada nos anos 80, com grandes feitos e façanhas(principalmente no fim.). Algo muito comum e normal, o que faz 2012 não ter nada de especial. É, simplesmente, mais uma obra do devorador de mundos Roland Emmerich.

3 estrelas***

domingo, 15 de novembro de 2009

500 Dias com Ela

Romance honesto como poucos reinventa o gênero de forma lindíssima.

É habitual que em Hollywood o gênero Romance seja frequentemente unido á comédia-romântica americana previsível, usada como fraco entretenimento e roteiro desonesto. Geralmente, a Working Title inglesa é quem faz as melhores comédias-românticas. Unindo o ácido humor inglês aos elementos consagrados pelo público, saem experiências divertidas e competentes. Mas, na vida real, nem tudo dá certo. E 500 Dias com Ela é um desses filmes em que o realismo prevalece, resultando em algo verdadeiramente corajoso, honesto e tocante. Com a divisão indie da Fox distribuindo, orçamento baixo e bilheteria contida, o filme entra na rara lista de filmes cult-artísticos de Hollywood. Para a direção, o diretor de Marc Webb entrou para filmar o brilhante roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber e introduziu sua linguagem particular de filmar, vinda dos videoclipes. E com isso, criou algo extremamente atraente.

A trama conta a história de Tom Hansen(Joseph Gordon-Levitt), um criador de cartões que está meio infeliz por achar que não encontrará ninguém que o ame na vida. Ele ainda está no mundo da garota perfeita e isso faz com que ele sonhe bastante, o que pontua sua infelicidade. Até que um dia ele conhece Summer(Zooey Deschanel), a assistente de seu chefe. Depois de se encantar com sua beleza e com seu adorável jeito, ele começa a investir numa possível relação. E quando ele finalmente fica com Summer, ela diz que o ama, mas que não quer nada sério. Então, entra a jornada de Tom para tentar esquecê-la ou tentar reatar.
Apesar de ser um tanto conhecida pelo público de romances em geral, são os pequenos toques de genialidade do desenvolvimento da trama que transformam 500 Dias com Ela num romance moderno, atual, tratando o público como um ser inteligente e convicto de que os clichês não existem.

500 Dias com Ela também é de brilhantismo puro pois coloca várias partes que pensamos realmente num relacionamento e as trata com jogo limpo. Diálogos amorosos bobinhos, discussões sérias ou simples conversas são retratadas sem pressa, com o auxílio das atuações ótimas de Joseph e Zooey. Também genial é a forma não-linear da qual a trama é contada. O panorama ilustrado, mostrando os dias passando, também é inovador, usando variações de cores no cenário e o seu formato para retratar o sentimento da relação.
As atuações de Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel são puras e carismáticas. Joseph carrega seus momentos do filme com uma carga emocional enorme e dá a conta. Honesto e perfeitamente adequado ao papel, Joseph se mostra um ator muito acima da média. Muito mesmo, afinal ganhar status com uma "comédia-romântica" é difícil pra qualquer ator. Zooey Deschanel também é fofa demais, perfeita e adorável. Em todo filme que faz, ela atua com a mesma emoção e intensidade, transformando suas passagens em algo memorável. E, como casal, os dois arrebentam, apresentando um química dificilmente vista antes. Já o elenco coadjuvante não deixa pra menos também. Chloe Moretz, como a irmã conselheira de Tom, faz bonito com ás falas interessantíssimas e engraçadas que a deram. Mesmo fazendo o clássico papel de amiga conselheira, ela consegue apresentar seu diferencial no papel, ainda mais sendo uma garota de apenas 12 anos. Os dois amigos de Tom, interpretados por Geoffrey Arend e Matthew Grey Gubler, são excelentes também e exibem a mesma honestidade. Quando um deles, o interpretado por Matthew, diz que "sua namorada é melhor que a dos sonhos. Ela é real.", todo seu talento é mostrado na tela.

Tecnicamente, 500 Dias com Ela é irretocável. As belas passagens clipadas, em preto-e-branco, com animações, cenários desenhados e com tom antigo são de inovação incrível. A direção dessas sequências de Marc Webb é firme, contemplativa. Excelente debute do diretor, que merece ser visto por aí em seus próximos trabalhos. A fotografia de Eric Steelberg é surpreendente, uma das melhores do ano. Dando um toque mais antigo a trama contemporânea, ele põe tons mais azuis e brancos, deixando a trama leve e bela como uma verdadeira obra de arte. Nesse filme, a fotografia é um dos momentos mais incríveis. A edição de Alan Edward Ball é muito boa, dando um ritmo ótimo e esplêndido, se formos avaliar que é uma história não linear. Com apenas um único erro que pode até ser posto na cópia vista, a edição entrega momentos lindos. Mas, um dos principais chamativos do filme junto com a fotografia, é a trilha sonora. Mychael Danna e Rob Simonsen selecionam as músicas a dedo, dando angústia, paixão e emoção a um filme já carregado de humanidade e desses sentimentos. Casando perfeitamente a cada frame, as músicas são lindas. Quando a sinfonia triste do momento Realidade/Expectativa é tocada no final da cena, lágrimas poderão facilmente aparecer. Ou quando a belíssima Quelqu'un m'a dit de Carla Bruni toca no carro com Tom e Summer juntos, no momento feliz de seu relacionamento, também é emocionante. Assim que uma boa trilha deve trabalhar, junto com os sentimentos do personagem, entrando em sua alma e nos fazendo viver com ela. Seja nos bons ou maus momentos.

O roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber é o ponto alto da trama. Simplesmente, o melhor roteiro de romance já escrito, fato. Diálogos ótimos se juntam a situações interessantes e atraentes. Em cenas poderosas como a da Realidade/Expectiva ou nas passagens do narrador são te uma genialidade e originalidade nunca vistas antes num romance. Facilitados ainda pelas atuações e captura certeira das lentes de Marc Webb, os roteiristas são felizes demais em construir esse belo drama romântico.

Muitos poderão rotular esse filme como comédia-romântica, mas não é. Ele é um honestíssimo e pessoal drama romântico com pitadas de comédia. A comédia não é física, é detectada apenas pelo espectador atento, que entra no cinema com poder grande de percepção. Um exemplo disso é a cena em que Tom está tristíssimo e aí se desvia do nada na calçada e vai para a rua. A câmera pára um pouco e passa um casal por onde Tom iria passar. Tratando o espectador com inteligência, o filme ganha mais pontos que o normal.

Sem dúvida, 500 Dias com Ela é a obra-prima definitiva sobre romances. Um dos melhores filmes do ano e um dos mais belos da história, tocando o coração do espectador com palavras profundas e sem a menor falsidade. Passível de pequenos erros, como um da mixagem de som em uma parte do filme, o filme se demonstra mais que irretocável. Genialidade para agradar homens e mulheres, de uma forma que tudo talvez nem dê certo, mas o público sairá satisfeito com o resultado. Que o Oscar também reconheça esse trabalho injetado por um único combustível: Amor.

***** 5 Estrelas

domingo, 8 de novembro de 2009

Substitutos

Um fraco John McClane no mundo do amanhã.

Bruce Willis geralmente é chamado para ser o action hero de seus filmes. Quando a HQ Substitutos, de Robert Vendetti e Britt Weldele foi anunciada para o cinema com o astro Bruce no papel de Harvey Greer, já era de se desconfiar que aquilo viraria um legítimo produto descartável Hollywoodiano. Apesar do material de base ter uma história interessante(nunca li), o filme com certeza deve ter ignorado todas as idéias de "um novo mundo perfeito" que a HQ deveria ter. Juntando todo o fato do filme ter deixado de lado as referências dos Substituos já existentes(The Sims é uma máxima) a uma equipe extremamente mediana, Substitutos não consegue empolgar nem aos fãs de ação, esperando um entretenimento normal.
Nesse novo mundo, os substitutos dominaram tudo, sem querer. Os seres humanos resolveram parar de andar pelas próprias pernas e quiseram ficar em casa, plugado a dezenas de fios enquanto comandavam seu substitutos de lá. Podendo fazer o que bem entender(incluindo morrer e reiniciar seu Substituto), os humanos até mudam sua aparência. Resumo: Viraram escravos da tecnologia e da vaidade. E conscientemente.

A trama segue Tom Greer(sim, eles mudaram o nome), um detetive que é um surrogate-addicted, um compulsivo por usar seu substituto. Ele descobre um possível assassinato de vários substitutos numa boate. Mas então ele descobre que a pessoas por trás desses substitutos também foram mortas, algo inédito. A partir daí, ele e sua parceira Jennifer Peters(Radha Mitchell, personagem homem na HQ) partem para descobrir que está matando os Substitutos e os humanos por trás deles.
Batida, a história apenas coloca um ótimo pano de fundo pra ter uma básica trama de assassinatos no centro. Diálogos desnecessários, reviravoltas previsíveis e situações que empolgam pouco cercam a trama.

Nas partes técnicas, pouco se destaca. A direção de Jonathan Mostow é mais uma vez boa, depois de ótimos takes de ação em Terminator 3. Na ação ele comanda muito bem, com habilidade nas cenas com mais cortes rápidos. Apesar desses cortes, as cenas são fáceis de acompanhar, diferente das lutas de Demolidor. Já na parte dramática, ele se destaca. Takes em terceira pessoa, câmeras estáticas e tortas e closes nos personagens ajudam a nos pôr no universo do filme sem muito alarde. A fotografia de Oliver Wood é mais uma vez soberba, sendo o ponto alto do filme. Wood, vencedor do Oscar, coloca um clima azulado que demonstra bem a tecnologia de ponta ali retratada. Nas cenas de ação, com locações mais abertas, sua iluminação também é ótima, sem perder o foco e produzindo algo icônico, coisa que ele já tinha feito em O Ultimato Bourne. Captando tudo com precisão, a dupla Wood-Mostow fez o que podia para registrar tudo com clareza e qualidade. A edição de Kevin Stitt e Barry Zetlin é interessante, impondo o ritmo que Mostow precisa. É boa, mas nada de especial, fazendo o necessário. Já a trilha sonora de Richard Marvin é ridícula, uma das piores já feitas na história cinematográfica atualmente. Seus ritmos são arrastados, desequilibrados e repetitivos. Nas cenas paradas, Marvin não consegue agilizar a trama de suspense, deixando um drama forçadíssimo. Nas cenas de ação, não se entende a trilha. De tão desequilibrada, ela nem é sentida por quem está compenetrado no clima. Ruim e algo de baixa qualidade, o ponto baixo do filme.

As atuações do filme são caricatas ou desequilibradas. Bruce Willis intepreta um John McClane no futuro, só que bem idiota e capenga. Seu Tom Greer tem clichês absurdos do "problema na família" ao "olhar perdido". Estúpido e sem-graça, o carismático Willis se perde no papel. Radha Mitchell está com sua competência habitual, mas sem poder se aprofundar no vazio personagem. Ving Rhames está bem, conduzindo o seu personagem normal ao papel de cool do filme. Interpreta com segurança, sem medo do ridículo roteiro imposto. James Crownell, excelente ator dramático, está perdido no papel mas tem sua veia artística visível. Já Rosamund Pike está bem, mas com pouco espaço na tela. Aliás, a maquiagem do filme merece aplausos, todos os atores estão belíssimos como os Substitutos.
O roteiro da conhecida dupla Michael Ferris e John Brancato é sofrível, mas tem seus momentos. Sua ação é bem construída, mas quando lhe é exigida um pouco de interação de personagens e situações mais nervosas, eles não dão conta. Não é á toa que o destaque do filme são as perseguições.

Num claro exemplo de material cinematográfico perdido, Substitutos não cumpre o que promete. A cena mais interessante do filme está no trailer, como a maioria das fracas adaptações pro cinema. Que da próxima vez Mostow e sua dupla de roteiristas sejão mais corajosos e não apostem em algo esquematizado e previsível. Eles têm potencial e uma equipe que não faz feio, mas não conseguem sair do comum com essa fraca ficção. Um pedido que merece ser feito: Michael Ferris e John Brancato, apurem seu senso dramático ou troquem de carreira.

** 2 Estrelas

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Inimigos Públicos

Michael Mann leva seus policiais a década de 30.

Nomes que sempre surgem a nossa boca quando o assunto é ação atualmente são: Paul Greengrass, Christopher Nolan, e recorrentemente, Michael Mann. Não é por menos. Mann é um diretor que dá um toque artístico a trabalhos que poderiam ser esquecidos em fileiras de filmes comuns. Collateral tinha um roteiro muito bom dese princípio, é claro, mas aplicado por um diretor menos competente poderia perder todo o seu efeito e estilo. Mann entra em tática em seus filmes com essa arma, e com muitas outras.

Em Inimigos Públicos, Mann vem dar seu estilo a década de 30, tratando de uma história baseada em fatos reais.Seria uma tarefa mais demorada se pensarmos bem, e muito massante para quem assiste. Entretanto, o diretor faz um filme muito melhor que filmes por completo ficcionais. Um filme para todos os gostos também, vale ressaltar. Drama, ação(nesse quesito o filme merece destaque) e o suspense tensionado que o diretor faz com destreza.

A trama é simples: Em 1933, no quarto ano da grande depressão,grandes ladrões de banco fazem a festa, e a polícia tem dificuldades para capturá-los. O inimigo público número 1, John Dillinger(Johnny Depp), continua com seus capangas, e logo de início solta uma grande parte deles na cadeia. Diante disso, o investigador Melvin Purvis (Christian Bale) é designado para ser o chefe de uma equipe para caçar esses gangsteres, e por conseguinte, conseguir realizar o desejo de J. Edgar Hoover (Billy Crudup), formar o FBI.

Sem muitos diferenciais gritantes em seu roteiro, o filme tem um ponto dramático bom, e consegue capturar a pressão dos dois lados – tanto o da polícia, quanto os dos bandidos. E esse filme não tem aquela coisa do bandido sempre dar uma de esperto e se safar na última hora da abordagem, deixando o acerto de contas para um momento final clichezado. Dillinger sim se safa, mas por vezes sofre por elementos surpresas da polícia, que, por sua vez, tem também dificuldades de capturar os ladrões elegantes.

Um ponto claramente bem aprofundado é sem dúvidas, o personagem de Depp. O roteiro se baseia muito em suas sacadas, frases de efeito e seu simbolismo de anti-herói com sorriso no rosto. Graças a Deus, o roteiro não vai muito além disso e tenta transforma-lo em um herói. Muitos podem pensar isso, pela contraparte séria de Christian Bale. Mas em última análise, seu personagem não pode ser considerado um vilão. Ele é sério, reservado, tem seus planos, mas o ator interpreta bem um policial competente, não um vilão. Talvez esse modelo de história menos maniqueísta seja o mais interessante do filme, mesmo que no final fique aquele cheiro de “mártir”. A personagem de Marion Cottillard poderia ter tido um espaço maior, mas quando ela entra em cena, é bem colocada e interpreta bem.

A direção de Mann é um succeso e espetáculo sempre. Seus closes em expressões de medo e angústia, sua condução em plano único são ótimos. Melhor ainda quando os takes únicos são rápidos, e a câmera gira, cruzando todo o set, para acompanhar um personagem. A ação, que o diretor coloca de maneira incrível, é de cair o queixo. Todas as seqüências em que há ação, ela é crua, ágil e extremamente realista. Não há clichês do exímio atirador sair metendo bala em todos. Todos se escondem , atrás de uma árvore ou de uma parede. E o tiroteio é grande e duradouro, barulhento também, mas um barulho que dá gosto de sentir.
A seqüência da abordagem do hotel perto da floresta, por exemplo, é , com certeza, a melhor cena de ação do ano. A direção daquela cena tem ângulos sensacionais, e nada é perdido.

Enfim, a fotografia de Dante Spinotti também brilha muito nesse filme. Não é apenas por sua beleza gráfica. Mas também pelo fato das cores não serem muito chamativas e mais esbranquiçadas. Portanto, vem a nossa mente a referência de ver reproduções de imagens da época, mas agora em cores, afinal. A música de Elliot Goldenthal é quase clássica, ao estilo de Hans Zimmer. Quando postas nos momentos certos, chegam a arrepiar.

Michael Mann consegue transpor todo o clima e ação de um policial do século 21 na década de 30. Talento de sobra, é correr pra assistir.

5 estrelas *****

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Besouro

Cinema nacional tem ação, mas roteiro peca.

Um dos grandes problemas do cinema brasileiro sempre foi a restrição a determinados gêneros. O drama,bom como sempre, retratando a dura realidade brasileira. As comédias românticas globais com atores nacionais famosos. Os policiais que mostram a violência. Esses são as bases do cinema brasileiro numa visão rápida e geral. Nunca foi feito, entretanto, algum filme de ação, ficção ou até mesmo um simples suspense brasileiro. Talvez um grande complexo do nosso país seja mostrar nas telonas uma realidade dura demais com violência e miséria, para ganhar prêmios interinacionais. Nesses filmes o objetivo é chocar o público. Era preciso pensar, que mostrar uma vida difícil e com choque talvez não seja suficiente. É de bom gosto de vez em quando, portanto, mudar um pouco esse objetivo e mostrar a realidade brasileira com arte cinematográfica.

Besouro, filme do estreante em longas João Daniel Tikhomiroff, envereda por esse caminho. Faz, então, o primeiro filme de ação nacional, que não tem o objetivo de chocar, mas sim de mostrar artisticamente, a cultura brasileira, não necessarimente sua miséria urbana. O filme tem um embasamento que não complica muito e honra a história brasileira. A trama é sobre Besouro, conhecido como o melhor capoerista de todos os tempos, que ,em 1924, tem o desafio de combater os grandes coronéis do recôncavo baiano, que tratavam a população negra ainda como escrava.

Tendo essa premissa, o filme se inicia com aspectos realmente dignos de filmes de ação.Uma sequencia inicial inovadora que acompanha a visão de um inseto. O suspense que ocorre em uma cena é aumentado quando intercalada com uma cena de luta. O capanga é subjugado pelo herói e seus golpes. Tudo isso, unido em seu início, nos faz sorrir e ficar empolgados com o filme. Pensamos : " o cinema brasileiro finalmente aprendeu a lição e fez um filme diferenciado". Um filme de ação, emfim, que trás como pano de fundo uma história da cultura brasileira.

Entretanto, nem tudo são flores em Besouro. A história mostra desde seu início que será baseada em um herói, que dá título ao filme. Esperamos logo então a chegada desse herói ao seu destino, seu drama e suas implicações. Porém, o roteiro se esquece um pouco do herói durante o filme, dando espaço para um novo núcleo, o da personagem de Dinorá(interesse romântico do protagonista) e sua mãe. Não reclamo pois não acho que esse núcleo seja descabido. É um núcleo que, após o término do filme, demonstra sua importância. Entretanto, é uma importancia um pouco exagerada que esse roteiro dá ao núcleo. Outro problema do longa é o fato do protagonista ficar muito tempo se preparando. Demora muito, e quase chega a enrolar. Mas esse problema seria solucionado caso a sequencia da luta final fosse mais bem aproveitada. O herói demora, se prepara física e espiritualmente, e no seu momento de clímax contra os vilões tem uma luta rápida demais. Quase passa despercebida essa sequencia, e sendo ela curta demais, perde todo o resto, como o drama e a emoção. Deste modo, fica aquele gosto amargo de " faltou algo a mais", e o filme que se baseava em um herói, se foca muito mais na preparação desse personagem. E isso, obviamente, compromete a quantidade de cenas de lutas ao longo do filme. Não é um filme de ação com muitas cenas de pancadaria. A ação é pontuada, e acho que nese aspecto, a ousadia dos realizadores fariam mais pelo filme. Se é um filme de ação, ela podia ter sido colocada em uma dose maior, sem medo. Até porque, essa é uma primeira experiência do cinema nacional nesse gênero.

A técnica do filme, porém, é muito boa. A direção de estréia de Tikhomiroff é ótima e se encaixa perfeitamente no gênero do filme. Ela tem cortes rápidos, longas sequencias únicas colocadas devidamente em momentos de espiritualismo maior. Os closes nas armas na parte em que os capatazes as preparam são ótimos, e nos remetem a filmes de Hollywood. Aliás, eu, que estava vindo de dias que assistia apenas filmes americanos não me senti muito estranho na exibição de Besouro. Nas coreografias de cenas de luta, o filme se sai muito bem. Também pudera, com o coreografista chinês Huen Chiu Ku( que trabalhou para coreografar lutas de filmes como Kill Bill e O Tigre e o Dragão) as cenas não fazem feio. Tem desde saltos acrobáticos que fazem o personagem sair do chão e chegar no telhado a lutas sobre os galhos de uma árvore. O que falta é a quantidade dessas cenas no filme.

Besouro então, se torna um marco no cinema brasileiro, por três motivos. Um é pelo motivo óbvio do gênero de ação aqui no Brasil, que se inicia, mesmo que de maneira um pouco tímida.O outro é pelo gordo orçamento. Dez milhões de reais, uma quantia alta se comparada a outros projetos nacionais. O terceiro é pela apresentação de Tikhomiroff ao cinema. Grande diretor.Um dos melhores nacionais, sem dúvidas. Já estou ansioso por seu próximo trabalho. Esse entretanto, escorregou um pouco no roteiro.

3 estrelas ***