Old School Nerds

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domingo, 15 de novembro de 2009

500 Dias com Ela

Romance honesto como poucos reinventa o gênero de forma lindíssima.

É habitual que em Hollywood o gênero Romance seja frequentemente unido á comédia-romântica americana previsível, usada como fraco entretenimento e roteiro desonesto. Geralmente, a Working Title inglesa é quem faz as melhores comédias-românticas. Unindo o ácido humor inglês aos elementos consagrados pelo público, saem experiências divertidas e competentes. Mas, na vida real, nem tudo dá certo. E 500 Dias com Ela é um desses filmes em que o realismo prevalece, resultando em algo verdadeiramente corajoso, honesto e tocante. Com a divisão indie da Fox distribuindo, orçamento baixo e bilheteria contida, o filme entra na rara lista de filmes cult-artísticos de Hollywood. Para a direção, o diretor de Marc Webb entrou para filmar o brilhante roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber e introduziu sua linguagem particular de filmar, vinda dos videoclipes. E com isso, criou algo extremamente atraente.

A trama conta a história de Tom Hansen(Joseph Gordon-Levitt), um criador de cartões que está meio infeliz por achar que não encontrará ninguém que o ame na vida. Ele ainda está no mundo da garota perfeita e isso faz com que ele sonhe bastante, o que pontua sua infelicidade. Até que um dia ele conhece Summer(Zooey Deschanel), a assistente de seu chefe. Depois de se encantar com sua beleza e com seu adorável jeito, ele começa a investir numa possível relação. E quando ele finalmente fica com Summer, ela diz que o ama, mas que não quer nada sério. Então, entra a jornada de Tom para tentar esquecê-la ou tentar reatar.
Apesar de ser um tanto conhecida pelo público de romances em geral, são os pequenos toques de genialidade do desenvolvimento da trama que transformam 500 Dias com Ela num romance moderno, atual, tratando o público como um ser inteligente e convicto de que os clichês não existem.

500 Dias com Ela também é de brilhantismo puro pois coloca várias partes que pensamos realmente num relacionamento e as trata com jogo limpo. Diálogos amorosos bobinhos, discussões sérias ou simples conversas são retratadas sem pressa, com o auxílio das atuações ótimas de Joseph e Zooey. Também genial é a forma não-linear da qual a trama é contada. O panorama ilustrado, mostrando os dias passando, também é inovador, usando variações de cores no cenário e o seu formato para retratar o sentimento da relação.
As atuações de Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel são puras e carismáticas. Joseph carrega seus momentos do filme com uma carga emocional enorme e dá a conta. Honesto e perfeitamente adequado ao papel, Joseph se mostra um ator muito acima da média. Muito mesmo, afinal ganhar status com uma "comédia-romântica" é difícil pra qualquer ator. Zooey Deschanel também é fofa demais, perfeita e adorável. Em todo filme que faz, ela atua com a mesma emoção e intensidade, transformando suas passagens em algo memorável. E, como casal, os dois arrebentam, apresentando um química dificilmente vista antes. Já o elenco coadjuvante não deixa pra menos também. Chloe Moretz, como a irmã conselheira de Tom, faz bonito com ás falas interessantíssimas e engraçadas que a deram. Mesmo fazendo o clássico papel de amiga conselheira, ela consegue apresentar seu diferencial no papel, ainda mais sendo uma garota de apenas 12 anos. Os dois amigos de Tom, interpretados por Geoffrey Arend e Matthew Grey Gubler, são excelentes também e exibem a mesma honestidade. Quando um deles, o interpretado por Matthew, diz que "sua namorada é melhor que a dos sonhos. Ela é real.", todo seu talento é mostrado na tela.

Tecnicamente, 500 Dias com Ela é irretocável. As belas passagens clipadas, em preto-e-branco, com animações, cenários desenhados e com tom antigo são de inovação incrível. A direção dessas sequências de Marc Webb é firme, contemplativa. Excelente debute do diretor, que merece ser visto por aí em seus próximos trabalhos. A fotografia de Eric Steelberg é surpreendente, uma das melhores do ano. Dando um toque mais antigo a trama contemporânea, ele põe tons mais azuis e brancos, deixando a trama leve e bela como uma verdadeira obra de arte. Nesse filme, a fotografia é um dos momentos mais incríveis. A edição de Alan Edward Ball é muito boa, dando um ritmo ótimo e esplêndido, se formos avaliar que é uma história não linear. Com apenas um único erro que pode até ser posto na cópia vista, a edição entrega momentos lindos. Mas, um dos principais chamativos do filme junto com a fotografia, é a trilha sonora. Mychael Danna e Rob Simonsen selecionam as músicas a dedo, dando angústia, paixão e emoção a um filme já carregado de humanidade e desses sentimentos. Casando perfeitamente a cada frame, as músicas são lindas. Quando a sinfonia triste do momento Realidade/Expectativa é tocada no final da cena, lágrimas poderão facilmente aparecer. Ou quando a belíssima Quelqu'un m'a dit de Carla Bruni toca no carro com Tom e Summer juntos, no momento feliz de seu relacionamento, também é emocionante. Assim que uma boa trilha deve trabalhar, junto com os sentimentos do personagem, entrando em sua alma e nos fazendo viver com ela. Seja nos bons ou maus momentos.

O roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber é o ponto alto da trama. Simplesmente, o melhor roteiro de romance já escrito, fato. Diálogos ótimos se juntam a situações interessantes e atraentes. Em cenas poderosas como a da Realidade/Expectiva ou nas passagens do narrador são te uma genialidade e originalidade nunca vistas antes num romance. Facilitados ainda pelas atuações e captura certeira das lentes de Marc Webb, os roteiristas são felizes demais em construir esse belo drama romântico.

Muitos poderão rotular esse filme como comédia-romântica, mas não é. Ele é um honestíssimo e pessoal drama romântico com pitadas de comédia. A comédia não é física, é detectada apenas pelo espectador atento, que entra no cinema com poder grande de percepção. Um exemplo disso é a cena em que Tom está tristíssimo e aí se desvia do nada na calçada e vai para a rua. A câmera pára um pouco e passa um casal por onde Tom iria passar. Tratando o espectador com inteligência, o filme ganha mais pontos que o normal.

Sem dúvida, 500 Dias com Ela é a obra-prima definitiva sobre romances. Um dos melhores filmes do ano e um dos mais belos da história, tocando o coração do espectador com palavras profundas e sem a menor falsidade. Passível de pequenos erros, como um da mixagem de som em uma parte do filme, o filme se demonstra mais que irretocável. Genialidade para agradar homens e mulheres, de uma forma que tudo talvez nem dê certo, mas o público sairá satisfeito com o resultado. Que o Oscar também reconheça esse trabalho injetado por um único combustível: Amor.

***** 5 Estrelas

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