Old School Nerds

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Especial Sci-Fi - Cult vs Blockbuster

O Old School Nerds apresenta o especial Sci-Fi: Cult vs Blockbuster, que apresentará textos e conceitos da ficção-científica no cinema misturado com breves resenhas sobre a experiência aqui relatada.

O especial consistirá em uma matéria e as 6 resenhas, comparando os dois tipos de ficção científica existentes no cinema: a Cult, com uma pegada mais filosófica e profunda e a Blockbuster, que recheia o cinema de diversão, altos orçamentos e público.

A experiência realizada consistiu em assistir 6 filmes de ficção de uma vez só, intercalando os dois tipos e os comparando como duas gamas distintas de um gênero tão rico. Ainda que a ficção seja um gênero um tanto marginalizado(e comparado aos injustamente marginalizado Quadrinhos), rendeu maravilhas cinematográficas, como alguns dos filmes do nosso especial.
As resenhas serão breves justamente por ser parte de um especial, sem avaliar o filme com quesitos técnicos profundos como numa resenha normal. Esses filmes ganharão, no futuro, uma resenha nos moldes clássicos aqui no OSN, porém o intuito aqui é compará-los como parte de um nicho cheio de detalhes como a ficção.

Os filmes em questão são, na ordem que foram assistidos e que serão resenhados:

Solaris - de Steven Soderbergh
O Planeta dos Macacos - de Franklin J. Schaffner
Star Wars - de George Lucas
2001 - Uma Odisseia no Espaço - de Stanley Kubrick
Avatar - de James Cameron
e
Matrix - de Andy e Larry Wachowski

Os filmes em questão foram escolhidos por suas indiscutíveis importâncias pro cinema. Evitei filmes como Transformers ou ET pois eles atravessam gêneros que os tornam blockbusters sim, mas não se prendem tanto aos quesitos do projeto quanto os escolhidos. A ausência de clássicos como Fonte da Vida e Laranja Mecânica se deve ao fato deles combinarem mais com o gênero da Ficção Comportamental, um gênero bem mais restrito e que merece um especial solo.

Um remake americano, dois clássicos Cults e dois clássicos Blockbusters, que culminam em Matrix, um misto raríssimo dos dois tipos do gênero.

Próximo Post: A Ficção Científica Cult - Solaris

sábado, 20 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 - Crítica 2

Fidelidade ao livro e maturidade chegam na primeira parte do fim.

Não é difícil imaginar o que passou pela cabeça de J.K.Rowling quando esta começou a saga de sete livros de Harry Potter com um pré-adolescente diante de um mundo inteiro novo a descobrir. A jornada do pequeno bruxo , é - e isto é óbvio -uma metáfora para a vida adolescente, e por isso talvez o produto criado por Rowling faça tanto sucesso e seja tão bem aceito mundialmente. Ao passo que o tempo chega, entretanto, adolescentes crescem, amadurecem, ganham responsabilidades e saem da escola. Não é diferente, portanto, o que acontece com o bruxo inglês criado pela escritora. O último livro da série, lançado há três anos, colocava um ponto final épico na história. Os nossos heróis por fim arranjavam uma solução para seus problemas, saiam da escola , e desafiavam seus inimigos. Neste último livro, que tem qualidade grande , por sinal, os garotos que ''vimos'' crescer se tornavam enfim, o mais próximos de adultos o possível.

E se a série foi transformada sem pensar duas vezes em franquia cinematográfica, era preciso empregar a mesma sensação no último capítulo da série de filmes. O tom adulto já foi sendo aplicado a partir do quarto filme, para ser definitivamente explorado no quinto. Assim como nos livros, que passaram por uma sofisticação narrativa a partir do quarto volume, tomando um rumo mais sério do quinto em diante. Agora, no capítulo final, a série iria precisar de mais um ajuste - e ele seria a transformação definitiva de ''meninos'' em ''homens''. Talvez nem tanto na forma literal - eles na história tem apenas 17 anos - mas no modo de se ver o mundo. Tal modo de se ver o mundo também será, querendo ou não , compartilhado por quem assiste ao filme. Muito lógico, portanto, que Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 , seja o mais dramático e sério dentre todos os precedentes.

E devido a grande quantidade de informação contida no livro e também por essa mudança de rumo, o episódio final do bruxo nas telas teve que ser dividido em duas partes . Tal atitude tem conotações variadas , tanto para o estúdio quanto para o público. Para o estúdio, dividir o filme em dois é positivo, pois, na lógica capitalista, dois filmes valem obviamente mais que um . Para quem assiste, pode-se dizer um pouco dos dois. É bom por um lado, pois a adaptação terá mais tempo e espaço para transferir toda o conteúdo da obra literária. Por outro, temos um problema que parece até inesperado - a obra isolada perde um pouco de sua força.

A trama segue , como sempre, os nossos três heróis determinados. A diferença é que dessa vez eles estão em posição de xeque - Voldemort ( Ralph Fiennes) está com força e influência total para capturar e matar Harry Potter. Isto fará com que ele e os dois amigos - Rony e Hermione - se distanciem da família para a segurança destes. A partir daí, eles precisam por em prática a última esperança que restou para derrotar O Lorde das Trevas - achar as Horcruxes que faltam ser destruídas.

A narrativa em si é deveras diferente das que foram desenvolvidas em filmes anteriores . Apesar do mesmo roteirista (Steve Kloves) estar presente desde o primeiro filme, desta vez ele tem não mais a tarefa de cortar as partes desnecessarias e enxutar as histórias dos calhamaços de Rowling em um longa de no máximo 2 horas e 30 minutos. O estúdio dessa vez deu luz verde para que o filme adaptasse o livro com a maior fidelidade possível, afinal, haveria dois filmes, e não apenas um . O receio era obviamente apertar muitos acontecimentos e muitas emoções em pouco tempo, e portanto é compreensível e, até certo ponto, sensata a decisão dos realizadores. O resultado , pelo menos para quem leu o livro, é um certo regojizo glorioso de ver páginas e páginas que você passou horas imaginando se concretizando na frente de seus olhos . Diálogos inteiros foram trascritos para o script, e as partes que precisavam ser cortadas ficaram muito bem adaptadas. Até aqui, sem a menor dúvida, é o filme mais fiél á obra da escritora inglesa. Tanto visualmente quanto em estrutura narrativa, há uma fidelidade quase obsessiva com o livro, coisa que só vi em algumas adaptações de HQs. E isso é muito bom.

É também muito bom ver que o roteiro é mais focado no drama, como deveria ser. O rumo da história a partir daqui, deve ser para algo mais adulto, maior e mais sério, sem dúvidas. Assim foi com o livro, e assim segue no filme. A maior parte do filme se passa com poucas pessoas sendo filmadas - basicamente os três protagonistas - em paisagens desertas, como montanhas ,florestas, pradarias. O drama neste ponto é intimista, interessante e muito necessário para a preparação de espírito dos personagens para o que vem a seguir. Como na vida real, é a fase de casulo que vai separar o adolescente do adulto. O livro baseia grande parte de sua história nesse momento, e no filme ele tem essa parte representada com justiça.

Entretanto, se o filme perde em alguma coisa, é na sua divisão. Não é por reclamar de falta de ação - afinal o filme tem sequencias de ação - mas é que o cerne da história, as grandes viradas e grandes revelações se concentram na última parte, que vai demorar ainda um pouco para chegar. Não que este filme tenha menos importancia, mas é fato que a parte mais épica fica mais próxima do final, ou seja, na segunda parte. Isso gera , mesmo que num volume quase homeopático, um empalidecimento da primeira parte. Ossos do ofício, um problema que nem se baseia no próprio filme em si, mas na expectativa gerada em cima dos dois.

E o papel de David Yates no filme não pode ser ignorado. As sequencias na mata , nos ambientes
mais isolados , são quase dignos de filmes independentes, e , portanto, é preciso o mínimo de talento para carregar a narrativa sem perder o ritmo ou deixar o caldo desandar. Yates mostra que tem o necessário para fazer o filme se manter vivo nesse perído, e mesmo sem grandes arroubos, demonstra que faz o que é simples bem, e que consegue variar entre o drama de câmera na mão com os close-up nas correrias. É a sua direção mais comum até aqui, mas mesmo assim continua muito boa. E o que continua muito boa é atrilha sonora. A entrada de Alexandre Desplat não poderia ter sido mais saudável, e mesmo fazendo o que já foi testado - som de violino no grau que indica grandiosidade - ele demonstra ser diferenciado. Ponto para quem o escolheu.

Está cada vez mais próximo o fim da franquia de Harry Potter. E é muito bom saber que ocorreu, como qualquer adolescente, o amadurecimento final, tão necessário. Ele era algo anunciado, e enfim se concretiza. Por fim, resta a nós esperar pelo o último filme da série, que vem daqui a aproximadamente seis meses. Continua. Em breve.

5 Estrelas - Nota 8

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 - Crítica 1

David Yates consolida a série como algo a mais que aventura descompromissada.

A série Harry Potter é, sem dúvida, a maior da História do cinema, tanto em termos lucrativos como em amor do público. Como o cinema blockbuster ainda se apóia nos adolescentes, espectadores médios que querem apenas diversão, muitas franquias surgem com tramas aventurescas e limitadas, com única e exclusiva função de obter lucros. Transformers é uma delas e, ainda que tenha começado bem, teve uma segunda parte que fez jus a essa ideologia de cinema que só vê lucro. E Harry Potter começou como só mais um filme de aventura, discípulo de Star Wars, baseado numa série de livros que visava apenas um entretenimento passageiro e diversão voltada para o público infanto-juvenil. Porém, quando a escritora J.K. Rowling percebeu que o público que a acompanhava não iria gostar tanto de sequências desnecessárias
que eram apenas "mais do mesmo"(como as séries atuais Crepúsuculo e Percy Jackson), resolveu amadurecer. Aproveitando sua competência adquirida com os 3 primeiros livros, J.K. criou O Cálice de Fogo com uma pegada um pouco mais séria. E isso fez um sucesso tão grande que ficou viável criar os 3 últimos livros com um clima bem mais denso.

Como não li nenhum dos livros e apenas vi o 1, o 3 e o 6, não posso afirmar que HP foi muito melhor nos livros que nos filmes(até porque sou a favor de uma pegada mais dramática e adulta no gênero fantasia, como Sandman), mas é fácil constatar que J.K. começou a virar escritora de verdade, romancista, a partir de A Ordem da Fênix. E mesmo que os fãs tenham reclamado tanto dos problemas de fidelidade dos filmes anteriores, é desnecessário comentar que nenhum deles deixará de ir conferir a nova aventura no cinema e encher os cofres da Warner. Mesmo tendo esse pensamento em mente, os executivos da Warner conseguiram unir o útil ao agradável, depois de mais uma bilheteria astronômica no sexto filme(que na minha visão, é bem legal): Dividiram HP 7 em dois filmes visando mais lucro e menos sessões de cinema por dia, devido a quantidade grande de informações contidas no livro. E já que é pra dividir, criaram uma adaptação literal, segundo meu amigo e co-editor Joaquim, leitor dos livros. Sendo assim, os fãs ficarão satisfeitos ao sair da sessão.
Mas e os não-fãs, como o escritor dessa resenha? Depende do tipo de público. Com certeza os leitores de HP não gostariam do filme se ele não fosse... um HP. O tom sombrio, quieto e bem solitário do filme só funciona com os jovens que acompanharam a série desde 1998(ou 2001, no primeiro filme) por ser baseado no livro do personagem preferido dos juvenis. Praticamente um road movie com tons de fantasia e umas duas parcas sequências de ação, HP e as Relíquias da Morte Parte 1 é um passo gigantesco a franquia, se tornando algo a mais que o alegre balé de vassouras dos 3 primeiros, os dilemas dramáticos do quarto e a fantasia séria dos 2 filmes anteriores. Numa análise mais profunda, sem contar com a vindoura segunda parte, o filme poderia até ser considerado como um estudo da solidão de 3 recém-adultos, os limites deles e os dramas de suas vidas. E nesse drama o filme ganha mais pontos, afinal os personagens de HP podem até ser bem-desenvolvidos, mas são em sua maioria, arquétipos com dramas de mesma categoria.

A trama começa com a ameaça de Lord Voldemort (Ralph Fiennes) ganhando proporções épicas, forçando Harry, Ron e Hermione a tomar providências para proteger seus familiares. Com o inimigo se tornando cada vez mais forte, é preciso esconder Harry Potter, que se torna a última esperança da resistência dos bruxos para impedir o reinado de Voldemort. Com a queda do Ministério da Magia e sua posterior reestruturação pelo inimigo, a situação se complica. E os três amigos partem em busca dos únicos artefatos que podem parar de uma vez por todas esses eventos: as horcruxes.

Ressalto novamente que não li o livro, mas quem leu diz que a fidelidade foi obsessiva. Deixando isso de lado, avaliarei apenas como filme. O roteiro, pela sexta vez adaptado por Steve Kloves(depois de uma entrada mal-sucedida de Michael Goldenberg no quinto, fazendo os fãs chiar), é vitorioso em diversos pontos. Sua estrutura é completamente diferente dos anteriores e puxa mais pro lado dramático, quase se esquecendo de toda a desenfreada trocas de magias atiradas pelas varinhas. Há sim os confrontos, todos se encaixando perfeitamente na narrativa, mas eles são praticamente sufocados pelo isolamento que ocupa 75% do filme. Esse isolamento, presente no livro, se faz necessário justamente para haver o desenvolvimento aprimorado de personagens e a quantidade grande de detalhes que HP 7 oferece. Se o sexto filme apostava num ritmo fluente e drama conciso porém pouco maduro(Hermione chora por Rony, sendo que o Mal está presente no mundo da magia), a coisa se torna muito mais séria aqui. Não só tendo que se preocupar com a ameaça de Voldemort, os 3 amigos agora tem que lidar com os problemas pessoais, que acabam culminando em tocantes sacrifícios, como o feitiço de Hermione em seus pais.

Algumas sacadas do contexto daquele universo colocadas em tela também são interessantes, como a bolsa infinita de Hermione, uma inteligente saída para uma possível falta de continuidade futura, com alguns objetos podendo aparecer sem explicação em tela. Quanto ao ritmo do roteiro, Kloves foi meticuloso. Esse drama todo usado para a construção de personagem, nunca visto na série, é espetacular e torna o ritmo desse filme muito melhor que o dos outros. Essa jornada existencial é interessantíssima e parece retirada de um road movie europeu. A utilização de ambientes abertos, entupidos de natureza em sua forma selvagem, se fazem necessários também, como saída narrativa(Hermione imagina os lugares pra onde os 3 vão) e como belíssima metáfora da natureza sufocando as personalidades perdidas do trio. E se 75% do filme são nessas partes esplendidamente construídas, os outros 25% são muito bons também, mas é onde residem os típicos problemas da franquia. A memorável sequência no Ministério da Magia é organizada de forma ágil e tem cortes sucintos, com informações brotando na tela sem soar gratuitamente, porém tem os conhecidos alívios cômicos da série, um verdadeiro abismo de contraste em relação áquela solidão.

As poucas sequências de ação empolgam, sem atrapalhar as partes dramáticas e acrescentando tensão á película. Nas florestas, são sempre alguns guardas procurando o trio, o que torna tudo mais realista e natural. Há sim ás batalhas épicas, como a que abre o filme, um duelo de magias no meio da cidade, mas parece que o roteirista deixou todo o tom exageradamente épico no trailer para a Parte 2. Sendo assim, é fácil constatar que essa Parte 1 só é apreciada e vista no cinema por ser baseada no livro tão amado pelos adolescentes. Com certeza, se não houvesse a presença do bruxo ali, várias pessoas tachariam o filme de chato, modorrento e sem clímax. Não é o meu caso, que mesmo sem ser fã adorei, mas é instigante o fato de que o público a quem se destina o filme, simplesmente não gostaria isoladamente. Até mesmo os fãs estariam reclamando dessa falta de clímax e do ritmo lento se não fosse a fidelidade absurda. Mesmo sem final, sem ação e com pouco ritmo, HP 7 agrada bastante pelo drama ali colocado, mesmo que ele não seja todo esse abismo choroso.

Se o roteiro de Steve Kloves impõe ao filme um tom digno de filme indie como Valhalla Rising, a direção caprichada de David Yates entende isso e faz um trabalho seguro. Na pouca ação existente, a condução é interessante e competente, tendo destaque a já citada batalha no Ministério da Magia e o espetacular confronto na floresta, acompanhado com o mesmo filtro de câmera de Robin Hood, que auxilia a movimentação. Além disso, a sequência é registrada apenas pelo barulho dos personagens e o som abafado dos "tiros", o que traz uma elegância nova aos confrontos da saga. Nas partes dramáticas, Yates conduz normalmente, ainda que erre alguns enquadramentos e deixe de trocar o foco dos zooms. Mesmo assim, os erros são perdoáveis vistos perto da interessante saída que o diretor arrumou para as sequências de impacto: A câmera na mão. Tremida, a câmera dá um certo desconforto e surge logo que os personagens estão tendo um conflito verbal ou sentimental. É uma solução manjada em certos filmes, mas quando visto numa série com direções de aluguel e drama pouco atrativo(por ser tipicamente adolescente) nos capítulos anteriores, é de se reconhecer a inteligência do competentíssimo diretor.

A fotografia de Eduardo Serra, depois da saída do indicado ao Oscar Bruno Delbonell, é interessante, ainda que perca grandiosamente para o esverdeado clima do filme anterior. Ainda que nas sequências urbanas a fotografia não passe da média, nas sequências de natureza é linda a percepção do fotógrafo em deixar o clima mais sombrio. Uma solução inteligente e que torna o filme esteticamente belíssimo, como na sequência de neve. A trilha sonora de Alexandre Desplat mantém o nível ótimo de compositores que a série teve e cria notas grandiosas, ainda que siga o estilo fantasioso de John Williams em alguns pontos. Nas partes dramáticas, porém, a trilha se sobressai e se distancia do resto das melodias que permearam a saga. A edição de Mark Day é sucinta e auxilia bem a direção, mesmo sem se destacar.

Nas atuações, pouco a se falar, mas é notável de que Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint aprenderam a atuar e melhoraram as atuações animadinhas dos primeiros capítulos e os tiques dos dois episódios anteriores(Emma sempre chorosa, Grint só servindo como alívio cômico). Agora o negócio é mais sério e os atores captaram a essência do roteiro, fazendo com que os 146 minutos passem tranquilamente.

No geral, Harry Potter 7 agrada bastante e consolida os novos(e certos) rumos que a série tomou. Que a seriedade continue na Parte 2, que tem promessa de bastante ação e onde reside todos os clímaxes que faltaram a essa Parte 1. Talvez o ritmo maravilhoso desse dramático episódio desande, mas já fica a certeza de que a espera continua, mais amplificada. Um excelente filme sobretudo e um gigantesco passo rumo a maturidade absoluta da antes boba série que agora entra no panteão das melhores obras juvenis da história.

***** 5 Estrelas

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Old School Trailers - Parte 3

Battle Los Angeles

O filme do diretor Jonathan Liebesmann agradou a todos no painel da Comic-Con e sua narrativa parecida com jogo parecia perfeita. A trama assumidamente rasa também casa bem com o ar de batalha sem limites. Porém, o trailer apresentou um tom mais sério que o normal e isso pode preocupar, apesar de se constatar que, mesmo sendo pouco inovador, o trailer funciona e dar o ar de ansiedade que o filme precisa. Agora, é esperar a pancadaria começar e torcer pra ela não se levar á sério.

*** 3 Estrelas

Lanterna Verde

Muita desconfiança estava a cerca desse filme. Porém, quando o uniforme surgiu, a confiança começou a aumentar e, mesmo muito claro, o uniforme inspirava e era fiel. Mas Ryan Reynolds e seu tom engraçadinho continuavam incomodando. E o trailer acaba com essa desconfiança... e cria algumas outras. O início, regado a rock 'n' roll, parece DEMAIS Homem de Ferro. Ryan não está a altura do conciso personagem que é Hal Jordan, mas parece que vai segurar o tranco. PORÉM, OA está perfeita visualmente e o design é fantástico e o tom trash dos personagens alienígenas se reflete pelos ótimos efeitos e a maquiagem vitoriosa, com direito a um hipnótico Sinestro. Visualmente incrível, divertido e fiel, o trailer inspira. Mas talvez a história deveria se levar um pouco mais a sério e ser menos Marvel.

**** 4 Estrelas

Skyline

Os irmãos Strause são especialistas em efeitos, mas como diretores são deploráveis. Criaram o risível Alien vs Predador 2, que conseguiu ser pior que o primeiro. Mas agora, com um orçamento minúsculo de 10 Milhões, os Irmãos parecem ter acertado a mão. Apostando mais no seu talento dos efeitos, o trabalho dos dois é hercúleo e os aliens estão perfeitos, mesmo que sejam iguais aos do genial game Crysis. Sem se preocupar com atuações(que estão ridículas) e roteiro(raso como pires), o filme parece que se consolidará como a pérola trash mais divertida desse ano.

*** 3 Estrelas

domingo, 14 de novembro de 2010

Senna - Crítica 2

A apoteose filmada de um gênio.

Talvez um dos poucos heróis nacionais, Ayrton Senna é um mito. Além de ser um caso raro de herói, o piloto só é aumentado quando vemos sua vida pessoal. Diferente de cantores promíscuos ou drogados, Senna foi um exemplo dentro e fora de sua carreira, ajudando os outros da forma que pôde. Em tempos difíceis para o Brasil, fim de ditadura culminando para o violento movimento pró-diretas já, o brasileiro fazia mágica com o que tinha nas mãos e trazia um pouco de felicidade aos rostos cansados do povo nacional da época. Porém, o acervo de arquivo da Fórmula 1 e do próprio Senna sempre foi bem restrito, só sendo divulgado pra documentários menores, de revistas especializadas. Aliás, confesso rapidamente ser fã extremo do piloto, tendo visto esses documentários e acompanhado incansavelmente a carreira do gênio, mesmo ele tendo morrendo 1 ano antes de meu nascimento. E agora é muito bom constatar que uma equipe se reuniu pra liberar os tais vídeos de arquivo e fazer um documentário sobre a vida do mito. A equipe em si são os ingleses da Working Title, famosos pelas comédia-românticas aclamadas como Bridget Jones e Simplesmente Amor. Será que eles conseguiriam criar um produto á altura do que Senna foi?

O documentário segue toda a tragetória de Ayrton Senna nas grandes corridas, desde os espetaculares créditos iniciais em seu Mundial de Kart até a sua morte, em 1994. As imagens, capturadas em sua maioria pela FISA(emissora oficial da F1) e inéditas em tela, são organizadas em temporadas, a cada ano. Além disso, os depoimentos das pessoas sobre Senna, como Ron Dennis e Reginaldo Leme(ainda temos antológicas narrações de Galvão Bueno orginais), não quebram o ritmo das imagens e são apenas comentados em off, sendo que os entrevistados nunca aparecem em tela, o que dá um ar mais ficcional ao filme.

A decisão do filme de Asif Kapadia em retratar apenas os anos de Fórmula 1, com breves passagens do Mundial de Kart em 1978, é vitoriosa. Aquela máxima de humanizar a figura retratada, aqui é totalmente esquecida. Essa decisão ajuda a narrativa e o foco do documentário se torna, assim como no genial O Equilibrista, mitificar o indivíduo, editando o filme de uma forma que o público seja imparcial. Podendo ser vista pelos puristas como uma estratégia manipuladora e centralizada, essa decisão nem sempre é ruim, de fato que apenas reforça ainda mais a aura de gênio que trás o personagem. Quando a pessoa tem uma vida exemplar, essa imparcialidade é benéfica. Tanto que Phillipe Petit, Ayrton Senna ou Muhammed Ali não deixam de ser mais(ou menos gênios) só pela beatificação realizada em seus documentários.

Essa tal imparcialidade não existe apenas no campo documental. Quando estrategicamente posta para causar impacto, ela só ajuda a narrativa e a emoção, como por exemplo Menina de Ouro. A emoção da virada de personagem de Hilary Swank não seria a mesma se suas adversárias não fossem vilanizadas o filme inteiro. Mas se em O Equilibrista Phillipe Petit é visto como o gênio sem vilão, o único foco do filme, Senna é mais próximo de Quando Éramos Reis. Senna tinha seu próprio nêmesis, Alan Prost, mas sua luta era contra toda a política errônea e arrogante da Fórmula 1 na época. Assim como Ali, que lutou pelos negros, na terra dos negros, contra George Foreman, o vilão, o negro domesticado pela América. Conflito de ideologias se mistura com a apoteose filmada do piloto genial.

Humanização em filmes biográficos é normal. Em alguns casos, temos assombrosos retratos de figuras famosas(ou fatos famosos, no caso de Platoon) que impressionam e se tornam obras-primas, como os filmes de Oliver Stone(Nixon, The Doors, W. e até mesmo seu recente doc. sobre Hugo Chávez). Porém, o jogo de cena(ou ficcionalização dela, como no supra-citado O Equilibrista), é mais um retrato apaixonado do diretor sobre o indíviduo em questão do que próprio maniqueísmo. Esse jogo, ainda que torne o documentário mais próximo da ficção(e consequentemente do cinema), é válido em certos pontos. Mesmo que Senna não precise de nenhuma edição esperta pra tornar sua vida mais exemplar, a escolha do diretor em usar o jogo é interessante e torna a experiência mais cinematográfica e bonita, até mesmo provando que é desnecessária uma dramatização da vida do piloto. Então estaria o diretor criando um conto de fadas sobre um santo? De jeito nenhum. Asif Kapadia vê a tragédia a cerca da morte de Senna com tanto pesar que demonstra explicitamente que não é necessária nenhuma humanização exacerbada do herói. Existe humanização maior que a morte do piloto durante uma corrida? Em certo ponto, Prost fala que Senna acha que não pode morrer. Naquela fatídica curva Tamburello, o documentário humanizou Senna da forma que precisava.

A direção de Asif Kapadia é genial. Mesmo sendo um documentário, o diretor não tendo nenhuma liberdade e não podendo filmar nada, Kapadia organiza suas peças de forma espetacular e tira emoção de cada cena que pode. Depoimentos emocionados do povo brasileiro, chegando a citar que Senna é o unico motivo de alegria do país, são de uma sensibilidade cênica do diretor que chega a deslumbrar pelo simples fato de ser uma maravilha de película. A direção ainda se torna maior se formos ver a equipe responsável. A edição é de tirar o fôlego, sendo essencial pra tal mitificação do herói nacional. Passagens se tornam antológicas com a ágil edição, como a tensão recorrente entre Senna e Prost, as corridas finais dos campeonatos e as partes mais emotivas, como o enterro do herói, mesclado de forma linda com imagens do piloto vivo com seus amigos. Pra melhorar, a trilha sonora de Antonio Pinto é de um repertório magnífico, mesmo relembrando algumas notas de seu trabalho em O Senhor das Armas. Seu violino agressivo, misturado com notas tristes orquetradas no background, dão o tom exato a todo o documentário, que é bem sucedido musicalmente nas partes felizes e mais ainda nas tristes.

Entrando no panteão dos grandes documentários, Senna é um motivo de orgulho pro povo brasileiro. Mesmo sendo uma equipe estrangeira retratando um herói nacional em tela, é de verter lágrimas dos olhos o fato dessa equipe ter se demonstrado apaixonada pela figura exemplar de Ayrton. Um legítimo herói, um ícone, um mito, um gênio. E agora, uma lenda. Mesmo que os Cazuzas insistam em provar que os meus herói morreram de overdose, é um alento ao coração ver um sujeito que ajuda os outros como pode, auxilia as crianças, faz seu trabalho de forma genial e ainda é crente em uma força superior com fé contagiante. Senna é o maior herói do meio cultural da história brasileira e, sem dúvida, o profissional mais hábil e competente dos automotivos. O melhor que já existiu. E para isso, não é necessário mais que 3 títulos, 41 vitórias, 65 poles e 19 voltas mais rápidas. Quem agraciou Senna entende, perfeitamente, que quantidade não é qualidade. Na sua breve passagem pela vida, Senna já deixou saudades. Em seus efêmeros 10 anos de Fórmula 1, meu ídolo pessoal fez mais que qualquer Schumacher ou Piquet poderia fazer em 100.

***** 5 Estrelas - Nota 9,5

Senna - Crítica 1

O herói visto como tal.

No meio da Fórmula 1, não há muita controvérsia quando o nome de Ayrton Senna é citado – Como Niki Lauda mesmo já constatou “ Ele foi o melhor piloto que já existiu ”. E talvez nós, brasileiros, sejamos os principais a saber disso. Mais do que um piloto excepcional, para nós ele era um símbolo, um exemplo, um orgulho quase unânime do público brasileiro geral. Que Senna foi um verdadeiro herói nacional, disso todo mundo sabe. O homem bondoso, que servia de exemplo e era admirado pelo povo , é lembrado até hoje. E a vida de alguém como ele era, de fato, cinematográfica. E cinematografia do tipo épica, quase um gênero de sandália e espadas, só que passada nas pistas . E por muito tempo esperamos por uma representação adequada e definitiva da vida de Senna no cinema. E ela veio.

O filme de Asif Kapadia já começa vencedor por entrar pelo caminho mais adequado ao tema – retratar a vida de Senna em suas glórias, seus feitos – e não tentar executar o já meio clichê de revelar o “homem por trás do mito” ou “ as mulheres da vida” ou “ a vida fora das pistas” . Qualquer tipo de realização assim não teria a relevância que este Senna tem. Afinal , este filme não é uma biografia completa de Ayrton Senna, mas sim um retrato de sua obra, seus dez anos ativos na Fórmula 1 , que desenharam a face do grande piloto e marcaram a vida do mesmo.

E quem assiste a um documentário como esse, logo percebe que o ídolo não precisaria de uma dramatização. O longa é construído apenas com imagens de arquivo, todas daquela época ( 1984 – 1994) e com comentários de ex-pilotos, chefes de equipe, comentaristas esportivos e familiares . Isso torna tudo mais orgânico, e a sensação que temos é de ver quase uma dramatização onde os atores são as personalidades em si. Uma sensação sem igual, que raramente é passada em documentários , já que a grande maioria deles possui aquelas cenas de pessoas paradas falando com a câmera. Aqui isso inexiste, e o que se passa é imersão na história verídica, como se estivéssemos ali, no momento em que ocorreu. Grande tato de quem realiza conseguir administrar tal feito.

O filme conta a história da carreira de Senna na Fórmula 1, e de passagem nesse período entram histórias dos pilotos e chefes de equipe que viveram ao lado de Senna. Amigos como Ron Dennis – que vive até hoje na Mclaren - , e rivais, como Alain Prost. Este em especial, tem tamanho destaque, que possui abertura para construção separada de seu personagem, quase como um antagonista . A relação com o presidente da FIA da época, Jean-Marie Balestre, também é mostrada , de maneira ainda mais sensacional, afinal, muitas das cenas em que Balestre aparece no filme são arquivos exclusivos, nunca antes mostrados.

Há entretanto quem reclame do longa colocar-se de maneira parcial, e empregar situações quase maniqueístas. Avaliando-se parte a parte, percebe-se que não há tanto disso. A luta de Senna contra a politicagem e favorecimeto na Fórmula 1 foi real, e o lado mais certo era do brasileiro, no mínimo. Na relação com o rival, no entanto, haverá polêmica . Prost é considerado um vilão em tela, é fato. Injustiça, com alguém que foi Tetra- campeão da Fórmula 1? Talvez. A verdade é que a arrogância e o estilo de Prost acabam favorecendo esta imagem, que se auto-associa a ele, sem nenhum filme precisar estampar. E se Senna teve um adversário potente para se contra-por, este foi Prost. Porém, ninguém sai em maus lençóis, ao final. Todos sabem , que apesar dos pesares, no fim de tudo, foi Prost um daqueles que carregou o caixão de Ayrton. Uma imagem de redenção? Para quem for mais para o lado do chavão, sim , mas a verdade é que nesta parte do filme todos são mais humanizados, como de fato na vida real. Inclusive a última frase explicita isso muito bem.

O filme em si só não se destaca mais porque o formato não permite. Uma colcha de retalhos de reportagens complica , por exemplo, a entrada mais expressiva do diretor. Kapadia, aliás, com o que tinha, fez muito, e conseguiu montar uma linha de raciocínio muito coerente e interessante, apesar de clássica. Ajuda muito a narrativa a trilha de Antonio Pinto, conhecidamente trsite, como em Colateral, mas também agressiva e ágil nas partes de corrida. No que o filme ganha pontos , de verdade, é na sua iniciaiva de mitificar Ayrton Senna, fazendo com que víssemos ele como o herói que foi. Como num épico que termina com a tragédia, Senna mostra seu herói nos momentos mais críticos, mas sempre procurando a glória. Esse ponto de vista definitivo e endeusador pode ser visto já no título do filme. Senna. Não algo mais intimista. Algo externo, que exacerba e coloca-o sobre o pedestal que merece. Mesmo que já testado anteriormente, este estilo funciona aqui de forma mais emocional e profunda. Excepcional.

Devo admitir que sempre quis ver uma obra definitiva da vida de Ayrton Senna nos cinemas . Agora ela existe.

5 Estrelas ***** - Nota 9,0

domingo, 7 de novembro de 2010

Old School Trailers - Parte 2

The Old School Trailers



O Ritual

O novo filme do diretor Mikael Hafstron, que fez Shangai num circuito mais restrito em 2009, aborda o terror dos exorcismos de uma maneira mais interessante, explorando o drama dos envolvidos e o próprio exorcismo em si. Fora que a gigantesca presença de cena que Anthony Hopkins faz em cena vale desde já o ingresso. Tendo um tema polêmico, envolvendo até fatos reais no Vaticano, O Ritual promete por abordar esse tema sem apelar, se focando na potente narrativa cinematográfica que tende a vir.

Sanctum

A nova produção de James Cameron tem um trailer competente que, apesar de não apresentar muitas surpresas, tem um tema conciso e planos belíssimos(coisa que as câmeras 3D virão a potencializar). Seguindo uma linha que lembra o clássico Das Boot, de Wolfgang Petersen, esse filme deve pelo menos suprir as expectativas regulares que o trailer transmite. Mas fica uma interessante observação aqui: Por que James Cameron deixa seus projetos mais difíceis e cults para os outros diretores hein?

Rabbit Hole

O novo filme do ousado diretor John Cameron Mitchell, de Shortbus, é baseado na peça de David Lindsay-Abaire e é roteirizado pelo mesmo. Para os fãs do Homem-Aranha, David era o responsável pelo roteiro do reboot até James Vanderbilt escrever a versão final. Nicole Kidman é uma mãe que tem que superar a perda do filho e Aaron Eckart faz seu marido. O trailer é montado de forma concisa, apresentando um ritmo lento e diálogos poderosos que são elevados dramaticamente pelas atuações. Nesse caso, é o filme para Kidman brilhar e isso pode implodir ou tornar o filme memorável. O trailer é competente e é um dos grandes filmes que prometem para o fim de 2010.

72 Horas

O novo filme do oscarizado Paul Haggis tende, infelizmente, a ser seu pior filme. Os relances de suspense de ação, com uma trama não muito convincente e os tiques de filmes de corrida contra o relógio podem prejudicar muito o que se espera de um filme de Haggis, conhecido pela sua pesada dramaticidade imposta, tão grande e competente que fez de Cassino Royale um dos melhores filme do 007. Porém, pode também acontecer que Haggis dê um passo a mais em sua carreira, dando um ar artístico a um gênero cansado como o thriller de perseguição. Agora é esperar e ver o que Haggis fará com sua primeira trama realmente de suspense, sem todo o drama de Crash e Menina de Ouro.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Atração Perigosa

Ben Affleck realiza seu Fogo contra Fogo.

Em 1997, Matt Damon e seu amigo Ben Affleck escreveram um filme, Gênio Indomável, dirigido por Gus Van Sant. Depois de ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Original, ninguém mais parou os dois amigos de Massachussets. Enquanto Matt Damon parece ter seguido a linha de George Clooney, escolhendo seus projetos a dedo e obtendo êxito crítico(e ás vezes, de público), Ben Affleck não o seguiu. Depois de uma década de erros como Demolidor, Contato de Risco, O Pagamento(que é bom, mas tem uma péssima atuação de Affleck), Ben decidiu comprovar todo o seu talento demonstrado lá em 97: dirigiu Medo da Verdade, baseado no livro elogiado de Dennis Lehane. O filme foi tão bem recebido pelo crítica que facilitou bastante o financiamento do novo filme do diretor, que ganhou até créditos de "do aclamado diretor de Medo da Verdade" no trailer. Agora, estreia nos cinemas brasileiros Atração Perigosa, que chega fazendo barulho pelas críticas imensamente positivas que vem recebendo nos Estados Unidos. Os 95% que ganhou no Rotten Tomatoes, aliado a críticas muito positivas de críticos do gabarito de Roger Ebert, fizeram o filme gerar muita expectativa.

Após ver Atração Perigosa, entende-se as muitas críticas positivas, mas o filme não é uma obra-prima e nem merece ser indicado ao Oscar, como os americanos pintavam. É uma prova viva de que Ben Affleck é mesmo um excelente diretor e é um escritor muito competente também, porém o filme não é um produto inovador ou uma releitura genial de sua trama anteriomente testada. A estrutura que se vê no filme todo segue o ritmo dessa mesma trama, sem ousar em relação a outros filmes de roubo. O que se diferencia e torna Atração Perigosa uma experiência positiva é justamente o fato de Affleck fazer um filme sem erros, cauteloso, um terreno seguro, sem ousar em momento algum.

A trama segue Doug MacRay(Ben Affleck), um ladrão de bancos de Boston que, junto com sua gangue composta por James "Jem" Coughlin(Jeremy Renner), Gloansky(Slaine) e Dez(Owen Burke), está realizando assaltos mais frequentemente pra poder se retirar por um tempo desse ramo. Em um desses assaltos, o bando acaba levando Claire(Rebecca Hall) como refém e Jem, com medo dela ter visto algum deles, pensa em matá-la. Avesso a assassinatos, Doug propõe antes vigiá-la para saber se ela reconheceu ou não seus sequestradores. Mas seus problemas começam quando Doug descobre que Claire é uma pessoa muito boa e se apaixona por ela. Além disso, o agente federal Adam Frawley(Jon Hamm) está no encalço de sua gangue e vai longe quando tenta usar Krista Coughlin(Blake Lively), prostituta ex-namorada de Doug e irmã de Jem.

O roteiro escrito por Affleck, Aaron Stockard e Peter Craig é muito preciso em vários aspectos. Apesar de um início que tem defeitos, como a cena em que Doug e Jem estão falando com o bando, o filme flue de forma concisa, com passagens interessantes e situações amarradas. A construção de personagens é muito boa também, com 125 minutos sendo suficientes para montar o caráter e os sentimentos de todos os personagens importantes em tela. Contudo, a construção tem falhas. O defeito no início é justamente nisso, com uma previsibilidade grande demais, montando Doug como bonzinho e Jem como mal com um diálogo bem manjado. Fora que faltaram umas pequenas passagens pra pontuar melhor a relação de irmãos de Krista e James. Apesar desses defeitos, tudo é pra ser considerado bem trivial mesmo, já que o filme nada perde com isso. As situações são bem amarradas, competentes e nenhuma desnecessária. Ainda que tiques do gênero de roubo sejam vistos(o grande roubo final para o clímax, a atração amorosa proibida, o ladrão bonzinho que quer se redimir), todos eles fazem parte do contexto que Affleck quer apresentar, formando assim um filme de roubo legítimo. Aliás, por escolher seguir essa estrutura, Affleck impede o filme de ganhar mais pontos, explicando aqui a tal falta de ousadia.

Outro ponto do roteiro que merece citação é a escolha de Affleck por contar sua história principal com um pano de fundo. Toda a mitologia criada em torno dos criminosos de Charlestown, a tal cidade do título original, é rica e sensacional, lembrando a ótica apaixonada que Martin Scorsese executou em Taxi Driver e Caminhos Perigosos. Esse bairro, em que o ofício de ladrão de banco é passado de pai pra filho, se torna interessante quando registrado pela ótica entusiasmada de Affleck. A ambientação é esmerada e apresenta um pouco de ousadia à trama conhecida. Talvez essa falta de ousadia fosse um motivo de implodir o filme, mas como o gênero Roubo é pouco retratado como ele realmente é(e como Affleck desde o princípio queria mesmo é fazer um roteiro seguro), Atração Perigosa se mostra um bom retrato da lei, na linha do épico do crime mesmo. E é tão preciso e competente o jeito com que Affleck conta a história que temos como resultado um charmoso e violento Heist Movie. E algumas vezes isso basta. Percebendo isso, entende-se o rótulo de obra-prima que os americanos viram no filme. Eles não esperavam nenhuma ousadia e amaram justamente o a falta de... ousadia.

E é falando em épico criminoso que vem a comparação que fiz no início do texto. Affleck cria sua trama criminosa com tanto empenho que ele realiza seu Fogo contra Fogo. Porém, se no épico de Michael Mann a rivalidade de deNiro e Pacino era impressionante e o foco principal, colocando a caótica trama e a cidade de Los Angeles como pano de fundo, o foco principal de Affleck é sua trama de roubo, com Doug sendo o homem a se redimir nisso. Como no filme de Mann, Affleck cria um intrincado panorama dramático e de roubo, construindo assim um filme similar. Mas, Affleck ainda não tem a competência e sensibilidade de Mann, que construiu em 170 minutos um filme invejável em 1995, com arcos dramáticos poderosíssimos e uma trama de crime espetacular. Se Mann tinha a ousadia, Affleck tem a segurança. Ao inovar, Mann criou um dos melhores filmes na década e justamente isso faltou a Affleck. Seu épico é de cartas marcadas, sendo amarrado mas anteriormente visto. Ao optar por testar o campo do Heist Movie, Affleck cria um produto satisfatório em roteiro, mas ignorando a inovação, criou um sub-épico do crime, um retrocesso em relação ao filme de Mann. Cabe a Affleck inovar num eventual segundo filme de crime, para se consolidar como o grande contador de histórias que é.

A qualidade técnica que Atração Perigosa tem, ainda mais considerando a ninharia com que o filme foi feito(37 Milhões), auxilia mais ainda a ideia de filme visualmente bonito. A direção segura de Affleck, com mão talentosa pra ação, ainda manda bem nas partes dramáticas, com closes quando necessários e planos se movendo lentamente. Além disso, os cortes saem de forma sucinta, auxiliados pela espetacular edição de Dylan Tichenor. Nas cenas de ação, a edição e a direção entram em conjunto de forma deslumbrante, com um tiroteio bem coordenado. Affleck surpreende a audiência colocando bastante ação no candensiado e demonstra maturidade suficiente, mesmo no seu segundo filme, para conduzir a ação de forma competente. A fotografia de Robert Elswit ainda deixa o filme mais belo, com uma atmosfera azulada no meio da gélida Boston. Combinando esse azul com planos na maioria cinzentos, temos imagens belíssimas e que funcionam dentro do contexto do filme, sem soar deslocadas. E ainda temos uma grande sacada de Elswit: deixando o filme inteiramente cinza e azul, no momento de redenção do personagem, surge um flare com o Sol batendo na tela, num contra-ataque de todo a violência do crime no filme, um momento singelo de pureza da alma. Espetacular.

A trilha sonora de Harry Gregson-Williams e David Buckley segue a linha do filme de assalto, com notas tensas e alongadas. Em algumas partes mais paradas do filme, é fácil reconhecer a contribuição de Gregson-Williams no filme, com notas bastante familiares em outros filmes com sua trilha. Esse ritmo que os compositores impõem na narrativa só ajuda a percepção que estamos diante de um filme de roubo seguro.

As atuações do filme cumprem as expectativas. Ben Affleck entra com veracidade no personagem, até mesmo criando um tipo de falar novo para ele. A fala calma, arrastada e meio melancólica até, ajuda na criação do personagem. Jeremy Renner está perfeito num papel que foi escrito de forma simples. Mesmo sendo típico de vários filmes, o ladrão mal ganha uma leitura respeitável pela visão de Renner. Seu talento, que já estava explícito em sua hipnótica atuação em Guerra ao Terror, fica ainda maior dada a transformação em relação a seu papel anterior. Blake Lively tem pouco espaço em tela, mas não compromete. Já Rebecca Hall faz um trabalho muito bom, sendo uma atriz invejável. Seu personagem, apesar de arquetípico, tem nuances dramáticas muito bem demonstradas pela atriz. E se Chris Cooper e Pete Postlethwaite fazem muito bem seus curtos espaços, Jon Hamm ganha espaço de sobra e arrebenta. Mesmo sendo o policial durão conhecido da audiência, Hamm é um monstro de atuação e mostra o porque dele ser sinônimo de macho durão hoje em dia. Uma grande atuação. Elenco bom o de Atração Perigosa, afinal Ben Affleck escolheu profissionais que, mesmo com papéis não muito inovadores, fizeram um trabalho decente.

Num contexto geral, Atração Perigosa agrada. Apesar de situações comuns no gênero e falta de ousadia, é difícil errar quando uma história é bem executada desse jeito. Um filme recomendável, pra ver sem compromisso, esperando um thriller tenso com passagens excelentes e uma ação esplêndida. E agora fica a espera pelo próximo filme do redimido Ben Affleck. Após fazer o aclamado Medo da Verdade e esse interessante Atração Perigosa, Affleck já entrou pro hall dos diretores mais promissores da nossa geração. É engraçadíssimo pensar que um sujeito competente desses fez "maravilhas" como Contato de Risco, um dos piores filmes da década. Legal constatar que o talentoso Affleck voltou as origens talentosas que colocaram ele e seu bem-sucedido amigo Matt Damon no estrelato da indústria cinematográfica. A grande prova viva das segundas chances que Hollywood dá. Que venha o próximo trabalho dele!

*** 3 Estrelas