Antes mesmo do logo da Columbia Pictures desaparecer no fade-out que precede o primeiro fotograma de Batalha de Los Angeles , já escutamos aquele som típico dos longas de Rolland Emmerich : Algum jornalista alegando um desastre sem precedentes em algumas regiões do planeta . Então, quando o filme de Jonathan Liebesman realmente começa, somos jogados á um redemoinho de imagens tremidas, dentro do foco do desastre, para depois sermos enviados ao arco que interessa ao filme - um helicóptero recheado de marines que sobrevoa uma área onde naves alienígenas caem aos montes . Gerando uma tensão interessante, o título aparece em tela numa imagem aérea épica e desoladora . Tudo fica preto . Então o filme começa de fato . E não demora mais que um minuto para ter-se idéia da hecatombe nuclear que Batalha de Los Angeles realmente é .
Dentro desses poucos minutos de filmagem interessante e agressiva, fomos claramente enganados , mas talvez seja apenas uma dose irrelevante de enganação comparada á daqueles que aguardavam euforicamente pelo filme - criando um hype que se revela obviamente falso - devido aos trailers bem montados e cartazes no mínimo criativos . Perante á película, porém, não há como ser enganado - a babaquice de níveis estrondosos que essa produção mostra ser, não pode se esconder de ninguém . Um erro em cima do outro , tudo que poderia implodir qualquer filme , foi introduzido á mistura, e o mínimo que poderia dar certo , foi elevado a níveis de uma overdose fatal .
Explico . Batalha de Los Angeles utiliza uma trama extremamente simples - dignas de filmes de Michael Bay ou Rolland Emerich - mas extrapola qualquer ponto, não usa nenhuma medida para estacionar sua cotação em apenas ''ruim'' , não controla qualquer perímetro de qualquer que seja o aspecto, resultando numa verdadeira catástrofe . Os clichês de Bay e sua excitação com o exército americano - o diretor de Armaggedon deveria ter sido um peseudo-personagem tipo Tio Sam, e não um cineasta - se fazem presente de maneira exponencial , e Jonatahn Liebesman mostra seu apreço incondicional ao ridículo . A máxima antológica do sargento batendo continência em frente a bandeira americana , é , acreditem ,uma das passagens patrióticas mais leves do filme . A saudação aos marines é intensa , sufocante, angustiante de tão inflada . Assim como outros pontos do filme , esse nacionalismo inchado, que numa dose baixa pode até ser engraçadinho, se torna nocivo com o passar do tempo de exibição .
E se Jonathan Liebesman tem um amor incondicional ao exército americano - mesmo sendo sul-africano - parece não possuir tanto apreço a materiais básicos e essenciais para a vida de qualquer cineasta - como um mero tripé, por exemplo . É a única explicação para tamanho descaso e desuso de qualquer apoio ou sustentação de sua câmera . Talvez seja mais fácil encontrar diálogos decentes no filme - e olha que esta é uma tarefa árdua e complexa - do que apontar um take estático que seja . Nada contra a câmera na mão . Quando bem usada, é fundamental para a respiração de um filme , como na urgência brilhante da câmera de Lee Daniels em Precious, para citar algum exemplo mais recente . Mas aqui , Liebesman exacerba . Demais .
Não é mera implicância , o projeto de diretor faz Michael Bay parecer cauteloso em seus cortes se comparado ao seu modo de filmagem em Batalha de Los Angeles . Urgência em alguns pontos é adequado. Usar o leve tremor da câmera e zooms intimistas em conversas descontraídas e nada importantes é, no mínimo, inadmissível . Sem falar que esses mesmos zooms intimistas acabam proporcionando um ar documental - e nem preciso dizer que tentar enxergar algo documental no exagero maniqueísta que Batalha de Los Angeles é, é simplesmente estapafúrdio . Pra encurtar, Liebesman usa câmera na mão o filme todo, perde qualquer potencial dessa técnica ao emprega-la durante modorrentos 116 minutos, e ainda de quebra deixa seus espectadores com dor nos olhos .
Mas se havia algum ponto que poderia dar certo no longa, talvez fosse uma diversão de um filme de pancadaria entre aliens e humanos . Entra em cena aí , então, o outro carrasco de Batalha de Los Angeles : Christopher Bertolini . O cidadão que criou o script do filme - não acho que chama-lo de roteirista seja prudente - deve possuir sérios danos mentais ou então fez o roteiro (roteiro?) para curtir com a cara do sagaz espectador . Aposto numa terceira opção, a pura falta de compreensão do que é bom, do que é ruim, e do que é desastroso . O último adjetivo , aliás, é perfeito para caracterizar o... err... hmm... roteiro , de Bertolini . Como um adolescente com ejaculação precoce , Bertolini inicia a pancadaria sem fim com uns 20 minutos - se muito - de filme . Pelos meus cálculos, tirando créditos , são mais de 95 minutos de pura ação , correria, tiroteio, explosões, etc.
Obviamente, em 20 minutos ele não explora adequadamente os personagens - e pelo o que o filme se propõe, isso nem era necessário - mas faz questão de colocar letreiros com nomes das personas quando elas aparecem - tomando a inteligência do espectador pela burrice que apodera sua mente . E no que se refere a esse espaço de pancadaria que toma conta da maioria do filme, deve-se dizer que , mais uma vez, há o claro exagero . Mesmo aquele que é mais aficionado por ação, achará Batalha de Los Angeles insuportável . Até determinado ponto, a loucura da batalha sem fim parece palatável , mas a partir de um determinado momento - principalmente nos 40 minutos finais - tudo começa a ficar extremamente enfadonho, cansativo, repetitivo e sem a menor graça . Ter sono nessa parte, e se sentir perdido, sem foco e sem atenção, não é difícil .
Tomando exagero e extrapolação como palavras de ordem básicas , Batalha de Los Angeles vai além de qualquer limite que qualquer cineasta ruim já teve . E se vai além no aspecto do absurdo, da ruindade , não tem nem a vergonha na cara de ser escrachado - como Michael Bay e Rolland Emmerich tantas vezes fazem . Não tem aquele ar de descontração dos filmes de Bay, por exemplo . Se leva a sério, e isso culmina com uma sensação perversa, mas verdadeira : a de que estamos assistindo a uma sátira de filmes de guerra , no estilo Trovão Tropical .
Não se espante se não perceber a ofensividade do filme enquanto assiste a ele . O teor exacerbado é tanto, que só adquirimos consciencia de seu ultraje a nossas mentes quando ele se encerra . Catarticamente, percebemos o terror que assistimos de maneira hipnótica . A sensação é de ter sido estuprado, não por um alien, mas por todo um pelotão americano patriótico. Agora, não sou eu que estou exagerando . É só o resultado do crime de Jonathan Liebesman, um verdadeiro violentador de mentes e de qualquer senso de sanidade intelectual.
1 Estrela * - Péssimo
Nenhum comentário:
Postar um comentário