Old School Nerds

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Pânico na Neve

Tensão descomunal em longa limitado.

Filmes independentes de baixo orçamento são uma grande aposta de cineastas com recursos cinematográficos limitados ou uma ideia criativa e barata na cabeça para realizar seus debutes na direção. Chris Kentis realizou sua estreia na função, Mar Aberto, justamente nesse contexto. Daniel Myrick e Eduardo Sanchez criaram a mitologia de Bruxa de Blair e contribuíram ao cinema independente de maneira devastadora, trazendo o gênero do mockumentary ao terror, honrando a tradição da tensão de exemplares antigos como O Exorcista e O Bebê de Rosemary. Oren Peli, recentemente, abusou da boa vontade do público ao tentar recriar o efeito de Bruxa para a nova geração, sem sucesso crítico(embora financeiro). Rodrigo Cortés comprou sua entrada em Hollywood realizando seu esplendoroso Enterrado Vivo com essa mesma ideologia, em apenas um cenário.

E Pânico na Neve insiste justamente nesse modo de narrativa. Situado em apenas um local, em parcos 5 cenários, o filme tenta se apoiar na tensão desesperada em takes engenhosos e atuações desesperadas de seus protagonistas. Mas se em Enterrado Vivo, uma aula de tensão recente, temos a atuação vitoriosa de Ryan Reynolds, aqui temos que contar com Emma Bell, Kevin Zegers(egresso de Transamerica e Bud-O Cão Amigo) e Shawn Ashmore, o Iceman do X-Men. A questão diferente em Pânico na Neve, porém, é que Adam Green, roteirista e diretor, não é um novato em questão e nem teve essa sua ideia vendida como revolucionária, como geralmente acontece com esse tipo de filme. Seu roteiro depende demais das atuações dos envolvidos, que são limitados. Fora que Adam Green não é um sujeito conhecido por ser um mestre da tensão, tendo em seu currículo a série Hatchet.

A trama dos 3 amigos que ficam presos no teleférico do Esqui por uma semana, na neve e com lobos lá embaixo, é bastante pobre, mas de uma iniciativa calcada na tensão. Nesse tipo de filme, a limitação é visível e reconhecê-la é a chave para uma narrtiva eficaz. Enterrado Vivo apostava no subtexto político para criar um roteiro inesquecível, enquanto Mar Aberto, além de ter uma trama com desenvolvimento impecável a ponto de torná-la possível aos olhos do espectador, apostava na ligação emocional com seus protagonistas. Porém, Pânico na Neve usa as limitações não por falta de dinheiro, mas por falta de criatividade de seu criador. Sem criar um atrativo suficiente pra tornar seu filme algo além do mediano, Green abraça a catarse com uma confiança tão grande que faz, pelo menos, com que os vazios 95 minutos de projeção passem de forma rápida(e bem tensa).

O roteiro raso de Green abusa de qualquer coerência com a realidade em prol da taquicardia. E, por mais que seja extremamente estúpido, é de uma engenhosidade incrível. Se é possível se incomodar com o fator absurdo que leva os 3 a se meterem naquela confusão, é só levarmos em conta que a inteligência dos mesmos é abaixo da ignorância. E ainda tem o idiotizante motivo que Green usa para justificar o sumiço do trabalhador que cuidava da estação. Decisões narrativas, como a escalada do cabo, se tornam demoradas e ficam apenas pro final, sendo substituídas por inacreditáveis soluções como a queda voluntária do teleférico, apenas para inchar a narrativa. Sendo assim, qualquer erro é permitido dado que não são as situações que se resolvem mal pela falta de inteligência dos personagens. A ignorância deriva do diretor/roteirista. Só assim se explica como 3 esquiadores desceram no exato momento que não podiam e como lobos só chegam quando preveêm que alguém tentará descer.

Até aí, seriam defeitos fatais. Porém, a engenhosidade citada é provada pelo atropelado modo que Green filma o pré-tensão. Ainda que abuse de uma linguagem pouco original de criar tensão, como a filmagem em close das engrenagens do teleférico, a sucessão de erros do filme é apenas colocada ali pra pular para a adrenalina de uma vez. Espanta-se até que demore cerca de 10 minutos para a trama começar. Green não tem o mínimo talento para diálogos ou situações realistas(e reconhece isso bem), criando diálogos completamente dispensáveis que parecem estar ali apenas para evitar o silêncio dos envolvidos. Cheio de pressa, o diretor não deixa que os personagens tenham alguma qualidade para o espectador se importar. E os diálogos não mudam nem mesmo no teleférico, em que a tensão dos envolvidos se dá apenas por rostos chorosos ou desesperados(ou pelas pavorosas falas). Atente, por exemplo, para o monólogo sobre o cachorro de Parker(Emma). Ainda que bonito, é de uma cretinice tremenda.

Percebe-se então que Green quer mesmo é pular o que não sabe fazer, o desenvolvimento até a tensão. Mas se o público parece apenas conformado em acompanhar o teleférico até a metade do filme, ocorre um evento decisivo que desmascara totalmente as ambições de Green. Criado no cinema Gore, da já citada "franquia" Hatchet, Green fica claramente mais á vontade no meio da sangueira e das vísceras. E se analisarmos os grandes exemplares desse gênero independente de suspense, gore é o que menos importa. Porém, Green vai na contra-mão e filma cada detalhezinho mais pesado de sua produção com uma violência gráfica explícita. Em certo ponto, o diretor filma os ossos expostos de uma perna em super-close. Em outro, filma um corpo em decomposição com a câmera acima dele. Até mesmo geladuras o cineasta faz questão de filmar de maneira exagerada. Sendo assim, é complicado saber se Green faz uma introdução totalmente apressada para chegar á tensão ou se é para mostrar umas vísceras de fora. E se analisarmos Hatchet I e II(que tem um machado no cartaz), temos a resposta.

Desafiador seria então enquadrar Pânico na Neve em uma categoria apenas. A trama propõe um suspense desesperador e claustrofóbico, enquanto seu diretor prefere ser um sub-Eli Roth e esperar pra filmar violência gráfica. Já o final da projeção comete um erro idiota ao colocar o letreiro final de forma abrupta, como se quisesse chocar alguém(coisa que não funciona, já que o final depende de ligação emocional). Os diálogos criam os laços necessários emocionais, sem ter originalidade, fazendo o feijão com arroz. E a tensão está presente na película inteira, sem decepcionar os fãs.

Assim, Pânico na Neve é catártico pela catarse, colocando em jogo qualquer conexão com a realidade em prol da tensão e das tripas de fora. Entretenimento para os sádicos, divertido e bem executado. E apenas isso. Ainda que o final tente emular a angústia emocional de um Mar Aberto, por exemplo, não funciona pelo contexto em que Green filma. O diretor simplesmente se contenta em fazer o básico. E isso, nem sempre, é demérito grave.

Frozen, constata-se, está mais para Jogos Mortais e Premonição do que para Enterrado Vivo. Não se engane. Adam Green cria a tal tensão que propôs, mas só quer ver o banho de sangue. Se bateu crise de coinciência no seu final humanizado, aí é outra história. Mas nos autos dos mestres do suspense, o cineasta não entra.

*** 3 Estrelas

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