Old School Nerds

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domingo, 27 de dezembro de 2009

Psicopata Americano

Christian Bale e como ser carismático matando gatinhos.

Em 1991, um escritor chamado Bret Easton Ellis lançou um dos livros mais polêmicos da História. American Psycho horrorizou a todos, que o chamaram de doente, perturbador, ousado e inovador. A crônica com jeitão de filme indie chocou pois colocava um executivo rico, bonito, galante e... assassino. E um dos piores, daqueles que tem praticamente uma "Síndrome de Matar". Depois de Psicopata, Bret continuou escrevendo romances psicodélicos porém mais brandos. E eles foram adaptados pro cinema depois de Psicopata Americano. Curiosamente, com exceção desse, todos os romances de Bret foram adaptados pro cinema por Roger Avary. Em 2000, a Universal e a Lionsgate anunciaram que financiariam os 7 milhões de dólares de orçamento para a corajosa adaptação, que seria Rated R e ainda tinha um teor alto demais pra um filme comercial. Mas, graças a Lionsgate, corajosa disitribuidora, Psicopata Americano foi lançado nos cinemas com toda a sua violência e maluquice.

Na trama, Patrick Bateman(o brilhante Christian Bale) é um executivo de Wall Street. Vive num bom apartamento, tem uma conta bancária enorme, roupas de grife e todas as mulheres que ele precisar. Mas algo naquele mundo de aparências não o satisfaz: Ele não suporta seres melhores que ele e os destrói de forma insana e cruel. Patrick satisfaz seu vazio com um simples hobby: Matar todos que ele odeia. Quando ele comete mais um de seus crimes, ele começa a ser perseguido por Donald Kimball(Willem Dafoe), um detetive astuto e competente.
O interessante da trama é que o comportamento de Bateman é tão perturbador que no desenvolver da história, ele começa a afetar as outras pessoas, coisa que Bateman disfarçava com um cinismo incrivelmente engraçado. Seu mundo de aparências consegue provocar risadas nos apreciadores do humor negro. Essa trama tecnicamente policial se esvai ao longo do filme, que se demonstra um grande debate sobre a futilidade humana e seus delírios mais perturbados.

Nas partes técnicas, Psicopata Americano é excelente, apesar de tudo ser ofuscado pelo roteiro magistral e a atuação muito competente de Bale. A direção de Mary Harron é muito boa, até surpreendente. Sem fazer nenhum movimento espetacular ou uma tomada sensacional, Mary faz um trabalho bonito e acima da média. Mesmo sem colocar uma ferrenha identidade em sua direção, ela inova ao deixar os atores trabalharem e os filmar com elegância. Melhor assim do que tentar inovar e dirigir mal, como Stephen Sommers. A edição do filme também é bem curiosa, por mesclar momentos de delírios e realidade com precisão, sem deixar o público se situar na trama com clareza. Momentos que fariam um filme implodir, mas aqui colabora por ser um filme de psicopata. A fotografia de Andrzej Sekula é soberba, um primor. Com tons brancos na maior parte do filme, com tons sombrios em momentos mais dolorosos mentalmente. Competente fotógrafo, eu gostaria muito de saber onde está Sekula, afinal esse já é seu segundo trabalho magnífico, depois de Cães de Aluguel. A triha sonora de John Cale é bonita também, com tons clássicos orquestrados e uma seleção de músicas muito acertada. Mas, apesar da beleza, não há o que se surpreender com Cale. Num filme elegante e que retrata os ricos como Psicopata, era de se esperar uma trilha assim.

As atuações do filme são um fator importante afinal,teor pesado da produção, o protagonista devia ser um titã para segurar o papel. E devo dizer que Psicopata é feliz em sua escolha de elenco. Christian Bale se mostra um ator de primeira, demonstrando porque que ele foi escolhido pra ser o Batman. Ele arrebenta a cada cena difícil, fazendo o espectador acreditar mesmo sobre ele ser maluco. Os boatos que ele seria esquentado e destemperado com certeza vem de espectadores desse filme. E isso já bastaria pro filme ser excelente, mas as outras atuações conseguem ajudar o filme a se tornar um marco. Justin Theroux está canastrão ao extremo e atua com um profissionalismo enorme como Timothy Bryce, um dos amigos riquinhos de Bateman. Josh Lucas também convence como Craig McDermott, outro amigo de Bateman. Reese Witherspoon nada acrescenta á trama. Seu papel, o de noiva socialite/patricinha de Bateman é extremamente obsoleto. Reese atua como seu papel em Legalmente Loira, mas menos engraçado.
Jared Leto, o Paul Allen, não pode fazer muita coisa pelo seu tempo de tela pequeno. Willem Dafoe não se demonstra o excelente ator que é, mas atua bem para o papel do detetive. Afinal, ele não tem muita relevância na trama. Outro destaque bem positivo é Chloe Sevigny, no papel da secretária de Bateman. Sua atuação é natural e precisa, o que já basta para a trama. E é esse desprendimento com coadjuvantes que faz com que Bale seja um dos trunfos do filme. Apesar da boa escolha, o elenco secundário não precisar oferecer nada. Desde o primeiro frame está claro: O Filme é de Christian Bale.

O roteiro adaptado por Mary Harron e Guinevere Turner é inteligente, arrojado e, incrivelmente, engraçado. A cada frame, a escancarada crítica ás futilidades e desejos desnecessários da High Society se torna melhor. Em um determinado segmento do filme, Bateman está reunido com seus amigos e eles começam a discutir com seriedade... os cartões de cada um. Sim, aqueles cartões com seu nome e telefone. E, por inveja do cartão de um dos seus amigos, Bateman o mata por esse simples motivo. É o que motiva os invejosos a todo momento, mas elevado ao extremo. E o roteiro também é competente em demonstrar as partes de delírio de Bateman. Ver ele matando por prazer é algo fora do comum, que só poderá satisfazer os com o estômago forte. Em uma sequência, Bateman, no limite de sua loucura, pega um gato e tenta enfiar no caixa eletrônico. Quando uma mulher o vê e tenta repreende-lo, ele saca uma pistola e mata a mulher. Depois, sai andando normalmente. As audiências em massa não aguentariam mesmo algo desse jeito.
Por todo esse arrojo e humor negro da maior qualidade, o roteiro consegue ser o carro-chefe da produção. E somado a atuação de Bale, tudo fica interessantíssimo.

Com um nível de psicopatia acima da média, Psicopata Americano se demonstra um dos filmes mais estranhos da História. E um dos mais competentes, também. Juntando ele a Oldboy, temos uma lista de filmes que serão apreciados pelos amantes do bom cinema e das maluquices em geral. Recomendado para todo mundo que quer sair um pouco do Cinema comercial, do famoso blockbuster. Corra para uma locadora ou baixe em algum site. Esse filme deve ser visto até mesmo mais de uma vez.

Com certeza, será melhor que ver uma diversão descartável.

***** 5 Estrelas

sábado, 26 de dezembro de 2009

Clube da Luta

David Fincher faz uma epopéia lisérgica sobre o que é ser homem.

Existem alguns filmes que surgem em determinadas épocas e simplesmente revolucionam toda a indústria . Vão além do que era de costume ser feito no cinema e fazem um show tanto no visual como no seu roteiro. Laranja Mecânica, no início da década de 70, continha cenas de nudez completa, violência em demasia e uma temática que criticava o governo de forma aberta. A frente de seu tempo, sem dúvidas. Pela década de 80, teve Videodrome, que foi um real loucura, no bom sentido. Crítica a fome dos vídeos de da TV, uma ótima premissa. Na década de 90, uma década fraca e acomodada, a não ser pelo surgimento de Quentin Tarantino e outros eventos, não poderia deixar de ter sua obra lisérgica que modificaria a indústria e se tornaria cultuada. Surgiu, no final do ano de 1999, Clube da Luta.

Adaptado da obra de Chuck Palahniuk, Clube da Luta conta , após uma seqüência de créditos das mais estilosas já feitas, a saga de um jovem(que não é nomeado) empregado numa empresa automobilística (Edward Norton) que sofre de insônia pesada , e, para resolver esse seu problema, precisa ir a sessões de grupos de auto-ajuda de pessoas com câncer terminal(?!!). Quando vai, dorme como uma criança. E seguimos uma boa parte do filme ouvindo o narrador sem nome contar sobre sua vida. E, na maioria dos espectadores, ocorre o auto-reconhecimento. O personagem de Norton é o retrato, sem nenhuma caricatura, do homem daquela época da década de 90, que existe até hoje. Um espécime estressado, pressionado pelo chefe, que não consegue dormir nem relaxar, que é pressionado pelas mídias a comprar e comprar cada vez mais, e vê o foco de sua existência nos seus bens materiais.

Então, numa dessas viagens que seu trabalho exigia, dentro de um avião, ele conhece Tyler Durden (Brad Pitt) , um vendedor de sabão que era tudo o que o personagem de Norton não era : Calmo, relaxado, inconseqüente e completamente desligado das posses. Realizava coisas que o protagonista nunca pensara em fazer...Desde de ser um garçon que urina nas refeições até um editor de filmes que põe mensagens “subliminares”neles. Depois desta viagem onde se conhecem, quando o narrador volta pra seu apartamento, descobre que o mesmo explodiu. Então pede para ficar por um tempo na casa de Tyler. Lá, aprende , ou melhor, reaprende a ser um homem de verdade. Com muito mais desleixo e um espaço para um item essencial pros homens : a violência . É assim, começando apenas com uma pequena luta dos dois, que surge o Clube da Luta . Um lugar onde o importante não era vencer o adversário. O objetivo era liberar toda a fúria do homem moderno que foi aprisionada por convenções urbanas, a vida agitada e estressada, que praticamente “capou”os homens do mundo .

É nessa base de história que o roteiro se afixa. O redescobrimento do homem através do extravasamento de adrenalina e raiva . Como colocado no próprio filme de maneira genial, os homens dessa era são os esquecidos da história. Não tem um Guerra Mundial a enfrentar , não há pontos de escape para o lado animal masculino. Com o Clube da Luta, todo esse lado selvagem é posto pra fora, servindo de ajuda psicológica sem igual. Esse Clube, não deixa de ser o apoio emocional dos homens, assim como os grupos de auto-ajuda de pessoas de câncer eram no início do filme. Mas até quando esse apoio é benéfico e a partir de onde ele começa a extrapolar?

Como há um excesso de informação e referencias no filme, acredito que seja impossível adquirir tudo de uma só vez. É preciso, pelo menos, uma segunda assistida ao filme para que se possa digerir todo o bom conteúdo colocado em tela de forma completa.

Tecnicamente, Clube da Luta vira mais sensacional ainda. É fato que é um filme importantíssimo para a história do cinema em geral. A começar, pela sua direção. Algo de outro mundo. David Fincher foi a muito a frente de seu tempo ao escolher uma direção tão rápida , tão ágil. Um estilo completamente contemporâneo que é avançado até hoje. Seus takes que só contem efeitos especiais são tão bons quanto os outros com atores normais. Ele acompanha todo o acontecimento “de computador” como ninguém jamis fez. Ótimo.

Outra coisa explêndida é a trilha do filme, da dupla Dust Brothers. Uma música vibrante, moderna e com estilo ótimo. Dá o tom exato do filme, em momentos cômicos e dramáticos. Pra acompanhar o trabalho de música, a fotografia sublime de Jeff Cronemweth. Faz o estilo sujo e iluminado por diversa luzes da cidade grande. Sujo e urbano, algo maravilhoso e dificilmente repetido. A edição do filme também é ótima. Acompanha o ritmo acelerado da direção. Em atuações, o filme não deve nada. Helena Bohan Carter faz seu papel de maneira interessantíssima, e mostra que tem talento. Mas o espaço é mesmo de Edward Norton e Brad Pitt . O primeiro é engolido pelo personagem e o segundo dá vida a uma personagem completamente nova, e é o destaque. Como Pitt não ganhou o Oscar até hoje, não sei.

Clube da Luta é avançadíssimo e abalou os pilares dos anos 90. Tanto por sua história lisérgica, visual belíssimo ou direção magistral. É um filme muito a frente de sua década, de seu século,e merece ser admirado por gerações infinitas.

5 Estrelas *****

sábado, 19 de dezembro de 2009

Full Metal Jacket

A Estrutura do Exército sob o olhar de Stanley Kubrick.

Após o grande conflito que foi A Guerra do Vietnã, Hollywood não podia fechar os olhos para a grande fonte de material que aquele evento tinha. Uma guerra muitas vezes dita como sem sentido, sem efeito direto, que ia ser contada de diversas maneiras através dos anos, com Platoon, Apoclipse Now, entre outros. Em 1987, surge Full Metal Jacket, um filme sobre a guerra do Vietnã, todos os seus preparativos e detalhes, sob o comando de ninguém menos que Stanley Kubrick.

Com o talento de observar e contemplar o assunto , Kubrick nos dá uma das melhores obras de guerra já feitas, mas vai além . Não se encarrega apenas de mostar a guerra, pois tem outra missão : Mostar com riqueza de detalhes gigantesca, toda a máquina do exército americano, a Corporação dos Marines , cada engrenagem de lá e suas características durante um período em que funcionou intensamente, transformando jovens comuns em máquinas de morte e guerra.

O filme divide-se, portanto , em dois segmentos . O primeiro mostra com virulência e realidade o treinamento dos soldados, o que eles passam e o que aguentam. O segundo, a Guerra em si, o terror e estranheza que ela causava nos soldados. O primeiro segmento inicia-se de maneira rápida, sem a menor enrolação. Vai direto ao ponto de apresentação do instrutor de treinamento Sargento Hartman(R.Lee Ermey) aos seus soldados, após um rápido conjunto de cenas que mostram os jovens homens tendo a cabeça raspada, passando pela primeira transformação para o treinamento. Na apresentação ao sargento, os soldados começam a "experimentar" a vida no quartel. Nada de brincadeiras, obedecer ás regras , demonstrar seriedade e competência, respeitar o instrutor, e saber, que naquele estágio, não passavam de nada a não ser dejeto de anfíbios. A partir daí, vemos os pequenos detalhes do dia-a-dia do quartel, que vão desde o modo de ganhar os apelidos até os rituais de dormir com o fuzil. De fato, não poderia haver outro diretor a fazer isso melhor do que Stanley Kubrick. No espaço, muitos anos antes, no filme 2001, Kubrick demonstrava o apreço quase obcessivo a densidade negra do espaço, sem necessidade de falas, ou efeitos megalomaníacos. Em Full Metal Jacket, Kubrick vai acompanhando o desenvolvimento desses futuros Marines, sem pressa alguma, degustando cada etapa do duro treinamento. Treinamento esse, que são colocados o soldadados Hilário (Mathew Modine), Cowboy(Arliss Howard) e Pyle (Vicent D'Onofrio) . Após essa transformação duríssima em máquinas de combate, o filme trata de mostrar os soldados na guerra,no campo de batalha, onde por vezes sentem uma descrença no motivo do conflito e até uma certa frieza adquirida com a forte preparação.

O mais interessante na trama foi o modo de comparar os dois segmentos. No treinamento quase sobre-humano, em que os soldados eram pressionados ao máximo, cobrados a decorar os movimentos com destreza perfeita, ter uma displina mais que ultra-rígida, onde algumas pessoas simplesmente não suportam, e surtam. Essa é o que torna Full Metal Jacket tão especial e diferenciado. Se um ano antes Oliver Stone fez um filme que mostrava uma "guerra" entre oficiais dentro de um pelotão, Kubrick agora mostra um "Holocausto" criado nos quartéis com o objetivo de criar homens acima da média, que matam com a mesma facilidade que respiram. É aterradora a situação pscológica que alguns soldados enfrentam dentro do próprio quartel. E assim, quando chegam na guerra, não tem muita dificuldades, nem muita emoção. Parecem que vivem sem pegar o verdadeiro peso da situação. Todos ficam já "vacinados" após a vivencia nos quartéis. E esse é o mais intrigante : A experiência que nos é compartilhada nos quartéis é mais amendrontadora, até, do que nas próprias batalhas reais. Mas a guerra sempre prega peças, e estar imune a tudo se torna impossível. Nesse filme, o ritmo só cai durante o segundo segmento, mas isso ajuda a formatar a idéia geral da trama que era preciso ser passada.

A direção de Kubrick aqui é tão explêndida quanto de costume. É sem dúvida o diretor mais visionário que já existiu, fato. E ele realiza seus takes maravilhosos com simplicidade incrível. Usar os trilhos para acompanhar um ator que anda calmamente por um dormitório enquanto discursa pode se tornar algo fora do normal com o registro contemplativo /observador de Kubrick. Observar uma cena onde um esquadrão adentra um território com as táticas de sempre fica muito mais interessantes quando se coloca uma câmera baixa, imediatamente atrás dos atores.Mostras o modus operandi metódico do exército passando excessivamente pelo meio de suas rígidas filas de soldados é mostrar com imagens, algo que talvez palavras não fossem sufucientes para mostrar. A trilha sonora foi muito bem composta pela filha do diretor, Vivian Kubrick. A trilha montada tem músicas próprias da época, como a que abre o filme, e outras mais agitadas, que dão o tom do filme muito bem. A trilha composta tem tons de suspense ótimos, que realmente tocam no espectador.

As atuações são também soberbas . Mathew Modine interpreta bem e merece menção. Vicent D'Onofrio arrebenta em seu papel, que talvez seja um dos mais difíceis de se realizar no filme. Mas o destaque vai para R.Lee Ermey. Esse militar que nem era ator, estava no filme como consultor para como se treinar os soldados, e após fazer uma demonstração pessoal em um vídeo, o diretor Stanley Kubrick ficou impressionado e resolveu contrata-lo para o papel. E vemos no filme que Kubrick fez o certo. O realismo não podia ser maior. Ermey não pisca em cena, olha com firmeza inimitável para os atores, grita e age como o Sargento Hartman de maneira única. Apenas sua atuação já vale o filme. Foi até injusto receber uma indicação para o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante. Deveria ser indicado logo ao Oscar!

De maneira sublime e quase irretocavelmente, Full Metal Jacket nos transmite a sensação de realismo da guerra como da visão de um soldado. Pelo menos até hoje, foi o mais próximo que um filme já chegou, nos introduzindo de vez no real universo militar. Vemos cada etapa da preparação de um matador, desde seu treinamento até sua ação nos campos vietnamitas. O motivo da guerra, não importa mais durante ela. Ela é mais dura do que qualquer um poderia pensar,mais do que qualquer um poderia se preparar.Sair vivo dela já é, para muitos, um alívio.

5 Estrelas*****

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Avatar

Avatar é só mais um rostinho bonito com roteiro ruim de James Cameron.

Depois de fazer Titanic, seu último trabalho, há 12 anos atrás, que se tornou a maior bilheteria da história, James Cameron começou a trabalhar em um novo roteiro : o de Avatar. Nos últimos meses, ouvíamos sempre pessoas dizendo que Cameron estava trabalhando a 12 anos nesse script, e estava desenvolvendo uma tecnologia capaz de suprir a demanda gigantesca de efeitos de seu filme. No final de 2008 para o início de 2009, já estava previsto que Avatar seria lançado em dezembro de 2009. Então, os meses que se estenderam até essa data tinham, entre outras pautas, Avatar.

Muito mistério foi criado a partir daí. Nada era mostrado, a maioria das informações eram mantidas trancadas a sete chaves, tendo de início apenas a sinopse principal. Nos meses que se seguiram foram lançadas algumas imagens, algumas muito boas, como as dos Na'vis. Enfim, foi lançado um teaser, que não justificou todo o hype e mistério criado . Algo muito morno, que mostrava um desfecho clichezento. Teve, então, o Avatar Day, onde as pessoas mais importantes no ramo de cinema tiveram acesso a algumas cenas de Avatar. Nada , também, de impressionante demais. Após isso, víamos mais imagens diariamente, um novo trailer - um pouco melhor que o primeiro - e algumas semanas antes do lançamento, uma enxurrada de clipes, que não abriram muito o apetite para o filme. Toda a cultuação criada a partir do filme era apenas justificada pelo obeso orçamento - 300 milhões de dólares tiranto o marketing - e pelo rasoável diretor supervalorizado , James Cameron. Após algumas críticas positivas elogiando o visual do filme e umas poucas negativas ressaltando o fraco roteiro, uma opinião prévia era muito difícil de ter.

Após assistir Avatar da melhor maneira possível, é preciso dizer que todo o hype criado é estranho. O filme de Cameron é comum em suas bases. A história principal - que foi acusada por muitos de plágio, desde a literatura de ficção até uma animação tosca chamada Delgo - é batida demais. Um ex-fuzileiro paraplégico Jake Sully (Sam Worthington) que entra para o programa Avatar - onde sua existencia pode ser transferida para um corpo Na'vi geneticamente modificado- e é enviado para se infiltrar nos nativos e convence-los a se retirar de lá, segundo a vontade do coronel Quaritch(Stephen Lang). Entretanto, como mostrado nos próprios trailers, Jake se apaixona por Pandora e por Neytiri( Zoe Saldana),a filha de seu líder.

Toda essa trama, nos trás referencias óbvias, como Dança com Lobos e até mesmo Pocahontas. Só isso já seria suficiente para ter um certo desprezo pelo filme, já que a trama se executa da mesma forma que todas as outras . Entretanto, várias passagens do filme são tiradas de outras muitas situações batidas de filmes de aventura. A perseguição do Thanator atrás de Jake , desde seu início, é já muito conhecida. O mocinho conhecer a mocinha sendo salvo por ela de um bando de animais ferozes já está carimbado como patrimônio histórico aventuresco.O feito impossível, realizado apenas 5 vezes em toda história ,mas que pode ser realizado pelo mocinho também está. Sem dúvida nenhuma, Avatar é um filme atrasado. É um filme comum da década de 90, cheio de clichês e momentos - chave já conhecidos. Foi planejado por um dos cineastas mais defensores do chavão e clichê, em 1997. Se naquela época o filme já seria engolido de mau jeito, hoje em dia , sua trama principal fica mais intragável ainda.

Tem algumas tiradas mais novas e boas, é verdade , como por exemplo, a trasição de corpo de Jake, que não é definitiva. Enquanto ele dorme em um corpo, está vivo em outro. Há também a boa concepção do ecossistema de Pandora. Ele é um corpo inteiro vivo, mas não alguma metáfora. É algo real , todos os seres vivos são ligados por meio de uma imensa rede de "nervos". Todos os seres vivos podem sentir e se relacionar direta e literalmente com o resto do sistema. Outro ponto positivo são os personagens Na'vi. São seres apaixonantes, e sua concepção do mundo ao redor e sua relação com ele são fantásticas. Essa é parte boa e visionária de James Cameron em ação . Contudo, no roteiro de diálogos, ele nos decepciona de novo. Os personagens são cheios de frases de efeito, principalmente o vilão de Stephen Lang . Vilão esse, que não tem muito de especial. É o típico vilão que queria ter o mocinho junto com ele para realizar seus planos maléficos, mas como não pode, decide acabar com ele.Outro problema é a preocupação com os personagens. Alguns tem um apreço grande e seu fim é muito bem marcado. Já outros, nem sequer são mencionados depois, mostrando um despredimento um tanto estranho. Enfim, é possivel separar a trama de Avatar em 5 Atos , que já estão colocados no trailer: 1- Chegada de Jake em Pandora, e o reconhecimento dos primeiros personagens. 2- Sua vida nova com seu Avatar, e o reconhecimento de Pandora e seus habitantes nativos. 3 - Seu enlace afetivo com os mesmo. 4- Distanciamento deles. 5- União final iniciada por um evento incrível.

Diante disso, avaliemos a "outra metade" de Avatar . A parte sem defeitos, a parte perfeita e maravilhosa. Os efeitos especiais. Sem ter muito o que discutir, são os melhores efeitos especiais já feitos. Todo o ecossistema de Pandora foi feito com dedicação e competencia enorme. Não parece mesmo CGI. Por vezes nos deparamos com efeitos de mata tão bons, que nos parece mata real, com animais reais. É tudo feito de maneira sublime, sem nenhum erro, é preciso ressaltar. A realidade dos Na'vi, é mais que impressionante. O jeito que se movimentam, sua expressões faciais...Não há erro. Parecem realmente áliens que realmente existem. E isso era muito importante para o filme, já que seu núcleo é muito grande e eles tem tempo de tela imenso, muito maior até do que os atores humanos. O 3D contribui muito para a imersão, e como é um 3D utilizado incessantemente ao longo de toda a exibição, realmente é uma experiencia sensacional, que te introduz de maneira única no universo do filme.

A direção de Cameron, como de costume, é épica. Ele filma tudo como grande acontecimento, e isso não é ruim, sua direção aqui está de fato boa. Principalmete nas cenas de ação. Captura muito bem todos os movimentos. Todavia, Cameron utiliza elementos de direção mais modernos concebidos por cineastas como Zack Snyder e J.J.Abrams. A câmera lenta que se acelera do nada e o zoom em determinados momentos. Tudo isso para tentar atrair a atenção do público para uma possível "modernidade" no filme.

Em atuações, temos de destaque Zoe Saldana. Ela entra no personagem como ninguém, interpreta de maneira impressionante e carrega o filme nas costas em detreminados momentos. As atuações de todos os outros são até boas, mas nada demais.A fotografia de Mauro Fiori faz o que é necessário, nada muito além do normal. No 3D ela fica ainda pior, pois os óculos escurecem o filme. A trilha sonora de James Horner é boa , tem um ritmo épico, assim como o a direção de Cameron pedia . Porém, não há nada de especial demais que justifique um possível futuro Oscar . Mas como já é um compositor consagrado, a Academia deve querer dar mais esse agrado ao filme de Cameron. Isso além do também possível Oscar ou Globo de Ouro para a Canção Original. Outro que seria injustiça. A música "I See You" é fraca e simplória, e tenta fazer o que a música "My Heart Will Go On " fez em Titanic. Aliás, O nome música final de Avatar é uma frase de amor dos protagonistas. E uma frase um pouco forçada, devo dizer.

É fato que muitas pessoas estão avaliando Avatar por aí apenas por seus efeitos explêndidos e sua inovação tecnológica. Para mim, efeitos não compram filme. Efeitos são alegorias e adereços de uma história bem colocada e original. Se um filme se apoia nessas alegorias e tem uma coluna principal mal desenvolvida, ele não tem como atingir nota máxima. Avatar não é um dos melhores filmes de 2009 nem de longe. É um marco para a tecnologia do cinema, para mais a frente, ela ser utilizada de diversas outras formas, muito mais inteligentes e inovadoras. Dessa vez, com Avatar , não foi. James Cameron faz simplesmente mais uma tsunami de clichês, dessa vez com seres azuis e efeitos divinos.

3 estrelas ***

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Globo de Ouro 2010 - Indicados

Hoje, os indicados do Globo de Ouro finalmente saíram. Tudo bem previsível, com uma ou outra surpresa. Enfim, poderemos ter uma noção maior do que irá pro Oscar agora.
Postaremos só os indicados de cinema e, além disso, colocaremos a opinião de cada Watchmaker embaixo das categorias.

Vamos a Lista.

CINEMA
Melhor atriz coadjuvante
Mo-Nique, por Preciosa
Julianne Moore, por A Single Man
Anna Kendrick, por Amor sem Escalas
Vera Farmiga, por Amor sem Escalas
Penelope Cruz, por Nine

Gabriel: Mo-Nique. Preciosa encantou as academias.

Joaquim :Mo-Nique. Foi um filme que comoveu quem assistiu e deve ganhar.

Melhor ator coadjuvante
Matt Damon, por Invictus
Stanley Tucci, por Uma Olhar do Paraíso
Christopher Plummer, por The Last Station
Christopher Waltz, por Bastardos Inglórios
Woody Harrelson, por The Messenger

Gabriel: Christopher Waltz. Senão ganhar, compraram o prêmio.
Joaquim: Christopher Waltz. Ganhou o prêmio assim que entrou no set pra filmar.
Melhor filme animado
Coraline e o Mundo Secreto
O Fantástico Sr. Raposo
Tá Chovendo Hambúrguer
A Princesa e o Sapo
Up - Altas Aventuras
Gabriel: Up. Sem discussão.
Joaquim: Up. É até covardia com os outros.
Melhor filme estrangeiro
Baaria
Abraços Partidos
The Prophe
The White Ribbon
The Maid
Gabriel: The White Ribbon. O filme tem uma temática forte e academias adoram Holocausto.
Joaquim:The White Ribbon por ser de Holocausto.

Melhor canção original
"I Will See You" (Avatar)
"The Weary Kind" (The Crazy Heart)
"Winter" (Entre Irmãos)
"Cinema Italiano" (Nine)
"I Want to Come Home" (Simplesmente Complicado)

Gabriel: Avatar. Por praxe.
Joaquim: Vão deixar de dar esse prêmio pro Avatar? Duvido.Todo mundo baba o ovo do James Cameron.

Melhor trilha sonora
Michael Giacchino, por Up - Altas Aventuras
Marvin Hamlisch, por O Desinformante!
James Horner, por Avatar
Abel Krozeniowski, por A Single Man
Karen O. e Carter Burwell, por Onde Vivem os Monstros

Gabriel: Quem merece é Up, mas quem ganhará é Avatar. James Horner é queridinho.
Joaquim: Avatar tem uma música foda. Up é melhor, mas fecham os olhos pra animação.
Melhor ator em comédia ou musical
Matt Damon, por O Desinformante!
Daniel Day Lewis, por Nine
Robert Downey Jr., por Sherlock Holmes
Joseph Gordon Levitt, por 500 Dias com Ela
Michael Stuhlbar, por A Serious Man

Gabriel: Daniel Day Lewis. Por reeditar um clássico.
Joaquim: Quem deve levar é Daniel Day Lewis. Mas daria o prêmio pra Gordon-Levitt.
Melhor atriz em comédia ou musical
Sandra Bullock, por A Proposta
Marion Cotillard, por Nine
Julia Roberts, por Duplicidade
Meryl Streep, por Simplesmente Complicado
Meryl Streep, por Julie e Julia
Gabriel: Meryl Streep, por praxe.
Joaquim: Idem.

Melhor ator em drama
Jeff Bridges, por A Crazy Heart
George Clooney, por Amor sem Escalas
Colin Firth, por A Single Man
Morgan Freeman, por Invictus
Tobey Maguire, por Entre Irmãos
Gabriel: George Clooney ou Jeff Bridges.
Joaquim: É a vez de George Clooney.

Melhor atriz em drama
Emily Blunt, por The Young Victoria
Sandra Bullock, por The Blind Side
Helen Mirren, por The Last Station
Carey Mulligan, por Educação
Gabire Sadibe, por Preciosa
Gabriel: Gabire Sadibe. Mas Helen Mirren tem chances maiores.
Joaquim : Em atuações, deve ser tudo do Precious.
Melhor comédia ou musical
500 Dias Com Ela
Se Beber, Não Case
Simplesmente Compicado
Julie e Julia
Nine

Gabriel: 500 Dias com Ela. Por ser o melhor filme do ano.
Joaquim : 500 Dias com Ela é o melhor destes.
Melhor filme dramático
Avatar
Guerra ao Terror
Bastardos Inglórios
Preciosa
Amor sem Escalas

Gabriel: Bastardos Inglórios. Por ser ótimo e por Avatar não merecer.
Joaquim: Bastardos Inglórios . Foda-se Avatar.
Melhor diretor
Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror
James Cameron, por Avatar
Clint Eastwood, por Invictus
Jason Reitman, por Amor Sem Escalas
Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios

Gabriel: Quentin Tarantino. Porque DEVEM isso a ele desde Cães de Aluguel.
Joaquim : Tarantino. É mais diretor que o queridinho do Cameron. Cuzão.
É isso aí pessoal, agora nos vemos na premiação!
Nesse post tivemos a ajuda de Alexandre Landucci, nosso parceiro do Fotograma Digital.
www.blogfotogramadigital.blogspot.com

domingo, 13 de dezembro de 2009

Cães de Aluguel

Um jóia em seu estado bruto.

1992. Harvey Keitel é um ator de ponta. Suas atuações sempre se destacam, tomando o espaço para si mesmo, como o maioral dos atores. Lembrando Robert de Niro, ver Keitel atuando é algo fabuloso. Lawrence Bender é um produtor, hoje conhecido por produzir para a Miramax. Ele tem um roteiro muito bom nas mãos, chamado Reservoir Dogs. Abraçando a ideia, Bender topou fazer o filme no papel principal e dando 30.000 dólares pro escritor/diretor fazer seu filme. Uma história normal e desconexa, como pra qualquer amador em início de carreira. Mas, Bender deixou o roteiro andar e ele caiu nas mãos de Keitel. Adorando o roteiro, Keitel não apenas aceitou atuar como o protagonista como aumentou o orçamento para 1.2 milhão, se tornando um dos produtores. Continuaria tudo normal se não fosse o fato do escritor/diretor, o tal gerente de locadora, ser Quentin Tarantino. O talentosíssimo diretor começou exatamente assim seu rumo ao primeiro filme e, mais tarde, ao reconhecimento. E é curioso acompanhar Cães de Aluguel com esse olhar: esse é o primeiro de Tarantino. Aqui, vemos um talento sem censura, um homem com uma ideia muito boa, sem contar caprichos de estúdios, pirotecnias ou dezenas de atores famosos desfilando na tela. Vemos algo tomando sua forma, um diamante bruto, algo a ser lapidado. E é pensando assim que qualquer um veja que Cães de Aluguel é um dos melhores filmes da história e, por ironia, não é o melhor de Tarantino.

A trama não-linear, habitualmente empregada pelo diretor, narra a saga de 6 homens com seus ternos elegegantes/bregas. Eles são ladrões atrás de um grande roubo, de diamantes caríssimos. O assalto foi todo bolado pelo cabeça da operação, Joe(Lawrence Tierney) e seu filho Eddie(Chris Penn). Os tais 6 homens, Mr. White(Harvey Keitel), Mr. Pink(Steve Buscemi), Mr. Brown(o próprio Quentin), Mr. Blue(Eddie Bunker), Mr. Blonde(Michael Madsen) e Mr. Orange(Tim Roth), vão para o assalto, mas algo dá errado. No ponto de encontro, num armazém, White e Orange chegam depois do assalto. Orange está sangrando muito, com um tiro na barriga. White tenta o tranquilizar, enquanto arrumam um jeito de sarar aquilo. Mas, quando Pink chega, ele começa a falar num traidor, algum dos ladrões que avisou a polícia do alarme. Depois disso, começa uma das maiores jornadas de tensão, violência e diálogos precisos da História do cinema.

A direção de Tarantino já era, naquela época, algo fora da realidade. Seus ângulos impossíveis, sua marca contida, de diálogos longos. Tudo que o fez famoso está lá em maioria. Os diálogos enormes aqui estão em sua maioria na carreira, até mesmo mais que em Pulp Fiction. Algo de uma genialidade simples e pura. Sensacional, uma das melhores direções de sua carreira. As músicas, escolhidas por Tarantino(como sempre), são ótimas. Não supera a trilha sonora de Pulp Fiction, uma das melhores da história, mas satisfaz muito bem os momentos do filme. A fotografia do filme, executada por Andrzej Sekula, é muito boa. Para um filme pequeno, ela é irreal de tão boa, nem se parecendo amador, como foi feito em Atividade Paranormal ou Bad Lieutenant. A edição, da hoje colaboradora habitual de Tarantino, Sally Menke é ótima. Dá um ritmo ágil a trama e mantém a tensão lá no alto. Precisa, como pede a direção de Tarantino. Um dos outros fatores geniais é o figurino de Betty Heimann, auxiliado pela direção de arte. Os ternos dos ladrões são bem bacanas e o figurino dos outros poucos coadjuvantes seguem a linha da figurinista.

As atuações de Reservoir Dogs são, no mínimo, soberbas. Harvey Keitel segue sua linha de ator que rouba a cena. Quando alguma discussão começa envolvendo Keitel, ele só não enterra o talento do outro ator porque nesse filme todos estão incrivelmente perfeitos. Em Bad Lieutenant, por exemplo, Keitel engole qualquer um que aparece no filme. Incrível, o ator é o destaque. Tim Roth, como Mr. Orange, tem relativo pouco tempo de tela, mas quando atua é preciso. Excepcional, como sempre. Outro também que engole qualquer talento é Steve Buscemi. Aqui, ele está com suas características habituais, mas levadas ao extremo. Neurótico, nervoso, tensionado, meio covarde. Sensacional também, outro destaque. Acredito que seu talento não é muito reconhecido por sua aleatória escolha de papéis, que muitas vezes são rasos demais. Aqui, não há esse problema. Michael Madsen está pirado e sádico, como qualquer personagem que Tarantino escreve para ele. Outro ator pouco reconhecido, apesar de seu talento não ser tão enorme. Seu padrão canastrão que ele exibe em Kill Bill começou aqui. Já Eddie Bunker e Tarantino não há o que falar, quase não aparecem na tela. Chris Penn e Lawrence Tierney cumprem com destreza seus papéis. Gostaria de destacar também a atuação de Kirk Baltz, desconhecido ator que ARREBENTA no papel do policial Marvin Nash.

O roteiro de Tarantino é, como sempre, perfeito. Usando como exemplo a já famosa cena de discussão sobre Like a Virgin, o roteiro já mostra ao que vem na excelente e divertidíssima abertura. Esplêndido o fato de um cineasta como Tarantino surgir aqui, deve ter dito algum cinéfilo na época. Sua violência é bem crua, como a mutilação da orelha, mas elegante. Ele não explode pernas e cabeças como em Jogos Mortais, tudo bem mal feito e gratuito. Aqui, ele zela pela elegância e sutileza. O roteiro continua sua jornada até a perfeição com situações brilhantes. A tensão recorrente do roubo para descobrir quem é o traidor é bem empregada e os ácidos diálogos ajudam mais ainda. Aqui, os diálogos sobre a cultura pop estão presentes, mas em pouca quantidade, se comparmos a outros de Tarantino. Nada que atrapalhe, afinal ele troca esses diálogos por tensão e construção de personagens. Muito justo e bem executado. Ouso dizer que esse é o segundo melhor roteiro de Tarantino, apenas atrás do fabuloso Pulp Fiction.

Uma perfeição contida, Cães de Aluguel é uma obra-prima do Cinema Moderno. Tarantino cumpre o que promete e ainda supera qualquer expectativa. Quem procura um cinema mais limpo, com mais drama, sai fora. A violência é uma das mais extremas dos filmes de Tarantino. Indicação máxima a qualquer cinéfilo, qualquer um que gosta de ver um cinema mais honesto e apurado em roteiro. Um bar, 6 homens de terno, um roubo, tiroteio, um armazém, uma orelha decepada, um tiroteio a três, dois tiros. Quem diria que um filme assim seria um dos 20 melhores da História?

***** 5 Estrelas

Atividade Paranormal


Criatividade em falta num filme ruim copiado de Bruxa de Blair.

Em 1999, Daniel Myrick e Eduardo Sánchez botaram em prática uma idéia de gênio, completamente nova e que assutaria pelo contexto original e realista e a didática aterradora. Criaram uma espécie de filme em "primeira pessoa" onde três jovens estudantes de jornalismo entravam numa floresta com o objetivo de pesquisar para realizar um documentário. O mais genial de tudo, é o marketing criado por fora da produção . Aquele filme era vendido como algo que realmente aconteceu, e não seria difícil para quem assiste acreditar. Toda a atuação dos jovens, todos os acontecimentos dão um toque de realismo. Além da tensão bem construída. Atividade Paranormal, vem com uma crítica muito positiva num site americano consagrado, o Rotten Tomatoes, e é colocado por muitos como "o terror da década". Devo dizer que não, Atividade Paranormal não chega a ser nem o terror do ano.

Desde o princípio, a produção se parece com o filme de 1999. Entretanto , conseguimos ver que ela não exibe o mesmo "charme" nem credibilidade falsa. Logo de início, é mostrada um agradecimento as famílias de Micah Sloat e Katie Featherston - os atores que interpretam papéis com os mesmo nomes - pela exibição das imagens. Por favor né? Quem cai nisso agora? Genialidade tem sua hora e lugar. Tentar copiar uma campanha viral arrebatadora de A Bruxa de Blair é sacanagem demais. Obviamente, alguns jovens adolescentes que nunca foram aprestados ao Mockumentary da década de 90, vão cair , e sendo uma novidade para eles vão gostar. Essa foi a intenção dos produtores ao lançar o filme . Conquistar o público novo , que não conhecem muito as produções passadas e iam gostar do filme. Diante de uma arrecadação até agora de 141 milhões de dólares , parece que a meta foi atingida.

Entretanto, até mesmo para quem não tem nenhuma referencia anterior o filme não empolga muito. Avaliado isoladamente , sem nenhuma interferencia externa, Atividade Paranormal não exibe muitas qualidades. Tecnicamente, é claro que o filme não poderia ter. Foi feito com um orçamento praticamente caseiro, - Provavelmente um pouco mais do que os 15 mil dólares divulgados - e exigir boa fotografia ou beleza visual é um pouco descabido se tratando de um filme tão pobre . Filmes em primeira pessoa mais "ricos" como Cloverfield, abusam de bons efeitos e técnica , e usam a didática por pura inovação - acompanhar um desastre literalmente pela visão de um cidadão.

Mas se existe uma coisa que podemos cobrar desse filme é seu roteiro. Com a história de uma mulher que é atormentada por eventos sobrenaturais desde criança, e o namorado decide registrar o dia-a-dia deles para ver se captura algum evento estranho, já podemos excluir alguma inovação no roteiro basal. Capturar eventos sobrenaturais com uma câmera na mão já foi feito antes. Basta - nos avaliar a criação do suspense e da tensão, culminando no terror e medo do público. Bem , esse aspecto básico e principal o filme não empolga, nem assusta . Além de enrolar muito para chegar no terror , quando chega, não há tensão ou sustos . A maioria dos eventos ocorre de noite , enquanto o casal dorme . Após um acontecimento sobrenatural sem nada muito amendrotador demais , não há uma tensão muito grande . Apenas um medo falado pelos protagonistas, os quais , atuam muito mal . Nesse filme, o espectador atento e acostumado com a didática de ators conseguem perceber a falta de naturalidade dos atores . São detalhes bem pequenos, mas que tiram pontos do filme . Nos últimos minutos , existem sustos , mas nada muito grande . Não existe uma tensão para culminar com o susto, e esse é o problema. Só pra ter uma idéia , em A Bruxa de Blair , a tensão é imensa e pode ser sentida apenas na cara de terror dos atores . Algo simplesmente impossível no filme de 2009, que não chega a ter 10% do terror do filme de dez anos antes.

A direção de Oren Peli é boa , mas não é nada acima do normal . Faz o que é necessário, coordena como pode , e tem bonms detalhes , como a aceleração da câmera para chegar rápido nos momentos exatos dos eventos. Os truques de câmera são interessantes . Realizados sem efeitos especias, todo o tipo de anormalidade é feita com cortes e truques de cenário .

É fato que algumas partes do filme foram cortadas e adicionadas outras. Entretanto, nada que pudesse estragar ou melhorar o resultado final : Atividade Paranormal é a prova concreta que os filmes em primeira pessoa se encaminham para o fim . É bom enquanto tem coisa nova pra se mostrar. Quando não tiver mais, é partir pra outra.

2 estrelas **

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Gamer

A psicótica dupla Neveldine/Taylor trás o seu mundo para o mundo digital.

Quando Adrenalina foi lançado, em 2006, não dava pra entender o que estava acontecendo na frente dos olhos dos espectadores. A trama batida, rasa e violenta, mas com alta qualidade técnica e de roteiro de diálogos, surpreendeu a todos. Era incrível como algum diretor poderia ser capaz de trazer algo tão safado para as telas. Jason Statham era um matador durão que precisava manter a adrenalina lá em cima para não morrer. Pra isso, corre, cheira e transa no meio de uma multidão. Engrçadíssimo e honesto, foi um sucesso até mesmo para os críticos. A dupla de diretores e escritores, Mark Neveldine e Brian Taylor, não foram acolhidos da mesma forma pelo público, que deve ter achado aquilo muito maluco ou fora da realidade. Pois a Lionsgate, corajoso produtora americana independente, continuou dando dinheiro pra dupla. Depois de uma espetacular, maluca e genial sequência pra Adrenalina, Neveldine e Taylor atacam com Gamer. Desde o primeiro trailer, o filme se mostrou uma boa pedida, por mostrar uma história criativa ao extremo e violenta. E digo, com segurança, que Gamer é melhor que seu trailer.

A trama segue James Tillman(Gerard Butler), codinome Kable, um homem que está preso e condenado á morte. Por isso, ele é obrigado a entrar num jogo de simulação real, onde a violência é real. O simulador se chama Slayers e é jogado por muitas pessoas no mundo e não é o único simulador. Existe também Society, The Sims com pessoas reais. Ambos foram criados pelo gênio da computação Ken Castle(Michael C. Hall), que criou o conceito Nanex, Nano-robôs e córtex cerebral. Unindo os dois, ele consegue plugar o prisioneiro ao controle do jogador em casa. Em Slayers, o prisioneiro que obtiver 30 vitórias, será libertado. Considerando que nunca ninguém chegou ao nível 30, Kable é o melhor da história, estando no nível 27. A partir daí, ele começa a se deparar com várias pessoas e situações estranhas e bem interessantes que o fazem querer resgatar sua mulher(Amber Valleta), que está presa no Society.

Gamer é, assim como Adrenalina, curioso e competente nos quesitos técnicos. Inovadores, tudo se reinventa num filme de Neveldine e Taylor. A direção dos dois está competente e com o mesmo corte clipado de sempre, com uma agilidade monstruosa. Com takes bem planejados e cheios de identidade e estilo, a direção é corajosa ao extremo e perfeita. A edição de Fernando Villena também é precisa, auxiliando como pode a direção da dupla. Outro fator excelente é a fotografia de Ekkehart Pollack. Com tons azulados e escuros, bem metalizados, a fotografia de Pollack é esquisita e desafiadora. Esteticamente formidável e bem diferenciada por retratar uma atmosfera bem suja por natureza, pela violência, a fotografia tem o mesmo estilo psicótico da dupla. Um fator chamativo também é a trilha sonora, composta por Robb Williamson e Geoff Zanelli, é tensa e rápida, com um humor negro impregnado de ação bem interessante. Com a mesma atitude sacana de Adrenalina, a trilha sobe toda hora, descaradamente, para causar risadas e tensão no espectador. Rock pesado, música eletrônica e músicas conhecidas pelo público mais antigo são excepcionais. Uma sequência em especial que retrata a maravilha de trilha é uma cena com Kable e Castle. Enquanto a luta rola, Castle, ciente de sua maluquice, começa a cantar "I've got you, under my skin" enquanto sangue cai no chão. Sensacional. Mas, a estética impressiona principalmente pela direção de arte. Toda aquela atmosfera metálica e suja é mostrada nos cenários, no figurino e nas ruas, cada vez mais industriais.

Em atuações, não há muito o que falar de Gamer. Gerard Butler está perfeito como Kable, o Leônidas do futuro. Excessivamente durão, excessivamente macho e totalmente faixa-preta. Um adepto, da famosa porrada, perfeito. Limitado ao que o papel oferece, Butler cumpre seu papel, muito menos denso dramaticamente do que o já raso sentimentalmente Leônidas. Amber Valleta aparece pouco, então não acrescenta muito. No papel de mãe dramaticamente ferrada, ela desempenha bem. Ludacris e Alison Lohman também aparecem pouco. Ludacris faz a mesma atuação de sempre, sendo um cool que sabe atuar normal. Alison atua muito bem, demonstrando sua habitual competência, mesmo com tão pouco tempo na tela. Logan Lerman, no papel do jogador que comanda Kable, também está muito bem, um perfeito anti-herói recém-adulto. Mas, o destaque do elenco, o único personagem com alguma profundidade para poder ser analisado a fundo, é Michael C. Hall. Seu Ken Castle tem uma atitude blasé, despreocupada e cool sem limites. Michael faz uma cara de maluco sensacional e isso contribui pro personagem. Na já citada cena de luta, a cena em que Michael dança e canta é brilhantemente cafona e divertida. Incrível também como tudo casa com a situação que o filme se encontrava no momento. Esplêndido, C. Hall se destaca como nunca antes, talvez até mais que Dexter.

O roteiro da dupla Neveldine/Taylor dispensa qualquer compromisso com a realidade. Tudo em seu universo é caricato e, mesmo assim, possui uma qualidade incrível. É impressionante como um filme de ação e ficção pode se assumir como um passatempo artístico vagabundo e descarado como Gamer. A violência da dupla está figurada ao extremo aqui, sendo o filme com mais voo de membros e sangue da dupla. Mutilações de pernas estão mais presentes que diálogos dramáticos aqui. A censura R está justificada. Como se esperava, as situações continuam inverossímeis e estilosas, mas dessa vez se percebe um pouco mais de maturidade no texto de Neveldine/Taylor. Isso poderia ser ruim, pois a graça do mundo retratado até hoje pela dupla era sua irrealidade, mas incrivelmente ajuda a trama. O desenvolvimento maior de diálogos, câmeras mais quietas e um surto mental menor que Adrenalina, sem dúvida. Acredito que, para projetos futuros, essa maturidade seja contida, pois pode prejudicar a carreira impecável da dupla. O segredo dela até hoje foi não se levar a sério e, por isso, se figura como uma das mais promissoras e brilhantes da história.

Safado, tenso, emocionante, engraçado e violento, Gamer poderá divertir alguém que quer apenas uma distração semanal ou para um crítico que sabe reconhecer quando um filme de ação não se leva á sério. Sendo louvável essa atitude, torço para a dupla continuar essa sua linha de filmes malucos e cheios de estilo. Apesar de ter erros, como o habitual excesso de ação, o filme perde muito pouco com isso. Não dá para dar nota máxima a um filme com tal desenvolvimento de roteiro estrutural, mas seu roteiro é tão bom que poderá ofuscar todos os erros visíveis. Poucos erros, esses. Em seu terceiro filme, a dupla já está criando identidade própria. O último que fez isso foi Tarantino e viram no que deu. Neveldine/Taylor, uma dupla a se observar e admirar. Que seu espírito continue assim para sempre e que nunca se rendam aos caprichos de qualquer estúdio. Produtores acham que Hollywood é coisa séria. A dupla zomba disso com seu competente cinema. Resumindo: Ela é tudo o que Michael Bay e Roland Emmerich deveriam ser.

**** 4 Estrelas

Curtindo a Vida Adoidado

O grandioso clássico da Sessão da Tarde.

Na década de 80 e no início da década de 90, era muito comum a realização de filmes para o público adolescente. Filmes esses que retratavam o cotidiano dos estudantes americanos, que viviam zanzando por seus corredores cheios de armários escolares, segurando livros, agarrando garotas ou vivendo aventuras. Era uma época onde os jovens frequentavam muito o cinema, e se faziam um público consumidor muito grande. Muitos desses filmes, por serem de censura baixa ,eram apresentados na Sessão da Tarde, o que era um prato feito pra Globo. Os jovens e crianças ficavam em casa neste período do dia. Muitos desses filmes, então, marcaram nossas infâncias. São filmes como "Esqueceram de Mim", "Clube dos Cinco" " Gatinhas e Gatões" entre outros filmes,os quais nem tinham tanta qualidade, se, anos depois, fossemos avalia-los. Porém, Curtindo a Vida Adoidado, de 1986, marcou a maioria das pessoas mais que os outros filmes.Se consolidou depois, como um clássico do período vespertino global.

Entretanto, ele não deve ser adorado apenas por ser mais um filme adolescente, mais um filme de gênero, sem qualidades nenhuma. Esse filme , analisado, até mesmo de ponto de vista crítico, é fenomenal. É indiscutível que é o filme definitivo sobre adolescentes, suas rotinas , caquetes e macetes. Tudo isso somado a uma técnica brilhante do competente diretor John Hughes, não poderia dar em outra coisa do que um clássico.

A história, como a esmagadora maioria conhece , é do adolescente boa -vida Ferris Bueller, um estudante que cursa o ensino médio americano, mas que não dá bolas para a escola ou para regras desnecessárias. Gosta mesmo é de aproveitar a vida, e acha isso o essencial e primordial e sua existencia. Como ele mesmo diz "A vida passa rápido, e se você não aproveita, acaba não vivendo". O filme então se encarrega de mostrar um dia de folga de Ferris Bueller,(como diz o título original) que começa com um fingimento de doença de Ferris com os pais - como os adolescentes em geral, fazem para faltar aula - que acreditam e deixam o garoto ficar em casa. A partir daí, Ferris Bueller conduz o espectador pelo dia a fora, olhando e conversando com o mesmo, ensinando táticas para enganar os pais e explicando porque ele deve aproveitar o dia, e não ir pra escola, fazer seu teste. São traços de genialidade, que aos olhos dos mais atentos, fazem o filme realmente virar uma obra de gente grande, e maravilhosa.

Mostrar o adolescente esteriotipado, comum, em mais um dia de sua vida não é um erro nese filme. Muito pelo contrário. Essa base comum, com personagens já conhecidos e batidos, ajuda o realizador da obra a fazer algo muito mais extraordinário dali, mostrando uma versão absoluta dos jovens e seus afluentes ( pais e professores). Com isso, ele pode navegar por terras distantes, com diálogos diferenciados e momentos únicos, mas sempre contando com o reconhecimento fácil do público aos personagens, afinal, esse é o objetivo : Criar uma obra máxima dos jovens da época. Com os peronagens escolares da época.

É claro, em alguns pontos, o filme exagera relações reais - como a perseguição urbana do diretor a Ferris, e seu desejo de pegar o aluno travesso aprontando algum fora da escola - mas esse uso da hipérbole não está errado. É fascinante ver o jogo de gato e rato velado que ocorre dentro do colégio com os alunos de verdade, ocorrer literalmente nas telas. Mais um ponto que contribui para a realização de uma obra jovem absoluta.

De resto, o filme mostra a diversão e aventuras de Ferris, sua namorada Sloane e o amigo pessimista e certinho Cameron, dentro da Ferrari colecionável do pai de Cmeron. O tom do filme é alto sempre, e só diminui em alguns pontos, os mais baixos da exibição.

No que diz respeito a técinica, Curtindo a Vida Adoidado é também único e inconfundível. A direção de Jonh Hughes ( que morreu recentemente, infelizmente) rompe com todas as outras direções de filme de adolescente. Ele acompanha o ritmo do filme. Takes calmos em momentos calmos, e agilidade na correria. A câmera lenta que coloca em diversos momentos chave, onde a ação é grande, nos permite contemplar a situação e muitas vezes dar risada( fora as risadas das boa piadas e frases bem colocadas ao longo do filme). O posicionamento parado ao ouvir Matthew Broderick falar com o público é também ótimo. Não deixa o espectador perdido, e ouvir duas coisas. Toda a atenção é dada ao ator nesse momento. Broderick também não decepciona e tem uma atuação magistral. Sua cara é inconfudível, e acho difícil alguem conseguir imitar. Suas outras expressões também ajudam a por a cereja no bolo.

Apesar disso tudo, há quem diga ( Principalmente os mais velhos conservadores da moral) que Curtindo a Vida Adoidado é um filme imoral, indecente e que inspira a vagabundice. Na verdade, se olhassem de um outro modo, poderiam ver no filme, o personagem Cameron, que é muito certinho e metódico, e sofre por isso. No filme, ele é incentivado a relaxar mais, não ter tanto compromisso assim. Deste modo, o filme dá um recado a todos os jovens que não aproveitam a vida, a curti-la melhor, principalmente neste momento inesquecível dela.

5 Estrelas *****

Filmes 2010 - Grandes Lançamentos

O ano de 2010 será uma bom avanço para o cinema, com grandes blockbusters e filmes independentes com bastante competência. Sinceramente, acho que será um ano melhor que 2009, que teve seus ótimos momentos. Ano que vem não teremos um Bastardo Inglório, nem 500 dias com Ela, mas teremos filmes bem interessantes, como Nine, Lovely Bonés, Homem de Ferro 2 e a volta de Woody e Buzz. E, vale frisar, que o maior lançamento do ano é Toy Story 3 mesmo, junto com o fidelíssimo Kick-Ass, adaptação da super-recomendada HQ de Mark Millar e John Romita Jr.

Aqui, falarei um pouco sobre os principais lançamentos de 2010. Vale ressaltar que terão outro lançamentos, mas aqui falarei sobre os maiores ou mais interessantes. Ok, vamos á lista.

PS.: Os filmes em verde são os Blockbusters.

Bad Lieutenant - 01/01
Remake do tenso filme Vício Frenético, do ótimo Abel Ferrara. O remake se passa em Nova Orleans e tem Nicolas Cage no papel do tenente mal e Eva Mendes. Recomendado, afinal é um retrato do caos da polícia corrupta, com um cara durão. Mas, a recomendação mais vale por ser o novo filme de Werner Herzog, do cult O Sobrevivente.

Sherlock Holmes - 08/01
Mais que o novo filme com Robert Downey Jr., Sherlock Holmes é uma das grandes expectativas pra 2010. O novo filme de Guy Ritchie, finalmente saindo de sua filmografia com gângster, será uma aposta pra blockbuster de destaque. Espera-se um humor inteligente junto com uma ação bem executada. Vale o ingresso!!!

Nine - 15/01
Remake de 8 e Meio, do mestre Fellini. Rob Marshall adapta a peça com grandes expectativas, afinal ele escalou Daniel Day-Lewis para o papel antes de Mastroianni e chamou belas mulheres como Penélope Cruz, Kate Hudson e Nicole Kidman para papéis de bastante relevância. Outra recomendação, mas bem contida. Não se mexe em clássicos e Marshall é um diretor irregular.

Onde os Monstros Vivem - 15/01
Adaptação do livro infantil de Maurice Sendak. Dirigido por Spike Jonze, dos criativos Adaptação e Quero ser John Malkovich. Só isso já seria motivo de ir pro cinema, mas a história do menino rei do reino dos monstros encanta. Para ver com o filho. Boas críticas americanas.

Astro Boy - 22/01
O personagem de Osamu Tezuka é bem interessante, mas o filme foi mal recebido e não tem o chamativo enredo do manga japonês. Se alguém quiser ver uma americanização de um ícone oriental divertida e cheia de ação, vá com fé. Caso espere algo bom e inteligente para seu filho, espere Toy Story.

The Lovely Bones - 22/01
Novo filme de Peter Jackson. Com uma história interessantíssima, Lovely Bones tem tudo para ser um grande filme. Um drama denso como esse vale ser conferido. Vale o ingresso por tudo, principalmente para ver como a Weta fará o Paraíso.

Daybreakers - 29/01
Filme bem escondido sobre vampiros, o novo com Ethan Hawke e Willen Dafoe pode ser sucesso pela onda Crepúsculo. Poucas informações sobre, vale a pena esperar pra ver se é bom.

Invictus - 29/01
O novo do mestre Eastwood, com Morgan Freeman e Matt Damon. Recomendação máxima do ano, Invictus conta a história de Nelson Mandela e a Copa do Mundo de Rugby, em 1995. Provável indicação ao Oscar.

Edge of Darkness - 29/01
Novo filme de Martin Campbell. Não conhece? Ele fez Cassino Royale e fará Lanterna Verde. Mel Gibson também retorna a função de ator, depois de 7 anos. Pode ser um bom thriller, mas olhe com cuidado.

Zombieland - 29/01
Um dos filmes esperados do ano, o filme de zumbi de baixo orçamento deve divertir por seu roteiro ácido e divertido, brincando com os clichês desses filmes. Vale muito o ingresso.

The Road - 05/02
Baseado no livro do mestre Cormac McCarthy(de Onde os Fracos Não tem Vez), The Road tem um competente Viggo Mortensen como protagonista. Possível cult á vista, com uma ambientação pós-apocalíptica interessantíssima.

The Box - 05/02
Novo de Richard Kelly, mente por trás de Donnie Darko. Um bom trailer, bons profissionais envolvidos, Frank Langella. Fracasso de bilheteria nos USA, The Box é um tiro no escuro, podendo agradar ou não.

Up in the Air - 05/02
Esperado filme de Jason Reitman, gênio por trás de Juno e Obrigado Por Fumar. Um drama romântico com comédia, Up in the Air pode agradar muito e ainda tem o excelente George Clooney como protagonista. Enfim, Clooney sabe escolher seus projetos e isso é de se esperar. Recomendação Máxima.

Ninja Assassin - 05/02
Ninja Assassino é o novo filme de James McTeigue, de V de Vingança. Mas, paramos aí. A nova produção dos Wachowski é cheia de ação, sangue e roteiro pífio. Pra quem gosta de ação descerebrada, ta aí o filme do ano. Pra quem gosta de ser tratado de maneira inteligente, não gaste seu dinheiro.

Homens que Miravam Cabras - 12/02
A estréia de Grant Heslov na direção tem George Clooney, Kevin Spacey, Ewan McGregor e o Bode(!). Promessa de comédia de humor negro Coheniana de maior qualidade. Baseado nas idéias dos americanos de que existiam homens que explodiam cabras apenas com o olhar. Interessante.

The Wolfman - 12/02
Outro blockbuster no ano, O Lobisomem promete. Seu estiloso trailer, sua fotografia negra e Benicio del Toro e Anthony Hopkins. Vale conferir o andamento de sua divulgação e suas primeiras críticas. A Universal tenta ressucitar os antigos monstros do estúdio. Louvável.

Toy Story 1 e 2 3D - 19/02
Garanto que você viu o Woody e o Buzz em 95 e 99. Se não viu, veja em 3D no cinema. Leve, obrigação. Nem recomendo, obrigo. Leve e mostre ao seu filho que a Pixar é superior e que a Disney já foi mais que High School Musical.

A Serious Man - 19/02
Nova comédia dramática dos Irmãos Cohen. Um trailer interessante, bem diferenciado, baixo orçamento e atores nada famosos. GENIAL. Vale muito a pena todos verem na estréia.

Legion - 26/02
Misto de Ação e Ficção Científica, Legion mostra anjos na Terra, com Machine Guns! Vale ser conferido pelo seu alto teor de coragem. Pode ser um fracasso de crítica, mas vale ao menos ser visto por sua trama diferenciada.

Shutter Island - 05/03
Novo de Martin Scorcese, finalmente tentando algo com o Suspense psicológico. Com o talentoso Leonardo diCaprio, o filme conta a história de assassinatos em um hospício. Recomendação moderada. Apesar de ser de Scorcese, acho difícil ir para o Oscar, por não ser drama.

Halloween 2 - 12/03
O novo slasher-movie de Rob Zombie pode ser um prato cheio pra quem gostou dos recentes filmes de maníacos. Promessa de diversão descarada e sem conteúdo.

The Book of Eli - 19/03
Ficção científica do irmãos Hughes, de Do Inferno. Uma boa premissa pós-apocalíptica e com Denzel Washington e Gary Oldman. Mais vendido como o Eu Sou A Lenda de Washington, o filme pode ser mais que isso. Denzel é um guardião de um livro que Oldman quer pegar. Interessante esperar as primeiras impressões.

How to Train your Dragon - 26/03
Novo filme da Dreamworks, a Marvel das animações. Diversão descarada, muita ação e comédia. Leve o filho, valerá a pena. Mas veja como os da Pixar são melhores, comparando-o com Toy Story.

Creation - 26/03
Cinebiografia de Charles Darwin, com Paul Bettany e sua linda esposa Jennifer Connely. Só por sua sinopse e seu genial cartaz, de um macaco com Darwin, simulando a Divina Criação de Bernini, vale o ingresso.

Clash of the Titans - 02/04
Próximo gigante Blockbuster do ano, com gregos gritando, efeitos especiais e um herói durão. Muita ação, um trailer interessante. Espera-se um novo 300, mas sem a violência. Na direção, o bom Louis Letterrier, do Hulk 2 e Cão de Briga.

Rec 2 - 02/04
O ótimo primeiro filme irá perder seu genial efeito com essa continuação desnecessária. Pode divertir, no máximo. Mas a maior possibilidade é que esse Rec 2 FODA o fantástico Rec. Poupe seu dinheiro.

Green Zone - 16/04
Novo filme do genial Paul Greengrass com Matt Damon, dupla de Ultimato Bourne. Um trailer cheio de ação, mas com a marca de Greengrass. Por ser roteirizado por Brian Helgland, espera-se desconfiança, mas Greengrass dirige ação como ninguém.

Kick-Ass - 16/04
O maxi-filme do ano, com seu baixo orçamento, irá arrebatar os fãs da HQ, os apreciadores da violência gráfica e dos super-heróis. O adolescente que se veste com a roupa de mergulho e vira vigilante é carismático e mostrará um dos maiores melhores filmes do ano. Vá ver de qualquer jeito, mas cuidado com a censura, possivelmente 18 anos.

Machete - 16/04
Quem viu Planeta Terror acompanhou o fake-trailer do matador mexicano que foi traído e quer vingança. O novo de Robert Rodriguez pode ser uma das ações mais estilosas do ano. Mas não o leve a sério, Machete é tão sátira quanto Adrenalina.

Alice no País das Maravilhas - 23/04
O belo livro, fonte de inspiração até para Matrix, é revisitado e remodelado pela mente psicodélica de Tim Burton. A produção em 3D é uma das mais esperadas, retratando uma inusitada e sombria visão da clássica obra. Tem Johnny Depp e Helena Bonham Carter. Recomenadação máxima.

Red Cliff - 23/04
O novo de John Woo, depois de 6 anos. O épico chinês de ação promete MUITO. Quem o viu no Festival do Rio o elogiou demais, exaltando a direção primorosa de Woo. Recomendado para quem espera uma ação bem trabalhada e inteligente.

The Losers - 23/04
Adaptação da HQ da Vertigo, escrita pelo bom Andy Diggle e desenhado pelo ótimo Jock. Um elenco competente e parecido com a HQ reforça a teoria de um sacana filme de ação, algo bem interessante. Vale esperar as primeiras impressões.

Iron Man 2 – 30/04
Bom, você viu o primeiro. Você sabe que, se não gostava de super-herói, você começou a gostar. Veja o dois e acompanhe o Máquina de Combate em ação. Espera-se mais do mesmo, mas vale ser conferido.

Nightmare on the Elm Street - 07/05
A ressurreição de Freddy Krueger!!! Com Jackie Earle Haley como o maníaco desfigurado, a estréia de Sam Bayer na direção promete algo tão divertido quanto Sexta-Feira 13. Filme da Platinum Dunes, produtora de terror de baixo-orçamento de Michael Bay. Vale ver só pra se distrair e se for fã.

The Imaginarium of Doctor Parnassus - 07/05
Novo filme do gênio Terry Gilliam. O projeto de ficção, bem poético, foi exaltado mais uma vez. Um novo cult á vista. Para o grande público, mais um filme parado. Para quem aprecia cinema, uma máxi-recomendação.

Wall Street 2 - 21/05
Oliver Stone revê seu clássico, trazendo Gordon Gekko de volta. Vale ser visto, mas com uma certa desconfiança. Como se diz, não se mexe em clássico.

Prince of Persia - 28/05
O filme de Mike Newell traz o famoso Dastam dos videogames para as telas. Filme PG-13, 200 milhões de orçamento, Jerry Bruckheimer... O novo filme-pipoca devorador de dólares adolescentes. Espera-se pouco, mas pode haver alguma ação inteligente nele, apesar de um pouco convincente trailer.

Jonah Hex - 25/06
Adaptação da HQ da DC, sobre o pistoleiro desfigurado. Josh Brolin está perfeito no papel de Jonah, se espera um filme violento e bem fiel ao espírito tenso das HQs. E tem a Megan Fox.

Toy Story 3 - 25/06
Depois de ver os dois primeiros, você irá ver esse. Andy está indo para a Faculdade e os bonecos terão que dar um jeito. O épico supremo de Woody e Buzz.

Shrek 4 - 09/07
Outro da Dreamworks, outra diversão. Depois dos dois primeiros bons filmes, o terceiro decepcionou. Mas vale a ida com o filho, Shrek 4 pode ser muito legal.

The Last Airbender - 23/07
Novo filme do Shyamalan? Também, mas é a adaptação do desenho Avatar, da Nickeloedeon. Espera-se uma diversão decente, com bons efeitos especiais. Trailer inspirador e aventuresco. Pra levar o filho e pra se divertir.

Salt - 30/07
O Bourne com Angelina Jolie será um Thriller de ação bem tenso, com a direção do bom Phillip Noyce, dos filmes do Jack Ryan e O Americano Tranqüilo. Vale as primeiras impressões também, mas desde já vale dizer que agradará os fãs de ação.

Little Fockers - 30/07
Continuação da série de comédia inteligentes de Ben Stiller. Dessa vez, Paul Weitz entrará na direção. Pouco se espera.

The Expendables - 20/08
A Reunião definitiva dos grandes ícones de ação oitentistas. Sylvester Stallone volta pra dirigir, escrever e estrelar o filme de ação desenfreada, com bastante agitação. Vale a pena ver, para se divertir.

Harry Potter 7 – 19/09
Adaptação do último livro do famoso bruxo. Outro devorador de dinheiro adolescente, o filme promete. Recomendação baixa.


É isso aí leitores, qualquer novidade será adicionada na matéria.

domingo, 29 de novembro de 2009

Beleza Americana

Sam Mendes estreia na direção acabando com o vazio subúrbio americano.

Em 1999, Beleza Americana estreava no cinema. Comoção geral e muitos comentários foram disparados na saída das sessões, tenho certeza. O retrato realista, cruel, triste, belo e duro em que o ácido roteiro de Alan Ball tratou a vida do típico suburbano americano foi impactante demais. O pequeno filme de 15 milhões, estrelado por um desacreditado Kevin Spacey e uma sumida Annette Bening, arrebatou a todos e foi agraciado com 5 Oscar, inclusive de Melhor Filme e Melhor Diretor, na estreia de Sam Mendes no cinema. E, há uns dias, eu vi essa obra-prima. E digo que todos os Oscar são merecidos, que todos os comentários surpreendidos são válidos e que esse filme fez a Kevin Spacey o que Pulp Fiction fez a John Travolta: O ressucitou. Beleza Americana é fora desse mundo, é um dos filmes mais corajosos já feitos, recomendado para qualquer um que quer repensar seu senso crítico ou até mesmo sua vida. Ao mesmo tempo que esse filme se faz espetacular por sua técnica e esmero cinematográfico, ele é algo além de qualquer nota máxima em emocionar o público com a tocante história de Lester Burnham, um dos personagens mais verdadeiros e verossímeis já criados. Seu drama é real, seu modo looser é real. Não duvido nada que vários caras, em qualquer parte do mundo, são um pouco Lester.

A trama, costurada com uma atenção notável, conta a história de Lester(Kevin Spacey) e sua vida medíocre. Ele é comandado pela mulher Carolyn(Annette Bening), submisso, odiado pela filha Jane(Thora Birch), considerado derrotado pela família e o pior: infeliz consigo mesmo. Trabalha num lugar onde não suporta e vive num lugar que considera imbecil. Mas, um dia, ele conhece Angela(Mena Suvari), amiga de sua filha. E Angela vira o motivo da virada de Lester, seu motivo por ainda ver razão pra viver, melhorar si mesmo e se libertar das regras impostas pela vida. Nessa vizinhança, ainda tem o estranho Rick(Wes Bentley) e seu ferrenho e machão pai(Chris Cooper). Seus dramas também são acompanhados de perto, fazendo com que todos tenham seu espaço imenso na tela.

Uma das coisas mais belas de Beleza Americana é sua direção. Sam Mendes proporciona uma experiência único, arrumando ângulos improváveis e os tratando como vasto local para filmar. Seja num espelho, em cima de um carro ou se aproximando de uma TV, Mendes honra seu Oscar de maneiro maravilhosa. Outro elemento de destaque é a direção de arte. O figurino de todos condizem muito com suas personalidades. Quando Carolyn sai de sua casa com seu terninho fashio, fica claro que ela vai lá tentar vender mais uma de suas casas. A trilha sonora de Thomas Newman também é algo fora desse mundo. Com notas calmas, ele pode fazer algo agressivo e muito sensacional, como a música de abertura ou pode também criar algo lindíssimo e simplista, como a sinfonia final. Dinâmico, o compositor se afirma como um dos melhores atualmente. Wall-E também impressiona por sua trilha. Newman criou algo tão memorável quanto em Beleza. Mas, nada desses quesitos técnicos aqui se equipara a fantástica fotografia de Conrad L. Hall. O experiente mestre da fotografia nos entrega um clima tenso, belo, intimidador e vazio para um filme completamente impregnado por essas emoções, por esse sentimentos distintos. Quando Conrad nos entrega imagens simples e belas como Carolyn com uma American Beauty na mão ou quando a chuva, em câmera lenta, contrasta com o vermelho sangue da porta da casa dos Burnham, tudo se torna pleno e bonito. Aqui, ele faz seu melhor trabalho, o que não é nada menos que esplêndido vista a vasta carreira do saudoso fotógrafo.

Num filme denso como Beleza Americana, especialmente por ser um drama, ele se baseia em atuações para tirar seus maiores destaque. E esse filme só fica maior ainda quando falamos disso. Kevin Spacey, resgatado da amargura na carreira, flertando com o ostracismo, volta como o brilhantemente construído Lester Burnham. Spacey se entrega ao papel e some nele, praticamente como Johnny Depp em qualquer de seus trabalhos. Atua na medida quando lhe é pedido e, na virada de seu personagem, Spacey extrapola seu talento. Soberbo. Poucas vezes o Oscar acertou tanto. Annette Bening também estava esquecida pela mídia quando retornou de maneira tocante ao estrelato. Sua Carolyn é também construída com precisão, ajudada pelo cinismo de Bening. A cada quadro seu, Bening demonstra como a sua personagem, bem comum, pode se diferenciar, chocando o espectador. Mena Suvari, apesar de ser um papel importantíssimo a trama, apenas faz o seu trabalho com destreza, sem o impacto dos protagonistas. Wes Bentley desponta como um talento a ser visto a partir daquela época, com um papel difícil e bem executado por ele. Thora Birch também atua bem, mas como Suvari, é ofuscada pela beleza das outras atuações. Mas o coadjuvante que realmente reina, o que pode se juntar a gama de talento dos protagonistas é Chris Cooper. Seu Frank Fitts, o pai machão, fuzileiro, típico chefe de família suburbano é fantástico. Suas cenas emocionam, sejam pela densidade do roteiro ou das comoventes lágrimas de Cooper. Se demonstrando uma jóia rara, Cooper foi injustiçado pelo Oscar, que não entregou seu prêmio, que eu daria como certo se tivesse visto o filme na época.

O roteiro de Alan Ball é majestoso. Seu trabalho de estreia tem a estrutura de um veterano, o arrojo de um novato e uma construção de personagens habitualmente ótima, como na maioria dos dramas. Mas ele foge do comum contando a história de cidadãos comuns. Seu protagonista é um derrotado patético, submisso a esposa e odiado pela filha. Sinceramente, nunca vi um herói tão arrojado quanto esse. Os sentimentos de Lestar, determinados pela bela narração em off de Spacey, são verdadeiros, algo que só uma pessoa realmente saturada da realidade poderia ser. Excelente, apurado e verdadeiro. Esse é o primeiro, melhor e talvez nunca igualável de Alan Ball.
Talvez não, nunca igualável. Quem cria True Blood anos depois não tem capacidade pra fazer obra-prima equiparável. Mas espero estar errado.

Uma pérola do cinema moderno, que irá arrebatar o mais ferrenho crítico, chateará o público dos fins de semana e irá ganhar mais status com o passar dos anos. Não duvido de daqui a 20 anos estar ouvindo de Sam Mendes e seu Beleza Americana. Uma obra marcante, que permanesce gravada no peito, no coração de qualquer um apreciador de cinema. Mendes já deixa sua marca corajosa aqui, o que é potencializado pelo ótimo porém inferior Foi Apenas um Sonho. E aqui agradeço a Kevin Spacey, por ter mudado meu conceito de personagens, por ter revirado meu senso crítico e, principalmente, por ter me ensinado vários sentimentos humanos nunca visto na telona. Gênio.
***** 5 Estrelas

PS.: Desculpe, sei que o cartaz é genial. Mas tive que colocar o momento SPECTACULAR como foto =).

domingo, 22 de novembro de 2009

2012

Roland Emmerich destroi o mundo mais uma vez. Com outra desculpa.

Em Hollywodd, os diretores normalmente têm seus gêneros preferidos, e trabalham nele , variando de projeto em projeto, procurando melhorar e fazer algo diferente sempre. Roland Emmerich se especializou e colocou a frente os chamados "filmes - catátrofe",onde algum acontecimento devastador acontece, e os danos se mostram gigantescos. Depois de fazer o abalamento do mundo por ETs no dia da independencia dos EUA, e dar uma lição de moral sobre o aquecimento global, Emmerich se tornou o pai desse tipo de filme, e veio para mais um projeto:2012.

A(tão comentada) teoria Maia, entre muitas outras, confirma que o mundo acabará em 2012, mais precisamente no dia 21 de Dezembro desse ano. Com várias teses de inversão dos polos, tsunamis e terremotos, o diretor alemão não podia pensar em outra coisa: realizar um grande, muito grande blockbuster sobre o fim do mundo. Com muito dinheiro e efeitos, Emmerich arregaçou as mangas para dirigir, e toda a propaganda do filme nos fazia acreditar que estaríamos pra ver um filme cheio de efeitos maravilhosos, com corajem digna de um fim de mundo definitivo. Entretanto, a maré não foi tão boa assim.

A história, como em muitos outros filmes - catástrofe, tem seu pai de família, Jackson Curtis,(John Cusack)que se divorciou da mulher Kate (Amanda Peet) e tenta reconquistar o filho que o odeia passando algum tempo com ele e com sua filhinha linda. Pois é, alguém se lembrou de Guerra dos Mundos? Outro afluente da história nos leva ao cientista Adrian Helmsley, que após voltar de uma pesquisa na Índia, vê que o cataclisma mundial pode acontecer ante do que ele previa. É preciso então alertar o presidente negro dos EUA, e a partir daí, decidir como lidar com o fim do mundo.

Obviamente, um filme de destruição não poderia ter muitas invenções ou super-tiradas de roteiro.Se resumindo apenas a destruição e coragem, o filme podia se sair bem, até melhor do que o esperado. Entretanto, 2012 peca nos próprios quesitos em que podia ganhar, em em outros pequeninos deslizes. De começo, acredito que o filme poderia ter um pouco mais de seriedade. Tudo bem, é um filme blockbuster nada inteligente, direcionado para o público geral. É aceitável uma piadinha ou outra. Mas várias vezes elas entram, e sem uma necessidade real. É uma história que poderia se comprometer mais com o objetivo central e seus danos, e menos com destinos insignificantes de personagens. O mundo está acabando, todo o governo assume isso, e o namorado atual de Kate ainda se preocupa em explicar como conheceu uma mulher que o chamou na rua. Todos os personagens correm perigo, e Roland Emmerich se preocupa em mostrar a saga completamente estúpida e descabida de um Chiwawua - que não demonstrou uma importância lá muito grande no contexto - fugindo, tentando se salvar. Não dá né? Um pouco mais de seriedade e menos criancisse seria bom.

O apego também extremo aos personagens é de revoltar. Um filme ser mentiroso tudo bem, mas ser mentiroso e com clichês, sem fazer uma paródia, é bem ruim. O personagem de John Cusack parece um sobrevivente que passa nos episódios de "Câmeras Nervosas" da vida. Por mais ferrado ou sem saída que esteja, tudo dá certo a ele. Nesse momento o filme precisava de um pouco mais de parceria com a realidade. Mas parece ser mais fácil criar situações complexas onde apenas saídas não críveis dão solução. Seriedade. É o que falta a 2012. Um filme desse porte poderia ser assim. Sem querer tirar o rótulo"Filme B" em sua testa. Mas qual a dificuldade de destruir mundos, criar ação e fazer isso sem precisar apelar para a sorte 20 vezes ?

2012, por fim, se consolida como um grande pedido de desculpas a sociedade mundial. Um pedido de desculpas ao mundo por Bush. Um pedido de desculpas e homenagem a África. O seu final talvez seja uma das melhores partes. Surpreendentemente, 2012 mostra de uma outra visão o fim do mundo. Interessante, mas sem empolgar. Esse é o espírito do filme aliás. Divertido, mas sem criar raízes em nossa mente.

Tecnicamente, o filme tem seus deslizes. O Centro e o mais legal do filme sempre foram, desde o início, os efeitos e as cenas de destruição. Não faltam ao público, mas aos mais atentos, fica claro que faltou um pouco mais de dedicação.Em uma cena em que os protagonistas estão dentro de um pequeno avião e "contemplam" a destruição, o plano é amplo, e mostra a paisagem inteira, e no fim dessa cena esse avião passa sob o canto direito da tela. Em outra cena, o fundo é diferente, mas a movimentação do avião é idêntica.Um problema de direção, quesito o qual Emmerich faz com normalidade e nada muito além. Em cenas que requer o chroma-key, o famoso fundo verde,ele parece mal colado e os atores se destacam levemente dele. São pequenos erros, mas que não passam despercebidos. Fora isso, todas as outras cenas são ótimas em sua maioria. Efeitos realmente bem colocados, que inclusive assustam, como na virada monstruosa do navio ou na destruição da Casa Branca, como mostrada no trailer.

No final das contas, 2012 consegue penetrar em nossas mentes com as mensagens de que o ser humano não perde sua ganância nem em face ao fim dos tempos, e consegue nos impressionar com efeitos realistas. Porém, por diversos momentos, me vi assistindo a uma aventura criada nos anos 80, com grandes feitos e façanhas(principalmente no fim.). Algo muito comum e normal, o que faz 2012 não ter nada de especial. É, simplesmente, mais uma obra do devorador de mundos Roland Emmerich.

3 estrelas***