Old School Nerds

Old School Nerds

sábado, 25 de dezembro de 2010

Piranha 3D

Alexandre Aja cria o gênero 3Dexploitation.

O filme Piranha foi um sucesso trash produzido por Roger Corman, em 1978, que agradou a crítica pelo tom de humor negro que foi usado no filme aparentemente de terror. Porém, o filme de Joe Dante atravessou gerações e hoje é cultuado junto com uma leva enorme de filmes de um sub-gênero conhecido como exploitation. E o gênero é tão cultuado que Quentin Tarantino o homenageia em todos os seus filmes e até mesmo fez um filme exclusivamente sobre isso, o Top 10 de 2010, Á Prova de Morte. Mas os exploitation podem até ter envelhecido bem, mas não foram bem renovados. Hoje em dia, é raro ver um filme desse tipo entrando em cartaz, com pequenas aparições de um Machete ou o inédito no Brasil Black Dynamite, uma homenagem-sátira a Shaft, o grande policial negro que influenciou um tipo peculiar do exploitation, o blackexploitation. Agora, o 3D chegou á moda. E nada melhor que um filme que tem exagero em sexo, drogas e gore voltar á cena agora, usando o exploitation para fazer o 3Dexploitation. E um remake de um clássico trash seria o melhor a se fazer. Daí, chegou-se a pauta a produção de Piranha 3D.

O resultado, apesar de enrolativo em alguns pontos, é engraçadíssimo e divertido para as pessoas de mais estômago. É vistoso na tela o que o antes diretor de filmes sérios de terror Alexandre Aja faz com o que tem em mãos. Depois de um filme censura R chegar as telas utilizando o 3D da melhor forma possível(Resident Evil 4), Piranha 3D vem para ser o primeiro filme que se faz presente apenas pela diversão sem história e gore na Geração 3D.

A trama, se o filme tiver mesmo uma, é um grupo de jovens que se reúne num lago todo ano. Mas nesse ano, um diretor de filmes pornográficos(Jerry O'Connell) resolve rodar um filme revolucionário e chama duas de suas atrizes(Kelly Brook e Riley Steele) para o lago. Junto, ele chama o jovem Jake(Steven R. Queen) e sua amiga Kelly(Jessica Szohr) para o passeio de lancha que irá para fazer o filme. Porém, o lago é atacado por piranhas geneticamente modificadas da Era Mezozóica(Deus...), o que causa terror aos jovens bonitos e seminus do lago. Enquanto isso, Julie(Elizabeth Shue), mãe de Jake, e Fallon(Ving Rhames) vão pro lado pra salvar gente e matar piranhas.

Como já deu pra ver, o roteiro da dupla do ridículo Pacto Secreto Josh Stolberg e Pete Goldfinger é profundo como uma piscina de 50 litros. A história é imbecil demais, com até mesmo a ordem das mortes sendo previsíveis. O desenvolvimento é nulo, refletindo o que a história mesmo propõe. A trama vai progredindo com cenas de dar horror a qualquer cineasta que saiba o que é edição, sendo bem arrastadas e apresentando não apenas clichês corriqueiros a qualquer filme de terror com jovens, mas tendo um ritmo truncadíssimo e nenhum atrativo para continuar na sala de cinema. E olha que Richard Dreyfuss já tinha aparecido nos 2 minutos iniciais, apenas pra morrer e apresentar a divertida homenagem a Tubarão feita pelos realizadores.

Porém, é pra se ter na cabeça de que aquele filme ali é um exploitation de essência e logo logo a bobagem vai acabar e as destemidas piranhas irão aparecer. Para tentar enrolar esse tempo das piranhas apenas rondarem o lago sem atacar, era necessário um polimento melhor e talvez uma sátira melhor ao gênero, sem tentar contar uma história boba como essa com o tom trivial. O início de Piranha 3D é o maior defeito do filme, por apresentar personagens e situações como qualquer outro filme de terror. E isso cansa bastante, visto que os diálogos são terríveis e os personagens, arquetípicos. Em pensar que esses defeitos poderiam ser bem piores, se não houvesse a homenagem com Dreyfuss e as atuações de profissionais como Elizabeth Shue e Ving Rhames.

Até que, lá pros 45 minutos, um verdadeiro MILAGRE acontece. As piranhas atacam. E começa um dos espetáculos gore mais vistosos em anos. Sem aquelas restrições que Jogos Mortais provoca a si mesmo, Alexandre Aja libera o rio de sangue e corta cerca de 300 corpos com criatividade e reúne, partir dali, as referências exploitation do filme. E só a partir dessa genial sequência que o filme faz valer o excelente cartaz que dizia: Suor-Sexo-Sangue. As piranhas comem todo mundo no lago, com destaque para o modo nojento como que Aja filma os ataques, nos mínimos detalhes. Espanta-se a censura 16 anos. Além disso, os sobreviventes que conseguiram subir no palanque e se livrar das piranhas não deixam de ser mero banquete pra Aja, que pouco se importa em identificar os personagens com o público, que consequentemente só quer ver eles morrerem mesmo. E tome palanque virando pelo peso extra e mais 100 pessoas viram vítimas das piranhas. E o filme se engrandece nisso. Divertido e sangrento, Piranha 3D se torna um espetáculo do grotesco, sem história e muito gore. Quanto ás homenagens, Piranha até mesmo atualiza algumas delas. Se uma clássica linha cortante atinge milimetricamente o biquini de uma mulher para mostrar seus seios antes de cortá-la ao meio, o espírito contemporâneo devolve com uma participação de Eli Roth.

Após essa magnífica sequência, poucas coisas merecem nota no filme. A genial cena final é divertida e o balé das atrizes nuas, com a lindíssima ópera The Flower Duet ao fundo, valem o filme. A direção de Aja nada faz demais, mas serve bem para o propósito dela: enquadrar o maior número de belas mulheres e mortes que o filme exige. A edição de Baxter é lamentável, assim como a fotografia de John R. Leonetti. A trilha de Michael Wandmacher nem se fala também, sendo comum porém passável.

No resumo geral, Piranha 3D diverte demais. Se Steven R. Queen, Jerry O'Connell e Jessica Szohr não conhecem o termo atuação, ao menos Kelly Brook é uma maravilhosa mistura de Blake Lively e Jennifer Garner, visto que Elizabeth Shue segura suas cenas e as piranhas fazem o resto. Um filme com diversos defeitos, roteiro pífio e estapafúrdio, mas que diverte pelas suas homenagens e seu gore sem limites. Seus exageros também são uma benvinda volta do exploitation á moda, o que me deixa feliz pelo fato desse tipo de filme divertir de uma forma grotesca e incorreta. Piranha 3D faz o que se propõe, apesar do péssimo início. E isso basta ás vezes. Agora é esperar pela sequência, já que o final deixa um gancho maravilhoso.

Exagero é mesmo o que define o filme. Não bastava fazer a Piranha engolir um pênis. Tinha que fazê-la arrotar ele também.

*** 3 Estrelas - Aceitável

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Old School Trailers

Paul

O interessante filme de sci-fi de comédia, roteirizado pelos gênios da comédia britânica Simon Pegg e Nick Frost, apresenta um trailer inspirado. A direção de Greg Mottola, do cool Superbad e do nostálgico Adventureland, é concisa e bonita. O alien dublado por Seth Rogen, falando inglês britânico descarado, é engraçado até a raiz e serve como um belo elemento de cena junto com os diálogos igualmentes engraçados e afiados dos dois protagonistas, Pegg e Frost, dois nerds viciados em ficção científica que pretendem invadir a Área 51. Um road movie de perseguição cômico que promete muito.

**** 4 Estrelas

Cowboys e Aliens

O novo filme de Jon Favreau apresenta um bom trailer, seguindo o estilo de montagem que lhe é familiar, começando com a introdução da trama e gastando os 40 segundos finais com uma cena inteira de impacto. Desde Homem de Ferro é assim e tem sido de bom gosto essa escolha. O elenco está afiado e a história interessante da HQ promete ser bem adaptada pelos 3 competentes roteiristas, Alex Kurtzman, Roberto Orci e Damon Lindelof. O tom sério do trailer também ajuda, para quem esperava um faroeste caricato. Até mesmo a fotografia de Matthew Libatique evoca os clássicos do gênero. Um ótimo lançamento para a temporada de blockbusters.

**** 4 Estrelas

Limitless

O bom trailer do suspense com tons de ficção é auxiliado pela montagem ágil e pela direção elegante de Neil Burger. Bradley Cooper faz o papel de um escritor que, para conseguir fazer seu novo livro sair, toma uma droga que libera a atividade cerebral mais rápida, que o faz entregar seu livro em apenas 4 dias. E daí em diante, o trailer mostra a ascenção do escritor, exibindo sua genialidade e o dinheiro/mulheres que conseguiu com ela. Porém, a montagem se estende demais e revela um ponto que talvez seja importante pra narrativa. Mas vale a conferida.

*** 3 Estrelas

O Número 4

A nova bobagem adolescente dessa vez toma como pano de fundo a ficção-científica alienígena. O novo filme de D.J. Caruso, dos bons Paranoia e Controle Absoluto, evoca Crepúsculo em todos os sentidos, chegando até a ser constragedor. Alex Pettyfer, o Alex Rider, põe um capuz e entra no colégio, onde é o "freak", se apaixona pela menina indefesa e combate caras maus. Pra piorar, a fotografia põe tons sombrios em ambientes de floresta, o que soa cretino vista a semelhança com a história dos vampiros gays. Junto com A Garota do Capuz Vermelho, esse Número 4 nada mais é que uma palhaçada mal-roteirizada(são os mesmos escritores de Smallville e Múmia 3) e feita na esteira de um sucesso teen.

* 1 Estrela

Water for Elephants

O novo filme de Francis Lawrence, do intrigante Constantine e de Eu Sou a Lenda, se demonstra como um despretencioso drama que se torna grande pela sensibilidade. Desde a música emotiva até os diálogos nostálgicos, o trailer do filme é montado de forma linda, com Reese Witherspoon, Christoph Waltz e Hal Halbrook em suas habituais competências. O texto parece dramático e triste, com um tom anos 30 maravilhoso. Fora que ainda tem o desastre anunciado logo na sinopse, o que provavelmente potencializará o final. Robert Pattinson, apesar de ser um idiota, atua de forma consistente e pode impressionar. Um excelente lançamento menor no meio de genialidades como Árvore da Vida e blockbusters como Lanterna Verde.

***** 5 Estrelas

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

The Losers - HQ vs Filme

A cultuada história em quadrinhos Os Perdedores é interessantíssima. O grupo antigo dos Perdedores, quer era representado no Universo DC sempre em Guerras foi repaginado de forma inteligente pelo escritor Andy Diggle e o expressivo ilustrador Jock. Como o contexto cultural da época que os Losers foram criados era a Guerra do Vietnã, nada mais natural que eles serem heróis de guerra.

Porém, os anos 2000 são outra história.

A Vertigo, melhor editora de Quadrinhos atualmente há uns 15 anos, possibilita grandes autores a entrarem pro mundo dos quadrinhos adultos. E Andy Diggle, egresso da HQ 2000 AD, celeiro dos gênios ingleses, colocou o contexto do cinema atual na HQ e transformou os Losers em soldados traídos pelo governo. Tudo isso num pano de fundo blockbuster.

A HQ não tem grandes ambições e é interessante justamente por entregar o que propõe: uma diversão com roteiro intrincado e redondinho, com desenhos espetaculares e sequências cheias de estilo. Explosões, plot twists e personagens carismáticos são a essência da HQ e o grande atrativo dela. Sou fã da HQ justamente por não cobrar muito dela e por impor uma estética de filme de orçamento alto numa ágil história de menos de 200 páginas(a série teve 32 edições, mas o filme parece se basear no primeiro arco apenas).

E claro, como toda obra bem recebida nas mídias literárias, The Losers ganhou uma adaptação cinematográfica, orçada em 25 Milhões, o que pros padrões Hollywoodianos(e pras explosões grandiosas da HQ), é uma ninharia.

A ADAPTAÇÃO

A adaptação da HQ teve muitos problemas. Antes estava prevista pra ser rodada em 2007, com o roteiro de James Vanderbilt e Peter Berg a ser dirigido por Tim Story. Porém, na época o projeto não vingou e, aliando isso a atribulada agenda de Story com o Quarteto Fantástico, o filme foi adiado.

Então, em 2008 Sylvain White entrou para o grupo. Daí, foi um passo para em 2009, o elenco ser todo anunciado. Jeffrey Dean Morgan havia acabado de sair do sucesso de crítica Watchmen, Chris Evans se tornava cada vez mais arroz de festa, se encontrando em qualquer trabalho e Zöe Saldana estava na época de sua espetacular atuação em Avatar.
Aliando isso aos outros integrantes estarem caracterizados de forma muito similar á da HQ(com exceção de Roque, que virou negro no filme), o filme prometia bastante.
Até Jock desenhou um poster teaser do filme, que era sem dúvida um dos mais cool do ano.

Mas a coisa saiu diferente.

A produção em si não teve problemas nenhum internos, mas deu azar logo na data de estreia. Seu lançamento era próximo demais de Esquadrão Classe-A, um filme extremamente parecido com Os Perdedores. A temática da série de Tv, porém, era totalmente diferente da pegada inteligente da HQ. Porém, virou-se padrão um modo de filme de ação, como no filme RED(que vitimou a excelente HQ de Warren Ellis), destinado á toda família, tendo sempre que envolver conspirações e traições e, principalmente, um grupo carismático que faça a platéia rir.

E o filme segue essa cartilha á risca e ainda copia os defeitos de seus exemplares semelhantes. Se Patrick Wilson e seu débil mental vilão Lynch quase afundaram Esquadrão Classe-A em várias oportunidades, aqui Jason Patric chuta o pau da barraca. O Max das HQs era um homem misterioso, que nunca aparecia(o que ajudava a montar sua aura). O do filme é um engraçadinho retardado que está sempre com terno branco e sapato mocassim, seja em Miami ou Dubai. Suas frases de efeito não tem sentido, seus atos são inteligentes como jumentos e seu timing carismático é inexistente.

Já o resto do elenco é mais parecido com a HQ, mas nem tanto. Se Jeffrey Dean Morgan parecia perfeito pro papel, não foi. Suas limitações como ator, que pareciam não existir, ficam evidentes em The Losers, em que ele constrói seu personagem como um frágil e indeciso homem, passando longe do decidido líder Clay. Zoe Saldana, apesar de ser idêntica a Aisha(e até mesmo repetir uma ou duas frases dela na HQ), não corresponde as expectativas. Ela atua bem demais e é carismática demais, como o roteiro pede. A Aisha das HQs era uma mulher fria e assombrada por seu passado, não uma engraçadinha reservada. Nem vale citar Roque e Pooch, mas vale ressaltar que Chris Evans e Oscar Jaeneda, respectivamente Jensen e Cougar, estão perfeitos, em atuação e fidelidade á HQ. Nem me pergunte do Wade porque ele virou um gordo burro no filme...

Tecnicamente, nem vale falar. Se o visual que Jock desenhava era sujo, escuro e bonito, a fotografia e a direção de Sylvain White são o oposto. As boas passagens da luta de Aisha e Clay e o tiroteio no quarto, os dois em câmera lenta, não são suficientes pra esconder a estética idiota de telefilme que quiseram impor ao filme.

Sendo assim, é uma pena que a interessante HQ da Vertigo tenha sido adaptada de maneira tão preguiçosa e péssima desse jeito. Entre as duas mídias, fique com a literária. Afinal, a HQ de Diggle e Jock é muito mais cinematográfica e inteligente que o próprio filme. Em pensar que poderia ter sido feito um dos blockbusters mais legais do ano nesse filme.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tron : O Legado

Continuação apara as arestas do clássico de 82.

Em 1982, a computação gráfica dava seus primeiros passos no cinema. Foi Tron- Uma Odisséia Eletrônica, que introduziu os primeiros arcaicos esboços de um artifício que viria a ser explorado em proporções caoticamente mais avançadas décadas mais tarde . Era com uma história simples, mas recheada de detalhes , que Tron exibia diversos conceitos do seu mundo digital : as clássicas lightcycles , os grandes planos quadriculados e negros, além de uma infinidade de construções poligonais que, devido a clara limitação dos efeitos da época, eram primitivas e até simplórias, comparadas aos efeitos tão realistas de hoje em dia . Por isso mesmo, por seu estilo conceitual tão datado, um dos filmes precursores da utilização da computação gráfica é tão vagamente lembrado nos dias de hoje, sendo citado apenas por escassos aficionados por clássicos cult. Entretanto, se na década de 80 , Tron foi criado para exibir a temática cibernética com os efeitos que eram novidade, nada mais justo e interessante, que estabelecer um equivalente nos dias atuais, onde a computação gráfica tem níveis cada vez melhores e o 3D se desenha como uma inovação que veio para ficar.

Portanto, é uma atitude atrativa, e também corajosa, trazer Tron : O Legado, para os cinemas, 28 anos depois do original ter sido lançado . Viver a experiência do mundo eletrônico proposto no clássico oitentista com toda a tecnologia digital existente hoje, foi de fato o argumento mais forte para a realização do longa. Uma atualização grande, um enorme update das concepções visuais do primeiro filme é o que se estampa logo de cara, como a motivação primordial para a existência da seqüência . Porém, como já estamos calejados de saber, nada que se baseia em alegorias - e efeitos especiais não passam disso no cinema - tem muito futuro . Se este novo Tron fosse apenas um filme lindo mas que nada possuísse em conteúdo, seria uma verdadeira frustração, devido a expectativa que se criou em cima dele. Graças aos deuses do cinema, enfim, não foi isso que aconteceu dessa vez, e Tron : O Legado, mostra que , mesmo com alguns tropeços, é mais do que apenas um “rostinho bonito”.

A história começa alguns anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, com Kevin Flynn (Jeff Bridges) conversando com seu filho de sete anos, Sam , sobre sua recente descoberta, a Grade. Depois disso, o pai de Sam desaparece, e não mais retorna. Se passam mais 20 anos, e o já adulto Sam (Garret Hedlund ) ocupa seu tempo atrapalhando o curso da companhia que herdou, a ENCOM . Até que um dia, o paradeiro de sue pai é dado na velha casa de jogos onde trabalhava . Indo até lá, Sam acaba adentrando o mundo cibernético que seu pai havia criado há tantos anos, e precisa ajuda-lo a sair de lá.

O roteiro desta seqüência faz jus exatamente ao original de 1982 : Uma trama com estrutura enxuta, típica de aventura, onde existe um objetivo e este precisa ser alcançado. Entretanto, no clássico cult oitentista, tínhamos um tipo de desenvolvimento mais lento,com uma narrativa que acabava por tornar o caminho que parecia tão simples, mais “tortuoso”, se assim podemos dizer. Em Tron : O Legado, todas as arestas que sobravam do original foram aparadas , tanto em seu roteiro, quanto no seu visual (este sendo muito explícito, obviamente). A narrativa do longa de 2010, mostra sua simplicidade sem medo, coloca seus objetivos em tela, e aguarda seus protagonistas irem atrás deles. Entretanto, num ritmo mais veloz e adequado. É também preciso ser dito que o roteiro é amarrado e apresenta um encadeamento de fatos coerente.

Diante disso, só é triste constatar que os roteiristas fizeram o mais difícil, com sucesso – criaram toda uma estrutura narrativa coesa – e o mais fácil, com erros – bolaram diálogos , uma parte fácil do roteiro, com infantilidades e alguns tropeços tolos. Uma revisada básica não faria mal algum nesta situação.

A escolha do diretor, o egresso de curtas e comerciais Joseph Kosinski, se apresentou acertada, no balanço geral . Kosinski mostra uma certa segurança na direção e tem seu diferencial nas partes de ação, que coordena com maestria, conseguindo arrepiar o crítico que vos fala na seqüência da luta das lightcycles. Boa direção somada a efeitos primorosos. Um resultado de encher os olhos. Kosinski nem aparenta ser estreante, e já se mostra preparado para qualquer outro grande blockbuster que pegar pela frente.

Na sua parte técnica, Tron é irretocável . Os efeitos especiais do mundo cibernético são sensacionais, belíssimos e muitos elegantes. Todos os aparatos – desde veículos até as roupas usadas – são de uma beleza simples , porém rara . Neste ponto, todos estão de parabéns, tanto o pessoal dos efeitos especiais quanto o da direção de arte. Impecável, e ilustra uma evolução indescritível. E se a parte visual do filme teve uma evolução tremenda, nem se fale da trilha sonora. Um conjunto de sons estranhos do primeiro filme dá lugar ao ritmo eletrônico ESPETACULAR da dupla francesa Daft Punk. A trilha é parte essencial ao filme, e o incrementa de maneira incrível. As músicas funcionam adicionando ao filme um potencial cool impressionante. Uma das melhores trilhas que não vejo há tempos.

Já nas atuações , não teríamos problema algum, não fosse Garret Hedlund. O ator tem problemas na interpretação de Sam Flynn, que vão desde o modo como desempenha suas falas até o modo como seu corpo se movimenta. Hedlund anda como um modelo, seu jeito de se mover é incrivelmente artificial, quase robótico. Fora Hedlund, todos os outros dão o seu melhor, destaque para Bridges, sempre a vontade e Olívia Wilde que empresta uma atuação muito adequada á personagem Quorra.

Numa cotação final, Tron: O Legado , agrada muito. Possui um roteiro estrutural muito agradável e que tem tanto no seu conteúdo, quanto no seu ritmo uma superioridade ao original. Se esta continuação de Tron foi pensada para uma evolução visual, teve, por resultado final, uma verdadeira revolução visual e uma boa evolução em sua história, suprindo ás expectativas na medida certa.

Obs: O 3D é um tanto quanto inócuo, e o que surpreende mesmo é a beleza dos efeitos, com a tridimensionalidade ficando visivelmente de lado.

4 Estrelas **** - Bom

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Old School Trailers

A Árvore da Vida

O aclamadíssimo diretor Terrence Malick lança em 2011 seu novo filme, resultado de uma idéia que vinha sendo desenvolvida desde dos anos 70. O explêndido trailer impressiona pela beleza de imagens sublimes, mas ao mesmo tempo simples . Paisagens do espaço e do campo se misturam na trama que parece profunda, no nível de questionamento existencial . Nela, Jack( o garoto Hunter McCracken) é o mais velho dentre os três irmão de uma família texana . A história acompanha o menino aprendendo as coisas da vida, enquanto também mostra Jack adulto (Sean Penn), deprimido, devido a uma provável formação conturbada, marcada pela morte de um dos irmãos . Brad Pitt e Jessica Chastain interpretam os pais . Devemos esperar além de um drama de família disfuncional, uma grande discussão de elementos fundamentais da vida. Se tratando de Malick, já podemos nos preparar para o melhor possível.

5 Estrelas *****

domingo, 12 de dezembro de 2010

Comer Rezar Amar

Pretenciosa adaptação tem problemas pessoais e de estrutura.

Comédia Romântica é um gênero saturadíssimo no cinema. Sempre tem algum filme com clichês, viradas no terceiro ato e beijos em aeroporto prontos pra aparecer. Numa pesquisa rápida, podemos notar que, só no circuito atual, temos Juntos Pelo Acaso, Amor por Acaso, Coincidências do Amor e por aí vai. Porém, a variedade das tramas é tão ampla quanto a galeria dos títulos traduzidos, que tem sempre "Amor", "Surpresa" ou "Acaso" no título. Então, quando lançam variações saudáveis desse gênero sofrível, é amplamente válida a visita ao filme. Nesses últimos 2 anos, tivemos dois exemplos: o genial 500 Dias com Ela e Educação. Porém, se foi Educação o indicado ao Oscar, foi um erro grave. O filme começa de maneira sensacional, apresentando uma charmosa comédia coming-to-age, com toques românticos e elegância tipicamente inglesa(e ainda apresentava a atriz mais bonita do mundo para esse crítico que escreve, Carey Mulligan). Porém, uma escolha da protagonista no final se demonstra imbecil e excessivamente infantil. E é nessa linha que Comer Rezar Amar segue. A adaptação do livro da feminista Elizabeth Gilbert é falha na mesma forma que Educação, mas com problemas ainda maiores.

A trama segue Elizabeth que, ao perceber que está infeliz em sua vida, decide que é preciso mudar. Primeiro, remove o obstáculo mais evidente: seu casamento, iniciando assim um doloroso processo de divórcio. Depois, a tentativa de viver uma vida normal e buscar novos relacionamentos amorosos. No entanto, a aparente felicidade inicial logo dá lugar ao mesmo vazio existencial que ela antes sentia. Elizabeth então embarca em uma viagem de um ano pela Itália, Índia e Indonésia.

O roteiro adaptado por Ryan Murphy e Jennifer Salt é correto em diversos pontos, mas comete erros de estrutura. Como o filme é dividido em atos, nas três viagens de Elizabeth, um ritmo cadenciado é completamente válido, afinal, estamos falando do que, na teoria, era um drama de superação. Porém, a escolha feita pelos roteiristas é ditar um ritmo arrastado, que não chega a cansar em momento algum, mas que atrapalha muito a mensagem do filme. Em vez de apresentar os fatos de maneira fluida, dividido em etapas, acrescentando algo para a vida de Elizabeth(com ela tirando lições de cada ato importante), o filme escolhe narrar as partes engraçadas, as partes desnecessárias e as importantes. Logo, o filme se torna episódico e extremamente truncado. Na Itália, temos vários dos clichês habituais, como o jeito dos italianos mostrado de uma forma caricata, falas engraçadinhas e diálogos dispensáveis, usados apenas pra exaltar a genialidade repentina que a protagonista ganhou. Na Índia, o ritmo é mais truncado ainda, apresentando ainda um personagem bem interessante, mas que tira o foco do filme. O desastre se concretiza em Bali, num segmento do filme que simplesmente não devia existir se levarmos em conta o início do filme.

Porém, caro leitor, essa é uma CINEBIOGRAFIA. Logo, o ritmo do filme ser tosco é culpa dos roteiristas, sim, mas não é deles a culpa de Elizabeth Gilbert ser a maior recalcada, hipócrita, irritante e pretenciosa mulher na história recente da Sétima Arte.

E aqui começa a comparação com Educação. Da mesma forma que é infantil a escolha de Carey Mulligan no final do filme inglês, as escolhas tomadas pro Elizabeth beiram a ridicularidade. As feministas já dirão que sou machista, que não gosto da mulher querendo se libertar do casamento e etc.
Não mesmo. Mulheres com coragem são uma máxima maravilhosa nas telas. O fato que deve ser levado em conta é a hipocrisia ambulante que é a protagonista. Uma contradição viva. Elizabeth é uma mulher que se julga independente. Porém, ela fica o filme inteiro tentando achar o amor de sua vida, ficando com alguns homens antes do final. Nada contra, se não fosse pelo fato dela achar que a jornada dela NADA VALE SEM UM HOMEM AO SEU LADO. Bonito, não? A mulher é independente, mas precisa de um homem com ela. Então porque largou o marido no início? Afinal, o que Beth não gostava era da instituição do casamento, de ser dona de casa, não de seu marido. Se não fosse esse ridículo pensamento, o segmento de Bali não precisava existir(e o filme fluiria melhor). É uma festa só. A protagonista é um ser tão desastrado na alma que consegue até determinar o fracasso de ritmo do filme.

Mas não só essa contradição deve ser levada em conta. Auto-proclamada livre de pudores e preconceitos, a recalcada Elizabeth conhece seu primeiro apartamento na Itália, numa pensão. E qual é a primeira coisa que nossa heroína faz? Reclama do teto, que está sujo e feio e talvez isso faça o apartamento ceder. Tão espiritual, já que foi nessa jornada só porque uma espécie de líder espiritual a guiou, que não se desliga do material. Essa questão é até abordada no filme, no segmento da Índia, em que ela não consegue parar de pensar em trabalho e na decoração da sala de reflexão, em vez de ter paz interior. Porém, essa questão é esquecida e nunca é solucionada, quando é ofuscada pelo drama do personagem do excelente Richard Jenkins. A questão romântica da protagonista é a determinante pra tirar a alcunha desse filme de drama para comédia romântica dramática.

A construção de personagem é fraca. O roteiro gasta tantos minutos em situações arrastadas e desnecessárias que se esquece de explorar a profundidade da tristeza de Elizabeth no casamento. Porém, existem boas partes no filme. E elas são as cômicas e de drama leve, em que partes engraçadas são conduzidas habilmente por Ryan Murphy. As belas locações utilizadas ajudam e tornam o filme simpático. Os coadjuvantes também fazem parte desse pacote e suas participações são cruciais pra tornar o filme aceitável. O drama leve se deve a partes como a que a irritante protagonista junta amigos e declara o quanto a vida dela está muito melhor agora, sem nada de aparências ou materialista(o pior é que o filme parece acreditar que isso é verdade...) e pede aos seus amigos pra ajudar a quem realmente precisa, doando milhares de dólares pra salvar uma mãe solteira em Bali. O bonito ato sacramenta, de vez, a imagem de mulher independente clichê que é Elizabeth Gilbert. Mulher determinada genérica. Um papel típico de Julia Roberts.

O que ajuda bastante o filme também são os quesitos técnicos. A elegante direção de Ryan Murphy é criativa e explora bastante o ambiente que filma. Buscando ângulos bonitos e recheando as transições de cena com planos aéreos, Murphy executa uma direção bonita de se ver e salva muitas partes do filme que passaram com desinteresse pelo roteiro. A trilha sonora de Dario Marianelli também é muito boa e eleva ainda mais o tom de drama leve romântico que a história pede. Destaque para a música do espetacular Eddie Vedder no final do filme. Mas o melhor momento do filme é a fantástica fotografia de Robert Richardson remete a uma aura clara, diferente de suas fotografias recentes, o belo contraste clássico de Bastardos Inglórios ou o Noir pesadíssimo da melhor fotografia do ano(junto com Inception), Ilha do Medo. Excelente e ajuda a alavancar a potência que as locações representam pra tornar o filme agradável de assistir. Fora isso, a fotografia de Richardson varia em diversos pontos com os sentimentos da protagonista, se tornando mais clara ou escura, sem tornar-se esquematizada. A edição do filme, por Bradley Buecker, peca em diversos pontos como no desinteresse pela separação das 3 viagens, que só torna o roteiro episódico... mais episódico ainda.

Nas atuações, a única que merece citação extra, além do genial Jenkins, é a protagonista. Julia Roberts atua como se Elizabeth fosse ela mesma, numa atuação na média, em que comete o maior erro em acreditar com tanta veracidade naquele personagem arquetípico. Logo, é raro ver Julia num papel desafiador e diferente pra ela mostrar todo o talento que tem, como em Duplicidade.

No final das contas, Comer Rezar Amar é um filme pra sessão de sábado á noite, bem filmado e simpático, quando se esquece a mulher vazia que protagoniza-o. Ryan Murphy faz o que pode e realiza um filme que, se não fosse a contradição latente que beira o ridículo que permeia a vida de Elizabeth, poderia ser melhor. Poderia ser realmente bom, uma película de jornada que apenas peca pelo ritmo truncado e mal dividido que o filme tem por si só. Porém, não há como fazer uma adaptação sem mudar a essência dela. O maior defeito de Comer Rezar Amar, nas duas mídias, é a escritora. O ideal de liberdade é algo maravilhoso a ser mostrado no cinema e não deve ser colocado em comédia românticas dramáticas como essa.

Elizabeth Gilbert largando o marido? Que nada. Bom era o tempo que April Wheeler se matou pra fugir da vidinha de dona de casa na massante Revolutionary Road.

*** 3 Estrelas - Aceitável

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Megamente

Dreamworks continua fazendo a mesma comédia de ação.

No campo das animações, a Disney sempre foi uma líder. Porém, com a chegada da modernidade, os roteiros clássicos do padrão da empresa se tornaram obsoletos e a chegada de fracassos de bilheteria, como A Nova Onda do Imperador, Irmão Urso e Lilo e Stitch, decretaram o fim absoluto do reinado Disney. Mas havia a Pixar, empresa antiga divisão da LucasFilms que despontaria pro sucesso com seu primeiro longa, a maior bilheteria de 1995 Toy Story. A Disney, sentindo o fim de sua hegemonia uma década antes do lançamento de Irmão Urso, bancou a distribuição de Toy Story e ali se formou a maior parceria do ramo cinematográfico animado. Aliando a habilidade Disney em marketing e tradição com a genialidade dos excelentes roteiros das cabeças criativas da Pixar, a hegemonia tinha trocado de mãos, mas com o apadrinhamento Disney. Vendo que animação tinha mercado, a Dreamworks, empresa de Steven Spielberg, começou no ramo, mas seu primeiro longa de expressão fez tremer as bases Disney. Enquanto a Pixar entregava o bom Monstros S.A, a concorrente lançava o excelente Shrek.

Como a Dreamworks viu que aquele caminho fazia sucesso(mesmo Shrek sendo inferior a todos os filmes Pixar desde Procurando Nemo), resolveu trilha-lo. E se a Pixar é a empresa mais apaixonada e competente no cinema(veja bem, não apenas animação), entregando declarações de amor á sétima arte com roteiro dramáticos, a Dreamworks continua fazendo Shrek. E Megamente é o novo Shrek, mas dessa vez com o mundo dos super-heróis.

A trama segue Megamente, que é um super-vilão que sempre perde pra MetroMan, o herói da cidade de MetroCity. Entre os planos de Megamente, está o sequestro da Lois Lane da vez, Rosane Rocha, repórter namorada de MetroMan. Em um dos diversos sequestros dela, Megamente atrai MetroMan e finalmente consegue destruir seu bonzinho inimigo. Mas como todo vilão só é vilão com um herói na sua cola, Megamente resolve criar um novo super-herói pra poder voltar aos dias de Glória. Porém, sua cria, o Titan, foge do controle e se volta contra MetroCity. E cabe apenas a Megamente, outrora vilão, salvar o dia.

É interessante observar que a empresa de animação tem possibilidades de alcançar novos horizontes(como no recente Como Treinar seu Dragão), investindo no drama que a Pixar sabe fazer tão bem(mesmo que em menor densidade). Mas mesmo assim, a Dreamworks intercala esses projetos mais ousados e originais com os seus filmes-evento(Megamente) e bobagens com fins lucrativos que não deviam existir(Shrek 4). Há um quê de visão nessa estratégia, afinal Dragão pode até ter sido o melhor filme desde Shrek(ou da empresa), mas foi o menos lucrativo. Megamente entra no campo dos lucrativos, auxiliado pelo 3D, com um roteiro que promete a descontrução definitiva dos super-heróis. Campo já testado anteriormente pela rival, na obra-prima Os Incríveis, o gênero super-herói tem duas gamas diferentes. A linha dos blockbusters, cinemão-pipoca descarado que promete diversão(quase sempre bem-executada) e a linha mais séria, que cria arte num gênero tão banalizado, contando histórias seríssimas e excelentes. Como espectador, gosto muito das duas gamas e adoro esse gênero. Por isso, é fácil constatar que se Os Incríveis parecia Watchmen, Megamente parece Homem de Ferro.

A comparação é válida não só pelo teor da história, com o exemplo da Pixar sendo sério e Megamente divertido. As tramas são parecidas também e há um esforço contínuo da Dreamworks em fazer Megamente parecer Homem de Ferro. Os Incríveis tinha super-heróis mortos por um super-vilão amargurado, que acaba colocando Sr. Incrível no posto que tinha sido retirado de si na lei que proibiu os heróis. Pra quem não leu Watchmen, essa lei se chama Keene Act e foi inspiração clara pra produção da Pixar. Já Megamente tenta se distanciar tanto de Homem de Ferro que coloca Back in Black e Highway to Hell, do AC/DC, que COMPÔS a trilha do segundo filme do Ferroso. Jurei que ia ouvir Iron Man nos créditos finais, mas acabou sendo o Michael Jackson mesmo.

E daí vem o abismo entre Pixar e Dreamworks. Enquanto a primeira pega como inspiração uma história adaptada ao cinema com censura 18 anos e um dos maiores e mais maduros quadrinhos da História, a segunda força a barra, copiando diversos elementos de sua inspiração, como a já citada trilha sonora e frases como "Super-heróis não nascem, são criados!". E é aí que uma sacada de roteiro, manjada e clichê, é sabotada. Adaptando Homem de Ferro pras crianças da geração 3D, fica claro que a referência do filme é um anti-herói, não um vilão como a trama fazia parecer. Sei que era óbvia a redenção do vilão(na boa, alguém achou que vilão protagonista ia continuar vilão num filme da Dreamworks?), mas colocando o Homem de Ferro como inspiração, fica paupável demais a reviravolta de comportamento de Megamente. Até porque, se o vilão fosse continuar vilão, se houvesse uma descontrução corajosa mesmo, seria o Coringa, por exemplo, a ser adorado pelo protagonista. Se o vilão fosse vilão mesmo, faria maldades pesadas, não planos maquiavélicos engraçadinhos. Megamente é um vilão tão sério que tem até o seu Criado como alívio cômico...

Mas coloquemos isso no contexto que o filme pede. A ambiciosa ideia de revolução que a empresa prometia jamais seria feita, obviamente. Então esqueçamos a falta de modéstia descabida e avaliamos o filme como uma película descompromissada de ação e comédia. Aqui, entramos em outro campo do cinema Dreamworks: o de Kung Fu Panda. Nesse ponto, Megamente engrandesce. Engraçado, ágil, divertido, o filme tem uma construção muito boa de personagens, com a sequência inicial sendo um exemplo do que a Dreamworks sabe fazer muito bem: Megamente e MetroMan, a cópia do Superman(com direito a Lois Lane-Rosane Rocha e um Jimmy Olsen-Hal Stewart), saindo de seus planetas, tendo a mesma origem, porém com um destino completamente oposto aqui na Terra. Enquanto um é criado em berço de ouro, o outro é criado na prisão. Aí se reforça uma referência muito boa pescada pela Dreamworks: a de A Piada Mortal, de Alan Moore, escritor de Watchmen. No final das contas, é apenas um dia ruim que mudou a vida dos dois seres extraterrestres. Há também um quê de drama, típico dos terceiros atos dos filmes da empresa, que é convincente, mantendo a atenção do espectador presa na tela.
E os personagens são tão simpáticos e a ação, ainda que exagerada(o clímax tem mais de 15 minutos justamente pela falta de história), é entretenimento de pura qualidade. Qualidade tão grande e divertida que basta pra disfarçar a falta de conteúdo no roteiro estrutural.

Juntando isso a diversas referências pop, como a da Mamba Negra de Kill Bill, Megamente se torna um produto sem relevância artística, mas extremamente divertido e interessante. Seguindo a linha de sucessos, como Kung Fu Panda e Madagascar 2, Megamente agrada e é perfeito pra uma sessão sem compromisso e de fim de semana. Não se deve julgar dispensáveis as referências conhecidas da empresa. Elas são essenciais pra tornar os seus filmes acima da média, como fez com Monstros vs. Alienígenas, que tem uma trama um tanto pobre, mas que é divertida e fica melhor ainda se pescarmos as citações aos filmes B de terror dos anos 50.

Apesar de ter acompanhado a versão em português, é bom exaltar o elenco soberbo de dubladores do filme. Will Ferrell se encaixa perfeitamente como Megamente, se reunindo ainda com outros comediantes como Tina Fey(Rosane), Jonah Hill(Hal) e até mesmo Ben Stiller, numa ponta como Bernard. Fora que ainda tem a genial sacada de chamar o galã Brad Pitt pra dublar o MetroMan.

Tecnicamente, nada a se declarar de especial. A direção de Tom McGarth é muito boa, seguindo o padrão das animações desde Toy Story, explorando os ângulos grandiosos que são caros demais no live-action. A fotografia do filme é bonita e o 3D não a escuresse, como sempre tende a acontecer. Um belo trabalho de Phill McNally. A trilha sonora de Hans Zimmer e Lorne Balfe é muito boa também e ajuda a tirar cada emoção que o filme precisa, encaixando-se perfeitamente na película, ainda que essa trilha não deva ser levada em conta como música propriamente dita. Excelente no filme, nem tanto pra ouvir sozinha.

Mesmo sendo um mix de ideias e mais uma promessa quebrada da Dreamworks, Megamente é um excelente entretenimento passageiro, que não marcará em nada sua vida, mas fará ela feliz por 96 minutos. Para o público médio de cinema, o verdadeiro alvo da empresa, o filme deve ser uma satisfação. Já eu tive que aguentar com pesar o fato de ter esquecido do filme logo que saí da sessão, lembrando mais do filme visto 2 dias antes, a genial obra-prima contemporânea A Rede Social(aliás, vale a dica, só assista Megamente se for ver Rede Social antes).

E a Dreamworks continuará a mesma. Espero que continue executando bem essa mesmice, já que algumas empresas simplesmente decidem insistir no erro. Se é assim que eles querem, eu já estou preparado. Que não se leve em conta mais nenhuma revolução que a empresa prometa. Afinal, a revolução de verdade aconteceu em Os Incríveis. E é duro dizer, mas a outra revolução de verdade não pode ser feita agora simplesmente porque a Dreamworks não tem talento pra executá-la. E não terá, pelo fato dela querer fazer um novo Shrek até esgotar a fonte. Pelo menos Dragão sai da desconstrução, dando ainda um pouquinho de esperança.

Andam dizendo por aí que Megamente é uma homenagem ao Superman, como até sugere a referência a Marlon Brando como pai de Titan. Respeitosamente, discordo. Pra mim, Tony Stark foi que ganhou essa homenagem, divertida á beça.

**** 4 Estrelas

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Old School Trailers

Real Steel

A julgar pelo diretor, talvez seja besteira dar atenção para Real Steel, afinal , Shawn Levy não é daqueles realizadores que costumam acertar a mão no que constroem . Mas, com uma história um tanto peculiar, Real Steel parece, pelo menos a primeira vista, destoar do lugar comum . No filme, o universo do boxe mudou , e nele não há mais pessoas lutando, e sim robôs - estes, de fato, são muito parecidos com os Transformers de Michael Bay , tanto na aparencia quanto no modo de se mover. A trama em si acompanha um pai (Hugh Jackman) que, com seu filho(Dakota Goyo), precisa treinar um robô para ser campeão . Entretanto, eles só têm acesso a peças de baixa qualidade , e isso torna-se um obstáculo no caminho do grupo . Até que um dia, eles descobrem um robô descartado que sempre vence suas lutas - e ele pode ser a solução. O trailer dá pistas de que o filme deve cair nos clichês manjados, mas vale a pena a espera pelo menos pela aposta no conceito interessante, e também por que Jackman costuma escolher bem os filmes em que vai estrelar.

3 Estrelas ***


Rio

A nova animação de Carlos Saldanha para o Blue Sky Studios, ganha seu segundo trailer, que, como de costume, vem para apresentar melhor os personagens que compõem a aventura e dar mais detalhes sobre a trama. Nela, uma arara azul norte-americana sai de seu lar nos Estados Unidos e vai parar no Rio de Janeiro , pois lá é onde está a última fêmea de sua espécie. A dublagem original das araras é de Jesse Einsemberg - o protagonista - e Anne Hathaway -a fêmea . Devemos esperar boas piadas e um filme divertido - talvez até mais que a própria franquia Era do Gelo - num nível alto.

3 Estrelas ***

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Especial Sci-Fi - Cult vs Blockbuster

O Old School Nerds apresenta o especial Sci-Fi: Cult vs Blockbuster, que apresentará textos e conceitos da ficção-científica no cinema misturado com breves resenhas sobre a experiência aqui relatada.

O especial consistirá em uma matéria e as 6 resenhas, comparando os dois tipos de ficção científica existentes no cinema: a Cult, com uma pegada mais filosófica e profunda e a Blockbuster, que recheia o cinema de diversão, altos orçamentos e público.

A experiência realizada consistiu em assistir 6 filmes de ficção de uma vez só, intercalando os dois tipos e os comparando como duas gamas distintas de um gênero tão rico. Ainda que a ficção seja um gênero um tanto marginalizado(e comparado aos injustamente marginalizado Quadrinhos), rendeu maravilhas cinematográficas, como alguns dos filmes do nosso especial.
As resenhas serão breves justamente por ser parte de um especial, sem avaliar o filme com quesitos técnicos profundos como numa resenha normal. Esses filmes ganharão, no futuro, uma resenha nos moldes clássicos aqui no OSN, porém o intuito aqui é compará-los como parte de um nicho cheio de detalhes como a ficção.

Os filmes em questão são, na ordem que foram assistidos e que serão resenhados:

Solaris - de Steven Soderbergh
O Planeta dos Macacos - de Franklin J. Schaffner
Star Wars - de George Lucas
2001 - Uma Odisseia no Espaço - de Stanley Kubrick
Avatar - de James Cameron
e
Matrix - de Andy e Larry Wachowski

Os filmes em questão foram escolhidos por suas indiscutíveis importâncias pro cinema. Evitei filmes como Transformers ou ET pois eles atravessam gêneros que os tornam blockbusters sim, mas não se prendem tanto aos quesitos do projeto quanto os escolhidos. A ausência de clássicos como Fonte da Vida e Laranja Mecânica se deve ao fato deles combinarem mais com o gênero da Ficção Comportamental, um gênero bem mais restrito e que merece um especial solo.

Um remake americano, dois clássicos Cults e dois clássicos Blockbusters, que culminam em Matrix, um misto raríssimo dos dois tipos do gênero.

Próximo Post: A Ficção Científica Cult - Solaris

sábado, 20 de novembro de 2010

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 - Crítica 2

Fidelidade ao livro e maturidade chegam na primeira parte do fim.

Não é difícil imaginar o que passou pela cabeça de J.K.Rowling quando esta começou a saga de sete livros de Harry Potter com um pré-adolescente diante de um mundo inteiro novo a descobrir. A jornada do pequeno bruxo , é - e isto é óbvio -uma metáfora para a vida adolescente, e por isso talvez o produto criado por Rowling faça tanto sucesso e seja tão bem aceito mundialmente. Ao passo que o tempo chega, entretanto, adolescentes crescem, amadurecem, ganham responsabilidades e saem da escola. Não é diferente, portanto, o que acontece com o bruxo inglês criado pela escritora. O último livro da série, lançado há três anos, colocava um ponto final épico na história. Os nossos heróis por fim arranjavam uma solução para seus problemas, saiam da escola , e desafiavam seus inimigos. Neste último livro, que tem qualidade grande , por sinal, os garotos que ''vimos'' crescer se tornavam enfim, o mais próximos de adultos o possível.

E se a série foi transformada sem pensar duas vezes em franquia cinematográfica, era preciso empregar a mesma sensação no último capítulo da série de filmes. O tom adulto já foi sendo aplicado a partir do quarto filme, para ser definitivamente explorado no quinto. Assim como nos livros, que passaram por uma sofisticação narrativa a partir do quarto volume, tomando um rumo mais sério do quinto em diante. Agora, no capítulo final, a série iria precisar de mais um ajuste - e ele seria a transformação definitiva de ''meninos'' em ''homens''. Talvez nem tanto na forma literal - eles na história tem apenas 17 anos - mas no modo de se ver o mundo. Tal modo de se ver o mundo também será, querendo ou não , compartilhado por quem assiste ao filme. Muito lógico, portanto, que Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 , seja o mais dramático e sério dentre todos os precedentes.

E devido a grande quantidade de informação contida no livro e também por essa mudança de rumo, o episódio final do bruxo nas telas teve que ser dividido em duas partes . Tal atitude tem conotações variadas , tanto para o estúdio quanto para o público. Para o estúdio, dividir o filme em dois é positivo, pois, na lógica capitalista, dois filmes valem obviamente mais que um . Para quem assiste, pode-se dizer um pouco dos dois. É bom por um lado, pois a adaptação terá mais tempo e espaço para transferir toda o conteúdo da obra literária. Por outro, temos um problema que parece até inesperado - a obra isolada perde um pouco de sua força.

A trama segue , como sempre, os nossos três heróis determinados. A diferença é que dessa vez eles estão em posição de xeque - Voldemort ( Ralph Fiennes) está com força e influência total para capturar e matar Harry Potter. Isto fará com que ele e os dois amigos - Rony e Hermione - se distanciem da família para a segurança destes. A partir daí, eles precisam por em prática a última esperança que restou para derrotar O Lorde das Trevas - achar as Horcruxes que faltam ser destruídas.

A narrativa em si é deveras diferente das que foram desenvolvidas em filmes anteriores . Apesar do mesmo roteirista (Steve Kloves) estar presente desde o primeiro filme, desta vez ele tem não mais a tarefa de cortar as partes desnecessarias e enxutar as histórias dos calhamaços de Rowling em um longa de no máximo 2 horas e 30 minutos. O estúdio dessa vez deu luz verde para que o filme adaptasse o livro com a maior fidelidade possível, afinal, haveria dois filmes, e não apenas um . O receio era obviamente apertar muitos acontecimentos e muitas emoções em pouco tempo, e portanto é compreensível e, até certo ponto, sensata a decisão dos realizadores. O resultado , pelo menos para quem leu o livro, é um certo regojizo glorioso de ver páginas e páginas que você passou horas imaginando se concretizando na frente de seus olhos . Diálogos inteiros foram trascritos para o script, e as partes que precisavam ser cortadas ficaram muito bem adaptadas. Até aqui, sem a menor dúvida, é o filme mais fiél á obra da escritora inglesa. Tanto visualmente quanto em estrutura narrativa, há uma fidelidade quase obsessiva com o livro, coisa que só vi em algumas adaptações de HQs. E isso é muito bom.

É também muito bom ver que o roteiro é mais focado no drama, como deveria ser. O rumo da história a partir daqui, deve ser para algo mais adulto, maior e mais sério, sem dúvidas. Assim foi com o livro, e assim segue no filme. A maior parte do filme se passa com poucas pessoas sendo filmadas - basicamente os três protagonistas - em paisagens desertas, como montanhas ,florestas, pradarias. O drama neste ponto é intimista, interessante e muito necessário para a preparação de espírito dos personagens para o que vem a seguir. Como na vida real, é a fase de casulo que vai separar o adolescente do adulto. O livro baseia grande parte de sua história nesse momento, e no filme ele tem essa parte representada com justiça.

Entretanto, se o filme perde em alguma coisa, é na sua divisão. Não é por reclamar de falta de ação - afinal o filme tem sequencias de ação - mas é que o cerne da história, as grandes viradas e grandes revelações se concentram na última parte, que vai demorar ainda um pouco para chegar. Não que este filme tenha menos importancia, mas é fato que a parte mais épica fica mais próxima do final, ou seja, na segunda parte. Isso gera , mesmo que num volume quase homeopático, um empalidecimento da primeira parte. Ossos do ofício, um problema que nem se baseia no próprio filme em si, mas na expectativa gerada em cima dos dois.

E o papel de David Yates no filme não pode ser ignorado. As sequencias na mata , nos ambientes
mais isolados , são quase dignos de filmes independentes, e , portanto, é preciso o mínimo de talento para carregar a narrativa sem perder o ritmo ou deixar o caldo desandar. Yates mostra que tem o necessário para fazer o filme se manter vivo nesse perído, e mesmo sem grandes arroubos, demonstra que faz o que é simples bem, e que consegue variar entre o drama de câmera na mão com os close-up nas correrias. É a sua direção mais comum até aqui, mas mesmo assim continua muito boa. E o que continua muito boa é atrilha sonora. A entrada de Alexandre Desplat não poderia ter sido mais saudável, e mesmo fazendo o que já foi testado - som de violino no grau que indica grandiosidade - ele demonstra ser diferenciado. Ponto para quem o escolheu.

Está cada vez mais próximo o fim da franquia de Harry Potter. E é muito bom saber que ocorreu, como qualquer adolescente, o amadurecimento final, tão necessário. Ele era algo anunciado, e enfim se concretiza. Por fim, resta a nós esperar pelo o último filme da série, que vem daqui a aproximadamente seis meses. Continua. Em breve.

5 Estrelas - Nota 8

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 - Crítica 1

David Yates consolida a série como algo a mais que aventura descompromissada.

A série Harry Potter é, sem dúvida, a maior da História do cinema, tanto em termos lucrativos como em amor do público. Como o cinema blockbuster ainda se apóia nos adolescentes, espectadores médios que querem apenas diversão, muitas franquias surgem com tramas aventurescas e limitadas, com única e exclusiva função de obter lucros. Transformers é uma delas e, ainda que tenha começado bem, teve uma segunda parte que fez jus a essa ideologia de cinema que só vê lucro. E Harry Potter começou como só mais um filme de aventura, discípulo de Star Wars, baseado numa série de livros que visava apenas um entretenimento passageiro e diversão voltada para o público infanto-juvenil. Porém, quando a escritora J.K. Rowling percebeu que o público que a acompanhava não iria gostar tanto de sequências desnecessárias
que eram apenas "mais do mesmo"(como as séries atuais Crepúsuculo e Percy Jackson), resolveu amadurecer. Aproveitando sua competência adquirida com os 3 primeiros livros, J.K. criou O Cálice de Fogo com uma pegada um pouco mais séria. E isso fez um sucesso tão grande que ficou viável criar os 3 últimos livros com um clima bem mais denso.

Como não li nenhum dos livros e apenas vi o 1, o 3 e o 6, não posso afirmar que HP foi muito melhor nos livros que nos filmes(até porque sou a favor de uma pegada mais dramática e adulta no gênero fantasia, como Sandman), mas é fácil constatar que J.K. começou a virar escritora de verdade, romancista, a partir de A Ordem da Fênix. E mesmo que os fãs tenham reclamado tanto dos problemas de fidelidade dos filmes anteriores, é desnecessário comentar que nenhum deles deixará de ir conferir a nova aventura no cinema e encher os cofres da Warner. Mesmo tendo esse pensamento em mente, os executivos da Warner conseguiram unir o útil ao agradável, depois de mais uma bilheteria astronômica no sexto filme(que na minha visão, é bem legal): Dividiram HP 7 em dois filmes visando mais lucro e menos sessões de cinema por dia, devido a quantidade grande de informações contidas no livro. E já que é pra dividir, criaram uma adaptação literal, segundo meu amigo e co-editor Joaquim, leitor dos livros. Sendo assim, os fãs ficarão satisfeitos ao sair da sessão.
Mas e os não-fãs, como o escritor dessa resenha? Depende do tipo de público. Com certeza os leitores de HP não gostariam do filme se ele não fosse... um HP. O tom sombrio, quieto e bem solitário do filme só funciona com os jovens que acompanharam a série desde 1998(ou 2001, no primeiro filme) por ser baseado no livro do personagem preferido dos juvenis. Praticamente um road movie com tons de fantasia e umas duas parcas sequências de ação, HP e as Relíquias da Morte Parte 1 é um passo gigantesco a franquia, se tornando algo a mais que o alegre balé de vassouras dos 3 primeiros, os dilemas dramáticos do quarto e a fantasia séria dos 2 filmes anteriores. Numa análise mais profunda, sem contar com a vindoura segunda parte, o filme poderia até ser considerado como um estudo da solidão de 3 recém-adultos, os limites deles e os dramas de suas vidas. E nesse drama o filme ganha mais pontos, afinal os personagens de HP podem até ser bem-desenvolvidos, mas são em sua maioria, arquétipos com dramas de mesma categoria.

A trama começa com a ameaça de Lord Voldemort (Ralph Fiennes) ganhando proporções épicas, forçando Harry, Ron e Hermione a tomar providências para proteger seus familiares. Com o inimigo se tornando cada vez mais forte, é preciso esconder Harry Potter, que se torna a última esperança da resistência dos bruxos para impedir o reinado de Voldemort. Com a queda do Ministério da Magia e sua posterior reestruturação pelo inimigo, a situação se complica. E os três amigos partem em busca dos únicos artefatos que podem parar de uma vez por todas esses eventos: as horcruxes.

Ressalto novamente que não li o livro, mas quem leu diz que a fidelidade foi obsessiva. Deixando isso de lado, avaliarei apenas como filme. O roteiro, pela sexta vez adaptado por Steve Kloves(depois de uma entrada mal-sucedida de Michael Goldenberg no quinto, fazendo os fãs chiar), é vitorioso em diversos pontos. Sua estrutura é completamente diferente dos anteriores e puxa mais pro lado dramático, quase se esquecendo de toda a desenfreada trocas de magias atiradas pelas varinhas. Há sim os confrontos, todos se encaixando perfeitamente na narrativa, mas eles são praticamente sufocados pelo isolamento que ocupa 75% do filme. Esse isolamento, presente no livro, se faz necessário justamente para haver o desenvolvimento aprimorado de personagens e a quantidade grande de detalhes que HP 7 oferece. Se o sexto filme apostava num ritmo fluente e drama conciso porém pouco maduro(Hermione chora por Rony, sendo que o Mal está presente no mundo da magia), a coisa se torna muito mais séria aqui. Não só tendo que se preocupar com a ameaça de Voldemort, os 3 amigos agora tem que lidar com os problemas pessoais, que acabam culminando em tocantes sacrifícios, como o feitiço de Hermione em seus pais.

Algumas sacadas do contexto daquele universo colocadas em tela também são interessantes, como a bolsa infinita de Hermione, uma inteligente saída para uma possível falta de continuidade futura, com alguns objetos podendo aparecer sem explicação em tela. Quanto ao ritmo do roteiro, Kloves foi meticuloso. Esse drama todo usado para a construção de personagem, nunca visto na série, é espetacular e torna o ritmo desse filme muito melhor que o dos outros. Essa jornada existencial é interessantíssima e parece retirada de um road movie europeu. A utilização de ambientes abertos, entupidos de natureza em sua forma selvagem, se fazem necessários também, como saída narrativa(Hermione imagina os lugares pra onde os 3 vão) e como belíssima metáfora da natureza sufocando as personalidades perdidas do trio. E se 75% do filme são nessas partes esplendidamente construídas, os outros 25% são muito bons também, mas é onde residem os típicos problemas da franquia. A memorável sequência no Ministério da Magia é organizada de forma ágil e tem cortes sucintos, com informações brotando na tela sem soar gratuitamente, porém tem os conhecidos alívios cômicos da série, um verdadeiro abismo de contraste em relação áquela solidão.

As poucas sequências de ação empolgam, sem atrapalhar as partes dramáticas e acrescentando tensão á película. Nas florestas, são sempre alguns guardas procurando o trio, o que torna tudo mais realista e natural. Há sim ás batalhas épicas, como a que abre o filme, um duelo de magias no meio da cidade, mas parece que o roteirista deixou todo o tom exageradamente épico no trailer para a Parte 2. Sendo assim, é fácil constatar que essa Parte 1 só é apreciada e vista no cinema por ser baseada no livro tão amado pelos adolescentes. Com certeza, se não houvesse a presença do bruxo ali, várias pessoas tachariam o filme de chato, modorrento e sem clímax. Não é o meu caso, que mesmo sem ser fã adorei, mas é instigante o fato de que o público a quem se destina o filme, simplesmente não gostaria isoladamente. Até mesmo os fãs estariam reclamando dessa falta de clímax e do ritmo lento se não fosse a fidelidade absurda. Mesmo sem final, sem ação e com pouco ritmo, HP 7 agrada bastante pelo drama ali colocado, mesmo que ele não seja todo esse abismo choroso.

Se o roteiro de Steve Kloves impõe ao filme um tom digno de filme indie como Valhalla Rising, a direção caprichada de David Yates entende isso e faz um trabalho seguro. Na pouca ação existente, a condução é interessante e competente, tendo destaque a já citada batalha no Ministério da Magia e o espetacular confronto na floresta, acompanhado com o mesmo filtro de câmera de Robin Hood, que auxilia a movimentação. Além disso, a sequência é registrada apenas pelo barulho dos personagens e o som abafado dos "tiros", o que traz uma elegância nova aos confrontos da saga. Nas partes dramáticas, Yates conduz normalmente, ainda que erre alguns enquadramentos e deixe de trocar o foco dos zooms. Mesmo assim, os erros são perdoáveis vistos perto da interessante saída que o diretor arrumou para as sequências de impacto: A câmera na mão. Tremida, a câmera dá um certo desconforto e surge logo que os personagens estão tendo um conflito verbal ou sentimental. É uma solução manjada em certos filmes, mas quando visto numa série com direções de aluguel e drama pouco atrativo(por ser tipicamente adolescente) nos capítulos anteriores, é de se reconhecer a inteligência do competentíssimo diretor.

A fotografia de Eduardo Serra, depois da saída do indicado ao Oscar Bruno Delbonell, é interessante, ainda que perca grandiosamente para o esverdeado clima do filme anterior. Ainda que nas sequências urbanas a fotografia não passe da média, nas sequências de natureza é linda a percepção do fotógrafo em deixar o clima mais sombrio. Uma solução inteligente e que torna o filme esteticamente belíssimo, como na sequência de neve. A trilha sonora de Alexandre Desplat mantém o nível ótimo de compositores que a série teve e cria notas grandiosas, ainda que siga o estilo fantasioso de John Williams em alguns pontos. Nas partes dramáticas, porém, a trilha se sobressai e se distancia do resto das melodias que permearam a saga. A edição de Mark Day é sucinta e auxilia bem a direção, mesmo sem se destacar.

Nas atuações, pouco a se falar, mas é notável de que Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint aprenderam a atuar e melhoraram as atuações animadinhas dos primeiros capítulos e os tiques dos dois episódios anteriores(Emma sempre chorosa, Grint só servindo como alívio cômico). Agora o negócio é mais sério e os atores captaram a essência do roteiro, fazendo com que os 146 minutos passem tranquilamente.

No geral, Harry Potter 7 agrada bastante e consolida os novos(e certos) rumos que a série tomou. Que a seriedade continue na Parte 2, que tem promessa de bastante ação e onde reside todos os clímaxes que faltaram a essa Parte 1. Talvez o ritmo maravilhoso desse dramático episódio desande, mas já fica a certeza de que a espera continua, mais amplificada. Um excelente filme sobretudo e um gigantesco passo rumo a maturidade absoluta da antes boba série que agora entra no panteão das melhores obras juvenis da história.

***** 5 Estrelas

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Old School Trailers - Parte 3

Battle Los Angeles

O filme do diretor Jonathan Liebesmann agradou a todos no painel da Comic-Con e sua narrativa parecida com jogo parecia perfeita. A trama assumidamente rasa também casa bem com o ar de batalha sem limites. Porém, o trailer apresentou um tom mais sério que o normal e isso pode preocupar, apesar de se constatar que, mesmo sendo pouco inovador, o trailer funciona e dar o ar de ansiedade que o filme precisa. Agora, é esperar a pancadaria começar e torcer pra ela não se levar á sério.

*** 3 Estrelas

Lanterna Verde

Muita desconfiança estava a cerca desse filme. Porém, quando o uniforme surgiu, a confiança começou a aumentar e, mesmo muito claro, o uniforme inspirava e era fiel. Mas Ryan Reynolds e seu tom engraçadinho continuavam incomodando. E o trailer acaba com essa desconfiança... e cria algumas outras. O início, regado a rock 'n' roll, parece DEMAIS Homem de Ferro. Ryan não está a altura do conciso personagem que é Hal Jordan, mas parece que vai segurar o tranco. PORÉM, OA está perfeita visualmente e o design é fantástico e o tom trash dos personagens alienígenas se reflete pelos ótimos efeitos e a maquiagem vitoriosa, com direito a um hipnótico Sinestro. Visualmente incrível, divertido e fiel, o trailer inspira. Mas talvez a história deveria se levar um pouco mais a sério e ser menos Marvel.

**** 4 Estrelas

Skyline

Os irmãos Strause são especialistas em efeitos, mas como diretores são deploráveis. Criaram o risível Alien vs Predador 2, que conseguiu ser pior que o primeiro. Mas agora, com um orçamento minúsculo de 10 Milhões, os Irmãos parecem ter acertado a mão. Apostando mais no seu talento dos efeitos, o trabalho dos dois é hercúleo e os aliens estão perfeitos, mesmo que sejam iguais aos do genial game Crysis. Sem se preocupar com atuações(que estão ridículas) e roteiro(raso como pires), o filme parece que se consolidará como a pérola trash mais divertida desse ano.

*** 3 Estrelas

domingo, 14 de novembro de 2010

Senna - Crítica 2

A apoteose filmada de um gênio.

Talvez um dos poucos heróis nacionais, Ayrton Senna é um mito. Além de ser um caso raro de herói, o piloto só é aumentado quando vemos sua vida pessoal. Diferente de cantores promíscuos ou drogados, Senna foi um exemplo dentro e fora de sua carreira, ajudando os outros da forma que pôde. Em tempos difíceis para o Brasil, fim de ditadura culminando para o violento movimento pró-diretas já, o brasileiro fazia mágica com o que tinha nas mãos e trazia um pouco de felicidade aos rostos cansados do povo nacional da época. Porém, o acervo de arquivo da Fórmula 1 e do próprio Senna sempre foi bem restrito, só sendo divulgado pra documentários menores, de revistas especializadas. Aliás, confesso rapidamente ser fã extremo do piloto, tendo visto esses documentários e acompanhado incansavelmente a carreira do gênio, mesmo ele tendo morrendo 1 ano antes de meu nascimento. E agora é muito bom constatar que uma equipe se reuniu pra liberar os tais vídeos de arquivo e fazer um documentário sobre a vida do mito. A equipe em si são os ingleses da Working Title, famosos pelas comédia-românticas aclamadas como Bridget Jones e Simplesmente Amor. Será que eles conseguiriam criar um produto á altura do que Senna foi?

O documentário segue toda a tragetória de Ayrton Senna nas grandes corridas, desde os espetaculares créditos iniciais em seu Mundial de Kart até a sua morte, em 1994. As imagens, capturadas em sua maioria pela FISA(emissora oficial da F1) e inéditas em tela, são organizadas em temporadas, a cada ano. Além disso, os depoimentos das pessoas sobre Senna, como Ron Dennis e Reginaldo Leme(ainda temos antológicas narrações de Galvão Bueno orginais), não quebram o ritmo das imagens e são apenas comentados em off, sendo que os entrevistados nunca aparecem em tela, o que dá um ar mais ficcional ao filme.

A decisão do filme de Asif Kapadia em retratar apenas os anos de Fórmula 1, com breves passagens do Mundial de Kart em 1978, é vitoriosa. Aquela máxima de humanizar a figura retratada, aqui é totalmente esquecida. Essa decisão ajuda a narrativa e o foco do documentário se torna, assim como no genial O Equilibrista, mitificar o indivíduo, editando o filme de uma forma que o público seja imparcial. Podendo ser vista pelos puristas como uma estratégia manipuladora e centralizada, essa decisão nem sempre é ruim, de fato que apenas reforça ainda mais a aura de gênio que trás o personagem. Quando a pessoa tem uma vida exemplar, essa imparcialidade é benéfica. Tanto que Phillipe Petit, Ayrton Senna ou Muhammed Ali não deixam de ser mais(ou menos gênios) só pela beatificação realizada em seus documentários.

Essa tal imparcialidade não existe apenas no campo documental. Quando estrategicamente posta para causar impacto, ela só ajuda a narrativa e a emoção, como por exemplo Menina de Ouro. A emoção da virada de personagem de Hilary Swank não seria a mesma se suas adversárias não fossem vilanizadas o filme inteiro. Mas se em O Equilibrista Phillipe Petit é visto como o gênio sem vilão, o único foco do filme, Senna é mais próximo de Quando Éramos Reis. Senna tinha seu próprio nêmesis, Alan Prost, mas sua luta era contra toda a política errônea e arrogante da Fórmula 1 na época. Assim como Ali, que lutou pelos negros, na terra dos negros, contra George Foreman, o vilão, o negro domesticado pela América. Conflito de ideologias se mistura com a apoteose filmada do piloto genial.

Humanização em filmes biográficos é normal. Em alguns casos, temos assombrosos retratos de figuras famosas(ou fatos famosos, no caso de Platoon) que impressionam e se tornam obras-primas, como os filmes de Oliver Stone(Nixon, The Doors, W. e até mesmo seu recente doc. sobre Hugo Chávez). Porém, o jogo de cena(ou ficcionalização dela, como no supra-citado O Equilibrista), é mais um retrato apaixonado do diretor sobre o indíviduo em questão do que próprio maniqueísmo. Esse jogo, ainda que torne o documentário mais próximo da ficção(e consequentemente do cinema), é válido em certos pontos. Mesmo que Senna não precise de nenhuma edição esperta pra tornar sua vida mais exemplar, a escolha do diretor em usar o jogo é interessante e torna a experiência mais cinematográfica e bonita, até mesmo provando que é desnecessária uma dramatização da vida do piloto. Então estaria o diretor criando um conto de fadas sobre um santo? De jeito nenhum. Asif Kapadia vê a tragédia a cerca da morte de Senna com tanto pesar que demonstra explicitamente que não é necessária nenhuma humanização exacerbada do herói. Existe humanização maior que a morte do piloto durante uma corrida? Em certo ponto, Prost fala que Senna acha que não pode morrer. Naquela fatídica curva Tamburello, o documentário humanizou Senna da forma que precisava.

A direção de Asif Kapadia é genial. Mesmo sendo um documentário, o diretor não tendo nenhuma liberdade e não podendo filmar nada, Kapadia organiza suas peças de forma espetacular e tira emoção de cada cena que pode. Depoimentos emocionados do povo brasileiro, chegando a citar que Senna é o unico motivo de alegria do país, são de uma sensibilidade cênica do diretor que chega a deslumbrar pelo simples fato de ser uma maravilha de película. A direção ainda se torna maior se formos ver a equipe responsável. A edição é de tirar o fôlego, sendo essencial pra tal mitificação do herói nacional. Passagens se tornam antológicas com a ágil edição, como a tensão recorrente entre Senna e Prost, as corridas finais dos campeonatos e as partes mais emotivas, como o enterro do herói, mesclado de forma linda com imagens do piloto vivo com seus amigos. Pra melhorar, a trilha sonora de Antonio Pinto é de um repertório magnífico, mesmo relembrando algumas notas de seu trabalho em O Senhor das Armas. Seu violino agressivo, misturado com notas tristes orquetradas no background, dão o tom exato a todo o documentário, que é bem sucedido musicalmente nas partes felizes e mais ainda nas tristes.

Entrando no panteão dos grandes documentários, Senna é um motivo de orgulho pro povo brasileiro. Mesmo sendo uma equipe estrangeira retratando um herói nacional em tela, é de verter lágrimas dos olhos o fato dessa equipe ter se demonstrado apaixonada pela figura exemplar de Ayrton. Um legítimo herói, um ícone, um mito, um gênio. E agora, uma lenda. Mesmo que os Cazuzas insistam em provar que os meus herói morreram de overdose, é um alento ao coração ver um sujeito que ajuda os outros como pode, auxilia as crianças, faz seu trabalho de forma genial e ainda é crente em uma força superior com fé contagiante. Senna é o maior herói do meio cultural da história brasileira e, sem dúvida, o profissional mais hábil e competente dos automotivos. O melhor que já existiu. E para isso, não é necessário mais que 3 títulos, 41 vitórias, 65 poles e 19 voltas mais rápidas. Quem agraciou Senna entende, perfeitamente, que quantidade não é qualidade. Na sua breve passagem pela vida, Senna já deixou saudades. Em seus efêmeros 10 anos de Fórmula 1, meu ídolo pessoal fez mais que qualquer Schumacher ou Piquet poderia fazer em 100.

***** 5 Estrelas - Nota 9,5

Senna - Crítica 1

O herói visto como tal.

No meio da Fórmula 1, não há muita controvérsia quando o nome de Ayrton Senna é citado – Como Niki Lauda mesmo já constatou “ Ele foi o melhor piloto que já existiu ”. E talvez nós, brasileiros, sejamos os principais a saber disso. Mais do que um piloto excepcional, para nós ele era um símbolo, um exemplo, um orgulho quase unânime do público brasileiro geral. Que Senna foi um verdadeiro herói nacional, disso todo mundo sabe. O homem bondoso, que servia de exemplo e era admirado pelo povo , é lembrado até hoje. E a vida de alguém como ele era, de fato, cinematográfica. E cinematografia do tipo épica, quase um gênero de sandália e espadas, só que passada nas pistas . E por muito tempo esperamos por uma representação adequada e definitiva da vida de Senna no cinema. E ela veio.

O filme de Asif Kapadia já começa vencedor por entrar pelo caminho mais adequado ao tema – retratar a vida de Senna em suas glórias, seus feitos – e não tentar executar o já meio clichê de revelar o “homem por trás do mito” ou “ as mulheres da vida” ou “ a vida fora das pistas” . Qualquer tipo de realização assim não teria a relevância que este Senna tem. Afinal , este filme não é uma biografia completa de Ayrton Senna, mas sim um retrato de sua obra, seus dez anos ativos na Fórmula 1 , que desenharam a face do grande piloto e marcaram a vida do mesmo.

E quem assiste a um documentário como esse, logo percebe que o ídolo não precisaria de uma dramatização. O longa é construído apenas com imagens de arquivo, todas daquela época ( 1984 – 1994) e com comentários de ex-pilotos, chefes de equipe, comentaristas esportivos e familiares . Isso torna tudo mais orgânico, e a sensação que temos é de ver quase uma dramatização onde os atores são as personalidades em si. Uma sensação sem igual, que raramente é passada em documentários , já que a grande maioria deles possui aquelas cenas de pessoas paradas falando com a câmera. Aqui isso inexiste, e o que se passa é imersão na história verídica, como se estivéssemos ali, no momento em que ocorreu. Grande tato de quem realiza conseguir administrar tal feito.

O filme conta a história da carreira de Senna na Fórmula 1, e de passagem nesse período entram histórias dos pilotos e chefes de equipe que viveram ao lado de Senna. Amigos como Ron Dennis – que vive até hoje na Mclaren - , e rivais, como Alain Prost. Este em especial, tem tamanho destaque, que possui abertura para construção separada de seu personagem, quase como um antagonista . A relação com o presidente da FIA da época, Jean-Marie Balestre, também é mostrada , de maneira ainda mais sensacional, afinal, muitas das cenas em que Balestre aparece no filme são arquivos exclusivos, nunca antes mostrados.

Há entretanto quem reclame do longa colocar-se de maneira parcial, e empregar situações quase maniqueístas. Avaliando-se parte a parte, percebe-se que não há tanto disso. A luta de Senna contra a politicagem e favorecimeto na Fórmula 1 foi real, e o lado mais certo era do brasileiro, no mínimo. Na relação com o rival, no entanto, haverá polêmica . Prost é considerado um vilão em tela, é fato. Injustiça, com alguém que foi Tetra- campeão da Fórmula 1? Talvez. A verdade é que a arrogância e o estilo de Prost acabam favorecendo esta imagem, que se auto-associa a ele, sem nenhum filme precisar estampar. E se Senna teve um adversário potente para se contra-por, este foi Prost. Porém, ninguém sai em maus lençóis, ao final. Todos sabem , que apesar dos pesares, no fim de tudo, foi Prost um daqueles que carregou o caixão de Ayrton. Uma imagem de redenção? Para quem for mais para o lado do chavão, sim , mas a verdade é que nesta parte do filme todos são mais humanizados, como de fato na vida real. Inclusive a última frase explicita isso muito bem.

O filme em si só não se destaca mais porque o formato não permite. Uma colcha de retalhos de reportagens complica , por exemplo, a entrada mais expressiva do diretor. Kapadia, aliás, com o que tinha, fez muito, e conseguiu montar uma linha de raciocínio muito coerente e interessante, apesar de clássica. Ajuda muito a narrativa a trilha de Antonio Pinto, conhecidamente trsite, como em Colateral, mas também agressiva e ágil nas partes de corrida. No que o filme ganha pontos , de verdade, é na sua iniciaiva de mitificar Ayrton Senna, fazendo com que víssemos ele como o herói que foi. Como num épico que termina com a tragédia, Senna mostra seu herói nos momentos mais críticos, mas sempre procurando a glória. Esse ponto de vista definitivo e endeusador pode ser visto já no título do filme. Senna. Não algo mais intimista. Algo externo, que exacerba e coloca-o sobre o pedestal que merece. Mesmo que já testado anteriormente, este estilo funciona aqui de forma mais emocional e profunda. Excepcional.

Devo admitir que sempre quis ver uma obra definitiva da vida de Ayrton Senna nos cinemas . Agora ela existe.

5 Estrelas ***** - Nota 9,0

domingo, 7 de novembro de 2010

Old School Trailers - Parte 2

The Old School Trailers



O Ritual

O novo filme do diretor Mikael Hafstron, que fez Shangai num circuito mais restrito em 2009, aborda o terror dos exorcismos de uma maneira mais interessante, explorando o drama dos envolvidos e o próprio exorcismo em si. Fora que a gigantesca presença de cena que Anthony Hopkins faz em cena vale desde já o ingresso. Tendo um tema polêmico, envolvendo até fatos reais no Vaticano, O Ritual promete por abordar esse tema sem apelar, se focando na potente narrativa cinematográfica que tende a vir.

Sanctum

A nova produção de James Cameron tem um trailer competente que, apesar de não apresentar muitas surpresas, tem um tema conciso e planos belíssimos(coisa que as câmeras 3D virão a potencializar). Seguindo uma linha que lembra o clássico Das Boot, de Wolfgang Petersen, esse filme deve pelo menos suprir as expectativas regulares que o trailer transmite. Mas fica uma interessante observação aqui: Por que James Cameron deixa seus projetos mais difíceis e cults para os outros diretores hein?

Rabbit Hole

O novo filme do ousado diretor John Cameron Mitchell, de Shortbus, é baseado na peça de David Lindsay-Abaire e é roteirizado pelo mesmo. Para os fãs do Homem-Aranha, David era o responsável pelo roteiro do reboot até James Vanderbilt escrever a versão final. Nicole Kidman é uma mãe que tem que superar a perda do filho e Aaron Eckart faz seu marido. O trailer é montado de forma concisa, apresentando um ritmo lento e diálogos poderosos que são elevados dramaticamente pelas atuações. Nesse caso, é o filme para Kidman brilhar e isso pode implodir ou tornar o filme memorável. O trailer é competente e é um dos grandes filmes que prometem para o fim de 2010.

72 Horas

O novo filme do oscarizado Paul Haggis tende, infelizmente, a ser seu pior filme. Os relances de suspense de ação, com uma trama não muito convincente e os tiques de filmes de corrida contra o relógio podem prejudicar muito o que se espera de um filme de Haggis, conhecido pela sua pesada dramaticidade imposta, tão grande e competente que fez de Cassino Royale um dos melhores filme do 007. Porém, pode também acontecer que Haggis dê um passo a mais em sua carreira, dando um ar artístico a um gênero cansado como o thriller de perseguição. Agora é esperar e ver o que Haggis fará com sua primeira trama realmente de suspense, sem todo o drama de Crash e Menina de Ouro.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Atração Perigosa

Ben Affleck realiza seu Fogo contra Fogo.

Em 1997, Matt Damon e seu amigo Ben Affleck escreveram um filme, Gênio Indomável, dirigido por Gus Van Sant. Depois de ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Original, ninguém mais parou os dois amigos de Massachussets. Enquanto Matt Damon parece ter seguido a linha de George Clooney, escolhendo seus projetos a dedo e obtendo êxito crítico(e ás vezes, de público), Ben Affleck não o seguiu. Depois de uma década de erros como Demolidor, Contato de Risco, O Pagamento(que é bom, mas tem uma péssima atuação de Affleck), Ben decidiu comprovar todo o seu talento demonstrado lá em 97: dirigiu Medo da Verdade, baseado no livro elogiado de Dennis Lehane. O filme foi tão bem recebido pelo crítica que facilitou bastante o financiamento do novo filme do diretor, que ganhou até créditos de "do aclamado diretor de Medo da Verdade" no trailer. Agora, estreia nos cinemas brasileiros Atração Perigosa, que chega fazendo barulho pelas críticas imensamente positivas que vem recebendo nos Estados Unidos. Os 95% que ganhou no Rotten Tomatoes, aliado a críticas muito positivas de críticos do gabarito de Roger Ebert, fizeram o filme gerar muita expectativa.

Após ver Atração Perigosa, entende-se as muitas críticas positivas, mas o filme não é uma obra-prima e nem merece ser indicado ao Oscar, como os americanos pintavam. É uma prova viva de que Ben Affleck é mesmo um excelente diretor e é um escritor muito competente também, porém o filme não é um produto inovador ou uma releitura genial de sua trama anteriomente testada. A estrutura que se vê no filme todo segue o ritmo dessa mesma trama, sem ousar em relação a outros filmes de roubo. O que se diferencia e torna Atração Perigosa uma experiência positiva é justamente o fato de Affleck fazer um filme sem erros, cauteloso, um terreno seguro, sem ousar em momento algum.

A trama segue Doug MacRay(Ben Affleck), um ladrão de bancos de Boston que, junto com sua gangue composta por James "Jem" Coughlin(Jeremy Renner), Gloansky(Slaine) e Dez(Owen Burke), está realizando assaltos mais frequentemente pra poder se retirar por um tempo desse ramo. Em um desses assaltos, o bando acaba levando Claire(Rebecca Hall) como refém e Jem, com medo dela ter visto algum deles, pensa em matá-la. Avesso a assassinatos, Doug propõe antes vigiá-la para saber se ela reconheceu ou não seus sequestradores. Mas seus problemas começam quando Doug descobre que Claire é uma pessoa muito boa e se apaixona por ela. Além disso, o agente federal Adam Frawley(Jon Hamm) está no encalço de sua gangue e vai longe quando tenta usar Krista Coughlin(Blake Lively), prostituta ex-namorada de Doug e irmã de Jem.

O roteiro escrito por Affleck, Aaron Stockard e Peter Craig é muito preciso em vários aspectos. Apesar de um início que tem defeitos, como a cena em que Doug e Jem estão falando com o bando, o filme flue de forma concisa, com passagens interessantes e situações amarradas. A construção de personagens é muito boa também, com 125 minutos sendo suficientes para montar o caráter e os sentimentos de todos os personagens importantes em tela. Contudo, a construção tem falhas. O defeito no início é justamente nisso, com uma previsibilidade grande demais, montando Doug como bonzinho e Jem como mal com um diálogo bem manjado. Fora que faltaram umas pequenas passagens pra pontuar melhor a relação de irmãos de Krista e James. Apesar desses defeitos, tudo é pra ser considerado bem trivial mesmo, já que o filme nada perde com isso. As situações são bem amarradas, competentes e nenhuma desnecessária. Ainda que tiques do gênero de roubo sejam vistos(o grande roubo final para o clímax, a atração amorosa proibida, o ladrão bonzinho que quer se redimir), todos eles fazem parte do contexto que Affleck quer apresentar, formando assim um filme de roubo legítimo. Aliás, por escolher seguir essa estrutura, Affleck impede o filme de ganhar mais pontos, explicando aqui a tal falta de ousadia.

Outro ponto do roteiro que merece citação é a escolha de Affleck por contar sua história principal com um pano de fundo. Toda a mitologia criada em torno dos criminosos de Charlestown, a tal cidade do título original, é rica e sensacional, lembrando a ótica apaixonada que Martin Scorsese executou em Taxi Driver e Caminhos Perigosos. Esse bairro, em que o ofício de ladrão de banco é passado de pai pra filho, se torna interessante quando registrado pela ótica entusiasmada de Affleck. A ambientação é esmerada e apresenta um pouco de ousadia à trama conhecida. Talvez essa falta de ousadia fosse um motivo de implodir o filme, mas como o gênero Roubo é pouco retratado como ele realmente é(e como Affleck desde o princípio queria mesmo é fazer um roteiro seguro), Atração Perigosa se mostra um bom retrato da lei, na linha do épico do crime mesmo. E é tão preciso e competente o jeito com que Affleck conta a história que temos como resultado um charmoso e violento Heist Movie. E algumas vezes isso basta. Percebendo isso, entende-se o rótulo de obra-prima que os americanos viram no filme. Eles não esperavam nenhuma ousadia e amaram justamente o a falta de... ousadia.

E é falando em épico criminoso que vem a comparação que fiz no início do texto. Affleck cria sua trama criminosa com tanto empenho que ele realiza seu Fogo contra Fogo. Porém, se no épico de Michael Mann a rivalidade de deNiro e Pacino era impressionante e o foco principal, colocando a caótica trama e a cidade de Los Angeles como pano de fundo, o foco principal de Affleck é sua trama de roubo, com Doug sendo o homem a se redimir nisso. Como no filme de Mann, Affleck cria um intrincado panorama dramático e de roubo, construindo assim um filme similar. Mas, Affleck ainda não tem a competência e sensibilidade de Mann, que construiu em 170 minutos um filme invejável em 1995, com arcos dramáticos poderosíssimos e uma trama de crime espetacular. Se Mann tinha a ousadia, Affleck tem a segurança. Ao inovar, Mann criou um dos melhores filmes na década e justamente isso faltou a Affleck. Seu épico é de cartas marcadas, sendo amarrado mas anteriormente visto. Ao optar por testar o campo do Heist Movie, Affleck cria um produto satisfatório em roteiro, mas ignorando a inovação, criou um sub-épico do crime, um retrocesso em relação ao filme de Mann. Cabe a Affleck inovar num eventual segundo filme de crime, para se consolidar como o grande contador de histórias que é.

A qualidade técnica que Atração Perigosa tem, ainda mais considerando a ninharia com que o filme foi feito(37 Milhões), auxilia mais ainda a ideia de filme visualmente bonito. A direção segura de Affleck, com mão talentosa pra ação, ainda manda bem nas partes dramáticas, com closes quando necessários e planos se movendo lentamente. Além disso, os cortes saem de forma sucinta, auxiliados pela espetacular edição de Dylan Tichenor. Nas cenas de ação, a edição e a direção entram em conjunto de forma deslumbrante, com um tiroteio bem coordenado. Affleck surpreende a audiência colocando bastante ação no candensiado e demonstra maturidade suficiente, mesmo no seu segundo filme, para conduzir a ação de forma competente. A fotografia de Robert Elswit ainda deixa o filme mais belo, com uma atmosfera azulada no meio da gélida Boston. Combinando esse azul com planos na maioria cinzentos, temos imagens belíssimas e que funcionam dentro do contexto do filme, sem soar deslocadas. E ainda temos uma grande sacada de Elswit: deixando o filme inteiramente cinza e azul, no momento de redenção do personagem, surge um flare com o Sol batendo na tela, num contra-ataque de todo a violência do crime no filme, um momento singelo de pureza da alma. Espetacular.

A trilha sonora de Harry Gregson-Williams e David Buckley segue a linha do filme de assalto, com notas tensas e alongadas. Em algumas partes mais paradas do filme, é fácil reconhecer a contribuição de Gregson-Williams no filme, com notas bastante familiares em outros filmes com sua trilha. Esse ritmo que os compositores impõem na narrativa só ajuda a percepção que estamos diante de um filme de roubo seguro.

As atuações do filme cumprem as expectativas. Ben Affleck entra com veracidade no personagem, até mesmo criando um tipo de falar novo para ele. A fala calma, arrastada e meio melancólica até, ajuda na criação do personagem. Jeremy Renner está perfeito num papel que foi escrito de forma simples. Mesmo sendo típico de vários filmes, o ladrão mal ganha uma leitura respeitável pela visão de Renner. Seu talento, que já estava explícito em sua hipnótica atuação em Guerra ao Terror, fica ainda maior dada a transformação em relação a seu papel anterior. Blake Lively tem pouco espaço em tela, mas não compromete. Já Rebecca Hall faz um trabalho muito bom, sendo uma atriz invejável. Seu personagem, apesar de arquetípico, tem nuances dramáticas muito bem demonstradas pela atriz. E se Chris Cooper e Pete Postlethwaite fazem muito bem seus curtos espaços, Jon Hamm ganha espaço de sobra e arrebenta. Mesmo sendo o policial durão conhecido da audiência, Hamm é um monstro de atuação e mostra o porque dele ser sinônimo de macho durão hoje em dia. Uma grande atuação. Elenco bom o de Atração Perigosa, afinal Ben Affleck escolheu profissionais que, mesmo com papéis não muito inovadores, fizeram um trabalho decente.

Num contexto geral, Atração Perigosa agrada. Apesar de situações comuns no gênero e falta de ousadia, é difícil errar quando uma história é bem executada desse jeito. Um filme recomendável, pra ver sem compromisso, esperando um thriller tenso com passagens excelentes e uma ação esplêndida. E agora fica a espera pelo próximo filme do redimido Ben Affleck. Após fazer o aclamado Medo da Verdade e esse interessante Atração Perigosa, Affleck já entrou pro hall dos diretores mais promissores da nossa geração. É engraçadíssimo pensar que um sujeito competente desses fez "maravilhas" como Contato de Risco, um dos piores filmes da década. Legal constatar que o talentoso Affleck voltou as origens talentosas que colocaram ele e seu bem-sucedido amigo Matt Damon no estrelato da indústria cinematográfica. A grande prova viva das segundas chances que Hollywood dá. Que venha o próximo trabalho dele!

*** 3 Estrelas