Todo o segundo conta .
Iniciando com uma edição ágil e uma trilha animada, os créditos iniciais de 127 Horas dão o tom da vida acelerada do alpinista Aron Ralston (James Franco). O título do filme, porém, só aparece na tela - em um fotograma belíssimo - alguns minutos depois, quando o nosso vigoroso protagonista cai de repente numa fenda estreita do Canyon que escalava . Chocado, Aron fica alguns segundos suspenso sem acreditar no que acabou de acontecer . É possível enxergar na sua face os primeiros sentimentos de pânico em decorrência da situação unusual na qual acabara de entrar . E aqueles são apenas os primeiros segundos dos longos 5 dias e 7 horas que o alpinista teve de suportar com uma rocha imprensando seu braço contra a parede do canyon.
E dois anos depois de ser consagrado vencendo o Oscar pelo bom , porém hiper-valorizado Slumdog Millionaire , o diretor inglês Danny Boyle vem agora realizar o seu melhor trabalho nos últimos anos , contando exatamente a história verídica e espetacular de Aron Ralston , o alpinista que passou as 127 horas do título com o braço direito esmagado na fatídica rocha, em uma fenda do Blue John Canyon em Utah , Estados Unidos .
Na trama desenhada no filme, dá-se a entender que Aron, de certo modo, estruturou tudo o que fosse possível para que não fosse resgatado - Não retornava as ligações da mãe há dias, não mantinha mais contato com a ex-namorada Rana (Cleménce Poésy), e, principalmente, não tinha avisado pra ninguém aonde tinha ido . O último contato com seres humanos antes do acidente tinha sido com duas turistas, Kristi (Kate Mara) e Megan (Amber Tamblym), as quais ele tinha guiado por um tempo no passeio . Mas, como pode ser visto no próprio trailer, elas não conseguiram ouvir aos chamados desesperados de Aron . Ele estava sozinho, sem muito o que fazer .
E o roteiro de 127 horas aproveita muito bem todo o potencial que a história real impressionante dispunha . Com um braço amassado , preso , e uma rocha grande e pesada limitando seus movimentos, era muito fácil para Aron enveredar pelo caminho do desespero . ''Do not loose it , Aron '', entretanto, o aventureiro diz . Era preciso manter a paciência para seguir com chances de vida, e entrar em pânico não ajudaria em nada . Com esforço, ele passa por maus bocados - enfrenta a dor, as alucinações , a escassez de água e comida, culminando em ter que beber a própria urina - até ter o ímpeto de amputar o próprio braço com as ferramentas que possuía no momento . Como peça de ilustração de um fato real, o novo longa de Danny Boyle é excepcional . Utiliza sua trilha para temperar a tensão com certa ironia , mas também para pontuá-la em momentos de dor lancinante - como na inconfortável cena em que Aron corta o nervo de seu braço, cena , aliás, que fez pessoas passarem mal em festivais ao redor do mundo . Uma retratação muito talentosa e eficiente da jornada de superação do alpinista .
E talvez ''superação'' seja o adjetivo mais óbvio para 127 Horas . Realmente, a superação física é visível , mas não é só nisso que o termo se baseia . Superação do modo de agir, das concepções que Aron possuía antes de ficar preso por mais de 5 dias numa fenda . Fica muito claro no momento em que ele declara que aquela rocha estava esperando por ele desde que nasceu. Era o ponto de mudança que ele precisava passar, o aprendizado que necesitava adquirir .
E esse aprendizado tem as formas muito bem definidas pelas fases que o filme apresenta . No início, a agitada e divertida vida de Aron, e no decorrer do tempo após o acidente, as considerações dele sobre tudo que não chegaria a viver se aquele canyon fosse o último capítulo de sua vida. E nessa divisão de fases, Boyle se adequa muito bem a todas elas. Consegue colocar uma direção com ar de videoclipe - que ganha mais força com a montagem rápida - no início, e lidar com o drama seguinte de maneira competente , arrancando imagens belíssimas do ambiente no qual a produção se passa.
Mas , de fato, seria impossível falar de 127 Horas sem citar com veemência o nome de James Franco . Ele é o fator essencial que torna o filme de Boyle acima da média . Toda a emoção passada por Franco é real, assustadoramente tridimensional e penetrante . Nos sentimos tocados de maneira muito especial pela perfomance do jovem ator . Sua interpretação é singular desde sua postura corporal, passando por seu olhar enfraquecido, chegando ao climax nas partes em que encarna a dor que o alpinista passou na vida real . Uma verdadeira amostra de talento que a nova geração de atores possui . Ótimo, merece todas as indicações que vier a receber .
Numa avaliação geral, podemos constatar que 127 Horas é uma brilhante trama baseada em fatos, trasportada para as telas de cinema com muito esmero . E vale também para termos uma percepção mais elevada sobre a própria carreira de Danny Boyle . Ele veio de um filme - Slumdog - que relativiza muito sobre o lado poético da vida, onde o destino se encarrega de dar o rumo a seus personagens . Então deve ser de muito valor dirigir agora um filme biográfico, onde um personagem sozinho tenha que mudar, pela força de vontade de sobreviver, o próprio destino - e aprender com isso uma lição necessária .
5 Estrelas ***** - Excelente
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