Diferencial de Além da Vida fica por conta, basicamente, de Clint Eastwood.
Atualmente , parece que roteiros que lidam com a temática de vida após a morte vem ganhando mais e mais força dentro e fora do Brasil . Há todos os tipos de formas de abordar o tema : Dentro do Brasil, pudemos avaliar a força de movimentação de público que os filmes de Chico Xavier detiveram . Chico Xavier e Nosso Lar constaram como um dos recordes de bilheteria no Brasil em 2010, e tenderam - principalmente , Nosso Lar - para o tipo de abordagem religiosa , onde há enveredamento para o caráter da religião espírita em si . Fora do Brasil, pudemos observar um diretor premiado - Peter Jackson - brincar com o argumento quebrado de Um Olhar do Paraíso, nos entregando um filme fraco e descompassado, que tendia para um tipo de abordagem mais fantasiosa . Mais recentemente, Enter the Void, do genial Gaspar Noé, contribuiu para um tipo de visão do pós-morte muito inovadora, tanto no modo de se filmar, quanto no modo de se narrar. Agora, chega a vez de Clint Eastwood , um mestre consagrado e experiente, dar sua visão ao tema que tanto deu o que falar nos últimos tempos, principalmente dentro do Brasil.
E Além da Vida procura enxergar o tema por um viés menos religioso e mais expansivo , ou seja, sem definir um tipo de religião exata, tentando dissertar sobre a narrativa dos espíritos de forma mais geral , onde até uma pessoa que não possui uma religião definida, por exemplo, possa enxergar os acontecimentos relatados , sem ter que abraçar alguma crença específica. Este é um lado interessante de Além da Vida, e o único problema é que é um dos raros diferenciais encontrados no longa , que apenas fica na média, no seu conteúdo.
A trama se baseia na história de três personagens , que , em pontos diferentes do globo terrestre, apresentam um dilema com a morte - e a possível vida que existe após ela . Nos Estados Unidos , George Lonnegan ( Matt Damon) é um médium que tenta se afastar da sua antiga profissão como vidente profissional, para tentar alcançar uma vida normal. Na França, Marie Lelay ( Cecile de France ), é uma jornalista que , após sofrer uma experiência quase-morte numa viagem de suas férias , busca aprender mais sobre o mundo que existe depois da morte. Já em Londres , na Inglaterra, somos apresentados ao drama do garoto Marcus, que não consegue superar a recente perda do irmão gêmeo Jason .
O roteiro do habilidoso Peter Morgan - que escreveu o excelente Frost/Nixon - se desenvolve sem pressa, costurando com detalhes as três linhas narrativas que , como a própria sinopse oficial do filme já dizia , uma hora iriam se cruzar . Tudo se baseia no desenvolvimento isolado de cada arco até , basicamente, o desfecho do filme . E no aspecto de desenvolver arcos narrativos , Morgan utiliza sua experiência para não cometer deslizes, e manter um desenrolar de trama muito palatável . Como já escrevi anteriormente , Além da Vida tem uma visão da temática pós-morte interessante, pois não se apega a nenhuma religião, construindo sua história paralela a isso . O roteiro encontra muita facilidade ao retratar o tema dessa maneira , e Morgan carrega sua história até um nível bom . Entretanto, não vai além . Não se desenha nada mais ousado ou diferenciado . Toda a narrativa é coerente, consegue até nos envolver, mas é trabalhada com certo comedimento . Não sai muito da superficialidade, e atraca na zona segura de alguns clichês. Deveras, faltou um pouco de ousadia .
Entretanto, entra em cena então, o fator que atua como o grande diferencial em Além da Vida : Clint Eastwood . Como um verdadeiro Midas, o experiente diretor consegue tirar o filme da mediocridade com seu modo de filmar tão redondo e limpo . Eastwood não abusa, não expõe arroubos que já vimos anteriormente na sua carreira, mas com o mínimo de seu talento expresso na película , o longa já ganha muitos pontos . A competência de Eastwood em tirar o melhor de seu elenco , e o seu olhar muito característico e intimista atribuem ao filme um fôlego extra , evitando que seja facilmente esquecido . E que já fique registrado como uma das melhores sequencias do filme, a das tsunamis na Tailândia. Eastwood trabalha com os efeitos especiais de maneira muito eficiente, e o resultado final é uma cena belíssima e aterradora .
Também auxilia o filme o fato de seu elenco responder ao que seu diretor pede com muita eficiência . Matt Damon atua de forma bastante interessante ao interpretar um médium que deseja se afastar de seu dom, tratando-o como uma maldição. Sem exageros , Damon encarna seu personagem com realismo . Eastwood fez bem ao fazer questão de que ele estivesse no filme.
Nos quesitos técnicos, Além da Vida segue o estilo belíssimo dos outros filmes de Eastwood . Tom Stern, colaborador frequente do cineasta, demonstra uma fotografia límpida e bonita, típica dos filmes de Clint . A trilha , então, nos remete imediatamente a Gran Torino. Basicamente, se repete nas partes técnicas, o que deu certo em longas anteriores.
É possível dizer, num apanhado geral, que Além da Vida teve seu roteiro até bem trabalhado por Peter Morgan , que o deixou na média, e só pecou por não faze-lo ir além disso . Levou seu barco até um porto seguro, e preferiu não se arriscar a leva-lo até um destino mais à diante. O grande diferencial, fica mesmo por conta de Eastwood, que, ao emprestar seu olhar ao filme, eleva-o de nível onde pode. É a diferença que a presença de um verdadeiro cineasta faz num filme.
3 Estrelas *** - Aceitável
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