Irmãos Coen voltam a faroeste, desta vez á moda antiga .
Em 2007 , os Irmãos Coen , famosos pela excelência cinematográfica e destreza inconfundível na criação de sátiras aos mais variados gêneros , trouxeram ás telas dos cinemas de todo o mundo a adaptação do belo livro escrito por Cormac McCarthy , Onde Os Fracos Não Têm Vez . Na ocasião , os Coen optaram pela abordagem séria de um faroeste moderno - moderno se tratando de um western, já que o filme se passava nos anos 80 - e obtiveram o sucesso de um novo clássico do gênero, que se encontrava na ''geladeira'', se assim podemos dizer, de Hollywood . Com praticamente nenhum similar das consagradas histórias do velho oeste até então , Joel e Ethan Coen arrancaram aplausos com a película , e fizeram a indústria dar o braço a torcer, e ter que reconhecer o talento nato da dupla premiando o filme com 4 carecas dourados .
Depois disso, passando por duas comédias geniais - Queime Depois de Ler e Um Homem Sério, respectivamente - os irmãos-cineastas parecem ter sentido falta do sabor de coordenar mais uma vez o set de um faroeste . Agora, em 2011 - tendo estreado nos USA em 2010 -chega ás telas do Brasil mais um longa da dupla , o remake do clássico de 1969 - o qual teve direito á presença de ninguém menos que John Wayne como protagonista - Bravura Indômita . Desta vez, os Coen parecem ter escolhido desfrutar do prazer de dirigir um western á moda antiga, um digno exemplar dos faroestes clássicos passados á pelo menos dois séculos atrás . E depois de assistir a uma sessão de Bravura Indômita, fica cada vez mais verdadeira a afirmação de que não há ninguém mais preparado para mexer nos temas do velho-oeste hoje em dia do que os dois talentosos irmãos .
A trama , uma estrutura de western típica , é narrada por Mattie Ross (Hailee Steinfield) já adulta, relembrando eventos da época que tinha 14 anos . Na época, Mattie perdeu o pai , assassinado por motivo torpe, por um bandido procurado em várias regiões , o meliante chamado Tom Chaney (Josh Brolin) . Inconformada, a jovem vai até a cidade tratar de procurar um homem para efetivar a caça a Chaney . Ela encontra o U.S. Marshal Rooster Cogburn ( Jeff Bridges) famoso pela sua bravura indômita ante os marginais . Juntam-se a eles na caçada de Chaney o Texas Ranger LaBoeuf(Matt Damon) , que persegue o bandido por crimes cometidos no Texas .
Sem ter assistido ao original, procurarei aqui avaliar o filme de maneira isolada , levando-o em consideração de forma independente ao filme de 1969 . E ,é precido ser dito, que de maneira clássica, Bravura Indômita coloca suas cartas na mesa. Como nos melhores westerns que costumavam ser feitos há décadas atrás , o longa nos introduz no universo mais típico do faroeste. Uma narrativa de vingança, que busca desenvolver seus personagens pouco a pouco, com toda uma temática de honra inerente aos filmes de bangue-bangue . Afinal, não se constroem os grandes filmes de faroeste apenas pela presença de cavalos, chápeus de cowboy e revólveres carregados . Fica nítido para o espectador estar vendo um produto cristalino e muito valoroso do gênero quando percebemos as atitudes singulares dos personagens . Ora, todos estão atrás de Chaney, e mesmo assim, a preocupação de Mattie é que o criminoso seja preso pelo assassinato de seu pai , e que ele esteja ciente disso . Essa sensação de punição, justiça e retribuição á moda antiga permeia toda a exibição e nos faz ter completo discernimento que a intenção dos Coen ao lançarem o filme é trazer de volta , com a marca de qualidade dos dois, toda a essência única que só o mais puro faroeste pode exalar .
Mas nada fica na superficialidade ou sequer esbarra no lugar-comum - Os Coen nunca deixariam isto acontecer . Temos elementos clássicos e indispensáveis para todo filme do gênero, e nesse aspecto, não há falhas ou meias-palavras . A repulsa criada quando vemos a face do personagem de Josh Brolin é de um sentimento de retorno aos vilões e fascínoras clássicos - nada mais emblemático para montar a áurea do vilão típico do que uma mancha negra na cara . Mas também há conceitos empregados neste Bravura que não são tão fáceis de encontrar pelos arquivos do velho oeste - o próprio fato de uma menina acompanhar uma jornada de vingança exemplifica bem isso . Desse modo, misturando conceitos já testados e consagrados com outros mais diferenciados, os Coen conseguem esculpir uma homenagem a um gênero que gostam, atribuindo-lhe detalhes que fogem do padrão, e nesse aspecto, não poderia haver trama mais precisa para se fazer um remake do que a de Bravura Indômita.
E a cereja no bolo para a homenagem ficar completa é a direção da dupla . Partindo de takes abertos , que valorizam os belos cenários de época , chegando até uma compreensão de plano e contra-plano estático muito eficiente , podemos ter uma noção de que Joel e Ethan estão fazendo uma direção interessante, mas não ao nível que já realizaram em filmes anteriores. Se evidencia então, ao longo do desdobramento do filme, e principalmente na sequencia de tiroteio final , que a homenagem ao gênero não poderia ser mais clara e elegante do que aqui . A câmera que pega da espora do cowboy antes do confronto frente a frente é o olhar da dupla embasado nos grandes mestres de antigamente. Preciso . E podemos incluir neste olhar saudosista a trilha de Carter Burwell - que por ter referencia tão forte ao século XIX e a westerns antigos , foi retirada da disputa do Oscar - e a fotografia de Roger Deakins ,que dificilmente poderia estar mais referencial e sutil do que está .
E se o original de 1969 tinha John Wayne encabeçando seu elenco, neste aqui temos Jeff Bridges . No ano seguinte ao que recebeu o Oscar por Coração Louco , Bridges trás uma interpretação absoluta e definitiva . Modifica a voz, a postura, o modo de falar, e é impossível encontrar no Rooster dele algo parecido a Kevin Flynn, de Tron Legacy, por exemplo . Este é um exemplo de ATOR DE VERDADE. O resto é outra história . E o melhor , Bridges não interpreta em nenhum momento imitando um estilo John Wayne . De igual, fica apenas a intensidade . Original e competente, ele engole o filme . Merece pelo menos uma indicação ao Oscar desse ano . Mas o filme não se resume apenas a Bridges. Matt Damon tem seus momentos , -confirmando seu talento - conduzindo seu personagem de maneira formidável . E Hailee Steinfield é mais um daqueles achados que prometem muito , como uma Chloe Moretz , por exemplo.
Fica um verdadeiro sentimento de gratidão ao terminar de assistir esta versão de Bravura Indômita . O prazer de poder saborear um western no dias de hoje é cada vez mais restrito, e é muito reconfortante saber que dois gênios consagrados tem interesse pelo gênero e talento de sobra pra conseguir trazer experiências sensacionais até nós . Se em 2007 eles nos premiaram com um faroeste moderno que media a força de dois opostos, aqui, eles nos trazem uma homenagem belíssima e diferenciada a um gênero tão interessante . Se alguém algum dia pensou que o faroeste tinha morrido no cinema, então esse alguém está um pouco enganado. Ainda existem Joel e Ethan Coen, e neles nós podemos acreditar.
5 Estrelas ***** - Excelente
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