Old School Nerds

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Turista

Diretor quadrado e roteiro vazio empalidecem produto descartável.

No último ano ficou claro a proposta hollywoodiana de faturar alto com blockbusters que misturam gêneros e agrupam grandes estrelas cinematográficas . James Mangold optou por um produto de entretenimento de fácil aceitação pelo público e nada ofensivo á critica - um retorno louvável de Tom Cruise, num roteiro simples, mas bem amarrado e desenvolvido, sendo muito bem capturado pela câmera contemplativa do diretor, que deixou seus astros bem á vontade para realizar um bom filme . Na contramão da honestidade bem executada de Encontro Explosivo , também foi cometido o deslize máximo de Robert Luketic, o pastiche enjoativo e cheio de erros Par Perfeito , que tentava - veja bem , tentava - usar uma química inexistente entre Ashton Kutcher e Katherine Heigl , para faturar alto mesclando comédia romântica com um filme de espionagem .

É o trabalho de Hollywood, afinal, tentar juntar gêneros para atrair o máximo de público possível . Nesse quesito, O Turista - remake do filme francês chamado Anthony Zimmer - já começa com larga vantagem . Juntar Johnny Depp, o queridinho de Hollywood , cotado para 11 entre 10 projetos da casa , e a musa Angelina Jolie , é a segurança mínima para pagar os 1oo milhões do orçamento . Ambientado 90 por cento de sua duração na bela cidade de Veneza , poderíamos apostar nossas fichas que o diretor do filme vencedor do Oscar - A Vida dos Outros - Florian Henckel Von Donnersmarck faria uma bela homenagem ao gênero de espionagem ao melhor estilo europeu . Contudo, essa afirmativa fica apenas nas intenções. O Turista é uma armadilha não só para o personagem de Depp - mas para todo o público .

A trama começa se baseando na esposa de um fugitivo da Interpol ( Angelina Jolie ) que é vigiada pela polícia 24 horas por dia onde quer que vá . Para tentar despistar o paradeiro do marido , ela recebe a missão de encontrar um outro homem , que se faça passar pelo parceiro ( que passou por uma cirurgia plástica) e o escolhido é o pacato professor de matemática Frank Dupello ( Johnny Depp). Claro que nada sai da forma planejada, e os dois acabam entrando em perigo nas paisagens venesianas.

Logo de cara, o roteiro de O Turista já começa com alguns leves deslizes . Toda a vigília em cima da personagem de Jolie é deveras expositiva , e mesmo que ela já soubesse que estava sendo vigiada - o que de fato sabia - não deixa o filme de ter, além destes momentos, uma espionagem conceitual um tanto escancarada, para um thriller do gênero . Esse, entretanto, é um dos erros mais ínfimos do longa de Von Donnesmarck . O script do filme tem muito mais defeitos - tanto de falta de respeito com o espectador, quanto de simples desleixo, e falta de aprimoramento ou acabamento . Note , ora, como a narrativa é extremamente vazia . Não há diferenciais explícitos , e muito menos implícitos, em O Turista . Perseguições comuns - e filmadas com pouco caso - não empolgam e dão a impressão enfadonha de alguém caminhando numa esteira : anda , anda, e não sai do lugar . Pode até sair do lugar , mudando de cenários, mas na mente de quem assiste, o filme parece continuar sem graça, e passa quase desapercebido pela tela .

Uma solução para isso seria tentar preencher de conteúdo nos locais que davam - e construção de personagens seria uma saída adequada . E , mesmo com uma atuação competente porém inibida de Johnny Depp - de Jolie só dá pra falar que ela se esforça como pode , principalmente pra imitar o sotaque inglês - não há nada que recheie suas personas com uma vitalidade . Von Donnesmarck sangra os closes o máximo tolerável ,e mesmo assim, a densidade dos personagens é diminuta , rasa como um pires . Não há vilões - aliás , o vilão do filme é bem esdrúxulo - ou coadjuvantes que possam fazer diferença e contrabalançar a palidez da construção dos dois protagonistas . O Turista molda seus personagens de maneira apática .

E se havia alguma maneira do longa não ser uma inutilidade completa , era necessário explorar os outros gêneros que permeiam o filme - como a comédia romântica, por exemplo . Neste ponto , esbarramos inevitavelmente na falta de aptidão do diretor com o tema . As cenas de ação , que no papel já não deviam estar lá essas coisas , transportadas paras as telas, perdem qualquer ponto positivo . Von Donnesmarck é um tanto quanto quadrado - engessado e sem a vivacidade necessária para embalar o filme de uma maneira interessante . E é verdade que a película tem alguns ápices cômicos , e se eles fazem rir, é mérito exclusivo do roteiro e da interpretação dos atores . Se Von Donnesmarck faz alguma coisa, é tornar qualquer momento mais opaco . E não é uma implicância sem motivo . O cineasta tem até bons momentos - como nos closes máximos nos protagonistas, que são esteticamente interessantes , e em um ou dois zoons ágeis bem eficientes - mas comete erros desnecessários - os closes no vilão são tão imperfeitos que beiram o amadorismo - e não consegue mudar seu estilo gelado um milímetro para favorecer o resultado final .

Ao acender das luzes , fica a sensação indigesta de uma metalinguagem sarcástica : O desfecho do longa é tão ridiculamente inconcebível , que passa a impressão de que uma persona do filme brincou e pregou uma verdadeira pegadinha em todo o resto dos personagens , do mesmo modo como O Turista prega uma peça maldita no público que pagou para assistir um produto lastimável . Poderia me estender ainda para falar nos inúmeros buracos de roteiro que saltam aos olhos numa avaliação final, mas é melhor parar por aqui . O Turista é , afinal, como Salt : Um produto descartável que não merecia nem existir .

1 Estrela * - Sofrível

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