Tony Scott ganha pura liberdade para acelerar.
Velocidade é um dos adjetivos que combinam com a filmografia de Tony Scott . Com a mão boa para ação , é do estilo do diretor filmar com urgência , literalmente ''acelerar'' com a câmera na mão . Nos últimos anos, Scott tem tido chances de váriar entre alguns acertos - como o bom De Ja Vú - e alguns erros - tome de exemplo o roteiro ruim de O Sequestro do Metro . De fato, estilo o cineasta possui, além de um dom para a ação invejável.
Falte talvez, então ,algum faro para assinar projetos que combinem com seu modo de dirigir. No seu último trabalho, ele fez o que pôde - girou em volta de Denzel Washington milhares de vezes , tentou apelar para a closes urgentes , enfim , mas nada funcionou pra valer . Era, afinal , um filme que , além de ter um roteiro falho, retratava um sequestro, e esse talvez não fosse o tema mais adequado para Scott . Ele se sente em casa quando realiza ação veloz, e nesse aspecto, tavez não houvesse projeto mais acertado do que este Incontrolável .
Á vontade, na sua zona de conforto, com um roteiro bem trabalhado e com um elenco forte - contando com mais uma participação de Denzel Washington - o diretor não decepciona . E por mais que a trama possa parecer um mero repeteco de diversos filmes onde há um veículo desgovernado, - os dois Velocidades Máximas, por exemplo - é preciso dizer que é quase impossível passar incólume a uma sessão de Incontrolável .
A trama conta a história de um trem de carga que, numa viagem na qual estava carregando toneladas de material inflamável, acabou saindo do controle dos maquinistas responsáveis por ele, e deu a partida acelerando sem ninguém na sua cabine de comando . No perigo iminente de um acidente catastrófico caso esse trem chegasse até o seu destino final, dois maquinistas recém conhecidos - o veterano Frank Barnes ( Denzel Washington) e o novato Will Colson ( Chris Pine ) - se sentem na obrigação de tentar fazer algo para freiar o trem , usando a locomotiva que têm a disposição .
O grande trunfo disponível no roteiro de Mark Bomback talvez seja o olhar diferenciado na composição dos seus personagens . Onde poderia haver fácil banalização pelo clichê - criando verdadeiros vilões e mocinhos - há um um cuidado interessante na humanização das personas ficcionalizadas em questão , e nesse aspecto, talvez o fato de ser um filme inspirado na realidade atue como fator importante . Logo no início do filme, o trem sai do controle por um erro grotesco de Dewey, o verdadeiro ''culpado'' por toda a aventura posterior. Ao longo do filme, Dewey só é tratado como algo do tipo bobão, o que de fato ele é , mas não há como rotulá-lo de vilão. Do mesmo modo, o diretor da empresa (Kevin Dunn) , um capitalista de raiz, não consegue ser vilanizado por completo, até pelo apelo cômico que seu personagem arranca. ''Está demitido'' é a frase-jargão disparada ante qualquer obstáculo. Quer algo mais caricatual que isso? De fato, não há como rotular personagens ''do bem'' ou ''do mal'' em Incontrolável . O que volta os holofotes diretamente sobre o trem em si , criando em cima dele uma vilanização, como no caminhão que inexplicavelmente perseguia o herói no primeiro filme de Steven Spielberg , Encurralado.
O resto, fica pela conta do desenvolvimento acima da média da tensão da perseguição que prende o expectador na cadeira com sucesso . Nisso , Tony Scott não precisa de ajuda alguma. Seu cinema é completamente associável com a velocidade, a adrenalina da correria, o cronômetro na mão, a contagem regressiva para uma possível pirotecnia . Scott respira isso melhor do que ninguém , e Incontrolável se desenha como um excelente exercício de porte mediano para o diretor. Deixando de lado a ação, Scott também consegue dirigir seus atores de forma interessante , deixando tanto Pine quanto Washington muito a vontade nos seus diálogos, e consegue enquadra-los nos seus closes com qualidade acima da média .
Com uma trilha agitada e atuações competentes - menção para Chris Pine, que consegue mais uma vez assegurar merecidamente um lugar de destaque em Hollywood - Incontrolável monta tudo o que Tony Scott pedia desde seu último trabalho. O esquema do diretor é mesmo buscar o movimento, a ação . No início do filme ele já caçava seus protagonistas com zoons rápidos em simples cenas de diálogos. Era a demontração do apetite do cineasta por um projeto que se ajustasse a seu estilo. E todos devemos estar, assim como ele, muito satisfeitos com o resultado final. Afinal, ele está livre pra acelerar.
4 Estrelas **** - Nota 7
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